Sexta Sei: A pernambucana Natascha Falcão mexe com as placas tectônicas da emoção na estreia com “Ave Mulher”

Com visuais de outro planeta, cantora lança trabalho dirigido a seis mãos por ela, o cearense Beto Lemos e o carioca Carlos do Complexo

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Fotos por Rikko Oliveira

Já deve ter mais de oito anos que sou amigo virtual da cantora, compositora e atriz pernambucana Natascha Falcão, que conheci por meio do Matheus VK. que integra, com ela, a banda Pororoca Purpurina. Pois estou muito curioso sobre a moça faz é tempo, intrigado com os visuais de endoidar que ela ostenta em shows e clipes, como no de “Beijo de Flor”. Seu aguardado álbum de estreia, “Ave Mulher”, chega nesta sexta (3), pela Biscoito Fino, com direçãoartística dela, produção de  Beto Lemos e  co-produção de Carlos do Complexo. “Ave mulher” é inspirada em uma lenda do agreste pernambucano que simboliza abundância, entrega e alegria e revela a compositora de quatro das canções: “Banho de flor” (com Marina Duarte); “Mastigar estrelas” (com Rafael Duarte); “Feito vento” (com Marina Duarte) e “Mapa da alegria” (com Beto Lemos e Marco Axé).

Conversamos sobre como a origem pernambucana influenciou o caminho com coco, maracatu, frevo, ciranda, forró e mangue bit e de como as duas forças se integraram dentro do disco, Beto Lemos. tocando a sua alma com o conhecimento do universo poético e sonoro do Nordeste, e Carlos do Complexo, com um sound design contemporâneo e leve que não esconde e potenzializa a raiz da sonoridade. Falamos também do conceito e do universo que ela cria com seus figurinos e visagismo, que mexem com as placas tectônicas da emoção.

Moreira – Um amigo, o Tuta Discotecário, gosta de dizer que os pernambucanos estão vinte anos à nossa frente…. É como diz Chico Science em “Um passeio no mundo livre”: “Um passo à frente, e você não está mais no mesmo lugar”…. O ateliê de Francisco Brennand é o lugar mais lindo e emocionante aonde já pisei nesse mundo… Tem Chico, Lia de Itamaracá e o frevo, patrimônio da humanidade. O quanto de Pernambuco traz esse álbum? E o quanto os seus dez anos no Rio marcaram seu trabalho de estreia? Porquê o Rio gruda na gente, né…

Natascha Falcão – Esse álbum resgata muito minhas origens. Tanto de maneira simbólica como de maneira sonora. Tem uma música que faz o encontro de uma ciranda e um maracatu rural,“Salto no abismo”. Sabe quando a gente tá na rua e dois blocos se encontram? É tipo o maracatu passando na rua do lado. Eu, sempre que escuto, me arrepio, porque me transporto pra casa. Ser nordestina fala ainda mais alto estando em terras estrangeiras… Vira algo ainda mais forte na identidade da pessoa, sabe? Porque é uma construção, uma vivência diferente mesmo da das pessoas com quem a gente convive no Rio. Acho que meus dez anos no Rio estão presentes no álbum, principamentle, pelo forte desejo de apresentar a minha alma, o que me inspira e faz meu coração cantar. Todas as músicas são de autores nordestinos.

Moreira – Você se cercou de dois artistas muito especiais nesse álbum de estreia, o melhor de dois mundos…. Beto Lemos é um dos fundadores da Barca dos Corações Partidos, toca rabeca e está afinado com essa vibração nordestina do trabalho, enquanto Carlos do Complexo, um dos artistas mais intrigantes da nova geração, atualiza a sonoridade… Ele já sextou aqui comigo, foi uma das cinco páginas mais acessadas do ano passado, sou muito fã, e ele é sempre muito gentil comigo. Como foram as colaborações deles no álbum e como foi trabalhar com estes dois artistas especiais?

Natascha Falcão – Eu já sabia que Beto era a pessoa ideal para fazer a produção musical do álbum junto comigo. Eu já tinha 80% do repertório definido, o conceito, vários desejos, tudo. Eu sabia que Beto sabia do que eu queria falar. Ele conhece o universo poético e sonoro do Nordeste como pouca gente. Ele entrou na minha alma para escrever “Ave Mulher”, a música título do álbum, e também os arranjos. Eu amo todos. Acho que ele tem uma sensibilidade fora do comum para expressar essas sutilezas, sabe? Carlos do Complexo é um xodó. Eu queria que ele tivesse botado uma mão mais pesada de eletrônico, mas ele sentia que deveria ser mais leve e construiu um sound design contemporâneo e leve, que não esconde o fator raiz da sonoridade do álbum. Ao contrário… potencializa. Eu acho isso muito especial. Pq a gente conseguiu entender as medidas dos ingredientes… feito receita de mãe, sabe? No olho. Foi muito especial estar em estúdio com os dois. E com Júnior Neves também. Um baiano arretado demais que fez mix e master com muito cuidado e carinho. Demorou muitooo! Porquê os tempos da pandemia e alguns  percalços rolaram, como a mesa de som quebrar quando a mix ja tava quase pronta. Ai teve que recomeçar esse processo de pós. Mas tudo tem seu tempo, e eu tõ bem feliz de lançar agora, pela Biscoito Fino, um trabalho que apresenta minha alma e mo qual eu também assino a produção musical.

“Banho de Flor”

Moreira – Menina, eu amo os seus visuais! Você mesmo cria esse universo? Porquê é um mundo com a sua gramática própria, né? É tudo tão mágico, uma gata que chora prateado em “Ave Mulher” e “Banho de Flor”… É mais um jeito de contar a história? 

Natascha Falcão – Eu me expresso muito pelo figurino e visual, né? Tenho muitas ideias e vontades que se manifestam aí. Adorei essa coisa de “gramática própria”… Acho que tem sim, uma linguagem muito minha nos meus figurinos e visagismo. Eu gosto muito de criar conceito. Novos universos. Gosto de misturar o universo teatral com moda e carnaval… Acho que esses universos te dão um liberdade de expressar um momento, um desejo, umaperson a.

Moreira – Como foi participar dessa edição virtual e pandêmica do Mimo? O disco já estava ali, né? Esse show foi tão importante pra mim, um momento de desamparo, e ele me pegou pela mão… Você ali, exercendo a sia “inteireza”, tão bonita essa fala….

Natascha Falcão – O Mimo foi um presente! Aquele show foi muito especial e marcante pra mim. Eu tive a oportunidade de mostrar pra muita gente o meu trabalho. e isso é precioso demais! Num festival tão importante e cuidadoso em tudo. Eles tiveram muito carinho comigo e, pra mim, foi um encontro fantástico com o público. Mesmo sendo no virtual, aconteceu! Aquele show me pegou pela mão também. Me fortaleceu e confirmou muita coisa pra mim. Minhas escolhas, meu lugar na música. Foi massa demais!

Moreira – Na abertura desse show, você fala do arquétipo feminino que criou com “Ave mulher”. Como essa esfera do feminino é trabalhada nesse belo álbum? Tá muito bonito 😉

Natascha Falcão – O álbum conta uma história. Como alguém que vem do teatro, eu valorizo muito isso da dramaturgia. E “Ave Mulher” é uma metáfora da nossa existência enquanto mulher … Selvagem, ameaçada, livre, forte,  próspera, entregue, intensa. Lucas dos Prazeres, percussionista fantástico que participou de praticamente todas as faixas do álbum, fala que ele mexe com as placas tectônicas da emoção. Eu achei isso tão lindo e, desde então, visualizo e sinto assim mesmo a formação desse vulcão em mim. Que a poética de “Ave Mulher ” erupcione um magma de amor, beleza e liberdade em vários corações <3 Tomara!

Abaixa que é tiro!💥🔫

Clara Castro e Laura Jannuzzi por Digo Ferreira
Ressaca Vavulada
O Bailoso Neon da banda Mauloa
Museu Mariamo Procópio

A cantora e compositora Clara Castro é amiga do povo aqui do site, cria do grupo de teatro Ponto de Partida e muito talentosa.  Ela apresenta o show  “Depois de Ana” nesta sexta (3), no Sensorial, às 22h, com Laura Januzzi e banda com o amigo Lucas Gonçalves, da Maglore, e Nathan Itaborahy, que assina a direção musical do álbum “Ana”. Clara e Laura gravaram o clipe de “A Torre” lá no Sensorial. No show dessa sexta, “é muita estrela pra pouca constelação” e ainda tem participações de Laura Conceição e Alice.  Sábado tem Ressaca Vavulada, que começa cedo, com Pedro Paiva (Vinil é Arte), às 16h, e segue com oficina, roda de samba com o Bloco do Zezinho e Bloco Parangolé Valvulado.

Sábado (4), 20h, no Beco, tem show da banda de reggae  Mauloa, com farta distribuição de tinta neon a noite toda…. Gente é pra brilhar…

A segunda etapa da reabertura total do Museu Mariano Procópio acontece nesta sexta-feira (3), com acesso ao segundo andar do prédio Mariano Procópio, que se encontrava fechado por mais de 15 anos. A exposição que ocupará as dez salas do local, “Fios de Memória: a formação das coleções do Museu Mariano Procópio”, aborda os diferentes aspectos das práticas colecionistas e das coleções de Alfredo Ferreira Lage e do próprio Museu.

O Espaço Hip Hop da gente tem edição neste domingo (5),  às 14h, no Viaduto Hélio Fadel, com a King of wat jam, uma cypher criada pelo americano DJ Fleg , um dos maiores da cena do break de Baltimore, que retorna ao nosso rolê. Salpícada de estrelas, a tarde ainda tem Amanda Fie (para sempre acósmica em  meu coração de Moreira). Laura Conceição e Anditaum, tudo sob o comando da icônica Dona Chapa

O Espaço Hip Hop na foto de Matheus Pereira
Pixinguinha como nunca
“Pizindim”, novo álbum do septeto vocal Ordinarius .Foto de Bruno Braz.

Os 50 anos da morte de Pixinguinha foram marcados pelo lançamento do segundo volume da coleção “Pixinguinha como nunca” com as 50 obras escritas por ele e nunca antes gravadas. Depois de Pixinguinha Virtuose, no início de fevereiro, acaba de chegar ao streaming “Pixinguinha na roda”, com mais uma parte desse tesouro encontrado pelo Instituto Moreira Salles (IMS). A coleção ainda terá mais dois volumes, todos com direção artística do cantor e ator Marcelo Vianna, neto e pesquisador da obra de Pixinguinha e direção musical e arranjos de Henrique Cazes, pesquisador constante da obra do artista. “Se eu precisasse escolher apenas uma palavra para resumir a grandeza de Pixinguinha, escolheria sem pestanejar: fluência. Tudo em sua música flui, balança e se comunica”, resume Henrique Cazes, que reuniu Alexandre Maionese (flauta), Daniela Spielmann (sax soprano e tenor), Marcílio Lopes (bandolim), Everson Moraes (trombon ofie ecleide), Rogério Caetano (violão de 7 cordas e violão) e Beto Cazes (percussão).

Capa "Pixinguinha ma Roda"
"Pizindim", Ordinarius

Também está bonito Pizindim, novo álbum do septeto vocal Ordinarius, mais uma homenagem ao grande Pixinguinha que chega nesta sexta (3). com produção musical e arranjos originais de Augusto Ordine. |Tem clipe para ”Os cinco companheiros”, com o grupo vocal cubano  feminino Gema 4. Nilze Carvalho também faz solo em  “Carinhoso”. Amanhã, sábado (4), tem show, às 19h, na abertura da temporada 2023 da Sala Cecília Meirelles. O single “Um a Zero” ganha videoclipe, no dia 10, e “Urubatan”, no dia 17. Falando em “Pixinverso”, aqui tem meu papo sextante com Caetano Brasil.

Yago Oproprio. "O Inquilino", em foto - @youknowmyface
Varanda por Gabriel Acaju

Esta semana chegaram dois EPs de artistas pra gente prestar atenção. Os primeiro deles foi lançado no sábado, essas datas malucas que só os juiz-foranos escolhem, rs, “(Ode ao Infinito) algumas outras versões das músicas do nosso primeiro EP”, quando a banda Varanda completou um ano do lançamento do EP de mesmo nome. Apesar de ser uma banda de rock que quebra tudo no palco, com os integrantes vestidos de vermelho, como conferi no show de abertura da Maglore, o EP é bem calminho, MPB, acústico e tá bem gostoso, com violão e percussão destacando a presença e a voz da nova vocalista Amélia do Carmo. Escolhi a faixa inédita “leva e vem” pra playlist de hoje (3), quando a banda se apresenta, ao lado de Baapz, no Beco da gente, às 20h.

"O inquilino"
Varanda

Pelos comentários no Instagram do artista, até Marcelo D2 está ansioso para a chegada do EP “O Inqulino”, a estreia do rapper Yago Oproprio. Nascido na Zona Leste de São Paulo e criado em Caracas, na Venezuela, foi influenciado por sonoridades latinas, que imprimem ritmo e singularidade às suas criações e vocais, que vão de firmes a emocionais. Seus números nas redes também chamam a atenção, com mais de 90 mil seguidores no Instagram e mais de 100 milhões de streamings só no Spotify. “Para mim, fazer música é algo muito doloroso, tenoh muita dificuldade ao mesmo tempo quando percebo ser a única forma de me expressar, são impulsos, desabafos que surgem e, a partir deles, vou lapidando”, resume. O trabalho foi produzido por Patricio Sid, do Projeto Nômade.

Tagua \Tagua por Guillermo Calvin

Depois de três singles que adorei acompanhar, “Tanto”, “Colors” e Pra Trás”, o gaúcho radicado em São Paulo Felipe Puperi, do projeto Tagua Tagua, lança seu segundo álbum, “Tanto”, no qual navega na neo soul para falar de amor, com toques de R´n´B, dream pop e indie rock. “É sobre se apaixonar por se apaixonar”, resume o artista. Se liga que vai ter show dia 13 de maio, no Galpão Ladeira, no Rio de Janeiro (RJ), o mais perto por aqui, dentro de uma série de apresentações pelo Brasil.

Capa de "Tanto" por João Lauro Fonte

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Playlist de clipes com half-alive + dadie, Janele Monáe, Mateus Faseno Rock, Halsey, Shygirl + Tinashe, MC Tha + Mahal Pitta, Marina Sena, Patricktor4 + Marcia Castro + Abulidu, Nubian Farlow, Drake + 21 Savage, Chlöe + Chris Brown, Karol G + Shakira, The Waeve, Matheusdiddy + DJ Caique, Maria Baldaia + Marissol Mwaba, MC Livinho,  Ana Setton, Azzy, Arlo Parks e Nico Losada,

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