Sexta Sei: A infância a girar nos piões de grandes dimensões de Francisco Brandão

Artista radicado em Juiz de Fora revisita brinquedos infantis como forma de rever a própria infância e a relação com a mãe

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

O artista por Nickolas Garcia

Já faz tempo que eu ando curtindo o trabalho do artista Francisco Brandão, 27 anos, que está, atualmente, com um de seus piões de alumínio polido de grandes dimensões, “Narcissus”, 2020/21, em cartaz na exposição “Sentado à Beira do Tempo”, na qual  artistas ressignificam a obra de Murilo Mendes no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF)*. O artista fez seu primeiro pião há seis anos, logo após a morte de sua mãe, ao encontrar os brinquedos de sua infância em uma mala deixada como herança. Essa era uma das poucas brincadeiras “típicas de garotos” da qual ele gostava.

“Brutus” (2020), ferro fundido e enferrujado, 90×60 cm, no Centro cultural dos Correios, no Rio de Janeiro

Na obra de Francisco, é comum encontrar outras referências à infância de criança mineira, com piões, petecas e pipas. Até mesmo os filtros para água de barro recriados por ele têm cheiro de infância. Foi nos piões que ele encontrou algo das brincadeiras masculinas que conseguia “desenvolver e mostrar alguma habilidade”, me contou, em bom papo por e-mail, no qual falamos das dificuldades no brincar hoje em dia, em momentos de tanto sufocamento. “Toda criança LGBTQIA+ passa por situações repressivas na infância”, conclui o artista, que ainda falou da instalação “Ex-votos”, na qual encheu o calçadão da Halfeld com asas brancas de gesso, em 2016, quando ainda era estudante de arte.

O menino crescido e o seu pião, em foto de Rafael Mendes 

Moreira – Esses piões gigantes que você têm feito convidam a gente a fazer um retorno às brincadeiras de infância e às tradições da mineiridade que as crianças estão perdendo pelo uso excessivo do celular. Faltam brinquedos hoje em dia? O brincar está se perdendo? Qual a principal mensagem desse trabalho? Antes desses piões de grandes dimensões, você fez uma série de piões com spikes, arame farpado, um deles fatiado…

Francisco Brandão – Acho que vou responder de trás pra frente. Me perguntaram algumas vezes o porquê dos piões. E a resposta é o acaso, “quase acaso”, se posso dizer assim. Quando novo, os piões me entusiasmavam de uma maneira peculiar, o que foi alimentado por parentes e conhecidos (em algo das brincadeiras masculinas eu conseguia me desenvolver e mostrar alguma habilidade). Passou-se esse tempo, e as outras demandas cotidianas foram demandando meu tempo, até que, como num corte, minha mãe faleceu e, nas inúmeras memórias que me vi confrontar, lá estavam os piões entre o amontoado de coisas produzidas e guardadas numa vida.  Os fincos, frases e intervenções, marcavam meus sentimentos naqueles objetos, que me ajudavam a apoderar dessas sensações. Existia raiva, admito. Essas sensações foram mudando, até dar lugar aos piões que eu mesmo fabricava, “Brutus e Narcissus”. Os trabalhos estão frescos, se é que posso dizer assim, e talvez eles permaneçam um tempo ativando diálogos, entre eles, comigo, com os outros. A mensagem principal que me aparece agora é a de um brincar até extrapolar suas possibilidades. E, que existe sempre um brincar conjunto e necessário para efetivar um desejo. Sobre brincar está se perdendo… Brincar exige, minimamente, ambientes propícios para que as narrativas, que cada brincadeira está vinculada, possam se desenvolver. Talvez eu me pergunte sobre como proliferar esses momentos em tanto sufocamento

“Anacrônico”

Moreira – Você batizou esse pião de “Brutus” para levantar essa discussão da tradição brasileira que impõe brincadeiras viris para os meninos e domésticas, para as meninas, né? Você passou por situações repressivas na infância? Eu confesso que gostava de pentear bonecas, risos.

Francisco Brandão – Também. Eu imagino que toda criança LGBTQIA+ passa por situações repressivas na infância e que acabam moldando a maneira como interagimos num futuro próximo. Parte da ingenuidade infantil de identificações e entusiasmos é constantemente sufocada em prol de um conceito quase sempre deturpado de família e mundo, produzidos por narrativas que ambiguamente se mesclam na edificação de sabe-se lá o que. “Brutus” surgiu desses pensamentos, como se estivesse disposto a habitar exatamente essas tensões.

“Brincadeiras”, 2018

Moreira – Outros artefatos que remetem à infância permeiam o seu trabalho, como petecas e pipas. Quais são as reflexões que você quer provocar? É uma forma de lidar com a morte da sua mãe, visto que você recebeu uma mala dela com seus piões de infância?

Francisco Brandão – A infância está povoada de novas sensações, descobertas e estranhamentos, tento ativar essas sensações num sujeito que já está marcado e constituído de normas sociais, preconceitos e etc. É um resgate mútuo, meu, do público e dos objetos.

Moreira – Ainda estudante, você espalhou vinte mil penas de gesso pelo Calçadão da Rua Halfeld, em 2016, um grande tapete artístico que remete até aos tapetes de Corpus Christi da mineiridade. A arte pública é um interesse seu? Fala mais dos significados desse trabalho, a imagem aérea é bem impactante. Só o juizforano pra entender o que significa o Calçadão pra gente, né?

Francisco Brandão – A partilha é meu interesse principal, e sei que cada situação pode produzir um tipo de conexão. Eu prezo muito pela singeleza, a delicadeza de imaginar a si como outro e valorizar o brilho do instante. Acho que o uso do drone partiu dessa vontade de ver e experimentar o trabalho. Eu só podia caminhar pela rua e subir em alguns prédios, e o drone veio como um acoplamento importante pro corpo e para memória, pois ele captura uma imagem que extrapola nossas possibilidades humanas.

“Narcissus”, 2020/21, pião de alumínio polido, 95×55 cm, no MAMM

Moreira – Como é ser artista plástico em Jufas? A cidade carece de um circuito comercial de arte, né? Faltam galerias? A exposição de Murilo Mendes que você está participando no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) está bem legal, acho que é o lugar das artes plásticas aqui.

Francisco Brandão – Acho que a universidade proporciona uma série de conexões que antes foram estabelecidas aqui de outras maneiras. Sobre o circuito de arte, vemos brotar projetos autorais e colaborativos que são bastante férteis, mas “transitórios”. Infelizmente, talvez minha timidez não tenha permitido criar tantas conexões quanto gostaria. Mas, sobre a questão comercial, falta sim um modo de integrá-la com o cotidiano de Jufas.

*“Sentado à Beira do Tempo” fica em cartaz até 6 de março de 2002, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF), de terça a domingo, das 13h às 18h.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Tem rolê mais bacana nessa Jufas que o Espaço Hip-Hop criado pelos brabos Stain, artista urbano, e Gabriela de Morais, arquiteta? Tem não! Pois vai rolar a terceira edição dessa ocupação urbana que eu gosto tanto, neste sábado (19), entre 13h e 17h, no vão do Viaduto Hélio Fadel, com gig internacional do DJ Fleg, um dos maiores da cena do break, de Baltimore (EUA), com abre e fecha dos locais Alex Paz e Anditaum

Fleg é DJ, produtor e músico e toca a Greenmount Records, que lança funk, soul, house e hip hop. Tem um set pedrada dele aqui. Nesta outra fitinha, rola até um Jorge Ben. Ele tem formação em jazz e música clássica e, na cabine, combina funk, disco e boogie para criar seu som único, soulful. Ele está ativamente envolvido com a comunidade bboy e funk em Baltimore, aonde dá aulas de bboy para crianças. 

Dessa vez, não tem batalha de MCs e dançarinos, mas quem arrasar muito vai levar prêmio, deus é bom o tempo todo.

Depois da estreia com show maravilhoso da minha amiga Filipe Catto, em “Metamorfoses” , a série “Instantâneas”, do Instituto Moreira Salles (IMS), ganha segunda edição, novamente promovendo aproximações entre a música e a fotografia. Estreia hoje (18), ao meio-dia, show de seu Mateus Aleluia inspirado na exposição do fotógrafo Mario Cravo Neto, o espetáculo audiovisual “Espíritos sem nome”.

Compositor, percussionista, cantor e contador de histórias baiano, Mateus Aleluia é nome central da música brasileira e aproxima os sons sagrados dos terreiros de Candomblé aos ritmos dos sambas de roda, além das tradições de Angola, país onde viveu por cerca de 20 anos.

Ao longo do vídeo, com duração de aproximadamente 50 minutos, o cantor interpreta músicas de diferentes fases de sua carreira, tendo como inspiração a exposição do fotógrafo baiano Mario Cravo Neto (1947-2009), em cartaz até 24 de abril no IMS Rio.

Conhecido por sua atuação no grupo Os Tincoãs, Mateus lançou, em 2020, o maravilhoso álbum “Olorum”. Ao longo da performance, as imagens de Mario Cravo são projetadas ou tomadas como inspiração, em diálogo com o som.

O meme do cropped é muito bom e, aqui em Jufas, virou biscoito da divertida marca “Um donut, por favor!”, criada pelo publicitário Nicholas Calábria, 35 anos. A inspiração veio de uma história que viralizou de uma loja de donuts em Missouri City, no Texas, que não teve ninguém presente na inauguração e, depois, bombou demais com um tweet. Nicholas foi pro YouTube procurar receitas para fazer seu próprio donut, a princípio, “pro pessoal aqui de casa mesmo”, mas começou a vender pelo Instagram e, bum!, a marca estava criada. Ele tinha perdido o emprego em uma livraria e viu, nos doces, uma oportunidade. 

A inspiração para as caixinhas de donuts vem de internet, sites, pinterest, Twitter, com direito a caixas temáticas de séries de TV que amamos, como “Lucífer” e “Game of Thrones”. Os donuts individuais têm preços entre R$ 4,50 e R$ 9,50,  e as caixas com seis unidades, entre R$ 25 e R$ 60. Os pedidos podem ser feitos pelo Instagram, aonde tem o contato do Whatsapp.

Cartaz original de Di Cavalcanti para a Semana de 22 e releitura de Mundano, “Semana De Arte Mundana”: a animação ficou brutal

As comemorações e as discussões sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 continuam em todo o país livre. Em São Paulo, o artista Mundano está com a exposição “Semana De Arte Mundana” em cartaz até 26 de março na galeria Kogan Amaro, no Jardim Paulista, em São Paulo.

O artista utiliza, nas obras, lama da tragédia criminosa de Brumadinho, cinzas de queimadas no cerrado, na Amazônia, na Mata Atlântica e no Pantanal e óleo que atingiu as praias do Nordeste. O ambiente expositivo foi transformado em um curral, com cercas de madeira, uma porteira aberta e um piso de grama sintética, simulando um pasto, que recebe telas, instalações e esculturas.

O que proponho nessa exposição artivista, no ano em que comemoramos 200 anos da independência do Brasil, num contexto de retrocesso socioambiental, de negacionismos descomunais, de absurdos diários que evidenciam nosso racismo estrutural, e tantos outros inumeráveis desafios… é uma ruptura. Uma ruptura desse modernismo contemporâneo totalmente descolado da realidade e dos reais desafios do Brasil e do mundo”, reflete Mundano. Aqui, dá pra ver mais imagens da mostra. 

Mundano é ativista e fundou, em 2012, a ONG Pimp My Carroça, e lançou o aplicativo Cataki, ambos voltados para a conexão entre geradores de resíduos e os catadores de material reciclável.

Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar
Edson Leão Ferenzini apresenta show do bom disco solo Mundos Achados Perdidos

Hoje estreia “Mães Paralelas”, de Pedro Almodóvar, com Penélope Cruz e Milena Smit, na Netflix. O canal não está de brincadeira e traz mais 12 filmes do cineasta espanhol, como “Maus Hábitos”,  “A Lei do Desejo”, “Kika”, “Fale com Ela”, “O que eu fiz para Merecer Isto?”, “Mulheres à beira de um Ataque de Nervos”, “A Flor do Meu Segredo”, “Má Educação”, De Salto Alto”, “Carne Trémula” e “Volver”, 

Atenção comunidade trans: estão abertas as inscrições, até o dia 20 de fevereiro, para três oficinas gratuitas: visagismo, voz e corpo. São 20 vagas para o público transgênero, travesti, não binário, queers, agênero ou artistas cis que performam drag queen ou king. A participação é gratuita, e os candidatos precisam ter idade mínima de 18 anos. Os conteúdos serão ministrados por Marilia Neves (visagismo, maquiagem, cabelo e design de rosto), Tânia Bicalho (preparação vocal e lip sync) e Marcela Sena (preparação corporal – performance e dança contemporânea). Os interessados podem utilizar o e-mail empoderesejf@gmail.com, o WhatsApp (32) 99953-5611 e o Instagram @empoderesejf. O projeto foi contemplado no Edital “Fernanda Muller de Cultura Trans”, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).

No sábado (19), às 20h, Edson Leão Ferenzini apresenta show do bom disco solo “Mundos Achados & Perdidos”, no Teatro Pachoal Carlos Magno, com direção de Marcos Marinho, diálogo com poetas modernistas, entrada franca e apoio do edital Pau Brasil.

​​Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Alice Glass, Tears for fears, Zé Cafofinho, Chinaina, Billy Crocanty, Gloria Groove, Charli XCX + Rina Sawayama, Tinashe, Lali, Maikão, Portugal. The man, Bree Runway, Maikão, BK’ + L7NNON + Papatinho, Jovem Dionísio, OUTROEU + Clarissa, Tuyo, Tove Lo, Jack White, Hiran, Margareth Menezes, Tinashe, Orville Peck, Lia de Itamaracá + Héloa.

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