Sexta Sei: Mergulhando no mundo inventivo e multimídia de Novíssimo Edgar

Artista paulistano que é parceiro do pernambucano Pupillo prepara disco novo, “Ultrapassado”, e curta-metragem, “Erva de gato” para este ano

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Edgar na capa de “Ultraleve” em foto de Evandro Gotaa 

Já tem um tempão que eu quero entrevistar o multiartista inventivo paulistano Novíssimo Edgar, 28 anos, ao qual fui apresentado pelo meu amigo Tuta Discotecário. Parceiro do pernambucano Pupillo em dois discos essenciais para entender o Brasil contemporâneo, “Ultrassom” (2018) e  “Ultraleve” (2021), eles já estão trabalhando em “Ultrapassado”, álbum previsto para ser lançado ainda esse ano, quando também será lançado o curta metragem “Erva de gato” , dirigido por ele.

Edgar nas fotos de Luiz Garrido

Falamos sobre os figurinos, sempre inventivos e feitos a partir de reciclagem, que agora ele entrega a amigos da área da moda, sobre o encontro com o produtor Pupillo, que ele quase perdeu por usar, na época, um celular precário, mas que foi essencial nessa fase que seu trabalho ganhou mais visibilidade, a partir da participação em “Exu nas escolas”, com Elza Soares, no disco “Deus é mulher” (2018). Também falamos da parceria com o indígena Aworá, ex-Kunumi, a perspectiva de ser um multiartista em vários canais, como filmes e livros, uma expansão natural de tanta criatividade e inventividade, e do recente episódio de preconceito sofrido em uma casa aonde ia se apresentar, em São Paulo.

Moreira – Você mesmo produz as suas roupas? Tem uma história sendo contada na indumentária, né, além da narrativa da própria música. Conta mais sobre a sua moda, como se cria, tem muito de reaproveitamento e reciclagem? Já pensou em lançar uma marca? 

Edgar – Sim, eu produzi todas roupas da turnê do “Ultrassom”. Para os shows novos do “Ultraleve”, eu tenho convidado amigos artistas, estilistas e figurinistas. São peças de acervo e peças criadas que eu tenho utilizado. Haja tempo para fazer tudo sozinho, estou em um momento de dividir e cocriar. Já pensei, sim, fazer uma marca, mas, em 2019, não conclui o projeto, que era junto com Renan Alves. Era muito trabalho, e a gente não tinha dinheiro ainda para investir nisso. Então, fiquei mais no foco artístico que no empresarial.

“Também quero diversão”

Moreira – Parece que essa transa da reciclagem também é levada para a criação de instrumentos, quais foram criados por você na manufatura do último disco?

Edgar – Sim, essa transa com a reciclagem eu sempre testei novas expansões, não só na roupa. Esse projeto da marca de roupas tinha um diálogo com tecidos reciclados de garrafa PET, outros feitos de algodão orgânico. Eu estendi, fazendo instrumentos para o novo disco. Estava querendo deixar um pouco essa parte do têxtil do figurino e trazer essa reciclagem pro som, então construí alguns instrumentos, que foram captados e transformados em timbres pros instrumentais do novo disco.

Moreira – Como é o trabalho com Pupillo Oliveira? Lembro que, no Cultura Livre, ele brincou que você custou a dar resposta quando ele te procurou. A parceria dá muito certo, são dois discos lindos de viver. Conta mais sobre o processo de trabalho e a colaboração de vocês.

Edgar – Sim, eu adoro trabalhar com o Pupillo,  é fantástico, ele propõe coisas legais e deixa a roupagem do som muito mais atual e também não deixa tão caótico. Ele consegue ficar nesse lugar underground mainstream,  entre o pop e o esquecido, legal pra caramba. Eu demorei a responder porque, mesmo tendo um trabalho totalmente tecnológico e tratando desses assuntos nos textos nas músicas e nas pesquisas artísticas, eu sou bem leigo e bem ruim de internet, de aplicativos e programas. Então, sempre temos parceiros que contribuem com isso nas produções. Naquela época então, eu tinha um celular V3, eu acho, não tinha notebook nem nada, e a maior galera perguntando porquê não tem os discos antigos no Spotify. Eu não tinha HD. Então, tive uma  evolução não só no trabalho, mas também nas aquisições pessoais. Gosto de trabalhar com ele porque me empurra a ser mais músico, mais cantor, mais profissional, com mais propriedade e mais técnicas.

Moreira – Como foi trabalhar com o MC Kunumi, que agora cresceu e se chama Owerá? Vocês chegaram a se encontrar nessa colaboração? Ele deu uma das entrevistas mais interessantes da coluna, adoro ouvir os áudios que ele me mandou de vez em quando. Interessante a metáfora da maniçoba para o disco, que é um alimento indígena…

Edgar – Essa ideia da maniçoba foi por causa do processo criativo e de preparação que foi fazer esse disco, ele teve muito tempo de forno, pode-se dizer, e os ingredientes foram sendo acrescentados durante esse cozimento. Não consegui encontrar com o Kunumi, foi no auge da pandemia que a gente fez essa canção. Troquei bastante com pai dele e também com ele, converso com ele até hoje. No ano passado, fiz uma transferência para ele construir uma casa de reza lá na aldeia dele. Tem toda uma construção, uma amizade assim com a família dele, adoro assim, o pai dele é um escritor literário com várias publicações, fantástico. Ele é um artista fantástico, estou feliz de ele estar com uma produtora e um pessoal internacional ajudando, demais.

“Carro de boy”, com Rico Dalasam

Moreira – Você começou a fazer cinema durante a pandemia com o curta “Erva de Gato” e também lançou um livro. A ideia é trabalhar em diversas plataformas? Quais são os planos como cineasta e escritor?

Edgar – Eu já fazia alguns curtas metragens, assim, desde o meu disco “Protetora dos bêbados e mal amados”, de 2017, já tem uma proposta de documentário de ficção, na qual faço um curta-metragem ali todo narrado em voz of e  captando algumas imagens de câmera JVC. Fiz a edição da montagem, manualmente, de maneira analógica. Então, já tinha todo um flerte, sempre fiz roteiros pros discos, construção de figurinos, direção de arte, e também na co-direção, comecei a assumir mais a direção, dividida com os outros. diretores, junto de Túlio Cipó, uma pessoa bem importante assim para poder entrar nesse lugar de diretor também. Então, nos clipes de “Carro de boy” e “Também quero diversão” e “Prêmio Nobel” começo a fazer não só o roteiro, mas a dirigir para o quê eu quero. É um lugar que eu nunca podia ter perdido as rédeas, porque eu sei muito bem o que eu quero. O curta “Erva de gato” é um escrito antigo que a Giulia Del Bel, atriz e produtora, começou a me instigar a fazer esse projeto. A gente ganhou o Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac) para poder realizar o filme, estamos fazendo alguns ajustes de roteiro, e a gente pensa em começar a gravar a partir de abril e vai disponibilizar para festivais internacionais e nacionais, vamos ver aonde a gente consegue fazer o lançamento desse filme.

O livro eu escrevi em 2017, essas coisas sempre estiveram junto ao meu trabalho e, agora, tive a oportunidade de conseguir realizá-las. É uma proposta, um planejamento de carreira, ser multiartista, sempre foi, ao mesmo tempo que não foi, essas coisas vêm surgindo e saindo e vêm sendo uma expansão natural no trabalho, como eu já faço figurino e escrevo textos, quando junto tudo isso começo a pensar em cinema, em teatro, tirando do meu corpo, não  sendo mais o centro, mas me colocando como maestro, como diretor desses roteiros, dessas peças, dessas ideias que surgem. Então, tem outros objetos que faço, peças de arte, tem outros pensamentos que não cabem para cinema e vão para performance e outras atividades artísticas. Essa expansão, ao mesmo tempo que é natural, também está sendo planejada e trabalhada. O livro saiu, podem sair outras publicações, mas o cinema, por enquanto, esse ano, é a prioridade pra poder entregar “Erva de gato” e pensar outras coisas. A prioridade mor continua sendo a música, tenho que entregar outro álbum, “Ultrapassado”, e essas relações com arte contemporânea correm em paralelo.

“Prêmio Nobel”

Moreira – Acompanhei pelas suas mídias esse recente episódio de racismo na Black Princess. A sua condução foi muito ética, carinhosa e pedagógica. Quais são os desafios da comunidade negra hoje no combate ao racismo?

Edgar – O acontecido na Black Princess, não sei se eu conseguiria chamar de racismo, mas de preconceito, porque ele engloba diversos outros tipos de preconceito, não só o racismo, tem homofobia e um lugar de classe. São várias camadas que se interpõem até chegar também, supostamente, ao racismo. Então. Aconteceu na Black Princess e foi resolvido. Fiz a mudança do show para o Mundo Pensante, que foi um apoiador, junto com a Jup do Bairro, Malka e vários outros artistas que cancelaram seus shows na Black Princess devido a esse fato. Junto a essas artistas, a gente chegou numa proposta de solução para poder remarcar os shows, porque a gente queria fazer, eu que fui impedido de entrar realizar meu show. Então, a proposta foi que a casa não demitisse a equipe de segurança, mas incluísse um corpo que fosse trans, queer, periférico, não-binário e fizessem um trabalho de acompanhamento e treinamento com essa outra equipe de seguranças para poder conseguir receber com segurança, esses corpos trans, incidentes, periféricos, negros, que estavam indo pro evento. Porque se eu não consegui ser bem tratado, meu público também não seria. Mas os shows aconteceram porque a casa acatou essas essas propostas de soluções.

Abaixa que é tiro!💥🔫

As capivarinhas mudaram a vida do artista mineiro radicado em São Paulo Guilherme Nunes, 28 anos, que é autodidata e técnico em comunicação visual e design de interiores. “Eu não sabia que as capivaras faziam tanto sucesso. Eu era bem desconhecido até que, um dia, pintei capivaras. Foi aí que eu comecei a viver de ilustração, elas me abriram muitas portas”, me conta, pelo chat do Twitter. As principais inspirações artísticas vieram do movimento simbolista, de artistas como Odilon Redon. “Eu tive aulas de desenho e tal, mas aprendo mesmo sozinho,  assistindo videoaulas no Youtube e praticando todos os dias“, me conta o artista, que nasceu em Tocantins, aonde nunca viu capivaras.

Diane Sturião, a Didi, 37 anos, tem chamado a atenção, no Instagram, com o seu novíssimo trabalho como grafiteira. Formada em fisioterapia e fonoaudiologia, ela fez seu primeiro grafite em 2014, em evento do Ileso, grande referência para novos grafiteiros da cidade. Ela seguiu desenvolvendo seu talento no evento Grafitti Absurdo, da saudosa Casabsurda, com incentivo de seu guru das artes Gloobmund, que pilhou essa trajetória dos murais. Didi pinta desde criança, com giz, no quadro negro, e com lápis, nos cadernos e nos livros dos colegas, mas nunca fez aula de desenho. Na faculdade de fisioterapia, desenhava anatomia que os colegas usavam para fixar melhor a matéria.

O olindense Chinaina lançou, essa semana, o bom EP “Carnaval da Vingança”, com duas faixas inéditas e duas regravações combinando frevo e hardcore, duas referências seminais. O EP abre com a inédita “Carnaval Infinito”, samba-reggae escrito em parceria com a multi-instrumentista Michelle Abu. O encerramento traz a participação especial de Cannibal, vocalista da lendária banda Devotos, em “Virando Papangú”, a outra inédita do EP. O artista também anuncia a segunda temporada da série “Caça Joia”, uma busca frenética por talentos musicais no Globoplay e no Canal Futura.

Depois de mais de duas décadas atuando com sua banda Cidadão Instigado, o compositor, cantor, guitarrista, produtor musical e artista plástico cearense Fernando Catatau estreia em carreira solo com álbum autointitulado que chega hoje. O álbum, de pop contemporâneo, mostra o artista se aproximando da forma com que os jovens artistas fazem música, com experimentações caseiras, linhas vocais inventivas, minimalismo melódico, foco na textura e uma forte conexão com seu território, como conta o release escrito por Jonnata Doll. Entre as participações, nomes como Yma, Melindra Lindra (Glamourings), Giovani Cidreira e Juliana R (no excelente single “Nada acontece”) e os guitarristas Cristiano Pinho e Manoel Cordeiro.

Os Gilsons que eu gosto escolheram o Dia de Iemanjá para nos presentear com o disco de estreia,  “Pra gente acordar”, que mostra a criatividade e o talento de José, João e Francisco Gil, filho e netos de Gilberto Gil. O álbum descortina suingue aliado a beats e levadas modernas, com produção de José Gil. 

Lançado na semana passada, o novo disco do baiano Baco Exu do Blues, “Quantas vezes você já foi amado?” teve mais de 2 milhões de plays em menos de 24 horas no Spotify , meteu todas as doze faixas na lista de Top 200 da plataforma e entrou no top mundial dos dez maiores lançamentos da semana do Spotify. Foram dez mihões de plays em uma semana, saradíssimo. O disco tem participações de Gloria Groove e Muse Maya e samples de Gal Costa e Vinicius de Moraes. “Eu sinto tanta raiva que amar parece errado”, diz a música de abertura, anunciando um disco de rap sem rimas.

No último dia da Visibilidade Trans (29), Nega Preto e Kalleb, de Petrópolis, lançaram o EP “Binaricídio”, falando sobre a vivência de pessoas pretas trans não-binárias. Kalleb tem 20 anos e faz arte desde os 6, dançando, e já falei da Nega Preto aqui antes, no post do Rap da Serra. Enquanto Nega Preto fala sobre “O peso de ser trans” e a dificuldade de se encaixar, Kalleb fala do “Cheirinho na dureg”.

Acaba de estrear no streaming do Itaú Cultural Play a série “SambaBook”, com filmes musicais de uma hora dirigidos por Afonso Carvalho que homenageiam cinco grande referências do samba: João Nogueira, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Dona Ivone Lara. Pelos filmes, desfilam participações de Diogo Nogueira, Alcione, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Elza Soares, Gilberto Gil, Jorge Bem Jor,  Arlindo Cruz, Maria Bethânia, Criolo, Elba Ramalho, Teresa Cristina, Emicida, Maria Rita, Lenine e Seu Jorge.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de videoclipes com Chianina, Tuyo, JMSN, Yemi Alade + Yaba Buluku Boyz + Effyzzie Music, Luedji Luna + Russo Passapusso +Joander Cruz, Ludmilla, Arlo Parks, Lali, Carol Biazin, MØ, Doja Cat, Charli CXC + Rina Sawayama, Agnes, Jade Faria,  The Kooks, Carolina Sá, Pedro Sampaio + MC Pedrinho, Francisco, el Hombre, Flume + MAY-A

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