Sexta Sei: O paranaense Irakytan e o empoderamento pela estranheza

O artista lança EP de estreia, “Talismã”, no próximo dia 25, quando nos convida a uma viagem de ficção científica pelo mundo da sua imaginação

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

O algoritmo colocou na minha vida o maravilhoso clipe de “Muirakytan”, do músico, cantor e compositor Irakytan, 27 anos, da cidade de Maringá, no interior do Paraná. No dia 25, quando ele completa 28 anos, sai também o seu  EP de estreia, “Talismã”, financiado pelo Prêmio Aniceto Matti, com reflexões sobre o sentimento de se entender uma pessoa não-binária. O projeto ainda prevê mais dois clipes, que virão também nesse clima de ficção científica e fantasia.

Moreira – Você sabe que eu estou aqui por culpa do algoritmo, né? Ele botou o belo clipe de “Muirakytan” na minha timeline no YouTube, e eu fiquei chocado com a qualidade musical e a estética do trabalho. Não é fácil fazer ficção científica sem ficar com cara amadora… Como montou essa equipe fantástica? Andei espiando alguns nomes no Instagram… Quando saem os outros dois clipes? Será nessa mesma temática? Uau.

Irakytan Que informação maravilhosa saber que foi pelo algoritmo, este clipe ele foi lançado de forma orgânica, sem nenhum impulsionamento, então, esta informação é muito legal porque a gente sabe como são estas questões hoje em dia de visibilidade nas plataformas. Fico muito feliz que tenha curtido o clipe e a música. Então, eu acredito que o clipe começa quando eu fiz uma concepção visual a onde eu queria elementos reais físicos como cenário, acredito que por fazer parte da minha formação artística, eu sou filho de artistas, meus pais são do teatro de animação e esta questão cenográfica é muito presente, eles sempre trabalharam com cenografia para outros artistas além dos trabalhos da companhia de teatro deles, então, esta estética já estava muito no meu imaginário de existir. O talismã do clipe foi feito pelo meu pai, Sandro Maranho, com minha ajuda e auxílio desenvolvemos aquela estrutura com arames e, depois, finalizei com plástico filme e spray de tinta verde. Para este clipe, eu  queria muito trazer a água como um elemento, pois a história da pedra MuIrakytan está neste ambiente quando visualizo seu surgimento, montamos uma piscina artificial de lona e enchemos, eu amei o resultado apesar de ter sido um pouco tenso e trabalhoso, mas é o famoso no final vale a pen. Agradeço muito à minha equipe que tenho muita felicidade em chamar de amigos também, uma galera talentosíssima e super disponível que compraram as minhas vontades e desejos. Estas pessoas são artistas incríveis da minha cidade. Luara Fagundes, que assina a direção geral junto comigo é minha irmã, ela tem formação em fotografia, trabalha diretamente com o audiovisual e também é editora final de todos meus vídeos, uma parceria que começa desde nossa infância quando fazíamos os trabalhos da companhia de nossos pais, então tenho muito da visão dela sobre meu trabalho o que me deixa muito seguro pois temos as mesmas vivências artísticas e buscas. Danilo Furlan que é responsável pelos meus figurinos desde quando comecei a fazer performance corporal em eventos de música eletrônica underground na cena da minha cidade. Danilo me viu crescer, literalmente, pois trabalhava na companhia dos meus pais e sempre foi uma referência de criatividade, ele tem uma visão única de transformar coisas que iriam pra descarte em uma obra de arte, a gente tem uma sintonia de referências pra criar juntos, ele me propõe sempre coisas ousadas e entra muito neste lugar de troca, liberdade e confiança. Esta turma, boa parte dela já tinha trabalhado comigo no meu primeiro projeto maior que se chama “Rec:antar Show”, que foi desenvolvido em 2021 na fase de pandemia, este projeto foi um “auxílio emergencial” municipal na época eu acabei tendo que tirar inclusive do meu ganho para conseguir produzir um trabalho que realmente fizesse sentido pra mim. Hoje, está disponível em meu canal do Youtube, mas, na época, foi lançado pelo da prefeitura daqui e foi o vídeo mais assistido do edital. Os próximos clipes, acredito que saia o segundo no final de junho, e o último, em julho. Cada clipe vai trazer uma linguagem estética e uma história que se completa e se liga, afinal tudo isto é uma viagem dentro deste “Talismã”, com diversas facetas.

Moreira – A faixa do clipe se inspira na lenda indígena do Muiraquitã, um amuleto de pedra que simboliza sorte e felicidade, para criar cenário criativo e exótico. Achei curioso que o muiraquitã já tinha aparecido na obra de outro artista gay que eu acompanho e admiro, o Leopold Nunan, que se transforma em um muiraquitã no clipe de “Banzé”. O que tem nessa simbologia do muiraquitã que se associa tanto ao universo LGBTQAI+? Esse sapo é rã? E como essa lenda amazônica te influenciou aí em Maringá, no Paraná?

Irakytan – Olha que bacana, adorei conhecer o trabalho do Leopold Nunan, na verdade, é que eu me chamo mesmo Iraquitan, então, eu me deparo com a origem do meu nome desde criança, meus pais sempre me contavam a história que da origem do talismã e enfatizavam a beleza da cultura indígena, sempre me empoderei da estranheza dele e acreditei muito na força da sua história e poder cantar esta história é uma metáfora de quem me tornei e acredito que talvez a associação da história da lenda para pessoas LGBTQIA+ esteja nesta força da proteção. Eu acredito que este sapo pode ser o que ele quiser, pode ser onça, pode ser rã, hoje me identifico com uma pessoa não binária que é inclusive tema de outras músicas do EP, então, acredito muito na não binaridade das espécies e talvez isto possa ser também outra metáfora da “MuIrakytan”.

Moreira – Essa mistura de sonoridade eletrônica a instrumentos orgânicos, como o clarinete, que você mesmo toca, faz lembrar um pouco o álbum de retorno a Björk com o seu sexteto de clarinete Murmuri, o “Fossora”. O visual também é bem insano, como o seu. Ela é uma inspiração? Na Sexta Sei, eu encadeei o seu clipe com o de “Fossora”… Achei parentes na viagem 😉

Irakytan – Eu estava esperando alguém comentar sobre kkk, foi uma coincidência a questão da sonoridade e do clarinete, se eu não me engano, a gente tinha finalizado “MuIrakytan” no começo de dezembro de 2022, e ela lançou o “Fossora” logo depois, e eu fiquei em choque na sintonia com a queen kkk, Björk é sim uma inspiração, mas confesso que não sou fã de carteirinha de saber tudo sobre ela, mas algumas obras e clipes, principalmente os materiais mais recentes dela, eu acho incrível, o clipe de “Atopos” foi uma refereência sem dúvidas. Em relação ao clarinete, eu toco desde os meus 10 anos, então, ele faz parte de mim e da minha trajetória na música, tanto que ele está presente em três faixas do EP. Acredito que artistas multis como a Björk são as maiores referências pra mim.

Moreira – No release, diz que o EP “Talismã” expressa suas vivências como uma pessoa LGBTQIA+ e seus questionamentos perante a sociedade contemporânea. Me conta mais dessa motivação e de como isso se desdobra no trabalho, que está bem bonito? Curti demais o seu EP, parabéns.

Irakytan – Exato, eu acredito que está muito nestas novas fases que passei e venho passando ao me perceber como uma pessoa não binária, acho que ser um corpo não esperado pela sociedade causa tantos ferimentos, raivas e revoltas que faz a gente se questionar o pertencimento de lugar o tempo todo. Trago questões como os excessos da tecnologia e a falta dela, não filtramos as informações, elas são vomitadas em nossas cabeças. Isso vai acabando com a nossa saúde mental e nos aproximamos cada vez mais de um conceito cyber punk. No EP, eu também falo sobre onde nossos corpos estão no imaginário afetuoso de relação, como as pessoas querem se relacionar com ele. Falo sobre tempo que é uma grande questão para nós pessoas LGBTQIA+ pois vivemos muito o agora e as vezes esquecemos do amanhã. Enfim, o EP se desdobra entre mensagem diretas e metafóricas que sem querer é uma linguagem de composição que gosto muito. O EP será lançado agora no dia 25, quando completo 28 anos de idade, e é um lançamento muito simbólico pra mim de realizar este trabalho que foi premiado em primeiro lugar na categoria de música do Prêmio  de incentivo Aniceto Matti da cidade de Maringá. A direção e produção musical é de Cha Di Lirian, meu parceiro que topou fazer a direção musical do EP todo e produziu duas faixas, “MuIrakytan” e “Ciclo Vicioso”, é sempre muito confortável trabalhar com Cha Di, que tem referências incríveis que sempre elevam o trabalho, temos outras faixas que já trabalhamos juntos é um profissional incrível e renomado. “Caminhar” é uma música que já tinha lançado com produção de Chá Di Lirian, mas ganhou uma nova versão que finaliza o EP produzida por Eve Nacari de São Paulo, a gente já se conhecia por internet eu acompanhava o trampo delu de DJ e produtor e um belo dia eu estava no Tiktok, pensando em alguém que poderia produzir “Caminhar”, e a gata me aparece no feed produzindo um som, neste, o algoritmo também acertou em cheio, heheh, logo em seguida, entrei em contato e produzimos super rápido e gostosin a nova versão. Enfim, muita gente incrível em diversos processos por se tratar de um projeto grande, pessoas disponíveis que acredita na soma de tantos artistas.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Fotografia por Opoente Filmes

Não sei aonde eu estava que ainda não conhecia o acontecimento pleno que é L’homme Statue, projeto do multi artista afro-francês radicado no Brasil há seis anos Loïc Koutana. Ele acaba de lançar o single “Espírito Livre”. nesta sexta (19), em parceria com o excelente Zopelar, mesmo produtor de seu álbum de estreia, “Ser (2021). A faixa, que tem elementos de afrobeat e house, reflete, em francês e português, sobre relações desencontradas, e se rebela contra a tentativa de controle sobre o corpo. “Me considero um espírito livre, um dos meus mantras na vida é ‘ser livre. Sempre me reinvento, eu flutuo entre os mundos, entre os grupos de amigos, entre os gêneros musicais, entre as línguas. Não tenho medo de me reencarnar numa mesma vida”, resume.  O clipe de “Espírito Livre” foi dirigido pela dupla de diretoras Stefani Alves e Nana Lucarini, que formam a Opoente Filmes. A família de Loïc Koutan é natural do Congo e da Costa do Marfim

O multi-instrumentista e baterista Yussef Dayes, um dos nomes mais vibrantes do novo jazz, prepara lançamento de novo álbum. Após chamar a atenção com o EP ao vivo “Live At Joshua Tree” e colaborar com artistas como Kali Uchis, Wizkid e Kehlani, ele antecipa o novo trabalho, que sai em 8 de setembro, lançando sua faixa-título, “Black Classical Music”, com participações de Venna e Charlie Stacey. No álbum, uma grande lista de convidados, que incluem Chronixx, Masego, Jamilah Barry, Tom Misch, Elijah Fox, Shabaka Hutchings, Miles James, Sheila Maurice Grey, Nathaniel Cross, Theon Cross e a Chineke! Orchestra.

Fotos Danika Magdelena
"Minha santa" Banda Bike "não me deixa por os pés no chão". Foto de Bel Gandolfo

Eu já tinha falado do guitarrista e produtor Guilherme Heldi aqui, em fevereiro, quando falei sobre o álbum que ele produziu para Nei Zigma, o belo “Evocação Negreira”. Pois outro álbum produzido por ele chamou a minha atenção, o mágico “Arte Bruta, quinto álbum do grupo paulistano de rock psicodélico Bike, da minha terra natal, São José dos Campos. O álbum é, praticamente, fruto de um processo de autoanálise que acompanhou o grupo durante o período pandêmico. No álbum, eles atingem a maturidade e abraçam uma sonoridade mais abrasileirada. Um bom álbum pra ouvir, com linda capa de Juli Ribeiro. O quarteto paulista é formado por Julito Cavalcante (voz, guitarra), Diego Xavier (voz, guitarra), João Felipe Gouvea (baixo) e Daniel Fumega (bateria). O termo “art brut” designa criadores que não têm a consciência de que sua criação pode ser encarada como arte. 

A capa de "Arte Bruta" por Juli Ribeiro
Fotos Lucas Godoy.

Depois que conheci o Abacaxepa, como contei aqui na semana passada, por indicação da Assucena, o algoritmo achou por bem colocar no meu caminho o Abacate Contemporâneo, banda de Londrina, no Paraná, sugerindo a nova gravação de “Transmurtar-se”, com Rubia Divino, para a playlist sextante. A faixa reflete sobre a urgência de mudança diante do rastro de destruição que a Covid-19 deixou, uma busca por renovação. A banda foi criada em 2014, influenciada pela Tropicália e pela Vanguarda Paulistana. A estreia foi encerrando show de Jards Macalé, que acaba de lançar o álbum “Coração Bifurcado” e também é uma referência musical para o grupo, que lançou seu único EP, homônimo, em 2107, fundindo rock, música brasileira, grooves e ritmos latinos. O Abacate é formado pela Raquel Palma (vocal), Rafael Fuca e Binho Prado (guitarras e vocais), Marcos Kirchheim (baixo) e Fábio Farinha (bateria). Morramos lentamemte, dando gritinhos, com a cor do batom.

Marcus MPC. Foto: Carl de Souza

Nesta sexta (19), às 20h, tem abertura da exposição “Rua Direita”, de Gerson Guedes na Hiato Galeria. A visitação é das 13h às 18h, de segunda a sexta, e das 10h às 13h, aos sábados. O áudio do primero link é irresisítvel, de autoria do artista-poeta, “um Mergulhão no tempo, um grito na Garganta”.

Alexandre Pereira e o Samba do Galo apresentam mais uma Gafieira da Estação,  sexta (19), às 20h, na Estação Cultural. Chegando mais cedo, às 19h, ganha aula de gafieira.

A cultura balroom ocupa o Centro Cultural Dnar Rocha com o evento High School KiKi Ball, sábado (20), 10h, e domingo (21), 14h, com entrada franca, no Centro Cultural Dnar Rocha.

Marcus MPC é um DJ lendário de reggae e dub no Rio de Janeiro, criador da primeira equipe carioca do gênero, ou soundsystem, o DigitalDubs. Todo mundo gastou o dub “Lula livre”, criação dele, com vocais do jamaicano Earl Sixteen e música  inspirada no tema de Yami Bolo, “Free Mandela”. Ele é o convidado de Gramboy na festa Bang!, nesta sexta (19), às 21h30, no Beco. No sábado, às 20h, tem Samba de Colher.

Filha de Itamar Assumpção, Anelis Assumpção apresenta show do excelente álbum “Sal”, do qual falei aqui na página em janeiro, sábado (20), às 22h, no Sensorial. Na sexta, no mesmo horário, tem “Os Afro sambas”, com Marcos Sacramento e Zé Paulo Becker reapresentando o clássico de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

No sábado (20), às 16h, o Teatro Solar recebe a peça teatral Wandinha Addams – O Mundo não é Preto no Branco”.

O alagoano radicado em São Paulo Bruno Berle apresenta, no Maquinaria, no sábado, às 21h, show do seu bom álbum de estreia, “No reino dos afetos”, lançado no ano passado.

Tem programação de teatro infantil gratuita no Teatro Solar, com  “Frozen”, no domingo (21), às 16h. Entrada gratuita com retirada de ingressos pelo app do Diversão em Cena e na bilheteria do teatro uma hora antes da apresentação. 

O projeto “Yoga no Museu” volta ao parque do Museu Mariano Procópio, sábado (20), às 10h30.

Na quinta (25), às 21h, Ana Frango Elétrico, esse talento, volta a Juiz de Fora para show no Muzik

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links. A playlist do streaming consolida lá pelas 2h de sexta.

Playlist de clipes com Quarteto Geral, Jorja Smith,  Todrick Hall + Bob the Drag Queen + Monet x Change, Rubel + MC Carol + BK + Gabriel do Borel,  Janelle Monae, Tagua Tagua, Nicki Minaj, Zoo, Azzy, Nabrisa +Kage +DJ Renan Valle, Kesha, Victoria Monet, Christine and the Queens, Martinho da Vila + Chico César, NPKN, Anitta + MC Ryan SP, Coruja BC1 + Rincon Sapiência, Dereck, Moby e Ruger.

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