Sexta Sei: Ian Ramil lança “Tetein”, álbum sobre uma menina e o mundo que a espera

Sem guitarra e bateria, projeto concebido em estúdio caseiro reflete as mudanças provocadas pela chegada de Nina, há seis anos

por Fabiano Moreira
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Ian Ramil por Carine Wallauer

O compositor e cantor Ian Ramil, 37 anos, é filho do  compositor Vitor Ramil e sobrinho da dupla Kleiton e Kledir. Vencedor do Grammy Latino de Melhor Disco de Rock, em 2016, com “Derivacivilização”, ele se transformou com o nascimento de sua filha Nina, há 6 anos, o que o levou a criar e lançar, nesta sexta (23), “Tetein”, seu terceiro álbum, sem guitarras e bateria e com violões, arranjos de cordas e madeiras e beats. Batemos um papo, pelo Zoom, no qual ele me contou que este é um álbum “sobre uma menininha e o mundo que a espera”, mesclando afeto e delicadeza à dura realidade da opressão do capital nas cidades. “Me deu vontade de ouvir e fazer coisas diferentes”, conta.

Moreira – Temos que começar falando de Nina. “Bichinho” é uma canção com um clipe tão tocante, impossível não se emocionar. Geral sentiu. Como a experiência da paternidade influenciou esse álbum? Com qual idade está Nina e como foi criar a capa com ela? Eu sou um tio corujaço e me identifiquei muito com esse amor.

Ian Ramil – É, foi muito incrível, cara, foi muito transformador, eu só fui me dando conta que estava acontecendo uma coisa muito diferente, sabe? Do jeito como eu enxergava o mundo, enxergava a mim mesmo, fui me percebendo diferente. A criança é toda delicada e tal e, às vezes, uma risada mais alta assusta, e você começa a perceber como tu te comporta no mundo das relações, como é que tu performa no mundo. Isso tudo foi fazendo eu olhar pra mim, olhar pra dentro, repensar minha vida toda, por quê eu sou do jeito que eu sou, por quê eu falo alto, porque rio alto. Tem aquela coisa, uma defesa da sua própria performance, assim, mas é no final das contas uma performance, que vem de uma coisa natural, instintiva, da comunicação mas, ao mesmo tempo, ela é muito formação, aprendizado por mimetizar pessoas a nossa volta, por querer participar e ser aceito em grupos, né? A gente quando é adolescente quer se vestir igual a todos, eu me vestia igual os meus colegas e, muitas vezes, tinha uma tendência de crianças, adolescentes e, depois, a gente vai ficando mais adulto e vai mudando, assim, né? E ela foi um choque um pouco assim nesse sentido porque eu me achava já super na minha, já sei como é que eu sou, já tenho o meu jeito e, quando ela surgiu, eu percebi que tem um monte de coisa em mim que eu não gosto, está ligado? E isso foi um processo que foi bem depois, porque primeiro eu fui só compondo coisas que foram parecendo muito diferentes do que eu estava habituado a compor assim, sabe? Canções como “Cantiga de Nina”, “O Bichinho”, essas canções super mais delicadas assim, né? E elas foram vindo e eu fui percebendo que mesmo as mais densas, as que tem mais acidez assim, que é uma coisa que tem bastante no meu disco anterior, elas também já têm um outro lugar, elas já estão num outro lugar e, nesse meio tempo, quando eu comecei a pensar sobre o disco como eu queria gravar, eu comecei muito a isso, não quero ter banda, não quero ter um monte de gente na minha volta, quero silêncio, quero trabalhar sozinho, então fiquei um ano trabalhando em casa, né? Fiquei um ano gravando aquelas canções, mexendo, tirando, botando coisas e tal. Processo supersolitário, para depois ir em estúdio gravar no final do ano assim, em 2019. E a Nina tá com 6 anos agora, né? E essa virada começou no momento quando ela nasceu assim, porque tudo começou a mudar e segue acontecendo, ela é muito surpreendente, né? A criança é como tu falou né? Ilumina os lugares e é uma novidade incessante dia após dia, né? Sempre é uma coisa diferente uma coisa nova vindo, né. E essa capa do disco foi uma loucura, uma busca. Eu ouvia muito das pessoas à minha volta que tinha que ter minha cara na capa, porque nenhum disco meu tinha,  que eu tinha que botar a cara na capa para as pessoas me conhecessem. E aí, eu fui nessa ideia e fiquei um bom tempo nela e nunca conseguia chegar na capa. Eu cheguei anunciar uma outra capa, mas não me sentia satisfeito, e entrei nesse processo de buscar o que seria essa imagem que sintetiza o disco, porque esse disco tem muito forte a coisa do super afetuoso e delicado e da coisa super dura da realidade, né? Então, tem esses dois universos que são, a princípio, conflitantes, mas eles não são conflitantes, eles coexistem, né? Eu vejo dentro da minha casa isso, né? Eu fiquei viajando que é um disco que conta sobre uma menininha e o mundo que a espera. Alguma coisa do tipo daria pra sintetizar o disco. É isso. Porque tem essas duas coisas. Tem aquilo que está acontecendo dentro de casa, aquele carinho, aquele afeto e tem aquilo que está passando do lado de lá da janela. Algumas pessoas que ouviram me disseram que tem esses dois lados bem fortes, e eu queria esse negócio na capa. E, ao mesmo tempo, tem que ter a presença da Nina, que é muito forte no imaginário todo das composições do disco, e essa coisa de ter que ter a minha cara, E aí, fui nessa busca. É uma pintura que ela fez pra mim há três anos, numa live. A única live que eu fiz na pandemia. A minha irmã, artista plástica, veio, trouxe umas cartolinazinhas laranjas e fez pra mim um cartaz, escreveu Live, Ramil, não sei o quê. E a Nina fez um cartaz pra mim também, uma pintura e me deu de presente.E essa pintura é incrível. É a pintura que está na capa. E aí eu a gente quando estava no processo de construção da identidade visual do projeto, naturalmente, assim, pensamos em pegar desenhos da Nina porque faz todo o sentido, né? E botei em cima da minha foto, achei super bonito. Eu estava com aquela ideia fixa na cabeça de que tinha que ter minha cara.  Então eu acho essa capa mais bonita e ilustra bem o próprio álbum, a sensibilidade, a ternura. Eu sou muito satisfeito com ela. Eu não sou não sou um artista convencional, eu tenho a minha onda, ela é estranha mesmo. Eu acho que é isso aí, assumir quem eu sou e fazer do jeito que eu quero mesmo assim, sabe? Então, finalmente, o meu eu artista venceuo meu eu diretor de produtora independente.

Moreira – Você ganhou o Grammy Latino de Melhor Disco de Rock, em 2016, com “Derivacivilização”. “Tetein” pega um caminho sonoro oposto ao rock, sem guitarras e bateria e com violões, arranjos de cordas e madeiras, baixo, beats, percussões, arranjos de vozes, manipulação sonora e eletroacústica. Como foram essas experimentações e que te levou a tomar essas decisões e deixar o rock um pouco de lado?

Ian Ramil – Entrei nessa pilha de vir  pro meu estudiozinho no quarto e ficar trabalhando sozinho, entendeu? Construindo ali,  na base do silêncio. Eu acho que em busca dessa delicadeza, da sutileza, da tranquilidade, sabe, foi muito natural esse processo, foi um processo muito influenciado pela presença da Nina, que me fez enxergar diferente a música e as coisas. Me deu vontade de ouvir e fazer coisas diferentes. Então eu comecei, fui, entrei nesse processo de mergulho mesmo e de trabalhar com as coisas minuciosamente, trabalhando durante um bom tempo assim, sabe? Fui bem por aí. 

Moreira – “Macho-rey” tem um clipe muito impactante também, cinematográfico, e foi dirigido pelo cineasta Davi Pretto. Parece aqueles  filmes de distopias. O novo arranjo trouxe outras nuances para o que já conhecíamos na voz de Duda Brack. Como veio a ideia do clipe? E como foi ter a participação da Eliane Brum?

Ian Ramil – Eu nunca tinha feito um clipe de fato, com essa força da imagem. E aí eu convidei um amigo meu, Diones Camargo, dramaturgo, pra fazer o roteiro comigo. Ele me mandou uma ideia que era um menino no aniversário e tal, uma ideia bem realista. Eu adoro surrealismo, sou fascinado, sempre fui, desde criança assim. E aí, a gente entrou nessa de construir esse aniversário distópico assim,  meio thriller, meio pesadelo, né, uma coisa bem doida assim. Como a música cita a Eliane Brum, pensei em ter uma cena com ela, mas achando que ela nunca ia querer fazer isso, né, participar de um clipe como heroína assim, né? Pensei que ela tinha outras ocupações. Consegui o e-mail dela e mandei uma mensagem, no mesmo dia, ela respondeu que tinha adorado a música e que achava incrível o roteiro e queria participar e já estava dentro. Foi  uma alegria, emocionante, ficou todo mundo muito comovido assim com a empolgação dela.

Moreira – Eu também adoro o lyric video para “Mil Pares”, que tem levada funk de nylon e poesia rítmica. Uma leveza para falar de queimar shoppings centers, risos. É uma calma subversiva, né? E a gente só saca que você é gaúcho por causa do chimarrão ali, pois você tem zero sotaque cantando… Mas, falando aqui, na entrevista, tem bastante, risos. E como que veio a ideia, eu achei muito interessante, eu acho que ele se eleva a clipe, sabe

Ian Ramil – É, ficou no meio do caminho. Acho que tem uma violência ainda maior que é essa opressão do capital nas cidades, nos centros urbanos, né? A gente está sendo oprimido todo o tempo por grandes prédios espelhados que sobem na nossa janela. Então, queimar o shopping center eu acho uma imagem acolhedora demais. E é a cara dessa ideia que estava de não precisar de coisas visuais. E aí foi foi uma coisa de última hora, decidi que essa música seria a primeira do disco. Aí, faltavam duas semanas para lançar ela e pensei que precisava fazer um vídeo. Daí eu pensei alguma coisa que fosse fácil em termos de produção. Diferente de “Macho- rey”, que a gente viajou e tocou o foda-se. Pensei em  alguma carga simbólica, com força estética. E aí a gente fez esse vídeo, que eu não quis chamar de clipe, porque eu sabia que vinha depois um clipe mesmo pela frente que era o “Macho-Rey”, né? Achei que ele estava num outro lugar, mas muita gente me comentou isso assim que gosta muito do vídeo, que é muito legal e tem força de clipe assim. E eu acho isso muito interessante também. Eu também gosto bastante desse vídeo, foi um caminho, mas a gente tem planos de fazer um um clipe mesmo. Esse foi gravado na Rua da Praia, uma rua bem famosa do centro de Porto Alegre, que  atravessa o centro, passa meio por tudo, com bastante comércio e muito trânsito né? A busca foi de um lugar que a gente consegue muita gente passando na frente.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Baapz no Maquinaria

Danilo Cutrim, vocalista da banda Braza, que já sextou por aqui, faz show nesta sexta (23), às 20h, no Beco, com o repertório do seu álbum de estreia solo, “Azul”. Uma boa sacudida na mesmice da agenda repetitiva da casa.

O performer e dramaturgo Gabriel Bittencourt apresenta  “leitura em performance” do monólogo “Ácaro”, sexta (23), às 20h, no Estação Cultural. A leitura  se inspira no curta “Eu, não sei costurar, lembra?”, do ator, e tem como trilha música de César, “O que queres de mim?”, atração de terca-feira (27) no Palco Central. No domingo, (25), tem Gafieira da Estação com Alexandre Pereira e o Samba do Galo, às 18h, com aulão de samba de gafieira.

O rapper Froid faz show, sexta (23), a partir das 22h, no Cultural, lançando o DVD “O Florista”, com abertura de Marcelo Marte, que acaba de lançar o EP “Nada menos que o mundo todo”.

O Parque Ecológico da Pampulha, em Beloryhills,  recebe a décima edição do Festival Sensacional!. Na sexta (23), tem Gilberto Gil e família com o show “Nós a gente”, e sábado (24), com Yago Oproprio convida Criolo, Nação Zumbi apresenta Manguefonia com Fred 04 (Mundo Livre S.A), Fundo de Quintal convida Leci Brandão, Baile Reggae da Céu, Flora Matos, Hermeto Pascoal, Getúlio Abelha, Mc Tha e muito mais. 

Clássica banda paulistana de hardcore, a FISTT faz show sábado (24), às 15h, na Necessaire, com as bandas locais do estilo Interference Hardcore e Nostalgia do Medo

No sábado (24), às 14h, começa o mais do que tradicional Festival de Bandas Novas, de Adriano Polisseni, no Parque Halfeld, com 37 bandas, comemorando 25 anos de história. O festival continua nos dias 8 e 22 de julho e 12 de agosto.

Foi a gente que pediu mais uma Súbita 0800, no Museu Ferroviário, neste sábado (24), com sets de Emuni e da dupla Reoli e Kureb. O evento faz parte da programação do Corredor Multicultural, com mais de 30 atrações em quatro dias, com Parangolé Valvulado e Margaridas Peludas (23), Sandra Portella (24), Juliana Stanzani (25)

O Movimento Samba das Mulheres na Praça leva a música de qualidade à Praça de Benfica, sábado, às 17h. Sempre uma boa pedida, amo demais.

Nosso craque Baapz (foto), que acaba de lançar clipe massa de “Gostei” com a banda que eu gosto Varanda, faz show, neste sábado (24), às 20h, no Maquinaria, com a banda de BH Bordoá. Diz o artista que é o último show antes do lançamento de seu álbum de estreia. Na sexta (23), tem Diáspora Disco, com Aravena e Pedro Paiva.

Oriente, Chimarruts e Armandinho são as atrações do Ibitipoca Village Festival, no sábado (24), às 20h, no Espaço Serra Bela, em Ibitipoca.

Natiruts, Delacruz e Onze:20 fazem show sábado (24), às 21h, no Terrazzo.

A segunda edição do Festival Turá rola nos dias 24 e 25 de junho, na área externa do Auditório Ibirapuera, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, com destaque para os shows de Maria Rita convidando Sandra de Sá, DJ Mu540, Zeca Pagodinho e Jorge Ben Jor, no sábado (24), e Tuyo, Delacruz convidando BK’ e Luccas Carlos, Pitty convidando Marcelo D2 e Céu, Joelma convidando Mariana Aydar e Gilberto Gil e Familia, no domingo (25).

Domingo (25), no bairro Grama, a partir das 14h, na Praça Áureo Gomes Carneiro, rola o segundo encontro do Sarau do Sararau.

Muito acertada a mudança do Mercadinho Qualquer Coisa para oTerminal Rodoviário ali ao lado da Estação Ferroviária. Fui bem feliz lá após o show da década do Black Pantera, sábado, e vai ser o novo point. Nesta sexta (23), tem som com o DJ Fausto.

Profissionais de extravagâncias, como foram descritas pelo The New York Times, as minas do quarteto japonês Chai lançou o single “Para Para”, com clipe colorido, para anunciar novo álbum, autointitulado, para 22 de setembro, e uma turnê pelos Estados Unidos. O álbum mostra o grupo voltando às suas raízes, inspirando-se em sua herança cultural japonesa e na música que as criou. “Para Para” homenageia a popular tendência de dança two-step que passou pelo Japão na década de 1990. O clipe foi dirigido por Jennifer Juniper Stadford, homenageando o passado, presente e futuro do art-rock e do J-pop, com influências de Yellow Magic Orchestra, Talking Heads e Devo. Lindas, algumas louras, e japonesas.

O Selo Rockambole sempre traz boas surpresas, como a banda Dingo, e, dessa vez, brilha uma estrela na T-shirt da vocalista Sophia Chablau, que já sextou aqui, no clipe de “Torresmo”, da banda Besouro Mulher. O single, canção originalmente composta por Arnaldo Antunes e Juliana Perdigão, ganhou nova roupagem e faz parte do álbum de estreia do grupo, que está vindo aí este ano. Além de Sophia (voz), a banda tem, na formação, Arthur Merlino (baixo), Bento Pestana (guitarra) e Vitor Park (bateria). “Essa música fala muito sobre imaginação e até uma certa subversão do normal“, explica Sophia. O clipe realiza uma jornada visualmente vibrante, que combina elementos vintage com um toque contemporâneo e estética psicodélica.

As vozes do Forró do Mundo

Sábado é noite de São João e, na sexta passada, a playlist sextante já tinha um delicioso entremeio ao ritmo do forró, esse patrimônio nacional, puxado por Gaby Amarantos em “Forró do Mangaio”, de Sivuca, faixa integrante do EP “Forró do Mundo”, idealizado por Pupillo e Marcelo Soares. São oito vozes femininas, como Céu, Gabi da Pele Preta, Juliana Linhares, Assucena, Mariana Aydar, Rachel Reis e Luedji Luna em versões contemporâneas do forró, com uma estética mais pop. Destaque para a versão de “Não sonho mais”, de Chico Buarque, com Juliana Linhares, da banda que eu gosto Pietá. O álbum ainda homenageia compositores consagrados como Mestre Dominguinhos e Anastácia, Djavan e Zé Ramalho. O projeto é uma evolução do Orquestra Frevo do Mundo, que já teve duas edições. É como disse o Falamansa, na playlist passada, “são mais de mil canções dizendo pra você sentar, mas agora peço pra se levantar”.. Essa semana, a playlist segue o baile com álbum de Xaxado Novo, o “Xaxado Beat”, EP de Alulu Paranhos, “Pra dançar colada”, e single de  Laura Becker,  “Baião da Meia-Noite”.

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links. A playlist do streaming consolida lá pelas 2h de sexta.

Playlist de clipes com Varanda + Baapz, Geese, Hodari + Luedji Luna, Little Simz, Marcelo D2, Oliver Tree, Kesha, Doja Cat, Karol G + Aldo Ranks, WD, Bruno Martini, Leila Pinheiro + Roberto Menescal + Diogo Monzo + Ricardo Bacelar, Zé Vitor + kamaitachi, Vitão, Diogo Defante, Yussef Dayes + Tom Misch, Yves Tumor e Depeche Mode.

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