Sexta Sei: Recolhendo os cacos jogados com o emo trap de Jeza da Pedra

Considerado o primeiro artista gay do rap carioca, ele vai lançar EP “Amores Líquidos”, com produtor  Xavier2bit, com o trap do coração partido

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Jeza da Pedra em foto de Daniela Dacorso em Campo Grande, na Supervia

Confesso que conheci, tardiamente, a música revolucionária de Jeza da Pedra, 38 anos, nome artístico de Jonatas Rodrigues, músico, escritor e poeta, formado em música brasileira e teoria musical pela Escola de Música Villa Lobos e em Letras pela PUC-Rio, vindo do Complexo da Pedreira, Zona Norte do Rio. Conhecido como o primeiro gay assumido na cena rap carioca, ele se prepara para lançar um EP de emo trap, “Amores Líquidos”, que fala da questão do coração partido, do pós-término, clima antecipado pelo primeiro single lançado, “Dropado”. Eu fiquei dois dias preso em “Pagofunk Iluminati”, disco que o projetou e comemora cinco anos de lançamento.

“O rap continua sendo um nicho muito machista no mundo ainda. Acho sintomático que, para cada Rico Dalasam que o Brasil produz a cada cinco anos, cinquenta Filipe Ret bombam por playlist editorial, semanalmente”, dispara sobre a falsa ideia de representatividade, capitalizada pela indústria. Batemos um papo, por e-mail, para falar do clima do próximo EP, “pós-pós punk trap”, da parceria com Kassin, que rendeu um EP e ainda tem um álbum duplo guardado, do incentivo que recebeu, no início de carreira, de Marcelo Yuka, da necessidade de mudança substancial na indústria da música e do sonho de um feat com a Marrom.

“FDC (Fortalece dos Contatinho)”, Jeza da Pedra e AkaDindo

Moreira – Seu último lançamento, “Dropado”, é um emo-trap e anuncia um novo EP, “Amores Líquidos”, que chega agora em abril ainda? O que podemos esperar do EP, qual a onda da vez? 

Jeza da Pedra – Tanto o Xavier quanto eu não escapamos da cena de rock BR 90-2000, poderíamos chamar de “pós-pós punk trap” mas usamos emo para denominar a track até de uma forma meio jocosa pela atmosfera romântica. Escutávamos The Smiths, Legião, Los Hermanos, Evanescence – e tudo isso de alguma forma dialoga com a temática ultrarromântica do emo. O projeto surgiu da possibilidade de estender o mood de love songs da “Arquitetura da Despedida”, meu último projeto solo, mas se não é a parte dois, pode-se dizer, no mínimo, que é um diálogo bastante interessante onde a questão do coração partido, do pós-término, como isso afeta e fragiliza quem sofre por amor é abordada de uma maneira bem visceral. O próximo single de “Amores Líquidos” será um funk melody com synthpop bem dançante e com um parceiro de peso para engrossar o caldo do projeto.

Foto: Daniel Nobre

Moreira – Você trabalhou com o Kassin como um dos produtores do seu EP anterior, “Arquitetura da Despedida”. Cara, eu sou muito fã do Kassin, desde o Acabou La Tequila, que eu cheguei a trazer aqui em Jufas, nos anos 90, com Kamundjangos e Funk Fuckers… Eu uso “hora de dar um relax” como minha descrição no Grindr KKKK. Como foi trabalhar com ele? Muito pica das galáxias mesmo?

Jeza da Pedra – Foi muito foda trabalhar com o Kassin. Aprendi bastante com ele, além de ser fã de longa data. Ele é um cara literalmente bastante relax. Foi incrível poder conviver e conhecer, no estúdio dele, grandes músicos da minha geração, da dele e de gerações anteriores às nossas. Ainda temos um trabalho muito rico que não foi lançado e daria tranquilamente um álbum duplo. Mas tudo acontece no tempo certo. Kassin é um grande mestre e um grande amigo também.

Foto: Luan Lopes

Moreira – O “Pagofunk Iluminati” continua atual e antecipou muitas coisas, né, como o pagotrap, que tá bombando em Salvador. Em qual clima e momento ele foi composto? Eu gosto muito da estética marginal dele…

Jeza da Pedra – Esse ano o Pagofunk faz cinco anos e é um trabalho do qual eu me orgulho bastante. Poucas pessoas sabem, mas um dos maiores incentivadores no começo da minha carreira artistica foi o Marcelo Yuka. Ele foi o primeiro que escutou “Sai que tu é mó bad” e disse que eu deveria lançar no mundo. Gosto de pensar que o Pagofunk é minha espécie de “Nevermind the Bullocks”, de tão punk que foi todo o processo. A confluência de artistas queer que também bombaram na cena brasileira, tanto no rap quanto no pop, em 2015, foi um sinal que havia um alinhamento com o período que o Brasil vivia, no qual os artistas inseriam temas voltados para uma lírica afrodiaspórica e LGBTQIA+.

“Rolè de Ogum”

Moreira – A presença gay no rap hoje, além da visibilidade vem também com muita excelência, em nomes como Rico Dalasam, Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Quebrada Queer, Rap Plus Size, Iza Sabino, A Travestis, Irmãs de Pau, Monna Brutal, são tantos artistas e tão bons. Na última Batalha do Real, o Jump, gay assumido, foi o campeão. Você é considerado o primeiro rapper gay do Rio, né, como foi desbravar essa cena, você causou muito? O que você teve que enfrentar que um artista heterossexual não enfrentaria? Quais os novos artistas gays dessa cena pra gente ficar de olho?

Jeza da Pedra – O rap continua sendo um nicho muito machista no mundo ainda. Acho sintomático que, para cada Rico Dalasam que o Brasil produz a cada cinco anos, cinquenta Filipe Ret bombam por playlist editorial, semanalmente. Não acho que tá tudo certo não. A ideia de representatividade foi capitalizada pelas grandes empresas para eleger uma pessoa dentre uma minoria de artistas para representar um todo que é muito mais rico e complexo do que hip hop pode dar conta. Nem a minha presença, nem faz presença dessas artistas maravilhosas que você mencionou fazem uma mudança substancial no que tange a forma como a indústria da música funciona. É muita pouca gente para dar conta de tanta individualidade que representa a música popular brasileira. Dois artistas do Rio que deveriam ser mais notados na cena de rap são o Kellvn e a Aika Cortez.

“Celular”, versão brasileira de “Hotline Bling”, de Drake

Moreira – Ex-vendedor de picolé, você cresceu na Igreja Assembleia de Deus, chegou a ser michê de sauna e acabou fazendo curso de civilização francesa na Sorbonne. O que falta ao Jeza da Pedra conquistar e realizar? Quais são seus planos?

Jeza da Pedra – O que falta pra Jeza conquistar ainda? Se apresentar no Afropunk em Paris, no Carnegie Hall, TinyDesk, Colors, tocar em Osaka, fazer um feat com a Marrom, a lista não para. Meus próximos planos de lançamento, depois desse projeto de love songs, é soltar um álbum de afro-sambas que venho produzindo desde 2020 mas que, na fé, sai esse ano ainda.

Abaixa que é tiro!💥🔫

O Dia Mundial da Criatividade teve uma série de atividades em Jufas que se encerram hoje, com palestras, a partir das 18h, no Centro Universitário Estácio, no Cruzeiro do Sul, sobre música, literatura infantil e jogos. Os ingressos para as atividades gratuitas e mais informações estão aqui. O dia teve atividades em cem cidades brasileiras. Uma delas segue no calendário até o dia 30 de abril, a exposição “Quarentela”, do artista que eu gosto Stain. São mais de 20 telas de tamanhos variados que foram criadas pelo artista durante o período mais intenso do isolamento social causado pela Covid-19. “As telas foram uma válvula de escape para manter a criatividade e a sanidade mental nesse momento quando muitos artistas se viram desamparados”, conta. O Moinho é um lugar sensacional que fica na Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 900, Francisco Bernardino. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta, das 9h às 18h.

Eu namoro o Reza Forte pelo Instagram há mais de dois anos, quando o bar e restaurante ainda ficava na Rua Olegário Maciel. Veio a pandemia, e só agora pude realmente conhecer esse encanto mineiro, agora na nova e ampla sede no Jardim Glória. A decoração remete às tradições mineiras e lembra a roça e a fazenda. A recepção é mais do que friendly dos chefs e sócios Hugo Fernandes e Pedro Fellet. O croquete caiu no gosto do público e não fica a dever nada para o da Casa do Alemão. Faltou só a mostarda preta. No menu, também fazem sucesso o leite de onça e o mineiroca (bolinho de batata baroa recheado com costela e catupiry, empanado com farofinha de torresmo), campeão do Comida di Buteco no ano passado. Este ano, eles entraram na ação com o Uaicarajé (acarajé de millho verde com queijo curado, ora-pro-nobis, costelinha de porco e molho de goiabada) que, dizem, é um dos melhores pratos da promoção. O cardápio não é fixo, e o bar tem caipirinhas estacionais e  prioriza produtos locais, com 55% de insumos da cidade e do assentamento do Movimento Sem Terra (MST) de Goianá.

O “dive bar”, como eles se definem, no Instagram, ou buteco, fica na Rua Dr. João Pinheiro 356, Jardim Glória, e abre de quarta a sábado, das 18h às 23h30, e aos domingos, das 12h às 18h.

Banda do Ben no Sensorial. Foto- Estela Loth
Karaokê com banda no Café Muzik. Foto: Natalia Elmor,
Programa Gente em Primeiro Lugar, no Centro Cultural Dnar Rocha,

A Banda do Ben e o Bloco Muvuka se apresentam hoje (22), às 22h, no “Baile do Jorge” no Cultural. Salve Jorge!

Vai rolar nos dias 23 e 24 o segundo final de semana da sexta edição do Rock the Mountain Festival, em Itaipava (RJ), com um timão de artistas com Caetano Veloso, Gal Costa, Silva, Alceu Valença, BaianaSystem, Criolo, Majur, Djonga, Luedji Luna, Black Alien, Marina Lima, Marina Sena, Marcos Valle, Jaloo, MC  Tha, Tropkillaz, Luisa & os Alquimistas, Ana Frango Elétrico, Potyguara Bardo, Bixiga 70, Malia, Julia Mestre e Carlos do Complexo, dentre outros.

No domingo (24), tem batalha de b-boys e b-girls, a partir das 13h, na praça do Bairro Santa Efigênia (Avenida Pedro Afonso Pinheiro), no projeto “Cultura + que Tudo”, patrocinado pelo Edital “Cultura da/na Quebrada”.

No Café Muzik, na quinta-feira (28), tem Karaokê com banda, a partir das 21h, com apresentação de Gabriel Acaju e Marizótica.

E quem é fã de Rosalía, como eu, já pode comemorar, pois a gata passa por São Paulo, no dia 22 de agosto, no Tokio Marine Hall, com a tour do disco que amamos “Motomami”. A venda tem início às 10h de hoje (22). Para anunciar a tour mundial, essa semana, ela liberou clipe de “Motomami” que abre a playlist de hoje.

Abrem na segunda (25) as inscrições para as oficinas culturais gratuitas do Programa Gente em Primeiro Lugar, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). As inscrições são para as oficinas sediadas no Centro Cultural Dnar Rocha, na Rua Mariano Procópio 973, e podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 16h, com documento de identificação e comprovante de endereço. As oficinas são de Artes Visuais, Artes Cênicas, Dança (Balé Clássico, Jazz, Sapateado, Dança Urbana e Dança Contemporânea), Música (Musicalização, Violão e Percussão), Capoeira e Novas Tecnologias (Mídias sociais, Inclusão de núcleo digital e Designer gráfico).

São José dos Lopes é um distrito de Lima Duarte com cerca de 600 moradores, no pé da Serra de Ibitipoca. Foi lá que a empreendedora social Letícia Nogueira criou a A Casa do Sol, projeto sociocultural com atividades nas áreas de artesanato, música e gastronomia. Brotou por lá o Linhas de Minas, grupo de cerca de 30 pessoas, principalmente mulheres, que tem quatro anos de existência, bordando a fauna, a flora e a arquitetura do local. A ideia é levar gerar de renda, resgatar autoestima e promover encontros. As peças em linho ou lona de algodão são comercializadas: panos de prato entre R$ 25 e R$ 30, e almofadas entre R$ 120 e R$ 190.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Rosalía, Hot Chip, Orbital, Florence + The Machine, Charli XCX, Tassia Reis + Tulipa Ruiz, Rashid, MØ + Rebecca Black, Lia Clark, Izrra, gorduratrans, Paige, Dornelles + DJ Swag do Complexo, Nobat + Elza Soares +BNegão, Nicki Minaj + Fivio Foreign, Nas, Rico Nasty, Baco Exu do Blues e Cícero.

 

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