Sexta Sei: Histórias negras contadas sobre o Negro Muro, um museu urbano a céu aberto

O agitador cultural Pedro Rajão e o artista visual Cazé erguem monumentos da memória negra em forma de pinturas em muros públicos pelo Rio de Janeiro

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Pedro Rajão e Cazé, cabeças e mãos construindo o Negro Muro (fotos: divulgação)

O agitador cultural Pedro Rajão, 35 anos, formado em Letras, e o artista visual e designer Cazé, 34, são as mentes e mãos atrás do projeto Negro Muro, que ergue monumentos da memória negra em forma de pinturas em muros públicos pelo Rio de Janeiro. Eles já pintaram as figuras de Clementina de Jesus, Mussum, Moacir Santos, Jovelina Pérola Negra, Marielle Franco, Cartola, Elza Soares e tantos outros. O projeto vai virar site, em breve, com as biografias dos retratados, tudo ligado aos negros muros por QR codes, cumprindo a missão de registrar essa história negra.

Elza Soares em Água Santa

Batemos um papo, por áudios de WhatsApp, e falamos como o projeto homenageia essas figuras negras e suas histórias, tão escondidas, em uma biblioteca  aberta, na rua, a carência gritante de visibilidade para esses personagens, o financiamento dos muros, por benfeitorias, crowdfundings e leis de incentivo, a recepcão calorosa do público e a técnica que Cazé aperfeiçoou, para a arte urbana, inspirado pelo impressionistas.

Cartola na Rua dos Inválidos, Centro do Rio

Além dos personagens aqui da página, já estão registrados Mãe Beata, na Rua Riachuelo, Moacir Santos, na Rua Benjamin Constant, na Glória, Dona Orosina, no Morro do Timbau, e João Cândido, na Rua Turmalina 1850, em Coelho da Rocha.

Pixinguinha na lateral do Museu da Imagem e do Som (MIS), Lapa

Moreira – Como funciona a dupla criativa? Quem faz qual parte? O projeto é bem impactante, está uma beleza, viu.

Pedro Rajão – A dupla criativa, basicamente, somos eu, como produtor e pesquisador, e o Cazé, como artista que fez todos os murais do Negro Muro. A gente é o núcleo duro. A gente trabalha com o Rhuan Gonçalves, nosso parceiro, co-produtor, e a Duda Mattar, da Partiu, que tem uma atuação mais voltada para o meio ambiente.

Mussum na Rua Maria Luiza, 70, no Gambá, Complexo do Lins

Moreira – Como foi a escolha dos personagens? Parece que há a intenção de criar monumentos da memória negra em locais relacionados às histórias desses personagens. E há QR codes que levam para mais conteúdo sobre os personagens retratados? Há uma carência de informações ou visibilidade sobre e para estes personagens negros? O projeto busca justamente agir nesse sentido? Eu ia perguntar porque o Fela Kuti estava nessa galeria de personagens brasileiros. Lendo mais, descobri que não só foi o primeiro retratado no projeto como também é objeto de um documentário que está sendo feito há dez anos por Rajão, “Anikulapo”, sobre Fela e o afrobeat. Como ele se conecta a esses personagens nacionais?

Pedro Rajão –  A escolha dos personagens, na verdade, é uma vontade muito antiga já que eu tenho de, de alguma forma, homenagear essas figuras negras e suas histórias escondidas que a cidade do Rio tem, principalmente o subúrbio. A nossa amizade, na verdade, se deu, quando um amigo nosso em comum, João Marcos Braga, nos apresentou. Eu estava começando a fazer meu documentário, “Anikulapo”, queria divulgar essa coisa do Fela Kuti e convidei o Cazé para fazer um Fela Kuti. A gente fez dois, o primeiro em 2011, sem esse recorte territorial, óbvio, o Fela nunca nem pisou no Brasil, foi mais nesse intuito de divulgar a figura do Fela, a partir da produção que eu já tinha. Nós fizemos alguns outros trabalhos, eu fiz uma homenagem a Abdias do Naxcimento no Leão Etíope do Méier, e o Cazé fez um muro dele lá, ao vivo, tivemos outros trabalhos pra além do formato Negro Muro, que se consolidou mesmo em 2018, quando fizemos o segundo Fela, no Grajaú, em frente à Escola Estadual Francisco Campos, na Rua Nossa Senhora de Lourdes. O grafite acabou sendo apagado, mas esse foi o primeiro dessa série desses últimos anos.

Últimos trabalho: Antonieta de Barros, primeira deputada negra do Brasil, criadora do dia do professor, em 1934, registrada na Escola Francisco Jobim, Rua Adriano, Todos os Santos, Méier

A partir dali, eu fui elencando essas figuras de onde eu venho na cidade e mais circulo, que é Grande Méier, aonde eu nasci, cresci e tenho uma atuação cultural, há sete anos, pelo menos, à frente do Leão Etíope do Méier. Diversos personagens também foram dessa área, Elza Soares, da Água Santa, ali no Barreto, Todos os Santos, Cruz de Souza no Encantado, Clementina de Jesus, no Engenho Novo, Abdias do Nascimento, já ali no Maracanã. Cada personagem foi pensado de acordo com uma distribuição histórica também, pensando nessa zona da cidade. A gente também fez na Maré, a dona Orozina, a primeira moradora do Morro do Timbau, na Maré, e o último grafite que a gente entregou agora, no Méier,  na Escola Franscisco Jobim, com a figura da Antonieta de Barros, primeira deputada negra do Brasil, também criadora do Dia do Professor.

Marielle Franco, presente!, na Rua André Cavalcanti. ao lado do Bar do Peixe, no Centro do Rio

Moreira – A ideia é pintar quantos personagens? Quantos já foram pintados? Quais serão os próximos? Vocês têm feito essas pinturas com recursos de crowdfunding?

Pedro Rajão –  É uma carência gritante sobre a visibilidade desses personagens, inclusive para pessoas que estudam e estão envolvidas com questão de negritude e são negras e estão envolvidas com movimentos de militância e memória. O QR code vai diferenciar para o nosso site, que está quase pronto. Lá, vai ter uma página para cada homenageado.

Queremos pintar quantos personagens forem possíveis, o máximo, é um número infinito, uma lista interminável de figuras a serem homenageadas, que edificaram nossa cultura, nosso país, nossa história. O próximo é o Cruz e Souza, é o que posso falar, os outros estamos viabilizando ainda os patrocínios. Fizemos quatro muros com recursos da Benfeitoria: João Cândido, Clementina de Jesus, Elza Soares e Ruth de Souza. A plataforma triplica a primeira meta que atingir. O Pixinguinha já foi pela Lei Aldir Blanc. Cada muro, na verdade, é um esquema diferente, corremos atrás de edital e patrocinadores. Fizemos outros muros com  pouca grana para promover esse trabalho e nos colocar no mapa, graças ao meu pai Xangô, está começando a acontecer, devagarinho, mas está rolando.

Abdias do Nascimento, na estação Maracanã do Metrô

Moreira – Como tem sido a troca com as pessoas no momento das pinturas? Quais as principais reações?

Pedro Rajão –  A troca é muito maravilhosa, né, cara, é uma das partes mais interessantes, sou eu cumprindo um papel de educador, de alguma forma, de multiplicador de informações e histórias, e o Cazé, porra, é um puta artista, super rígido com ele mesmo no processo artístico e de pesquisa, desenvolvimento de lay-out, por isso chega a esse estado de perfeição. É muito bom ver as pessoas questionando, às vezes, a gente ouve umas merdas, mas faz parte. As principais reações são de parabéns, muito  obrigado, param o carro para tirar foto. Somos muito bem recebidos.

Clementina de Jesus na Rua Acaú 51 , no Engenho Novo, ela morava no número 41

Moreira – Cazé desenvolveu uma nova técnica para criar pinturas tão realistas, parece que com agulha de seringa que simula pinceladas de traços finos…. Fale mais da técnica… 

Cazé – Na verdade, eu não desenvolvi uma técnica, né, eu adaptei o processo de pintura. Eu uso uma agulha de seringa para simular as pinceladas. Conforme eu vou pintando, não pinto com camadas grossas, como fazemos com o spray, normalmente, eu vou fazendo traços, e o somatório desses traços vai criando camadas e camadas de cores, entendeu, e vai criando a estética que tenho no meu trabalho, que é inspirado no processo de pintura dos impressionistas.

Marcelo Yuka na Rua Uruguai, na Tijuca, que não faz parte da série, mas feito pra gente amar demais também

Abaixa que é tiro!??

Sábado e domingo (5 e 6), a partir das 14h, rola a primeira edição do i-Bit Mapping Festival Online, com projeções audiovisuais extremas realizadas sobre paisagens de Conceição de Ibitipoca (MG), no YouTube. O festival, que tem curadoria do diretor de arte e TV Jodele Larcher, traz os VJs Spetto, Homem Gaiola, Vini Fabretti, Luv, VJ Carol Santana, VJ Lê Pantoja e VJ Eletroiman em ação na natureza, it’s a wild bright world. Com recursos da Lei Aldir Blanc (Secult-MG), eles fizeram projeções extremas sobre a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, o Paredão de Santo Antônio e a Comuna de Ibitipoca

O programa será apresentado pela poetisa e rapper Laura Conceição, que faz show, sábado (5), às 22h. No domingo (6), no mesmo horário, tem VJ 1mpar.

Fabiana Cozza Foto: José de Holanda
El Efecto no Circo Voador no Ar
Tuyo Foto: Juh Almeida
Emicida Foto: Wendy Andrade

O Sesc em Casa da semana está bem especial, com Tuyo, hoje (4), que está de lindo disco novo, e Fabiana Cozza, sábado (5), sempre às 19h.

Hoje (4), o Circo Voador no ar, às 22h, reapresenta show de El Efecto para lançamento do disco “Memórias do Fogo”, em setembro de 2019.

O Festival Atlas das Juventudes rola de 9 a 12 de junho, lançando o atlas, plataforma sobre as juventudes atuais, de 15 a 29 anos. Os shows são especiais com Bixarte (dia 9, 18h45), Emicida, (9, 20h), Nayra Lays, (10, 21h35), Tuyo (11, 21h40) e MC Marks (12, 16h).

No sábado (5), tem live de Bell Marques, às 20h, e de Wesley Safadão, às 21h.

Essa é para quem tem crianças criativas por perto: a marca Bololofos cria bichos de pelúcia a partir de desenhos infantis, que amorzinho. “Acreditamos que todas as crianças têm imenso potencial artístico e que possuem uma forma poética e bela de ver  e inventar mundos”, explica a diretora criativa Graziella Poffo. A matéria-prima são desenhos infantis, e os bonecos instigam a capacidade de realização e o protagonismo  infantil. Além dos bonecos criados por encomenda, a marca desenvolveu metodologia para crianças em situação de vulnerabilidade produzirem seus próprios bonecos em oficinas.

Eu sempre digo: enquanto houver RuPaul haverá esperança. Além das duas temporadas em cartaz, a 13 americana, a australiana e a recente espanhola, que estreou nessa semana, a drag queen vai dar início à sexta temporada de All Stars, com 13 rainhas das temporadas anteriores. A estreia é no dia 24, com dois episódios de frente, na Paramount+., e dá pra ver tudo pelo Fuzzco News.

Meet the queens

Na disputa, estarão A’keria C. Davenport, Eureka!, Ginger Minj, Jan, Jiggly Caliente, Kylie Sonique Love, Pandora Boxx, Ra’Jah O’Hara, Scarlet Envy, Serena ChaCha, Silky Nutmeg Ganache, Trinity K. Bonet e Yara Sofia. Vai continuar o esquema da lipsync assassin, ou seja, teremos mais queens voltando. Pode vir.

Piranha também ama! Simplesmente sensacionais as calcinhas com textão da Doce Veneno, autora das criações que embelezam hoje aqui a página. A marca aposta em quem tem algo a dizer nos momentos mais íntimos, em até dez letras, em frases como “Lula eu te amo”, “Exausta”, “No Limite”, “Basculho”, “Faz um PIX”e o que mais a imaginação permitir. Tá valendo R$ 49 a calcinha, corrão.

Flávia Tápias em “Ouroboros”, foto Fernanda Vallois

Começa hoje o festival internacional Dança em Trânsito 2021, com aulas de manutenção para profissionais de dança e artes cênicas, sempre às sextas, gratuitas e online,  das 13h30 às 15h. É preciso fazer inscrição, com envio de breve currículo, de até três linhas, para o email online@espacotapias.com.br. As primeiras aulas são ministradas pela coreógrafa Flávia Tápias e, depois, por convidados. As aulas duram 1h30 e, depois, ficam disponíveis no YouTube. O festival mesmo rola de outubro a dezembro.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.

Playlist de videoclipes abrindo e fechando com faixas do novo disco de Edgar, The Chemical Brothers por HAAí, oddcouple + Elijah Blake + Melanie Faye, Urias, Bixarte, Os Amantes, easy life, Couer de Pirate, Sigrid, Troye Sivan + Regard + Tate McRae, Chico Chico, Natiruts, Clara Castro, Gabriel Conti, Thiago Pantaleão + Danny Bond, Kan + MC Guimê, Bemti + Avuá, Mateus Carrilho + Dricka e Davi Sabbag

Sexta Sei, por Fabiano Moreira