Sexta Sei: As repetições e suas consonâncias e dissonâncias na música inventiva de Eduardo Manso

Álbum “Cumulonimbus”, lançamento do selo QTV, mostra novo trabalho do grandes nome da cena experimental

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Eduardo Manso por Carolina Amorim

Um dos grandes nomes da cena experimental carioca e um dos fundadores do selo QTV, responsável por lançamentos de artistas como Juçara Marçal, Negro Leo, DJ RaMeMes, Chelpa Ferro, Tantão e os Fita, Índio da Cuíca, Mbé, Bemônio, Cadu Tenório, Rabotnik e mais, o produtor e músico Eduardo Manso lança seu novo álbum, “Cumulonimbus”, acompanhado do vibrante clipe para “Cb”. A temática do disco gira em torno da noção de repetição, permitindo que sutilezas e minúcias venham à tona por meio da recorrência de sons e movimentos. Falamos, por e-mail, sobre o processo de criação do álbum, que começou com experimentos em um sintetizador Arp Odyssey, um sequenciador e um gravador portátil. Artista que já participou de projetos como Rabotnik, Binário, Bemônio e Meia Banda, além de ter produzido nomes como  Ava Rocha, Negro Leo, Bruno Schiavo e Tono, ele falou sobre como é fazer música experimental e escapar das noções pré-concebidas do público do que é música e indicou sons na seara.

Moreira – Eu fiquei muito impactado com o clipe de “Cb”. O vídeo é de João Pedro Faro, que dirigiu o “Cripta I”, que usa e distorce filmes pornográficos nacionais filmados em película e telecinados para VHS? Qual foi o conceito do filme e de onde vieram essas imagens que evocam colonização, catequização, militarismo e guerra, folclore, povos indígenas, zoologia, botânica, entradas e bandeiras, a bomba H e o mal? Tá bonitão e convida a pensar…

João Pedro Faro – A ideia do clipe era buscar uma tradução visual e temporal da sonoridade do disco, com as repetições que geram consonâncias e dissonâncias, os vídeos texturizados recortados pelas imagens estáticas buscam fazer um esforço material à uma trilha nebulosa. As gravuras digitalizadas, saídas de enciclopédias e manuais técnicos, piscam signos reconhecíveis de confrontos, confrontos entre espécies, sociedades, religiões, períodos, sentidos… O objetivo principal é o confronto, e a possibilidade de lidar com diferentes tipos de embate relacionados às variações e potências da faixa.

A capa de “Cumulonimbus”

Moreira“Cumulonimbus” é um álbum sobre a noção de repetição. Como você desenvolveu esse tema?  Quais foram as ferramentas usadas no álbum? Um sintetizador Arp Odyssey, um sequenciador, um gravador portátil, guitarra, e como foi o processo de composição? E quais foram as principais influências? 

Eduardo Manso – Tudo começou em casa com uma reedição do Arp Odyssey que eu havia comprado recentemente. Estava testando como poderia usar nele um pedal sequenciador que eu tenho, gostei dos resultados e comecei a registrar em um gravador zoom portátil. Depois exportei esses arquivos para o computador no estúdio e comecei a fazer overdubs com os instrumentos que mais estava utilizando no momento: guitarras, um string synth Yamaha sk10, um órgão Farfisa e o próprio Arp Odyssey.

Me inspirei na estrutura de discos do David Bowie, especificamente “Low” (1977) e “Heroes” (1977), para montar a ordem, com um primeiro lado mais movimentado e um segundo mais abstrato e ambiente. Consigo reparar também influências como: a banda de rock eletrônico francesa Heldon; os primeiros discos do Brian Eno; música ritualística sul-coreana como Kim Suk Chul; bandas de krautrock como Tangerine Dream e Neu!.

Moreira – Cara, seu disco reeducou o meu algoritmo, kkkk, valeu demais. Assim que ele termina, a gente entra em uma cascata de maravilhas instrumentais, com Clube Dezenove, Bruno Shiavo, Catlynn Klarisse, Pablo Vermell e Bike, meus conterrâneos de quem falei antes na página. Quais outros sons instrumentais você indica pra ouvir e que estão fazendo a sua cabeça e quais as dificuldades de mercado de se fazer música instrumental?

Eduardo Manso – Os artistas que vou recomendar não considero necessariamente instrumentais, pois alguns ocasionalmente utilizam a voz como mais um instrumento, assim como eu fiz na última faixa do meu disco. Sugiro escutar Popol Vuh, Sun Ra, Tangerine Dream, Sebastião Tapajós, Oren Ambarchi, Heldon, Ennio Morricone, Godspeed You Black Emperor, Henry Cow e Terry Riley.

Não vejo uma dificuldade específica da música instrumental, mas sim da música que foge dos padrões de alguma maneira. É muito difícil escapar das noções pré-concebidas do público do que é música e de como ela deve ser feita. As pessoas no geral tendem a procurar algo que já conhecem e tem identificação, e muitas vezes o que é diferente ou novo assusta.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Leticia-Valentinni, a Miss Brasil Gay 2022, em foto de Fabiano Vieira
Millos Kaiser. Foto: Luara Calvi Anic
DJ Kabulom (BH)
A Makoomba voltou
OCrioulo, Crraudio e Amanda Fie, o Makoomba

O maior concurso gay do país, o Miss Brasil Gay 2023, tradição de Juiz de Fora, acontece este sábado (19), às 21h, no Terrazzo, em sua 41ª edição, para eleger  o mais belo transformista do país, entre 27 candidatas, que desfilam em trajes típicos e de gala. O evento é marcado pelo retorno de Ikaro Kadoshi como apresentador, depois do sucesso do programa Caravana das Drags, e o show com o furacão Lexa, que apresenta show do EP Magnéticah“, da drag queen Hellena Borgys, vencedora da Caravana, e da sempre icônica Suzy Brasil. Pela primeira vez, as cinco candidatas mais votadas passarão para uma fase de perguntas de conhecimentos gerais, segundo uma tendências em concursos de misses. O concurso ainda tem duas festas, a Funhouse (com Fabio Carvalho e Vitor Mencarelli) e a Stomp (Stevix e Breno Barreto). De hoje a domingo (20), a Praça Antônio Carlos recebe o RainbowFest, com feira e shows com artistas locais. O fervo. Viva essa tradição local.

Viadagem pouca é bobagem, e vamos ser cada vez mais gays, tipo Pokemon. A Prefeitura também tem sua agenda com a terceira edição do Agosto Multicor, que começa com a mostra “Corpo que Habito – As Vivências de ser um Corpo LGBTQIAPN+”, na Galeria Ruth de Souza, no Teatro Paschoal Carlos Magno, reunindo um time de peso das artes visuais, com nomes como  Nickolas Garcia e Gabriel Faria, já destacados aqui na Sexta Sei, e Gabriel Teles, Gabryella Queiroz, Marcio Raul, MLia, Pablo Soares, Pedro Fonseca, Sol, Thais de Jesus, Thais Ferraz e Tulio Visentim, com narrativas acerca do corpo queer. A visitação é de terça a domingo, das 9h às 21h. Nesta sexta (18), às 19h, no mesmo local,  rola reapresentação de “Les Girls Forever – Eles no Meio Delas”, com participação especial da humorista Suzy Brazil. Let’s go, gang, “vamos precisar de todo mundo, pra banir do mundo a opressão“.

Meu irmão Kureb, autor do header aqui da Sexta Sei, comemora aniversário com edição da Supernova, neste sábado (19), às 22h, no Muzik, recebendo o DJ e também meu grande amigo Millos Kaiser. Ótimo jornalista, que já trampou na revista Trip, ele foi meu estagiário na era da AgeMda, da Gema TV, época da qual lembramos com muito carinho. Ele lançou, em 2018, a compilação “Onda de amor”, no qual garimpou canções brasileiras dançantes, como as maravilhosas “Tabu” e “Reague”. Millos também integrou o coletivo de DJs osritmosdigitais, com Yugo e Rafael Salim. Bate aquela saudade, viu. No line up, tem ainda Kureb e Marcellus Reoli e Gabriel Rache, além de performances visuais de Alice Ruffo e Daniel Faier.

A Teknu faz edição domingo (20), no Rocket, das 1h às 8h, com sete DJs em sete horas de festa, recebendo o DJ Kabulom (BH), que eu adoro seguir no Twitter, e os nossos DJs do coletivo que amamos Makoomba, que retorna depois de longo inverno (saudades) em formation com Amanda Fie, OCrioulo e Crraudio, Femmenino, Be Wilberg, Hrkn e visuais do Tarja. “Só me resta pedir, que Deus proteja o seu rolê”.

O espetáculo “Seu Zé”, de Gabriel Bittencourt, da produtora Axé Deles, tem apresentações, de hoje (18) a domingo (20), às 19h, no Tenetehara. Ingressos no trailer da Associação. de Produtores de Artes Cênicas (Apacjf) no Parque Halfeld.

Esquentem os motores que “Drag Race Brasil” chega dia 30. as 22h, na MTV.

A capa de "Mavamba" por Rodarlen Rocha

MC Xuxú é uma precursora e uma referência para a comunidade trans nacional, como me confirmou aqui na página a cantora sergipana Isis Broken, impactada pela sua arte em outra região do país. A mensagem da Xuxú é tão importante que atravessa fronteiras. E foi justamente pelas potências da sua música e de suas apresentações ao vivo que ela inaugurou aqui a Sexta Sei, em sua primeira edição, em 2020, há exatos três anos. Ela acaba de lançar a mixtape “Mavamba”, sucessora de seu álbum de estreia, “Senzala” (2018), falando sobre diversas experiências da população trans ao som de variações do ritmo que a revelou, o funk, como o 150bpm, o trap e o brega funk. “Mavamba” é um alter ego e significa malandra, marginal. Xuxú é precursora da participação de pessoas transexuais no funk e viralizou com seu hit Um beijo”, como diz a faixa de abertura da mixtape, “Jog4”, “do Complexo da Candinha para o mundo”. O álbum conta com participações de Boombeat e Bixarte, nomes importantes na cena trans nacional, Mulher Banana, Sanvtto, Aika Cortez, e Caetano Brasil

No brega funk “Tr4ve$ty”, com MC Trans e Garota X, ela emula o próprio sucesso “Um beijo” e avisa que “tudo vai depender da forma que” for tratada”. É trava, “é trava, é trava”, diz a letra, que acaba citando o meme que imortalizou Luisa Marilac. Laura Conceição e Dona Chapa, nomes da potente cena jovem local, participam na maravilhosa “Hora do chá II”. E como não se dedicar a “See the dick”, que encerra o volume com chave de ouro e levada de samba? A mixtape foi gravada com recursos do edital Fernanda Müller, da Funalfa, uma bonita conexão geracional de nomes que marcaram a cultura LGBTQIA+ de Juiz de Fora.

Juliana Stanzani por Isabella Campos

A cantora, compositora e poetisa mineira Juliana Stanzani queria que seu trabalho de estreia solo,  “O avesso do não”. fizesse justiça a si mesma e à sua história de compromisso com a música, que começou há quase 20 anos. A sua afinação, quase matemática, já era audível em dois trabalhos antes lançados, o belo álbum “Nossa toada”, tributo ao amor e à compreensão feito em parceria com outro mestre da afinação, o sambista Roger Resende, e o álbum “Patuá” (2015), com a Banda Matilda, formada ainda por Amanda Martins (flauta), Fabrícia Valle (percussão) e Bia Nascimento (violão). O trabalho reúne composições suas e com parceiros nos últimos doze anos, com produção de Rodrigo Campello, consagrado produtor e arranjador vencedor do Grammy Latino e responsável por arranjos, programações, sintetizadores, samplers e ainda guitarras, violões, baixos, cavaquinhos e vocais no álbum. O trabalho ainda conta com uma geração brilhante de músicos mineiros, como Caetano Brasil (clarone, clarinete), Nara Pinheiro (flautas), João Cordeiro (vibrafone) e os cariocas Chico Cabral (percussão), Alberto Continentino ( baixo), Leandro Braga (piano), Rafael Rocha (bateria), Pedro Mibielli (violinos e violas) e Gretel Paganini (cello).

“Cidade Adentro: Memória Fotográfica de Juiz de Fora”
Marcelo D2 em foto Rodrigo Ladeira
Lopes in Blues na Casa do Sol
Cool as Dalton Carvalho

A exposição “Cidade Adentro: Memória Fotográfica de Juiz de Fora” fica em cartaz até novembro no  Memorial da República Presidente Itamar Franco. São 43 fotografias de Roberto Dornellas, feitas durante o período da gestão na prefeitura de Itamar Franco, entre 1967 e 1974, com curadoria de Laura Kasemiro e Tarcísio Greggio.  A mostra tem lindas imagens da Garganta do Dilermando, do Parque Halfeld, do Edifício Clube Juiz de Fora, do Ministrinho em ação, fuscas, kombis, ​​a última viagem do bonde, as obras do campus da UFJF e outros tesouros. A visitação é de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 12h às 18h.

O artista gráfico e arquiteto Dalton Carvalho leva a exposição “Fissuras”, que já fez temporada na Galeria Ruth de Souza, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com pinturas em acrílica sobre tela, papel e madeira e painéis impressos em offset, agora na Unbox, na Rua São Mateus, até 13 de setembro. Dalton já colaborou aqui com a página no post do movimento “Free Boldinho” e, pelas redes, parece ser gente boa pencas.

A Confraria dos Poetas realiza a segunda edição internacional do “Slam Fixe, Uai”, com slammers lusófonos de sete países, dias 19 e 20, no Anfiteatro João Carriço, no Paço Municipal, a partir das 14h, com transmissão ao vivo pelo Facebook e pelo Youtube. Mineiros enfrentam poetas de Angola, Moçambique, Cabo  e Guiné Bissau (África), Galícia  (Espanha) e Venezuela. O “Slam Fixe, Uai” terá transmissão ao vivo pelo Facebook e pelo Youtube.

O evento Samba nas alturas terá seu segundo final de semana, sábado (18) e domingo (19), às 15h, no Pátio Mirador, com Thiago Miranda e Grupo Alquimia (19), Bloco Só Love, Samba de Colher e Grupo Glicose (20).

Marcelo D2 e Marcelo Falcão são as atrações do Planeta Ibitipoca, sábado (19), às 18h, no Alphaville Chalés.

Big Joe Manfra e Pedro Quental fazem show gratuito, no sábado (19), às 16h, na Casa do Sol, de Letícia Nogueira, na Vila de São José dos Lopes, que faz lindos trabalhos. O evento ainda tem DJs,  exposição dos produtos da casa e experiências brincantes de musicalidade. O projeto promove oficinas, eventos e workshops de música, literatura, teatro e artesanato de alta qualidade artística e técnica (bordados à mão, cerâmicas e cestaria de fibras naturais), gerando renda para a população local. Para custear o evento e a continuação das atividades, rola  vaquinha virtual aqui.

No sábado (18), às 22h, tem shows de 3030 e da banda ETC que eu gosto no Cultural.

“Moulin Rouge, o Musical”, faz apresentação no Cine Theatro Central, às 19h, no domingo (20).

O Grupo Divulgação comemora 50 anos de teatro infantil com o espetáculo “A Menina Ventania”, com texto e direção de José Luiz Ribeiro, sábados e domingos de agosto, às 17h, no Fórum da Cultura.

Na sexta (16), o Beco completa um ano com a prata da casa, as bandas Roça Nova e Samba de Colher.

No sábado, 10h30, te Yoga no parque do Museu Mariano Procópio.

Baco Exu do Blues, Bk’, Flora Mattos, Yoùn e Biab, Tamy, Byano e mais estão no line up do Baile da Pesada (BDP) Festival, no sábado (19), às 16h, no Nau Cidades, no Santo Cristo, no Rio.

Céu, Yago Oproprio, O Grilo, Mc Bin Laden, Deekpaz Vs. Mu540, BADSISTA, Victor Xamã, Daparte, PLUMA, Aquino e a Orquestra Invisível, Tuyo, Edgar, Maglore, Walfredo em Busca de Simbiose e Jambu são as atrações do Selo Rockambole na 7ª edição do HackTown, evento de tecnologia e inovação com entrada franca em Santa Rita do Sapucaí (MG). A Marã Música comanda o palco “Sandbox” com Far from Alaska, Medulla, Zimbra, Gabriel Thomaz, Gustavo Bertoni, Canto Cego, Meu Funeral e mais.

Quinta-feira, depois da linda homenagem que Carlos Fernando Cunha fez ao Mamão no Palco Central, nosso compositor maior comemora 85 anos, na quinta (24), às 19h, no Bar da Fábrica.

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Playlist de clipes com Ashnikko, Charli XCX, Luisa Sonza, Júca, Hilreli e Lucas, Jonathan Wilson, Julia Branco, Antinoo, Doce Delix, LUIZGA + Magupi, Day Limns + Froid, Chameleo, Sam Smith + Calvin Harris, Jungle, Milky Chance, ÀTTØØXXÁ + Liniker, MC Sid, Jasmin Godoy, MC Cabelinho + Oruam + Bielzin + MC Ryan, Zé Felipe, Shook na Vozz, Grego + Indomável + Preto do Cabelos Enrolado Preto e Travis Scott

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