Paulistano criado no Rio, Antonio Sobral trocou a Europa por vida comunitária no território rural fluminense, aonde criou o álbum visual “Marulho”livre das amarras do mercado e propondo uma nova perspectiva
por Fabiano Moreira
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Estou de olho no trabalho inspirador do multi-artista paulistano criado no Rio, Antônio Sobral, 37 anos, desde o lançamento do primeiro single, em agosto, com delicadas imagens homoafetivas que destaquei na minha seleção para a Revista Híbrida. Ou apenas afetivas, como prefere resumir. O trabalho do Antonio leva a tantas reflexões, principalmente como nosso tempo está passando “Ligeiro demais”, como alertou o mestre Paulinho Boca de Cantor. Para Antonio, a constante aceleração é produto do capitalismo,“decadente e violento”. O álbum audiovisual filmado em super-8, “Marulho”, na Residência São João,no centro-oeste fluminense, é cru, íntimo e confortável. Vem espiar o nosso papo, que foi realmente especial.
“Vista”
Moreira – Você tem, definitivamente, um jeito diferente de fazer as coisas, né? Optar por estéticas e caminhos tão undergrounds é um ato de bravura? A velocidade dos lançamentos e das informações têm que dar uma pausa para te ver passar 😉 ? Qual o preço de apresentar algo tão diferente e contemplativo?
Antonio Sobral – Acredito que sim, há certa bravura, mas nenhum heroísmo, pois sou fiel ao que sinto e ao meu repertório, de um lado, e, de outro, tenho o conforto de não depender da minha arte para sobreviver. Continuo assistindo a filmes velhos e estranhos que vou garimpando na rede, indiferente aos últimos lançamentos da Netflix. Enquanto o mundo acelera e os avatares se multiplicam, busco a calma e a essência. Acredito que o mundo não me dá a atenção devida – e esse é o preço de ser original. É difícil conseguir espaço sem fazer concessões, ainda mais propondo a desaceleração. Mas o meu trabalho tem a sua força, e ela chega nas pessoas que pausam para prestar atenção nele. Também tem o mérito de não se pautar pelo que está em voga, e portanto, tem o potencial de ser uma observação mais profunda do que se passa ao redor, graças a este distanciamento. Vejo a constante aceleração como um produto do capitalismo, decadente e violento. Optei por viver no campo para viver o meu tempo vital um pouco fora desta engrenagem. A minha arte investiga as condições emocionais e filosóficas da presença.
“Três amigos”
Moreira – Eu fui fisgado nessa sua tour desde o primeiro single,“Vista”, a princípio, pelas imagens de homoerotismo e afetividade, como costumo mapear essa produção para a Revista Híbrida. Como essa questão da homoafetividade aparece no seu trabalho?
Antonio – A homoafetividade entra como afetividade, sem “levantar uma bandeira”, nem com medo de “dar bandeira”. A aproximação com o mundo é o motor da minha criatividade. A troca amorosa é, metonimicamente, um alicerce para possíveis transformações pessoais e sociais.
“Canto doce”
Moreira – É interessante como você se apresenta tanto como músico e compositor quanto como cineasta e criador de imagens. O disco foi gravado na sua casa, “no auge da pandemia, quando as baterias do mundo andavam fracas”, diz o release. O quanto o trabalho reflete sobre a pandemia? Nunca mais seremos os mesmos?
Antonio – O álbum audiovisual “Marulho” traz um tanto de introspecção e de questionamentos existenciais, coisas que o confinamento massificou. Por outro lado, propõe bálsamos para o que seria uma ferida original: a dor de se saber só, sem saber praonde vai. Os arranjos e as letras transbordam ternura e imaginatividade, que são ferramentas da compaixão e ajudas no jornadear.
“Eu te amo”
Moreira – Como é comandar tantas frentes do trabalho?
Antonio – Muito excitante e cansativo. Foi bom, mas vou diminuir o ritmo em 2023. Eu venho coordenando, simultaneamente, uma propriedade rural com lavoura de café, residências artisticas, uma editora, produção de desenhos e pinturas, composições musicais, turnês musicais, produção de videos, escrita poética…
“Aéreo retorno”
Moreira – Há oito anos, você trocou sua vida em Berlim por uma vivência na serra fluminense, o “encontro da paz na Natureza”, você diz sobre a canção “Canto Doce” no release. Lá, em São José do Vale do Rio Preto, território rural no centro-leste fluminense, você se dedica à agroecologia e comanda a Residência São João. Conta mais sobre esse espaço e tudo o que você faz lá, além de cinema e música.
Antonio – A residência existe há mais de dez anos na Fazenda São João, tempo no qual se consolidou, definitavemente, no território em que está inserida. Hoje vivem muitos agricultores e artistas aqui, plantando, produzindo arte, imaginando e expandindo mundos mais amorosos e respeitosos, gerando comunidades. Estamos conectados a nivel global, sendo uma referência no universo das residências artísticas pela nossa história e abordagem experimental, recebendo pessoas influentes e interessantes de todos os continentes do mundo e regiões do Brasil. Evoluímos em redes que promovem e sobrevivem da cultura e da agroecologia, e somos bastante ativos, resistindo na serra carioca -aqui sim, com bravura, rs, pois estamos num rincão tenazmente fascista. Por sorte, somos cada vez mais numerosos e articulados na região, no sentido de pensar e produzir um futuro mais amoroso e ecológico.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Conheci o artista carioca Hebert Deff com a capa que ele assina para o último single de Marcelo D2, “Povo de fé”, o primeiro do álbum “Iboru”. A capa retrata a comunidade negra das favelas cariocas, com símbolos das religiões afro-brasileiras. Hebert tem 29 anos e é nascido e criado em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Autodidata, ele usa técnicas de pintura e colagem digital para se expressar e comunicar com a comunidade. Ele começou a pintar em 2016, misturando vivência de rua, música e referências de artistas como Salvador Dalí, Heitor dos Prazeres, René Magritte, Hyeronimous Boch, Hanna Höch, Candido Portinari e Basquiat, dentre outros. Suas principais séries são Rio (mostrando o assassinato de inocentes pela polícia), Releituras (olhar contemporâneo sobre obras já consagradas, com nova perspectiva), Política (olhar crítico e sarcástico sob o último governo), Ossos (finitude) e Hell de Janeiro (mistura o sincretismo com a realidade, dando novos olhares para velhas questões do cotidiano). Muito craque.
Pela timeline do Instagram, conheci também o trabalho de Guilherme Martins Noé, 33 anos, que também é político e militante, à sua maneira. Autodidata, o artista de Santo André (SP), iniciou sua trajetória influenciado por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Mira Schendel e José Antônio da Silva. Guilherme foca na dimensão visceral da rotina de operários e trabalhadores. Ele usa suportes cotidianos, como cartão, papelão, desenhos industriais e fitas adesivas para retratar objetos e cenas da indústria, como tubulações, ferramentas ou até mesmo um par de botas de segurança que carregam o peso do dia-a-dia. “A fusão entre o trabalhador e o trabalho durante seu expediente e questões relacionadas ao trabalho em si são coisas que busco explorar em minhas obras. A pouca definição entre o funcionário e as máquinas tornando-se um só são limitações que são apenas percebidas antes e após o período de trabalho e em momentos esporádicos de reflexão durante o almoço, momentos estes que o Homem se vê como Homem e não máquina”, explica o artista, cujo foco principal é o trabalhador, muitas vezes, invisível.
Está cheio de gente querida o quarteto mineiro André Medeiros Lanches, que fez sua estreia, na quarta-feira (25), comn o single “Chofer”, um “indie pop orgânico e dançável” que “fala de trabalho, relacionamentos e convida para rolê, na definição do grupo. A formação traz personagens importantes para a cena, como Victor Fonseca (bateria), que começou no Cadillacs (“quem tava lá”) e hoje está no Martiataka e na Basement Tracks, André Medeiros (voz, guitarra) produtor de trilhas sonoras e técnico de som em cinema da maioria dos filmes da cidade, incluindo do especial de um ano da Sexta Sei, Stéphanie Fernandes (baixo, voz), integrante da Alles Club e comandante da Gira Produtora e também sócia e programadora do Café Muzik e já trouxe à cidade shows quentes como Ana Frango Elétrico, Bala Desejo, Dora Morelebaun e Glue Trip. Foda, né.
A única que eu não conheço ainda, pessoalmente, mas já vi ao vivo, nos vocais da Varanda, abrindo pro Maglore, no Sensorial é Amélia do Carmo (synth, voz, percussão). “Conheci há uns quatro anos, cantando na banda de meninas Misandri, ela tinha acabado de chegar de Caratinga para estudar no IAD. Me procurou pra mixar o som delas. Entrou na formação quando estávamos preparando o primeiro show, no ano passado, por sugestão da Sté. Fora da banda, ela pinta, fez a capa da faixa, e escreve, além de cursar cinema”, me conta André, o dono da lanchonete.
Pelo whatsapp, André me contou que já tem mais um singles na fila “Pá”, em março, e que, assim que todos integrantes estiverem na cidade, voltam para gravar o álbum de estreia. Uma curiosidade: a masterização de “Chofer”é de Lauiz, da banda Pelados que, volta e meia passa aqui pelas playlists da página.
Quando estive em Belém, com a Bootie Rio na Funke me, da Me Achuta, meu amigo local Luan Rodrigues, do Uaná System, me passou vários liniks de artistas amazônicos para conhecer. Entre eles estava a voz doce de Nana Reis, 31 anos, no clipe de “Bom dia”, que ouvi à exaustão. Chegamos até a papear. Nana acaba de escolher novo nome para trabalhar, Naieme, e surge linda, sereíssima e com a mesma bela voz no clipe de “Yagô”, que será lançado no dia de Iemanjá, 2 de fevereiro, com produção de Paulo Dáfilin, conhecido por comandar as produções de Maria Bethânia.
A visibilidade trans, no dia 29, terá reflexões e agenda, em Jufas, nestes sábado (28) e domingo (29). No sábado (28), a partir das 13h, no Anfiteatro João Carriço, tem seminários para discutir um ano do plano municipal de promoção e defesa dos direitos de LGBTQIA+ e o conselho municipal LGBTQIAP+ e também a cena Ballroom. No mesmo dia, serão exibidos dois filmes: “Adoráveis senhoras” (15h) e “Paris is burning” (18h).No domingo (29), às 10h, acontece a segunda Marcha Trans, saindo do Parque Halfeld até a Praça da Estação, aonde rola a Trava Ball, às 14h, e uma feirinha LGBTQIAP+ com 20 expositores. Todo esse rolê é um esforço conjunto de Associação de travestis, transgêneres e transexuais de Juiz de Fora (Astra JF), Ballroom Kunt Jf (que já sextou grandão)e o Centro de Referência LGBTQIAP+, com coordenação de Sol Mourão. No ano passado, fizemos, aqui na Sexta Sei, uma playlist da visibilidade trans com curadoria de Isis Broken e capa de Efe Godoy.. Falando em visibilidade trans, não deixa de ler as sextadas com MC Xuxú, Alice Marcone, A Travestis, Irmãs de Pau, Ísis Broken, Mavi Veloso, Viridiana, Assucena,, Kluber e Marina Mathey.
Nesta sexta (27), às 22h, tem Forró do Berilo no Cultural, com os DJs Kalango e MCastro nos intervalos.
No sábado (28), em Ibitipoca, no Ibitilua, tem show da banda Eminência Parda, às 19h
No Beco, sempre às 20h, a festa é certa. Sexta é emo com aniversário do bar e estúdio que a gente gosta Rise Together, do clã da banda Obey!, que faz show, ao lado das bandas RW e Disk. Sábado, tem baile de pré-carnaval do Ingoma, no sábado, com show do bloco e de Roger Resende, além de som com o DJ Marcelo Castro.
O Sensorial entra em clima de folia com a Banda do Ben e o bloco afro Muvuka, sábado (28), às 21h.
No sábado (28), às 16h, o Clube Necessaire apresenta o power-trio punk-hardcore Traste e a banda de punk-rock Antiética.
Também no sábado (28), Mulheres no Samba fazem show, às 15h, na Praça Céu.
O carnaval de rua de Juiz de Fora já tem 80 blocos confirmados na programação oficial.
Bia Ferreira foi a única representante brasileira no festival online Tiny Desk meets globalFEST 2023, da NPR Music. O show de Bia foi gravado na Ocupação 9 de Julho, em São Paulo, prédio ocupado pelo Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC). Na banda, Érica Silva (baixo), Mari Lima (guitarra) e Pé Beat (bateria). Cata aqui.
Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com Kali Uchis, Two Door Cinema, Panda Bear + Sonic Boom, Gabbre, Yelle, Àiyé, Marieme, Tícia, Bruno Chelles, Adriana Calcanhoto, Viva o samba Lisboa + Antonio Zambujo, Andrezza Santos, Kelela, terraplana, Anna Seton, DFideliz + Celo, Jo Mistinguett, Antonio Sobral e Sam Smith,
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