Sexta Sei: Tô me guardando pra quando a roda do BaianaSystem chegar

Maior grupo brasileiro contemporâneo faz aguardado show, no Festival da Mata, dia 25, com Marina Sena e RT Mallone

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Direção visual: Filipe Cartaxo

Estou me guardando para entrar na roda do BaianaSystem desde 2020, quando comprei o meu ingresso pro Festival da Mata. Dois anos de pandemia depois, o show foi finalmente remarcado, para o dia 25 de junho, em tarde e noite que ainda tem grandes shows de Marina Sena e RT Mallone, dentre outros. Tive a honra de bater um papo com um dos fundadores do grupo, o maior coletivo da cultura nacional desde Chico Science e Nação Zumbi, o guitarrista e boa-praça Roberto Barreto.

No nosso papo, pelo Zoom, falamos do processo de lançar o disco “OXEAXEEXU” em três atos e depois juntá-lo, de como a famosa roda foi surgindo naturalmente, nos shows de Salvador, e é orquestrada pelo vocalista Russo Passapusso, que comanda o transe, meio que como na mecânica de pergunta e resposta do samba reggae, de como se deu a escolha de representar a banda por um personagem, das pontes construídas entre a América Latina e a África e da parceria com a chilena radicada em Minas, a cantora Claudia Manzo, a voz, a aura, o sentimento e a presença feminina dentro do Baiana, que também estará no show em Jufas.

BaianaSystem no Festival da Mata. Foto Luiz Franco

Moreira – Vocês lançaram três discos em 2021, é muito material. Eu consumi a tudo avidamente. Como sentiram o retorno do público? As pessoas conseguem acompanhar tantas novidades?

Roberto Barreto – Cara, na verdade, assim, você está contando o de dubs e o de Gil ou o “OXEAXEEXU”? O “OXEAXEEXU” é um álbum lançado em três atos que, depois, foi reunido em um só. Na verdade, a gente está brincando, internamente, conversando que, na verdade, agora estamos na fase do decifrando o “OXEAXEEXU”. Foi lançado em 2021, no Carnaval, quando a gente imaginava que estaria voltando. A construção dele se deu muito de como aconteceu a pandemia. Paramos em março e a gente lançou dois discos, “Gil e Baiana ao vivo em Salvador” e o “Futuro Dub”e começamos a mergulhar nisso que veio. O disco de dubs a gente queria ter feito há mais tempo e aproveitamos a pandemia, esse sentimento de estar enclausurado e as sensações que o dub estimula. O disco com Gil era um ao vivo que estava gravado e tinha toda aquela vibração do que tínhamos feito no verão de 2019. Estava todo mundo sem show e a galera perguntando de live, achamos que esse álbum traria essa coisa e ninguém estava mais lançando disco ao vivo. Depois, o “OXEAXEEXU” foi sendo dessa forma, são 20 faixas, 21 faixas quando saiu ele inteiro, com “Brasilianas”, quando entra a participação de Chico César. A gente tem muito isso. O primeiro ato é o Navio Pirata, ainda tem aquela coisa quente dos ecos do Carnaval, do navio pirata que não tinha saído meio que apontando para a coisa da África, a relação das coisas que a gente vinha fazendo na Tanzânia, tudo muito efervescente. Depois, o Recital Instrumental dá essa coisa mais densa, questionadora, incerta que a gente tava, e o América do Sol já como ali uma esperança, uma luz que pudesse estar vindo. A  gente foi entendendo isso depois. Foi uma forma de estabelecer uma comunicação com o público, o que você me perguntou, de que as pessoas pudessem entender esses agrupamentos que, depois, a gente desagrupou e mudou um pouco a ordem pra virar o “OXEAXEEXU”, e agora a gente está entendendo isso. Tem músicas que a gente teve que estudar para poder tocar ao vivo, a própria “Reza Forte”, “Corneteiro Luís”, “Capucha”, “Chapéu Panamá”. Começamos a ter que estudar e entender como faz e como o público reage àquilo. A gente tocou, no show do Pelourinho, a música “Guerra Batalha” com Liz Reis e naipe de sopro. São coisas que a gente está aprendendo e entendendo, é um tempo de entendimento ainda.

Clipe de “Pachamama”, com Claudia Manzo

Moreira – Eu comprei o ingresso para esse show em 2020. Pra mim, vai ser um momento catártico, estou vivendo para entrar nessa famosa roda! Como surgiu esse costume do público de fazer as rodas? Como é a dinâmica? É no amor ou lembra as rodas de punk?

Roberto Barreto – Cara, deixa fazer aqui um exercício de memória e de compreensão para te responder isso. Eu acho que é um pouco de tudo, tem muito da roda punk, tem muito do amor, das expressões. Elas surgem no Pelourinho, quando o BaianaSystem vinha construindo o seu público e a sua relação com o público. Vem muito da sensibilidade e da percepção que o Russo Passapusso tem ali enquanto o cara que está na frente e está tendo aquela comunicação direta ali com o público. É impressionante como o Russo consegue fazer isso em real-time, e, às vezes, antecipando coisas. Ao mesmo tempo que trechos de música eram construídos dentro daquilo, ele percebia esses movimentos e tentava reproduzir. Isso foi meio que acontecendo, pois as músicas levavam a isso. Como as nossas músicas são muito abertas, Russo estimulava muito isso enquanto regente da história, entre catarse e pausa, entre explodir e respirar. Isso tudo ele vinha trabalhando, quando ele segurava, as pessoas meio que ficavam com aquela energia, e veio trazendo essa sensação de roda, e, quando explodia, aquela roda virava uma coisa. E tem a ver com o carnaval, os movimento de ruas e uma série de linguagens que são muito próprias dos movimentos daqui da Bahia, da coisa do samba reggae de pergunta e resposta, samba e samba reggae tem muito isso na relação com o público, um refrão que você pergunta e o povo responde. As rodas foram surgindo disso, de o público sentir que o que eles estavam fazendo estava impactando na banda.

Moreira – No kit de imprensa, não tem fotos dos integrantes da banda, apenas desse personagem com cara quadrada azul. Como se deu essa escolha? Ganhei uma pipa de um amigo com essa cara, amo demais.

Roberto Barreto – Isso é uma coisa que nos acompanha desde sempre, já foi uma questão e volta e meia alguém quer uma foto da banda. É essa foto. Tem muitos elementos dentro disso, a presença de Filipe Cartaxo, que é um integrante da banda, fundador, que cria, pensa junto, e a coisa dessa parte imagética, de vídeos, de desenhos, de  cores, desse universo que ele constrói quase que ao mesmo tempo da coisa musical, e se misturando. Desde as primeiras coisas do Baiana se tinha aquilo, e ele chegou nessa máscara, que tem muito de carnaval e de ancestralidade e dessa coisa invisível, você bota a máscara e você se destaca, mas, ao mesmo tempo, fica invisível. A máscara traz um sentido de comunhão a partir do momento que está todo mundo com aquela máscara. A gente foi entendendo que a representação do Baiana não seria eu falando da guitarra ou o Russo enquanto frontman ou quem quer que fosse, eram muito mais os elementos do que as pessoas. Dentro da percussão do Baiana, você tem Mestre Jackson, Ramiro Mussoto, Carlinhos Brown, Neguinho do Samba, uma série de coisas que influenciaram e estão ali, isso não é personificado. A guitarra baiana como símbolo. A gente entendeu isso, que a comunicação com o público seria muito mais ampla se o BaianaSystem fosse entendido enquanto um símbolo

Moreira – E o mineiro achando que era uma pipa, pendurei aqui na minha porta.

Roberto Barreto – Pode ser uma pipa, já foi uma pipa, pássaro.

Moreira – São muito interessantes essas conexões da Bahia com a África e a América Latina que os discos propõem. Qual foi a busca de vocês nesses caminhos?

Roberto Barreto – A gente mergulhou ainda mais nessa afrolatinidade, nesse entendimento. Já tinha uma sinalização muito clara no disco  “O Futuro não demora”. Teve a ver com a busca e a pesquisa a partir da ilha de Itaparica, tudo o que tem ali de ancestralidade, de olhar Salvador a partir de lá. Do quanto somos latino americanos e não percebemos ou percebemos de outras formas. Esse olhar para o continente e o entendimento, enfim, social político como povo e de como isso é muito parecido em toda a América Latina. Musicalmente falando, ritmicamente, melodicamente, aqui na Bahia, somos muito influenciados pela músicalidade latina, seja do Caribe ou o reggae, salsa, cumbia, merengue, isso é muito presente aqui, pela percussão, pelos sopros, pelas maneiras de cantar. Da mesma forma, temos uma relação muito direta, óbvia e formadora com a África e tudo o que vem de de seus muitos países, especialmente das pessoas que fizeram durante o período da colonização e da escravidão. Então, isso chega de uma maneira muito orgânica para todo mundo que nasce aqui. Foi uma busca de entendimento disso. A relação com a Tanzânia foi algo muito forte para a gente, fazer música com pessoas de lá, quase fomos para lá, por conta de um documentário, mas cancelamos por causa da Omicron. Temos uma ligação muito grande, fizemos clipe e música e temos projeto de fazer mais coisas. É um campo de pesquisa muito vasto e muito necessário pra gente.

Participação do BaianaSystem no disco de Claudia Manzo, o bom  “Re-voltar” 

Moreira – Curti muito a participação de vocês no bom disco da chilena Claudia Manzo, “Re-voltar” , ela é radicada aqui em Minas, em Belo Horizonte, falamos no Instagram quando lançou o trabalho, em março…

Roberto Barreto – Ela é incrível, acabamos de tocar com ela em duas noites no Circo Voador. A  conhecemos pessoalmente só lá e tocamos, ela foi incrível, de uma importância pra gente durante a pandemia, a voz e a presença feminina dentro do Baiana, o que ela traz de aura e sentimento. Conhecemos aqui, pelo Zoom, como falo com  você agora, e encontramos semana passada no Rio. A ideia é que a gente continue a fazer colaborações e parcerias com Claudia. Eu e Russo participamos de “Água Benta”, foi incrível. Vamos se ver lá no show, dá um salve lá. Pegue meu cel com Bebel (Prates, assessora de imprensa) e vamos combinar de a gente se ver.

Abaixa que é tiro!💥🔫

"Enamorados". Foto: Brendon Campos
Arjan Martins, Instalação de birutas, 2021
Foto: Brendon Campos
Abdias do Nascimento. Foto: Brendon Campos
Abdias Nascimento: Raízes n.o 1
Regina Vates: Figuras geométricas em azul e vermelho (1967)
O presépio (1968)
Jaime Lauriano. Foto: Brendon Campos

O Inhotim acaba de inaugurar novas obras e exposições temporárias. As imagens logo avisam que o Instituto não está de brincadeira. Na área externa, está o programa “Acervo em Movimento”, que compartilha com o público obras recém-integradas à coleção, como os trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins (instalação “Birutas”/2011) e Laura Belém (“Enamorados”/2004).

Certamente impressionante a iniciativa de sediar o Museu de Arte Negra, em curadoria conjunta com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), ideia sonhada pelo poeta, escritor,dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar Abdias Nascimento (1914-2011). Serão quatro atos ou exposições temporárias com base nos aspectos de quatro Orixás. A mostra aborda o Teatro Experimental do Negro (TEN), com documentos, pinturas de Abdias e trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, José Heitor da Silva, Sebastião Januário, Octávio Araújo e Yêdamaria.

A programação ainda traz poesia e imagem de Isaac Julien na Galeria Praça.

Feira de Discos de Juiz de Fora
Dona Onete em show na UBC. Foto: Walda Marques
CineOP. Foto: Leo Lara.
Marcos Marinho no espetáculo “Infância – Caixas da Memória”

A 7ª Feira de Discos de Juiz de Fora acontece no domingo (19), do meio-dia às 20h, no Museu Ferroviário de Juiz de Fora, reunindo mais de dez expositores de três estados e DJs tocando vinis ao vivo, com convidados como Daniel Juca, que já passou aqui pela página com o seu trabalho como quadrinista com o Boldinho, e a paraense Tha Redig. A iniciativa é dos mestres das bolachas Pedro Paiva Discotecário e Alex Paz.

No sábado (18), às 17h, rola o STL Festival, em São Thomé das Letras, e o bagulho vai ficar doido com Racionais MCs, Djonga, Pitty, Rael convida Criolo, Ponto de Equilíbrio, Marcelo Falcão e Armandinho.

O Museu Mariano Procópio comemora 101 anos com programação especial entre os dias 21 (terça) e 24 no parque e no jardim histórico. Entre as atrações, oficinas de desenho, aldravia, capoeira, percussão, teatro e danças urbanas, aula de yoga e shows. Os shows rolam na sexta (24), às 18h, com Sil Andrade, Gilbértto Costta e roda “Mulheres do Samba de JF”. Entrada franca.

Na quarta (22), às 20h30, a União Brasileira de Compositores (UBC) completa 80 anos e homenageia Dona Onete na segunda edição do “Troféu Tradições”, em show que vai ser transmitido ao vivo, pelo YouTube, do Theatro da Paz, em Belém. O show contará com participações de Fafá de Belém, Jaloo, Mestre Damasceno, Lucas Estrela, Félix Robatto, Aqno e o grupo de Carimbó Sancari. A direção é de Batman Zavareze.

Após dois anos em formato online, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, o evento que trata cinema como patrimônio, volta ao formato presencial em sua 17ª edição, de 22 a 27 de junho. São 151 filmes em pré-estreias  de oito países.

O ator, autor e diretor teatral Marcos Marinho apresenta o espetáculo “Infância – Caixas da Memória”, nos dias 23 e 24 de junho, às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com dez cenas de memórias da infância. Falei mais da peça aqui.

Foto: Hannah Carvalho

A instrumentista, artista sonora, produtora musical, performer, ecofeminista e macumbeira Larissa Conforto é o nome atrás do projeto ÀIYÉ, do selo Balaclava Records. Ela lançou, essa semana, na segunda-feira, o single “EXU (tenho fome)”, que após o sucesso do EP  “Gratitrevas”, de 2020. Larissa está em meio a uma turnê européia por sete países. “Tudo começa e termina em Exú. Não é por acaso que essa música abre os caminhos de uma nova fase da ÀIYÉ. Essa letra e música vieram juntas durante um período intenso de estudos e práticas em torno de Exú (orixá e entidade), durante uma fase bem dura da pandemia. Ela é inspirada em um Itan que me marcou muito, de Exú orixá. A produção é minimalista e quase não mudamos nada de arranjo nem letra, porque além de ela ter vindo já muito pronta, eu vejo o mistério de Exú como a própria concepção dos entres, do vazio…”, conta a artista, que produziu a faixa ao lado de Diego Poloni.

Arte da Capa: Tonto

Meg Pedrozzo em fotos de André Bueno

A cantora Meg Pedrozzo é natural do Grajaú, na zona sul de São Paulo, e estreia, nessa sexta, com o bom EP “Pessoas são falhas”, em 13 minutos que passeiam do R&B mais romântico ao afrobeat contemporâneo. A produção é de Vibox, e o trabalho chega com visualizers.

“Pessoas são falhas”

O EP equilibra clima de romance sério e pegação na balada com seus temas sobre amor verdadeiro, flertes, festa e convivência. A cantora optou por mostrar a clareza na voz, sem muitos efeitos vocais, para que o trabalho soasse mais orgânico, como os sons de décadas anteriores. “O Céu no Mar” junta o R&B a pagode romântico, trap e souljazz. “Vontade” é sexy e repleto de camadas e efeitos. “A Noite Toda” é um house funk para paquerar no baile. A faixa-título é um genuíno R&B. “Onde Cê Vai” experimenta com as batidas do afrobeat e funk carioca.

Foto: Raul Krebs

A voz da vocalista Bela Expedito, do duo gaúcho Funny Alexander, lembra muito a da diva pop nacional dos anos 80, a atriz e modelo Virginie Boutaud, que liderava a banda Metrô e marcou a minha geração com o hit “Beat Acelerado”. O nome do duo, formado também pelo músico Ric Olivera, é uma brincadeira com o nome do filme “Fanny Alexander” (1982), de Ingmar Bergman. Eles são namorados, nasceram no mesmo dia e fazem delicioso dream pop, chicletinho e gostoso de ouvir, como dá pra acompanhar em “Sorte que tem o amanhã”. Obrigado Bela por me achar no Twitter e mostrar o trabalho, que resgata a sonoridade dos anos 80 em encontro com o indie pop atual.

Capa do Ep “Sorte que tem o amanhã”

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com MIKA, Pharrell Williams + 21 Savage + Tyler, the creator, Dana Lisboa, Xênia França, Alice Caymmi, Bel Medula, Juliana Linhares, Alexia Bomtempo + Roberta Sá, Milky Chance, Jota 3 + Nina Girassóis, Imbapê + Laura Januzzi + Alice, Greentea Pung, Black Pantera, Letrux + Rohma, Todrick Hall, Christina Aguillera + Ozuna, Arthur Nogueira, Lucas Gonçalves, Tim Bernardes e Jarbas Agnelli + Brasil Jazz Sinfônica.

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