Sexta Sei: Um beijo pra quem é Xuxú

Por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Karol Vieira, a MC Xuxú, completa 26 anos neste domingo e vai fazer uma live para comemorar. Motivos não faltam. Não são muitas as mulheres trans que chegam a esta idade no país que mais matou transexuais nos últimos dez anos. Em 2019, foram uma a cada três dias. A expectativa de vida das pessoas trans é de 35 anos.

Nos conhecemos quando fazia a festa Bootie Rio e ela cedeu os stems de “Um beijo” para fazermos mashups para a trilha sonora do desfile do Fernando Cozendey na Casa de criadores, em 2016, que falava sobre a transformação do corpo trans. Logo depois, viemos fazer uma Bootie Rio  na primeira versão do Rocket, e ela foi lá ferver com a gente. Já assisti a dois potentes shows, na Praça da Estação e no Museu de Arte Murilo Mendes, com dançarinos, showzão. A MC Xuxu tem star quality, e o DJ Rennan da Penha sabe disso, tanto que lançou “Marginal” em sua live LGBTQI.

Grana

No domingo, ela lança “Grana”, uma versão de “Money”, da CardiB, com  produção de Rudi. A música vai ser lançada apenas ao vivo, por enquanto. Temos uma provinha aqui.  Cidadã benemérita pela câmara de Juiz de Fora, desde 2017, Xuxú criou o carnavalesco Bloco da Benemérita pra esfregar isso muito na nossa cara. O mundo é teu, Xuxú! A gente que rebole nele.

Como é fazer música fora dos grandes centros? A internet ajudou a derrubar barreiras? Como foi de “Um beijo” pra cá?

Fazer música em qualquer lugar é muito bom, apesar de cansativo eu amo ser artista. A internet tem sido a grande oportunidade pra muites artistas assim como é pra mim, eu mostro nitidamente minha posição política para atrair o máximo de pessoas do bem. Cercada de pessoas do bem fica mais fácil derrubar barreiras. Quando eu lancei “Bonde das Travestis” foi um exemplo de explosão de barreiras porque eu nunca pensei que um dia cantaria na Globo, num domingão à tarde. Não é todo dia que tem travesti preta sendo convidada para apresentar single em programa. Daí pra frente, me senti mais segura.

Vi que um recente episódio de depilação íntima que você postou nas mídias sociais saiu em alguns sites. É fácil emplacar a música? Como a imprensa trata os artistas fora do eixo Rio-SP?

Eu acho engraçado que muitos sites falam outras coisas da minha vida, mas não falam do meu trabalho, na verdade eu fico triste, porque todes, mas, principalmente, as Lgbtqia+, sabem como é difícil pra travesti emplacar qualquer arte. A imprensa quer o artista quando o artista não precisa dela, se você precisa da imprensa, a imprensa some, mas claro, sem generalizar. Em qualquer lugar no mundo, as travestis serão tratadas com indiferença pela imprensa.

Linn da Quebrada, Liniker, Mulher Pepita, Xuxu, há uma leva de novos nomes trans na música? Quais as dificuldades que vocês ainda enfrentam?

Sim, muitas. A Bixarte, a NikHot, a Ayaní, a Alice Guel, a Allejandra, enfim, muitas… A maior dificuldade eu acredito seja viver da nossa arte.

Vi que o Rennan da Penha tocou “Marginal” em sua live LGBTQIA+. Vocês se conhecem?

Eu, infelizmente, ainda não conheci o Rennan pessoalmente, mas a gente se segue. Eu sempre reparei o carinho dele com as lgbtqia+, no funk é tão difícil achar pessoas assim, tipo homem cis que sabe respeitar uma pessoa trans. Eu acho o Rennan um exemplo de homem, sou muito fã, sonho em algum dia produzir algo com ele.

Conta tudo sobre a nova música, temática, inpiração, quem produziu…

A música nova chama “Grana” e é uma versão de “Money” da CardiB, minha produção com o Rudi, daqui de Juiz de Fora mesmo. Vai ser lançado apenas ao vivo, por enquanto, mas logo vamos descer nas plataformas.

O que podemos esperar da live de domingo? Como os artistas vão superar as barreiras colocadas pela Covid?

Essa live pra mim está sendo um grande presente de aniversário, vou estar trabalhando no que eu amo e, ao mesmo tempo, investindo. Se pelo menos 60 pessoas assistirem está ótimo, vou amar. Essa não é o tipo de live “por favor me assistam”, quem não assistir vai perder. É uma celebração muito importante pra mim, estou chegando perto da estimativa de vida das travas, quero aproveitar tudo que eu ainda não aproveitei, por isso estou dando tudo de mim pra que seja muito divertido pra todes, e vai ser.

Abaixa que é tiro! ??

Vamos de lives pra não aglomerar. Hoje, dia 17, às 19h,  tem as de Angela Ro Ro e Hungria. No sábado, o gentleman do samba juizforano Roger Resende faz live, às 14h, e Bertrand de Lery se apresenta com o filho, Miguel, às 20h. Domingo, 19h, rola encontro de Leci Brandão e Marcus Boldrini.

O Circo Voador no Ar não está de brincadeira e exibe clássicos show que aconteceram na casa: Letrux em um ano de climão e Elza Soares, com o show ‘Planeta Fome”, hoje e amanhã, respectivamente, às 22h, no canal da nave no Youtube. Aliás, no dia 24, chega às plataformas “Negão Negra”, de Elza Soares e Flávio Renegado.

Sou fá do Caetano Brasil e estou com saudades da roda de choro 0800 das quarta-feiras no Experimental Container Bar. Muito legal essa série “Por que choras?” no canal dele no Youtube, com versões choro de Britney Spears, Queen, trilha de Harry Potter e Michael Jackson, nas quais ele toca até cinco instrumentos.

 

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