Pianista, cantora e compositora honra a tradição musical da casa de Martinho da Vila com seu quarto álbum, gravado com o coletivo Jazz das Minas
por Fabiano Moreira
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Se Tom Jobim mandou subir seu piano pra Mangueira, a instrumentista, compositora e cantora Maíra Freitas, 37 anos, pegou o piano da sua casa em Guapimirim, perto do Dedo de Deus, e levou para o Jardim do Méier, aonde fez show de lançamentos de “Ayé Òrun”, seu terceiro álbum, cuja narrativa é completamente conduzida por seu piano, o maestro que orquestra as outras instrumentistas do coletivo Jazz das Minas. Batemos um papo, por e-mail, no qual falamos sobre o afro-futurismo da capa, assinada por Janice Mascarenhas, do prazer, além do ato político, de fazer um álbum só com mulheres e das participações de Josyara, Zé Manoel, Elisa Lucinda, Martn’ália e Anastácia,
Moreira – O álbum é “embalado pela força motriz da maternagem e da feminilidade”, diz o release. A maternagem é a “capacidade que alguém tem de ser abrigo para a criança, onde ela se sinta aceita, pertencente e digna de ser amada”. O trabalho também marca o seu encontro com o Jazz das Minas, formado só por mulheres. Como é trabalhar só com mulheres, o álbum foi feito por um time majoritariamente feminino, né?
Maíra Freitas – Trabalhar só com mulheres é muito gratificante. Para além do ato político, quando estou entre as nossas, sinto-me muito bem, mais à vontade, tranquila e, sobretudo, livre para expressar minhas emoções, anseios, dúvidas, angústias. Mesmo tendo um grande direcionamento e comando meu, sinto que o trabalho acaba sendo bem colaborativo. Tem um pouquinho de cada mina no álbum, cada uma tem seu solo, seu momento de destaque. Fico muito feliz.
Moreira – Você começou sua carreira como pianista clássica, e o piano ainda segue no centro de sua música, é ele que conduz toda a viagem, né? O cello também está lindo… “É música pop brasileira jazzística de terreiro”, dizem as suas aspas no release. A capa de Janice Mascarenhas é afro-futurista… Como foi pensado tudo isso?
Maíra Freitas – Cada detalhe do álbum foi muito trabalhado, sentido e pensado. Cada música tem sua levada, seu sentimento, sua palavra destaque. Fiquei muito tempo pensando cada coisa e cada integrante deu uma ideia. O piano é meu instrumento e com certeza vou carregá-lo em meus discos pra sempre, mas acho que nesse álbum o piano é meio que o maestro. Tem momentos de solo, mas é como se ele conduzisse a narrativa, orquestrando as outras instrumentistas. A participação da Flávia Chagas no cello trouxe muito brilho pra canção “Ausência do Encontro”. Uma canção sobre o amor maduro, lírico da mulher que está exausta. Janice Mascarenhas conseguiu captar na capa todo o espírito do álbum. Uma capa aberta a muitas interpretações e que traz um pouco de afrofuturismo pra imagem do nosso som.
Moreira – O álbum tem participações de Josyara e Zé Manoel, dois artistas que eu adoro acompanhar. Zé Manoel já compartilhou uma sextada aqui da Mãeana, guardei até o print, risos. Sou muito fã do álbum de estreia dele, que “Deus proteja” o rolê dele… E a Josyara, tão gigante a Josyara! Como foi colaborar com eles e Elisa Lucinda, além de sua irmã, Martn’ália, e Anastácia?
Maíra Freitas – Josyara me mandou uma canção que encaixou perfeitamente no repertório, uma música que transita entre a canção e a música instrumental, carregada de ancestralidade e axé. Ela é amiga de longa data e fiquei muito feliz de ter a participação dessa artista tão incrível no nosso álbum. A música com Zé Manoel começou a ser feita na pandemia, pela internet, por meio de brincadeira de rede social. Eu mandei um refrão e ele fechou a música. Zé é um querido e admiro muito o trabalho dele. Acho muito interessante, pois somos muito diferentes em personalidade e, ao mesmo tempo, somos pianistas cantores pretos brasileiros na mesma faixa etária. Muito doido isso. A poesia de Elisa Lucinda já me acompanha há muito tempo, gosto muito do livro dela “Vozes Guardadas” e salpiquei a poesia na música “Ausência do Encontro”, combinou perfeitamente. Sou fã da Elisa e, quando ela declama, eu fico babando sempre. A faixa “Água de Sal” é uma das minhas favoritas, tem uma malemolência bem característica. Quando Anastácia me mandou a música fui certeira e quis gravá-la na hora. A faixa ficou bem gostosa, coloquei uns sopros que levaram pra esse lugar da praia e da festa. Minha irmã veio com aquele jeito que eu amo e deu tudo certo.
Moreira – O álbum foi lançado em show na rua, em parceria com o coletivo cultural Leão Etíope do Méier. Eu entrevistei o aqui o Pedro Rajão, por causa do Negro Muro, e trabalho deles é muito bacana, né? Chegaram até a lançar faixa como selo… Ele é muito atuante e sempre me manda sugestões… Como foi pra vc essa experiência?
Maíra Freitas – Olha, eu não tenho palavras pra descrever o que foi esse evento no Méier. Foi incrível, maravilhoso, eu fiquei muito, muito emocionada por poder botar um piano de cauda numa praça do Méier, num show de graça pra galera curtir e eu tocar minha música. Um show só com músicas inéditas, muita música instrumental, e a galera ali potente, o público prestando atenção, cantando músicas que nem conhecia (risos)! E foi a primeira vez que eu levei o meu piano, que mora na minha casa, prum show. Foi o primeiro show do meu piano pessoal! E o trabalho do Pedro Rajão e da galera do Leão Etíope é muito bacana, e tomara que essa parceria dê ainda mais frutos e façamos mais coisas. Esse show nós conseguimos fazer graças ao edital FOCA, da Prefeitura do Rio de Janeiro, e estamos daqui jogando boas energias pra conseguirmos continuar levando nossa música de graça pro mundo, colocando o piano debaixo do braço e indo ao encontro de um público variado e diverso em lugares diferentes.
Abaixa que é tiro!💥🔫
“Eu vou bagunçar você todinho”, ameaça, docilmente, a letra de “Melzin”, da banda que eu mais gosto desse Brasil todo que é a baiana ÀTTØØXXÁ, que chega “Suando e gemendo” com seu terceiro ålbum, o maravilhoso “Groove”. Com 13 faixas, o novo trabalho reúne participações de Liniker, na bela “Dejavú”, Carlinhos Brown, Luísa Nascimento em “Melzin”, Thiaguinho, que ganhou clipe com “Menina”, Negra Japa e Victor Leony. A banda mostra porquê o pagodão baiano é po ritmo mais irresistível da última década, aqui misturado a ritmos latinos, black music, afrobeats e funk americano. Em “Suando e Gemendo”, inspirados pela cultura automotiva dos paredões de som, o quarteto convidou Negra Japa, uma das precursoras do back dance na Bahia, ícone do movimento do paredão. Os integrantes Oz, RDD, Raoni e Chibatinha representam. Sou muito fã, queria muito saber mexer pra expressar rs. Em tempo: dia 10 de junho, tem show no Circo Voador.
Em maio do ano passado, eu fiz uma das páginas mais interessantes aqui da Sexta Sei com a diva absoluta Iara Rennó, que estava lançando “Oríkì”, que rendeu a primeira indicação ao Grammy Latino para a artista. Mesta sexta (26), “Ori Okan”, seu novo disco de inéditas, uma espécie de álbum-irmão do último, chega às plataformas, com regravação de Serena Assumpção e participações de Moreno Veloso, Zé Manoel, Karina Buhr e Negresko Sis (Céu, Thalma de Freitas e Anelis Assumpção). O álbum tem sonoridade minimalista, calcada, principalmente, no violão e nos tambores. Ori Okan é expressão iorubá e quer dizer cabeça-coração, e traz perspectiva mais íntima da relação de Iara Rennó com o candomblé, universo cultural e religioso com o qual ela se relaciona há mais de 20 anos.
O ano era 2008, e a americana Kesha fez muito sucesso com o hit “TiK ToK”, já adiantando o nome do app que surgiu em 2016, espancando muito autone, que era a base da sua estética. Pois a Kesha está amadurecida e aparece artsy em seu mais novo lançamento, o álbum “Gag Order”,o quinto de sua discografia. Eu amei e fervi aqui nas playlists um dos singles que antecipou o trabalho, o imperativo “Eat the acid”, no qual duela com um sample de sua voz em um “hino psicodélico de advertência”, segundo a revista The Fader. Também passaram por aqui “Hate me harder” e “Only love can save us now”. O álbum, produzido por Rick Rubin, é pós-pop, uma jornada no fluxo de consciência pelas profundezas escuras e psicodélicas da psiquê, seguida por um relax, um exorcismo emocional. Tem música refletindo sobre ataque de pânico, “Living in my head”, e até manifesto sobre a “vida difícil e dolorida”. Força, queen.
Só uma pessoa sem coração não se emociona com o clipe de animação para “Papai e Mamãe”, dos Titãs, faixa do álbum de inéditas “Olho Furta-cor”, disponibilizado ano passado, em comemoração aos 40 anos de banda. Sérgio Britto fez esta canção ao observar a adolescência de sua filha mais nova, em meio à pandemia. “O processo de crescimento é, muitas vezes, doloroso e solitário e, por vezes, deixa marcas pro resto da vida. Explosões de raiva, isolamento e, finalmente, redenção fazem parte do caminho. É bonito notar como está tudo ali no vídeo de maneira alegórica, bela e poética”, comenta Britto. O clipe traz traços que lembram o Mangá, mas com uma direção de arte muito brasileira, com muitas cores em momentos mais solares. Quem nunca se sentiu como o alter-ego da canção, “Porque eu não quero viver essa vida, que querem que eu viva“.
O Festival Back2black faz a sua 11ª edição, nos dias 26 e 27 de maio , no Armazém da Utopia, e dia 28, no Parque de Madureira, no Rio de Janeiro, com shows de Emicida e Dino D´Santiago, Chico Brown e Mádé Kuti e N.I.N.A. (26) e Tiwa Savage, Iza, Salif Keita e Agnes Nunes (27). Chique.
A Festa da Cerveja 🍺 de Juiz de Fora rola de sexta (26) a domingo (28), no Parque Halfeld, com shows de Rockstory e Sou Rueiro (26, às 17h), Ingoma, Roça Nova, Silva Soul convida Di Melo (27, às 10h) e Samba de Colher e Banda do Ben (28, às 10h). Todos os dias, tem passeios saindo do Parque Halfeld para conhecer parte da história da Hofbauer, cervejaria que funciona na Igreja da Glória, fundada em 1894 por missionários holandeses, a R$ 60 (inshalá).
O Café Muzik completa 24 anos com festerê, sábado (27), às 22h, com DJs que contam a história do clube em diferentes épocas, como Jota Januzzi, Kureb, Crraudio e Ruan Lustosa.
O Festival MITA faz edição carioca nos dias 27 e 28 de maio, no Jockey Clube, com Lana del Rey, Flume, Jorge Ben Jor, BadBadNotGood convida Arthur Verocai, Planet Hemp convida Tropkillaz, Gilsons, Larinhx convida MC Carol e Slipmami & Ebony, no sábado (27), e Florence + The Machine, Haim, The Mars Volta, NX Zero, Scracho convida Baia, Sabrina Carpenter, Carol Biazin e Jean Tassy & Yago Oproprio, no domingo (28).
No domingo (28), tem apresentação do espetáculo “Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças”, às 16h, no Teatro Solar, com entrada gratuita, com retirada de ingressos app do Diversão em Cena e na bilheteria do teatro uma hora antes da apresentação.
No sábado (27), às 19h30. , o espetáculo “Quizomba” toma o palco do Teatro Paschoal Carlos Magno, com ritmistas das oficinas do grupo Charmosas do Tamborim e os vocais os cantores Alexandre Pereira e Aline Crispim, interpretando sambas-enredos que abordam a temática africana. Ingressos com preços entre R$ 10 e R$ 20.
Toda quarta-feira, às 19h, tem Mesão de Desenho inspirado na Casabsurda, na Urutu Barbearia, iniciariva do Stain.
O Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades que eu apenas amo – está com inscrições de filmes abertas para a sua 22ª edição, que ocorrerá em outubro. Cineastas estreantes podem inscrever seus trabalhos até o dia 4 de agosto, pelo site. Poderão concorrer trabalhos finalizados a partir de janeiro de 2022, com duração máxima de 25 minutos.
O projeto Palco Central continua, sempre às terças, às 18h30, no Cine Theatro Central. Os ingressos, gratuitos, podem ser retirados a partir da quarta-feira anterior ao espetáculo. Os próximos são “O que não dá pra ver, tudo pode ser”, de Luizinho Lopes (20/6), “Monotema session”, de César (27), a banda André Medeiros Lanches (4/7) e “Contos populares de amor”, de de Laura Delgado e Fabrício Conde(11).
Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links. A playlist do streaming consolida lá pelas 2h de sexta.
Playlist de clipes com JMSN, Depeche Mode, The Mönics, Jake Shears, Colibri, PVRIS, Venusto Kylie Minogue, Bule, Branko + BIAB + Gafacci, Canto Cego, Blur, Leo Santanna, Uaná, Kesha, Supla, Martinho da Vila, Papatinho + Biel do Furduncinho + Luisa Sonza, PNAU + Bebe Rehxa + Ozuna, Qveen Herby e Thiago Thomé.
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