Sexta Sei: É sobre isso: o ballroom é o hip hop das gays e chegou para abalar as estruturas

Em Jufas, grupo Ballroom Kunt JF, comandado pela dançarina Sol Mourão, tem reunido a juventude preta e periférica em eventos políticos e divertidos, como o do último sábado, registrado pela fotógrafa Natalia Elmor para a Sexta Sei

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Ruan Cabal

Fotos de Natalia Elmor.

Eu não tenho perdido uma ball promovida pelo grupo local Ballroom Kunt JF, comandando pela dançarina e mulher trans Sol Mourão, 23 anos. Os bailes geralmente rolam no Museu Ferroviário e no Teatro Paschoal Carlos Magno, com uma juventude preta e periférica que brilha nos passos da vogue e se associa em famílias para enfrentar esse mundo que precisa, cada vez mais, desse tipo de movimento e poesia. No último sábado, essa turma ganhou o calçadão da Rua Halfeld, em palco em frente ao Cine-Theatro Central, aonde mostraram toda a sua potência, como pode ser visto, aqui, nas belíssimas fotos de Natalia Elmor.

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A cultura ballroom surgiu na década de 80, nas periferias dos Estados Unidos, como espaço seguro para jovens negros e LGBTQIA+ que encontravam, nos bailes, plataforma de afirmação. A cultura é fundamentada nas houses, coletivos com relações de afeto e hierarquia semelhantes a uma família, que tiveram papel fundamental no combate à primeira epidemia de Aids, como é visível na série “Pose”, de Ryan Murphy e Brad Falchuk, da Fox. Outro programa de TV que mostra bem essa cultura é “Legendary”, da HBO Max, que já teve três temporadas e mostra as casas se enfrentando. Um documentário fundamental para entender toda a cena é o ointentista “Paris is burning”, de Jennie Livingston. Madonna ajudou a popularizar o movimento ao abraçar a “Vogue”,  dança de rua inspirada nas poses das modelos.

Thalissa Cabal
Thalissa Cabal

Bati um papo com a dona da porra toda, a bailarina Sol Mourão, para entender melhor como funciona o ballroom em Jufas, aonde as famílias Império, Cabal e Raabe têm servido pencas de diversão. Falamos como o ballroom é uma cultura essencialmente inclusiva e de como tem absorvido nosso jeitinho brasileiro com categorias como a Batekoo e a Samba no pé

Moreira – Como essa cultura do ballroom, que é, essencialmente, americana, chegou ao Brasil e a Jufas? 

Sol Mourão – No Brasil, a cultura ballroom já existe há muito tempo, as pessoas já conheciam o vogue e começou a se divulgar no Brasil em 2014, com a primeira ball no Rio de Janeiro. Em Juiz de Fora, começamos a construção e fizemos o primeiro ball em 2018.

Cris Império

Moreira – Tenho acompanhado os balls aqui e me divertido muito. Pelo que observei, temos duas famílias/houses em Jufas. Me fala mais sobre cada uma delas, como surgiram, quais as características de cada uma e quem são as mothers (ou fathers), e como as pessoas se associam? No movimento original, as casas tinham muito a ver com acolhimento e moradia, são características que se mantém? Pela série “Pose”, a gente pode ver como também estas casas enfrentaram um dos momentos mais difíceis da epidemia do HIV.

Sol Mourão – Temos três houses em Juiz de Fora, com integrantes que moram aqui: Império, Cabal e Raabe. A Império veio do Rio, criada pelo Luke e pela Makaila, e tem integrantes em todo o Brasil. A House of Cabal foi criada pela Tanesha Cabal, que é de Teresópolis, e começou a adotar filhos de outros lugares. O Aru Cabal, de Brasília, é o father. Eles têm integrantes de vários lugares do Brasil. A House of Raabe foi criada em Juiz de Fora pela Karoline Raabe, de Três Rios. São os fathers que chamam, e os príncipes e as princesas, que são como os filhos mais velhos,  têm o papel de ajudar a House se desenvolver e podem indicar novos membres, é uma construção. Existe muito de acolhimento, mas não tem tanto mais de morar junto, mudou o contexto social. Aqui em Juiz de Fora, ninguém mora em house com todo mundo junto, mas tem o cuidado, é diferente hoje em dia. Temos acolhimento no dia a dia. 

O DJ Crraudio e a chefona do Ballroom, Sol Mourão

Moreira – Em entrevista com a Bruxa Cósmica, ela me contou  que o ballroom nacional já começou a traduzir alguns termos para poder abraçar a cultura brasileira. Uma das categorias incorporadas foi o batekoo, em homenagem à festa Batekoo, é a categoria de quebração de quadril. Vi que, no baile de vocês, teve a categoria samba no pé. O trio Lipstick fusiona voguing com o “passinho” do funk. De quais  formas esta cultura tem se abrasileirado?

Sol Mourão – Sobre as categorias, há uma tendência a abrasileirar, a ideia é essa, é uma cultura ampla que surgiu com a ideia de incluir as pessoas, é sobre evidência. Por isso, os costumes do país entram na ballroom. A Batekoo foi categoria criada pra isso, assim como o passinho, o funk, o samba no pé que a gente colocou e acontece na Vera Verão, ball em São Paulo.  O samba é muito Brasil. A ideia é essa, construir uma ball que represente as pessoas e fale dos nossos costumes. Foi a categoria com mais inscritos, samba no pé. O Brasil está construindo o seu ballroom.

Dan Império

Moreira – As balls a que fui foram realizadas no Museu Ferroviário e no Teatro  Paschoal Carlos Magno, esses são os espaços da ballroom aqui na cidade? Como foi a experiência da rua? Foi muito divertido e acessível.

Sol Mourão – Aqui em Juiz de Fora, tivemos esse acesso a espaços culturais. A ideia é fazer com que chegue a todos os cantos, queremos levar para a periferia, que é aonde buscamos novos integrantes. Fazer o ballroom na rua foi uma experiência incrível. Gosto mais do que fazer em lugares fechados, pois acessamos mais pessoas e democratizamos cada vez mais o acesso e levamos essa informação do ballroom.

Moreira – Vejo muitas semelhanças entre o voguing, o ballroom e as batalhas de hip-hop. Na última Batalha do Real, no Rio, o movimento foi incorporado. Vocês também enxergam essas semelhanças?

Sol Mourão – O hip hop e a ballroom são culturas pretas e periféricas, nos Estados Unidos e aqui. Eu comecei pelo Hip Hop, pela dança, no grupo Remiwl. O voguing e o hip hop têm essa semelhança, são culturas pretas, periféricas e políticas, feitas para falar de alguma coisa.

Abaixa que é tiro!💥🔫

O Museu Mariano Procópio reabre para a população no próximo dia 7 de setembro, depois de 15 anos fechado, dentro da celebração do bicentenário da independência. O museu tem o segundo acervo imperial do país, com cerca de 53 mil peças entre pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, livros raros, documentos, fotografias, mobiliário, prataria, armaria, numismática, cartofilia, indumentária, porcelanas, cristais e peças de história natural. Entre os destaques do acervo, estão os trajes da coroação, da maioridade e do casamento de dom Pedro II e o traje de corte da princesa Isabel. A primeira exposição será “Bicentenário da Independência do Brasil – rememorar o Brasil: a independência e a construção do Estado-Nação”.

Outra boa notícia cultural da cidade é a abertura do período de inscrições nos editais “Murilão”  (R$ 1.100.000,00) e “Quilombagens” (R$ 536 mil), do Programa Cultural Murilo Mendes (PCMM). As inscrições poderão ser formalizadas por meio da plataforma Prefeitura Ágil até 23h59 do dia 4 de setembro, sendo necessária a inscrição no Cadastro Municipal de Agentes Culturais de Juiz de Fora (CAD Cultural) até o dia 31 de agosto.

O teólogo Leonardo Boff participa de roda de conversa inter-religiosa no sábado (27), às 14h, no Parque Halfeld, dentro da programação do “19ª Feijão de Ogun – A Construção de Territórios Livres”, que vai até domingo, com promoção do Movimento Negro Unificado (MNU). No Espaço Cidade, é possível conferir à exposição “Magia Negra”, com curadoria de Lorraine Mendes e trabalho dos artistas Felipe Stain, Paula Duarte,  Renata Dorea, Criolets e Andressa Silva.

Todos os dias, a partir das 10h, rola a 2ª Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária, no Parque Halfeld. A programação cultural terá participação do DJ Alex Paz e de diversos grupos musicais, como Mulheres do Samba, Paticumbum e Ingoma (hoje), Slam de Ogun, com Laura Conceição, e Muvuka (sábado) e  Afrolata, Batuque na Roda e Samba de Roda com Diogo Veiga e Makamba (domingo). Horários e programação completa aqui.

Serão distribuídas mais de 400 quentinhas com o Feijão de Ogun para instituições que trabalham com a população em situação de rua.

Fotos: Janaína Fernandes

Fica em cartaz até o dia 23 de setembro exposição com 21 obras do pintor Dnar Rocha, um dos nomes mais expressivos da cultura local. A mostra comemora os 90 anos de nascimento do artista e está aberta no Centro Cultural Dnar Rocha, no Mariano Procópio, com curadoria de Carlos Elias de Souza. Nascido em Rio Pomba, Dnar Rocha mudou-se para Juiz de Fora em 1951. Dois anos depois, iniciou sua formação artística na Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras, passando a fazer parte do grupo de artistas plásticos composto por Décio Bracher e Renato Stehling, entre outros. A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.

Mulheres de Clara. Foto Carlos Mendonca
Barões da Pisadinha é bom demais
m-v-f- awards 2021 por Eudes de Santana

O Festival Sarará 2022 rola neste sábado (27), a partir de meio-dia, na Esplanada do Mineirão, em Belo Horizonte. O line up é estelar, com Zeca Pagodinho, BaianaSystem convida Margareth Menezes e Black Alien, Pabllo Vittar e Urias, Marina Sena, Emicida convida Orochi, BK ‘e Cynthia Luz, Paige, Quebrada Queer convida Nina do Porte,  ÀTTØØXXÁ, MC Marechal convida MC Martina e Batekoo e muito mais.

O bloco Mulheres de Clara faz ensaios dia 27, às 15h30, no Parque Halfeld, e 28, às 13h, na Praca Ministrinho, no Jardim Glória.

Os Barões da Pisadinha fazem show neste sábado (27), às 21h, no Terrazzo. Pra treinar, recomendo o game Toca Pisadinha, no melhor estilo Guitar Hero.

Vai ter show de Lorde, com a  “Solar Power Tour”, 8 de novembro, no Vivo Rio, no Rio de Janeiro.

Estão abertas as inscrições para o m-v-f- awards 2022, que podem ser feitas pelo site até o dia 30 de setembro. Essa edição comemora dez anos do music video festival (m-v-f-). São 25 categorias e, para concorrer, os videoclipes devem ter sido lançados entre 11 de outubro de 2021 e 30 de setembro de 2022.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Davi Sabbag + Lucs Romero, Iceage, Tears for Fears, Red Hot Chilli Peppers, Röyskopp,Gogol  Bordello + Kazka, BLACKPINK, Tokischa + Anuel AA + Ñengo Flow, Bonde das Maravilhas, Nicki Minaj, Pocah + Bin + Ajaxx + Lionel, Black Pantera, Paige, Panic! At the disco, L7NNON + Tom Wayne,  Denis Duarte, Tiago Iorc, Shensea, Chris Brown + WizKid, Jeza da Pedra + Kassin

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