Sexta Sei: Uma peia bem dada com a MPB feminina do Mulamba

Grupo radicado em São Paulo lança segundo disco, o bom “ Será Só Aos Ares”, com participações de Luedji Luna, Kaê Guajajara e BNegão,

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Mulamba por Fábio Setti e Tamara dos Santos

Originalmente formada em Curitiba, em 2015,  para homenagear Cássia Eller, a banda de rock e MPB Mulamba, agora radicada em São Paulo, tem mulheres como integrantes e também na equipe de produção e lança, pela gravadora PWR Records, que só lança trabalhos femininos, seu segundo disco, o bom “ Será Só Aos Ares”. Nesse trabalho, a banda mostra um outro lado da sua sonoridade, incorporando elementos da música brasileira à potência do rock que guiou seu primeiro e aclamado disco homônimo. Batemos um papo, por e-mail, para falar do feminino, das lutas, inclusive a principal, de existir, e da nova sonoridade.

“Lascívia”

Moreira – “Lascívia” foi o segundo single divulgado do disco, e é uma canção bem forte, com um clipe que fala do amor entre mulheres e também da diversidade de corpos. A ideia foi falar da não-normatividade?

Amanda Pacífico (vocais) –  “Lascívia” é uma canção sobre todos os corpos livres com desejo de amar outros corpos. Ela foi pensada como um convite ao tesão e às possibilidades de prazer e afeto.

Moreira – O disco mostra a banda mais envolvida a elementos da música brasileira do que à potência do rock que orientou o primeiro disco. Como se deu essa influência?

Érica Silva (guitarra, baixo e violão) – Na verdade, sempre foi um desejo da banda explorar a nossa brasilidade e trazer essa influência pra nossa música. No primeiro momento, o rock foi o estilo que abraçou as composições do disco anterior, mas ele ainda possui pitadas de brasilidade como o funk em “Mulamba”, a guarânia em “Lama” e claves de matriz africana, como em “Espia Escuta”. Mas, para esse segundo disco, tivemos tempo para mergulhar nos ritmos brasileiros, estudar e estruturar o nosso jeito de fazer. Esse mergulho também tem a ver com um resgate do que a gente ouvia, o que nos formou como musicistas e marcou a personalidade musical de cada uma das seis integrantes.

Moreira – “Será Só Aos Ares” tem também suas militâncias, como o direito ao prazer, o acesso à saúde, a violência contra as transexuais e as questões indígena e ambiental. Essas são as principais mensagens do disco? A música bônus em homenagem a “Dandara” arrepia e emociona, viu, e ainda cita Chico Science (meme da Pepita com o braço arrepiado).

Cacau de Sá (vocais) – Não focamos tanto o disco a essa ou outra mensagem pois o ato de existir também é luta, também é resistência pra muitas pessoas. Existir é um ato político, ou ainda mais, o amor pode ser um ato político. E essa também é a mensagem, a resistência. Esse disco é uma tentativa de amarrar algumas narrativas que nos atravessam, num país atravessado por situações diversas todos os dias.

Moreira – O disco tem participações de Luedji Luna, Kaê Guajajara e BNegão, como foram essas escolhas e estes encontros?

Cacau de Sá – É tão difícil especificar afinidades né, acho que tudo é uma questão de momento e proposta. Por exemplo, desde de que se deu a concepção de “Bença”, já pensávamos a canção com Luedji interpretando parte da letra. “Barriga de peixe” veio de encontro com a potência da artista Kaê Guajajara, que não só interpreta, como também compõe junto. BNegão, que é também é compositor e de parte da letra de “Bagatela”, é também uma referência pra gente dentro do rap brasileiro.

Moreira – Vocês estão lançando o disco pela PWR Records, um selo que só lança trabalhos femininos. Além de o Mulamba ser formado apenas por mulheres, li que vocês têm equipe de produção e roadies formadas só por mulheres. Fiz uma página sobre isso, empresas compostas só  por mulheres. O que as mulheres ainda precisam conquistar no mundo do trabalho? Quais são os principais desafios?

Érica Silva – Para ser sincera, tenho me encontrado muito cansada do discurso da necessidade da luta… A possibilidade de trabalhar em qualquer área não deveria ser algo “conquistado”, os espaços precisam se diversificar e, já que a luta se faz necessária, as pessoas que possuem algum poder nesses espaços também precisam olhar para essa estrutura e operar alguma movimentação para mudar a realidade. A Mulamba é um lugar que também deseja ser essa mudança e apreciamos muito poder ter conexões mais plurais.

Abaixa que é tiro!💥🔫

"Nosso Senhor dos mesmos passos", de Valéria Faria, na exposição “Tantas Trajetórias”.
Sil Andrade na festa de 101 anos do Museu Mariano Procópio. Foto: Brendha Torres
BaianaSystem no Festival da Mata. Foto Luiz Franco

Teve abertura ontem e fica em cartaz até 19 de agosto no Memorial da República Presidente Itamar Franco a boa exposição “Tantas trajetórias”, com nove artistas refletindo sobre memórias individuais. A mostra reúne alguns dos melhores nomes das artes plásticas na cidade, com obras de Ana Berenice, Adauto Venturi, César Brandão, Francisco Brandão, Júlia Vitral, Nina Mello, Ramon Brandão, Petrillo e Valéria Faria, que enfileirou 15 pares de sapatos usados pelo pai. A exposição tem curadoria do jornalista Mauro Morais e visitação gratuita, de segunda a sexta, das 10h às 17h.

O Museu Mariano Procópio comemora 101 anos hoje (24), às 18h, com Sil Andrade (foto), Gilbértto Costta e roda “Mulheres do Samba de JF”. Entrada franca. 

O ator, autor e diretor teatral Marcos Marinho apresenta o espetáculo “Infância – Caixas da Memória”, hoje (24), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com dez cenas de memórias da infância. E ainda tem novas datas no Museu Ferroviário, dias 2, 3, 4 e 5 de julho, às 19h. Ingressos aqui. Falei mais da peça aqui.

Neste sábado é dia de lavar a alma e entrar na roda do BaianaSystem, a partir das 15h, no Festival da Mata, que também tem shows de Marina Sena e RT Mallone, dentre outros. Tive a honra de bater um papo com um dos fundadores do grupo, o maior coletivo da cultura nacional desde Chico Science e Nação Zumbi, o guitarrista e boa-praça Roberto Barreto. Cata os horários do line up aqui.

O Festival Varilux de Cinema Francês terá sessões em Juiz de Fora, no Cinemais Jardim Norte, com 17 produções inéditas da filmografia francesa, até 6 de julho.

A Prefeitura de Juiz de Fora anunciou, essa semana, que irá destinar R$ 2 milhões ao financiamento de projetos culturais, por meio do Programa Cultural Murilo Mendes. Os recursos serão divididos em quatro editais,  “Esparrama” (R$ 190 mil), “Cultura da/na Quebrada” (R$ 310 mil), “Murilão” (R$ 1.100.000) e “Quilombagens” (R$ 400 mil). As inscrições para os dois primeiros editais vão de 21 de junho a 12 de julho. Os dois seguintes ficam para agosto. Atenção, produtores culturais, a inscrição no Cadastro Municipal de Agentes Culturais de Juiz de Fora, o CadCULTURAL, é obrigatória e vai até o dia 5 de julho.

Capa com foto de Celine Billard e arte de Renan Torres

Cidadão ilustre da cidade que ficou famosa pelo Bloco do Barril, o compositor e boa-praça Roger Resende lança hoje, nos canais de streaming e no YouTube, faixa e clipe para “São João Nepomuceno” pelo selo Sensorial Centro de Cultura. A canção é antiga, da década de 90, e foi composta quando Roger morava no Rio. “Na música eu coloco: ‘brindar o entardecer até o amanhecer” porque, de fato, a gente ia pro Bar do Juá no final de tarde, aproximadamente, 17 horas e não tinha hora pra sair. Esse trecho da música traduz bem esse momento, sempre envolvido com muita música, com muita amizade, com muitas brincadeiras. É uma coisa que não sai da minha memória”, conta Roger. Roger já foi tema aqui da página no lançamento de “Nossa toada, disco feito em parceria com a cantora Juliana Stanzani. Eu sou fã desde as rodas de quarta-feira com a Fernamda Cavalcante.

As ilustrações da artista plástica baiana Raiana Britto

O aniversário de 80 anos de Gilberto Gil ganhou belíssima comemoração, a mostra digital O Ritmo de Gil”, que ainda recupera um álbum de 1982, gravado em Nova York, nunca lançado e que acabou perdido em sua volta ao Brasil. A iniciativa é do Google Arts & Culture, em parceria com o Instituto Gilberto Gil. Essa é a primeira retrospectiva de um artista brasileiro vivo na plataforma global, e apresenta um acervo com mais de 41 mil imagens distribuídas em 140 seções, além de 900 vídeos e gravações históricas que foram cuidadosamente digitalizadas. Destaque para as  ilustrações da artista plástica baiana Raiana Britto, criadas especialmente para a retrospectiva “Todos a bordo: a viagem cultural de Gilberto Gil”.

Fotos: Marco Lafer & Isabela Vdd

Um verdadeiro acontecimento o lançamento do segundo disco solo de Tim Bernardes, “Mil Coisas Invisíveis”. O vocalista e compositor do grupo O terno vem ganhando a preferência de medalhões da MPB, de Gal Costa e Maria Bethânia a Alaíde Costa, que já gravaram suas canções. O disco é sucessor do elogiado álbum “Recomeçar (2017)”, indicado ao Grammy Latino. O novo trabalho evidencia ainda mais o lado autor de Tim. O lançamento do disco seguiu a filosofia contemporânea dos singles, aguçando a curiosidade do público para o trabalho, com quatro deles lançados como um prefácio do álbum. O cantor compara o trabalho a um livro, com muito texto e músicas extensas, ensaios. “Sem dúvida fui influenciado pelo que gosto de ler, como Jung, misticismo e o que é metafísico. Então, encontrei esse lugar de pensar de um jeito mais filosófico, até mesmo sobre a experiência humana”, comenta.  “A Balada de Tim Bernardes” tem mais de seis minutos de duração.

Fotos: UHGO

Que o forró virou plataforma de expressão LGBTQIA+, há alguns discos de Johnny Hooker, Pabllo Vittar e Getúlio Abelha, a gente já sabe. Um artista pernambucano, Jáder, é a nova ponta de lança do movimento. Ele foi apresentado justamente por Hooker em “Larga esse boy”, faixa que integra o seu excelente disco de estreia, “Quem mandou chamar???“.

O álbum ressignifica o forró com dez faixas autorais e participações de Hooker, Uana, Jéssica Caitano e o baterista Riquelme, instrumentista de forró, na faixa-título, que já passou aqui pela playlist. O pernambucano já soma mais de 1 milhão de streamings nas plataformas digitais cantando o amor diverso, plural, possível de ser sentido em outros corpos. “Esse é um trabalho sensual e sexual, que exala o desejo carnal de um corpo dissidente e esse lançamento tem a sua importância por ser um disco de forró lançando no mês da visibilidade LGBTQIA+”, contou. , conta o artista, que passeia por piseiro, forró e reggaeton. A produção musical é do craque Barro e Guilherme Assis.

“Quem mandou chamar???

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Rico Nasty, Rennan da Penha + Puterrier + Raro + Pedro Bala, Lorde, Party Favor + Lil Gnar, Chlöe, Chance the rapper + Joey Bada$$, Black Eyed Peas + Shakira + David Guetta, Rina Sawayama, Black Sabará + DJ Dn, Dona Nina + Iza Sabino, Gucci Mane + Quavo & Yung Miami, Drake, Tory Lanez, Projetonave + Caco Pontes, Chris Brown, Kabaka Piramyd, slipmami + Larinhx e Zé Vaqueiro.

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