Sexta Sei: Nem cabana esconde! Irmãs de Pau são dotadas de talento, malícia, coragem, maldade e sacanagem

Amigas Isma e Vita, as Irmãs de Pau, revolucionaram a nova música brasileira com sinceridade, crítica, dedo na ferida, muito humor e afeto

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Fotos: Lucas Silvestre

Juntas, e como elas mesmo dizem, elas estão dando um “truque” no mercado da música. Isma Almeida, 23 anos, e Vita Pereira, 25, são, juntas, as Irmãs de Pau, duo pra lá de irreverente e questionadora do status quo que acaba de estrear com o bom disco “Dotadas”. Depois do bate-papo com a baiana Tertuliana, do projeto A Travestis, falei com a dupla sobre conquista de espaços. Não a toa, Tertuliana é um das convidadas do disco, junto a Jup do Bairro e Alice Guél, “o paraíso dos travequeiros”.

“Irmãs de pau chegou na sala ensinando uma orgia”, diz as letra de “Pedagorgia”. No final é tudo sobre afeto. Batemos um papo, por whatsapp, no qual falamos sobre o disco, que constrói e destrói as narrativas do que é ser travesti no Brasil, a disposição para “destruir o mundo que conhecemos” sem, necessariamente, construir um no lugar . “Todos vocês brancos, cis, héteros e blá-blá-blá… Vocês precisam acordar desse delírio chamado Brasil”, manda a real Vita.

“Hermanas”, Irmãs de Pau feat Jup do Bairro

Moreira – A Jup do Bairro é muito madrinha do projeto, né? Vocês fizeram o primeiro show no Festival Bixanagô, com curadoria dela, e participaram do show dela no aniversário de oito anos da Mamba Negra, que foi muito legal todo o rolê. Como vocês se conheceram e quais as trocas que têm feito? Sou fã.

Vita – Jup do Bairro é uma das maiores vozes do Brasil. Ficamos encantadas e orgulhosas toda vez que nos encontramos. Poder trocar com ela é certeza um marco em nossa carreira. Conheci a Jup apresentando o festival Bixa Nagô, anos atrás, depois, acompanhei ela nas perfomances, no hostel de baladas, trabalhando com a Lina e outros corre. Nossas trocas estão muito ligadas na questão de afetos e se apoiar uma nas outras. Estamos dando um truque no mercado da música juntas. 

 Isma – Acompanhava a Jupona há muito tempo, até então era um contato mais por rede social, uma sempre de olho na outra, ela sempre convocava nóis pro niver dela “Baile da Princess”. No feat., foi quando pudemos nos conhecer melhor, pessoalmente, foi além do que esperava, nos conectamos de forma tão gostosa, trocas, fofocas, conselhos, enfim, coisa nossa inclusive kkk, só amor pela Jup.

A capa do disco por Ione Maria

Moreira – O projeto Irmãs de Pau surgiu durante a pandemia? Li que vocês se conheceram em uma ocupação estudantil em Barueri, em 2014. Como surgiu a ideia do projeto e como viabilizaram a gravação do disco?

Vita – Surgiu no meio da pandemia, mas acredito que datas não são tão importantes pra mim. Visto que acredito que esse projeto surgiu desde quando conheci a Isma, mas que só agora em 2020 e 2021 nós estamos compartilhando com vocês. Na verdade, as Irmãs de Pau até surgiu antes de nós mesmas estarmos aqui. A gravação do disco contou com um financiamento coletivo, não conseguimos todo valor, mas realizamos aquilo que não esperavam de nós. No início,  era pra ser um EP e, logo depois, transformou-se em um álbum. Agradecemos todes produtores e nossa equipe, pois, sem eles, a gente nem existia. 

Isma – É o que a Vita disse, vocês conheceram a gente agora, mas vínhamos trabalhando uma relação de irmandade há muito tempo, acontece que precisávamos de um tempo para entender e amadurecer nosso conceito artístico juntas.

Moreira – Estamos vivendo um momento de visibilidade para outros projetos de travestis e mulheres trans, como A Travestis, Linn da Quebrada, Bixarte, MC Xuxú, Alice Guel… O que mudou? O que ainda precisa mudar? É um novo mundo? Na minha adolescência, poucos artista gays se colocavam como tal.

Vita – Não acredito que estejamos vivendo ainda um novo mundo. Esse “novo” me incomoda um pouco. Na verdade, estou mais disposta em destruir o mundo que conhecemos do que virar minhas forças para construir outro. Sim, tivemos diversas mudanças e avanços… Mas ainda são caminhos que estamos trilhando. Cada uma com sua especificidades, questões, desejos, sonhos e tesão… O que precisa mudar? Todos vocês brancos, cis, héteros e blá-blá-blá… Vocês precisam acordar desse delírio chamado Brasil. 

Isma – Ainda é um tapar o sol com a peneira né, não estamos mais nos mesmo lugares do passado, mas também há muito que se conquistar, e estamos aqui pra lutar por isso.

Travequeiro

Moreira – É interessante como a figura do travequeiro aparece nas músicas… Em “Travequeiro”, o cara não quis beijar e leva pica, risos… Muitos homens não se acham gays por sair com travestis, né? “Travequeiro desgracado vou te dar surra de pica”… Apesar de todo o humor, essa música é sobre afeto, né? O Brasil é o país que mais mata e também o que mais consome pornografia com travestis…

Vita – Você já respondeu à questão na própria pergunta rsrs. Escrevemos sobre afeto, pois é algo que ainda temos pouco em nossas vidas. Estamos produzindo novos desejos, cantando para nós aquilo que queremos viver ou deixar ir… 

Isma – Acredito que não se sentem gays não, alguns pode até sentir, mas a maioria se sente até surpreendido com a nossa potência feminina, o que falta é um contexto social que os encorajem a legitimar essa nossa mulheridade, nem nós somos respeitadas quando falamos que somos mulheres, eles também passam por isso, ao nos apresentar os amigos riem e dizem que “ele está com um homem”, aí fica difícil … Mas eu ainda acredito numa geração de Travequeiros empoderados.

Moreira – Vocês duas são formadas em pedagogia e estão envolvidas em outros projetos bacanas, né, como o Baile da Cuceta, idealizado pela Isma, e os filmes da Vita, que têm mais de 25 prêmios de cinema com obras como “Perifericu” (2020) e “Picumã”(2019). O que mais vocês estão fazendo no momento? Como foi a repercussão do primeiro disco? 

Vita – Somos multiartista porque o Brasil não valoriza nosso corre. As instituições, mercados, curadores e etc são podres e nos querem apenas quando convém. Quando não utilizam da política do descarte. “Se você não aceita essa condição, beijos, vou para próxima que aceitará” acho que estamos vivendo muito isso. Gosto de falar que faço muitas coisas, faço cinema, teatro, perfomance, dança, moda, produção, gestão, empresária e mais um pouco… Só que é tão triste ser uma gata super foda e me virar muito bem com tudo que faço e ainda não ser valorizada. Tô falando de precariedades também, deu pra sacar? Enfim se deu não, é só ver que faço tudo isso e ainda não estou rica. Esses últimos dias, realizamos um trabalho de beleza, hair e styling para um projeto que tá no forno. Primeira vez que juntas estamos por trás das câmeras dirigindo um processo. Sobre a repercussão do disco… até que me surpreendeu. Espero que vocês tenham sentido nosso som e dançado com todas as partes possíveis e impossíveis de suas corpas.

Isma – Nosso foco no momento é trabalhar na divulgação do álbum, vem novos singles por aí, turnês, festivais, canais de música, enfim, aproveitar o fim da pandemia e viver o que nos foi privado: o contato a/efetivo com o público

Abaixa que é tiro!💥🔫

Da Lua por Marcos Hermes

Conheci o Marcelinho da Lua aqui em Jufas, antes mesmo de ir passar a minha temporada de mais de uma década no Rio, em um evento na Privilège. Maria Picape que sou, tratei logo de agradar o DJ, conhecido pelo bem-sucedido casamento de bossa nova e drum’n’bass que fez fama mundial com o Bossacucanova. A gentileza com que ele tratou me marcou, num mundo tão hostil, e ele é 200% #forabolsonaro, o que só aumenta o meu amor, rs. Pois o DJ gentil está comemorando 50 anos de vida com festa, nos dias 5 e 6, na Casa da Glória, a partir das 16h, com clima de festival de DJs, com Da Lua, Seven, Tata Ogan e BNegão (hoje) e  Dalua, Calbuque, So Lyma e Machintal (6). Machintal, aliás, preparou uma compilação de sucessos  com faixas não lançadas, trechos inéditos e algumas surpresas, além de sucessos. 

E pode esperar que tive acesso a faixas inéditas de Da Lua como letrista,  como “Partidão”, com voz de Martinho da Vila e música de Moacyr Luz. Já estão no forno e passaram aqui nos meus fones mais coisas lindas, como  “Odisseia”, com Roberto Frejat e Jards Macalé, “Corvo Cego”, por Lenine, e “Chapa quente (Barra pesada)”, com Xande de Pilares.

Para completar, ao lado do boa-praça Raphael Sant’Anna, da Rinoceronte Produções, ele acaba de criar o Tranquilo INC., novo selo musical já com diversos lançamentos engatilhados, como a maravilhosa “Pé na Areia Remix”, com Julia Vargas, que passou aqui pela nossa playlist, e  “Na Neblina”, com Gustavo Ziller, BNegão e Tonho Crocco. A próxima será “Brejo da Cruz”, versão instrumental com João Callado.

Ele aproveita a passagem pelo Brasil para lançar disco em vinil do Bossacucanova, o instrumental “Bossa Got The Blues” (Six Degrees/Deckdisc/2020), em parceria com Roberto Menescal.

Estreia hoje no Canal Futura, às 21h15, o novo programa “Caça Joia”, comandado pelo pernambucano e boa praça China. O programa, semanal, vai revelar 13 novos artistas independentes de todo o Brasil nessa primeira temporada, com episódios de 15 minutos. Durante as gravações, os  participantes receberam mentorias que incluíram informações práticas para a gestão e impulsionamento da carreira, como o registro de direitos autorais.

O programa também criou pontes com nomes do mercado, como Zé Ricardo, curador do Palco Sunset do Rock in Rio, Gutie, curador do Recbeat, e músicos como Max B.O, Pedro Luís, Céu e Tulipa Ruiz. A série tem direção de Pamella Gachido e vira também podcast, com mais conteúdo. Os episódios ficam disponíveis também no Globoplay. No Futura, tem reprises domingos, às 9h, terças, às 12h, e quintas, às 18h.

Também é cachorrinha do BaianaSystem? Então vou te contar das maravilhas que estão no site Máquina de Louco, da banda, triunfo do capitalismo em forma de T-shirts, stickers, caderninhos tipo Moleskine, pochete (berro), cordão de chaveiro, bottons, camisa-vestido e, repare como o diabo está nos detalhes, até meias com o símbolo da banda. Pra querer tudo. Sou muito fã.

Alice Caymmi e o show de Imaculda no Sesc ao Vivo
Documentário sobre Nelson Freire no canal Curta!
Tuyo. Foto: Juh Almeida
Peça “Cartas Libanesas – A Imigração na Formação do Brasil”. Foto: Brunno Martins

O Teatro Prudential está realizando o festival #Somamos2021 com shows transmitidos pelo YouTube de Caio Prado, hoje (5) e Zé Ibarra e Dora Morelenbaum, sábado (6) sempre às 20h. Já o Blue Note transmite, hoje (5), show de Nelson Faria e Ney Conceição, às 20h.

No sábado (6), tem Alice Caymmi e o show do maravilhoso novo disco, “Imaculada”, às 19h, no O Sesc ao Vivo.

Logo depois, no sábado (6), o canal Curta! exibirá o documentário “Nelson Freire”, de João Moreira Salles, às 22h, em memória.

O espetáculo “Cartas Libanesas – A Imigração na Formação do Brasil” ganha nova temporada online, entre 5 e 21 de novembro, contando a história de um imigrante. As apresentações acontecem de sexta a domingo, com distribuição gratuita de ingressos pela Sympla, e podem ser assistidas em qualquer horário.

No domingo (7), tem concerto da Orquestra Rock, às 19h.

Na segunda (8), tem transmissão do show da nossa banda Tuyo na Mostra Sesc Cariri, às 21h40. 

​​Na terça (9), meio-dia, Marisa Monte é a entrevistada de Fabiane Pereira no encerramento da temporada 2021 do Papo de Música

A 29ª edição do Festival Mix Brasil rola entre os dias 10 e 21 de novembro. Lista de filmes aqui. A abertura rola na quarta (10), às 20h, com show de Ellen Oléria.

O cartaz do Bananada de Marcelo Solá, com serigrafia de Patrícia Soransso

O Bananada é um dos festivais jovens de música mais importantes do Brasil e vai transmitir uma série de nove episódios, em finais de semana alternados, em novembro e dezembro. Os shows foram gravados nos estúdios Rootsans, em São Paulo, e no UpMusic, em Goiânia, terra do Bananada. A transmissão, como no ano passado, é pelo Twitch. Os headliners são Boogarins, Davi Sabbag, Carne Doce, Tuyo, Don L, Larissa Luz, Luana Flores, Tulipa Ruiz, Felipe Cordeiro, Juçara Marçal e Kiko Dinucci, Aíla e Olympyc. 

Segura o line up.

05, 06 e 07/11 – Edição Goiás: Boogarins, João Thomé, Davi Sabbag, Bruna Mendez, La Rossa, Fred Valle + Adriel Vinícius, Cristiane Perné, MÍLIAN, Mundhumano, Carabobina, Carne Doce, Dj Ceciloui.

19, 20 e 21/11 – Edição Nordeste/Sul: Tuyo (PR), RRocha (RS), Don L (CE), Larissa Luz (BA), Luana Flores (PB), Kaê Guajajara (MA/RJ), Fusage  (PR), Lau e Eu (SE), Lúcio Maia (RN).

03, 04 e 05/12 – Edição Sudeste/Norte: Tulipa Ruiz (SP), Felipe Cordeiro (PA), Victor Xamã (AM), Juçara Marçal convida Kiko Dinucci (SP), Troá! (RJ), Aíla (PA), Olympyc (SP), Lô Bento (GO/RO), ÀIYÉ (RJ).

Los Românticos Experience: Edmon Neto (bateria), Bruno Tuler (baixo) e André Monteiro (piano digital)

Três amigos aproveitaram a pandemia para aprender a tocar novos instrumentos e formaram a banda Los Românticos Experience, que lança seu primeiro single, regravação de “Todo dia é dia D”, no dia 9 (terça), em homenagem a Torquato Neto, autor da letra, no dia quando o poeta completaria 77 anos. Os acadêmicos Edmon Neto (bateria), Bruno Tuler (baixo) e André Monteiro (piano digital) formam a nova banda, sendo que André e Bruno já tocavam juntos na Ou Sim. A faixa de estreia ganhou clipe dirigido por Patrícia Almeida com imagens dos filmes “Terror da vermelha” (1972) e “Nosferato no Brasil” (1971), dirigido e protagonizado por Torquato, respectivamente.

Estamos um um problema na transição entre servidores e  perdemos quatro colunas do mês de outubro, que já-já retornam pra grade.

Ah, esta semana, teve estreia de nova coluna de música BEM GAYZONA na Revísta Híbrida.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.

Playlist de videoclipes com Getúlio Abelha, Princesa Alba + Duda Beat, Karol Conká + WC no Beat, Yaeji + OHHYUK, Reiley, Keiynan Lonsdale, Yvie Oddly, Lexa, Anitta + Dimelo Flow + Chimbala, Lamparina, Luisa Sonza + Jão, Anna Ratto, Vitin MGH, Ed Sheeran, Jadsa, Scalene, Franz Ferdinand, Lorde, Lady Gaga + TonyBennett e Caetano Veloso.

A campanha de crowdfunding da coluna continua, já atingimos 77,3%. Prefere fazer um PIX? O pix da coluna é sextaseibaixocentro@gmail.com