Sexta Sei: Ana Frango Elétrico 🐓⚡️para as massas com o biscoito queerness em “Me chama de gato que eu sou sua”

Cantora, compositora e produtora musical carioca lança terceiro álbum após ser premiada com Grammy Latino e fala sobre se considerar uma pessoa não binária, em processo

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Ana Frango Elétrico em foto de Hick Duarte

Jovem cantora, compositora e produtora musical carioca, Ana Frango Elétrico 🐓⚡️, 25 anos, lança nesta sexta (20) seu terceiro álbum de estúdio, Me chama de gato que eu sou sua”, após um hiato de quatro anos desde seu último álbum, o aclamado “Little Electric Chicken Heart”, e um ano após ter sido premiada com o Grammy Latino como co-produtora musical do álbum “Sim, sim, sim”, do grupo Bala Desejo. Batemos um papo, por e-mail, no qual a simpática Ana me contou que teve a  intenção de se expor mais e acessar sua intimidade no trabalho,  e como o clima queerness reflete seu entendimento como uma pessoa não binária, “em processo”, um corpo divergente. “Em um encarte para o CD japonês, eu escrevi à mão “DYKE BUTCH NON BINARY”, conta. Falamos também do sucesso do seu trabalho como produtora musical, desse interesse de “ver as coisas de uma visão de fora, de uma visão macro”, e do trabalho de produção dos novos álbuns de Dora Morelembaum e de Negro Leo. Pra terminar, falamos da noite do dia 14 de março de 2020, quando ela fez show no Nécessaire, um dia antes do  primeiro caso de Covid. “Tenho um carinho muito grande por Juiz de Fora, as vezes que passei por aí foram fantásticas”, me contou, dizendo ainda que pretende voltar em breve, com banda, que sorte a nossa.

Capa com ilustração de Fernanda Massotti e design gráfico de Maria Cau Levy

Moreira – “Oi, cat”…. Rs… Adorei a descrição do álbum “Me chama de gato que eu sou sua”, “baladas azedas, lirismo noir e timbres nostálgicos com processamentos futuristas”. Esse lance de promover esse encontro de passado e futuro é muito bacana… Este é um álbum mais acessível? Frango Elétrico para as massas? Tá uma delícia 😉

Ana Frango Elétrico 🐓⚡️ Se é um álbum mais acessível só o disco saindo pra eu entender, hehe. Tem a ver com acesso dos meios de comunicação também, não sei. Mas tive a intenção de me expor mais, de acessar minha intimidade e acho que de alguma forma isso são coisas que tornam o trabalho mais acessível.

Moreira – Você também fala no material de divulgação que começou o disco com intuito de demonstrar sonoramente entendimentos e sentimentos sobre um amor queer e se expor subjetivamente. Fala mais sobre esse recorte pessoal no trabalho e também a importância da visibilidade queer.

Ana Frango Elétrico 🐓⚡️ Com amor queer eu quero dizer um amor divergente, não binário, não heterossexual. Um amor que não vemos na TV, e se vemos, é só uma imagem, sem subjetividade. Quando falo queer no release quero colocar nesse lugar de corpo divergente. Eu me considero uma pessoa não binária, em processo, nada está definido ainda pra mim, tenho questões com meu corpo, por exemplo. O disco, pra mim, ele paira sobre essas dúvidas, medos, indagações. Em um encarte para o CD japonês, eu escrevi à mão DYKE BUTCH NON BINARY, então quando falo queer quero falar dessa divergência com o padrão de gênero, mais do que com a sigla Q do LGBTQIAPN+ . Porque no disco eu trato de outras pessoas também com quem eu me relaciono, converso e aí, nesse sentido, o uso de queer tem a ver com o queerness, com o divergente, com o fora da caixa, com o estranho. 

Moreira – Gostei especialmente de “Camelo Azul”, principalmente pela brincadeira lírica com as cores, “jaqueta amarela”, e também o “cabelo brega”. Qual foi a inspiração da música, e qual história é contada ali?

Ana Frango Elétrico 🐓⚡️ Essa música não é minha, canto ela desde 2015 com um grande amigo, Victor Conduru, que é o autor da música. Já tinha o profundo desejo de cantar ela, que se encaixou perfeitamente com o tema do disco de alguma forma. Identifico com a poética e quis cantá-la. Sobre a música, acho que a narrativa me mostra o que ela quer dizer, um flerte distante, um bar, uma penumbra, uma noite que cai uma garoa. Mas isso é a minha imaginação.

Moreira – Você venceu o Latin Grammy 2022 como co-produtora musical do álbum “Sim, sim, sim”, do grupo Bala Desejo, e também produziu o lindo álbum da mineira Julia Branco, “Baby blue”, além do álbum de estreia de Sophia Chablau e uma enorme perda de tempo. Como tem sido exercitar esse lado produtora de outros artistas? Como foram esses trabalhos? Esqueci de citar algo?

Ana Frango Elétrico 🐓⚡️Eu gosto muito, sinto que eu gosto de dirigir e gostaria de trabalhar mais com direção de shows e álbuns, por exemplo. Tinha vontade de fazer faculdade de direção teatral, por exemplo. Tenho esse profundo interesse por ver as coisas de uma visão de fora, de uma visão macro, pensar as estruturas. Gosto de fazer este trabalho de produção musical. Cada trabalho é diferente, tem uns que toco, arranjo, canto, outros que só estou presente corporalmente. Agora estou produzindo os discos novos de Dora Morelembaum e de Negro Leo, que vão ficar impecáveis. Estou muito animada e botando em prática vários entendimentos e aprendizados que tive gravando meu disco novo.

Moreira – Eu nunca me esqueço do show que você fez aqui em Jufas, você e o violão, no Nécessaire. Achei doce que você postou alguns emojis ❤️⚡️🌹😘 na minha foto do show no Instagram. Esse show foi muito marcante, pois, no dia seguinte, foi anunciado o primeiro caso de Covid aqui, o que mudou nossas vidas para sempre. Por muito tempo, foi a boa lembrança de algo que precisava retomar, um oásis. A casa mesmo fechou e, gracias, reabriu agora em versão campestre, com pistona de skate, o lacre. Esse show também te marcou de forma especial? Pois eu não me esqueço desse, “um dia de prazer”

Ana Frango Elétrico 🐓⚡️ Hahah, nossa, sim… Certamente, nunca vou esquecer esse show. Foi literalmente a última coisa que fiz pré pandemia. Tenho um carinho muito grande por Juiz de Fora, as vezes que passei por aí foram fantásticas e, mesmo fazendo um show voz e guitarra, voz e violão, o público foi muito presente e me ajudou a cantar tudo. Fico com muito desejo de fazer um show com banda por aí também. A última vez que passei pela cidade foi fantástica, me deixou até com vontade de cantar músicas que nunca canto, como “Farelos”. 

Abaixa que é tiro!💥🔫

Eu cantei aqui a pedra das cascastas de maravilhas que jorram do Selo Sesc, esse colosso. Pois eles acabam de lançar mais uma flor da música brasileira, o primoroso “Da nebulosa ao brilho”, o primeiro da carreira das Pastoras do Rosário. Quem acompanha aqui as playlists sextantes ouviu, na semana que passou, à belíssima “Nascedouro”, com Luedji Luna, e hoje ouvirá “Cirandeira”, com a maioral Lia do Itamaracá. O álbum é desses que faz a gente ter orgulho de ser brasileiro, e o grupo é formado por oito mulheres da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, Zona Leste de São Paulo: Carla Lopes, Dona Margarida, Lara de Jesus, Majestade Sol, Marlei Madalena, Rainha Neuza, Sandrinha do Rosário e Wilma Ayó. 

As nebulosas são mesmo “berços de estrelas”, como mostram no volume com direção geral e artística de Renato Gama e repertório desenvolvido especialmente para as Pastoras, com composições inéditas e uma releitura de Carolina Maria de Jesus. O grupo foi formado em 2017 na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, zona leste de São Paulo, espaço construído pela antiga Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, descendentes africanos mantidos em regime de escravidão no século XVIII, é patrimônio da luta das culturas populares afro-brasileiras tombado pelo CONDEPHAAT em 1982. Inspiradas pela tradição das pastoras do samba, as Pastoras do Rosário agregaram a essas rodas a influência de congadas e moçambiques. Elas já fizeram participações em faixas de Emicida em “AmarElo”, seu Mateus Aleluia no belíssimo “Olorum” e Alessandra Leão. Para ver, ouvir e saber mais, o Sesc fez um webdocumentário em dois episódios. Recomendo.

Eu fui engajar com o trabalho de Troye Sivan, 28 anos, durante a temporada de singles endorfinados do álbum que saiu na última sexta, “Something to give each other”, o terceiro de sua carreira. É lindo ver uma gay  na plenitude de sua viadagem, né, como nos clipes de “Rush”, que já começa com um tapinha-não-dói e tem homens lindos que dançam, e no de “Get me started”,  com banheirão e mais coreôs. Troye está dançando pra caramba e se mostrando um artista completo. O clipe de “Rush” é assim, mexe com a gente, um hino de verão suado e hedonista que já tem mais de 17 milhões de plays. 

Mas o clipe que “parou” a internet foi o lançado na última sexta, com o álbum, “One of your girls”, no qual ele faz drag e sensualiza com o ator e músico Ross Lynch. Charisma, uniqueness, nerve & talent. No Twitter, circulou demais esse meme. O álbum é uma baita celebração de dance music, sexo, dança, suor, comunidade, queerness, amor e amizade, com canções pop sacanas e com duplo sentido.

Fotos de Leo Aversa

Fui surpreendido por uma sugestão de um projeto bacana demais que ainda não conhecia, a dupla de indie eletrônico NU’ZS Duo, que brinca com nudez e nudes no nome e gravou, parcialmente aqui em Jufas, um single, “Geni e o Zepelim”,  recriando com atmosfera densa a música de Chico Buarque em formato eletrônico, na melhor escola lançada pelo mito Marcelinho da Lua. No ano passado, eles lançaram um EP com a obra buarqueana, “Um outro olhar”, recriando “Tatuagem”, “Sem açúcar”, “Sob medida” e “Olhos nos olhos”, duas delas eu bem carreguei pra playlist “As versões que você fez pra mim”. O duo é formado por Marcê Porena (voz) e Max Silva (voz, guitarra, sintetizador, programações, piano e arranjos)..Tem shows de lançamento nos dias 25 e 26, às 20h, no Teatro Itália, em São Paulo.

Capa do mineiro Breno Barbosa
Meyot por Dieson Morais

A banda paulistana Meyot, formada pela dupla Arthur Montenegro e Giuliam Uchima, lança seu instigante álbum de estreia, “Sopa primordial”, um guisado de MPB dos anos 1970, post-rock, rock progressivo, jazz e música eletrônica que fala de temas atuais como as inconstâncias da vida moderna, a desconexão com o mundo externo, o tédio, o papel do trabalho, a sensação de não pertencimento e as investidas supremacistas. O disco foi gravado com o ex-integrante Lucas Berredo, que é um dos compositores de todas as faixas. O lançamento é do selo Eu Te Amo Records.

Flora Mattos no Festival Macunaíma
Diogo Defante, pode nos pilhar!
Fred Fonseca na apresentação no Palco Central em foto de Taua Klonowski
Festa Difluência na Canil Recs com Henrique Vaz. Foto: Jan Ribeiro
Sophia Chablau e uma enorme perda de tempo. Foto: Helena Ramos
TZ da Coronel no RAP BM
ETC. Foto: Gabriel Venzi
Irmãs de Pau no Festival Sangue Novo, em Salvador

No sábado (21), às 16h, rola o Festival Macunaíma, em Campo Grande (MS), com Flora Mattos, Froid, Onze:20 e mais. 

Originalmente humorista, Diogo Defante é um roqueiro dos bons e faz show sexta (20), às 22h, no Cultural, com a banda Obey! que eu gosto e Libertá. O clipe de “Jerry”, de Diogo, é uma obra-prima. No sábado, mesmo horário, tem o rap do trio Oriente. E no domingo, às 15h, tem a apresentação de “A família Addams – um halloween musical”, da Entreato, e crianças com até 2 anos têm entrada gratuita.

Fred Fonseca lança seu álbum de estreia, “Mar de morros”, com show gratuito no MAMM, domingo (22), às 16h.

Neste domingo (22), às 17h, tem a volta dos eventos na Canil Recs, no Jardim Glória, com a festa Difluência #6. No som,uma turma com Renato da Lapa e Anna Lanha, Guilherme Viñas e Pedro Gabriel Lima, Henrique Vaz e DJ Mago. Nos visuais, Ivo Lazarevitch, Duda Perrucho, Matheus Menezes, Daniel Boscone, Estevão Franca, Ariel Tocchio e Paula Mermelstein. Ah, ainda tem Ian Ogera Andriolo assinando plástica e marcenaria.

Muito potente a exposição “Favela”, com trabalhos de artistas urbanos Frisko, BR Oliveira, Andressa Silva, Gabriella Frazão e Roger Barboza, curador e idealizador da mostra, que está aberta hoje (20), das 10h às 18h, e sábado e domingo, das 10h às 14h. Termina no domingo.

Essa glória que é o nosso Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades acontece entre os dias 24 e 29 no Teatro Paschoal Carlos Magno, em sua 22ª edição com entrada gratuita. Numa boa, são os melhores dias do ano por aqui. Os filmes em exibição foram divulgados: 24 filmes da Mostra Competitiva Mercocidades e 33 da Mostra Competitiva Regional. O festival é uma realização do Luzes da Cidade, que pisa muito.

Banda que já sextou aqui, Sophia Chablau e uma enorme perda de tempo faz show do segundo e maravilhoso álbum, “Música do Esquecimento”, na quinta (26), às 21h, no Muzik. Gostei tanto do álbum que, na semana de seu lançamento, teve faixas abrindo e fechando a playlist sextante. Também já falei aqui de Besouro Mulher, outra banda maneira da Sophia.

O RAP BM vai agitar o estádio Leão do Sul, em Barra Mansa (RJ), no sábado (21), às 16h, com TZ da Coronel, Major da RD, Hyperanhas, Batz Ninja e Maomé, da ConeCrew, e mais.

Jufas sempre tem umas viagens próprias, e porquê não fazer uma Oktoberfest? A Oktoberfest JF acontece entre os dias 20 e 22, na Cervejaria Barbante, com mais de 40 cervejarias de todo o Brasil e shows de Mário Terror e  Rock Story (20), Fernando Pessoa, Glicose, ETC qu eu gosto e Acoustic N’ Roll (21) e Samba de Colher, Chapeleiro Maluco e Zona Blue ((22).

A quinta edição do Festival Sangue Novo, em Salvador, acontecerá em dois finais de semana, em 21, 22, 28 e 29 de outubro, às 16h, com nomes como Anelis Assumpção, Céu, Irmãs de Pau, Jup do Bairro, Tulipa Ruiz e Flora Matos. Oitenta por cento do line-up é feminino.  

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Para melhores resultados, assista na smart TV a playlist de clipes com PNAU, Empire Of The Sun, Massot, Clementaum & CyberKills, Shygirl, IZA + L7NNON, Tiramisù, Zé Cafofinho + Otto, Mihay, Yussef Dayes ft. Rocco Palladino, Canto Cego + Gugu Peixoto, Traste, Leo Guima, Ice Spice + Rema, Desirée, Sofia Reyes + Beéle, Djonga, Allah-las,  Offset + Travis Scott, Tyga, Xamã e Jungle

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