Sexta Sei: O Brasil profundo nos murais de grandes dimensões do cearense Wesley Rocha

Autodidata, o muralista retrata temáticas brasileiras que dão visibilidade às populações indígenas, negras, mestiças e nordestinas

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

O cearense Belchior, recém pintado na Bairro do Benfica, em Fortaleza

O muralista cearense radicado em São Paulo Wesley Rocha, 37 anos, me procurou para criar um perfil de artista urbano para ele na Wikipedia, uma habilidade que eu nem imaginava que tinha. Fiquei encantado com os painéis realistas de grandes dimensões que ele cria, por Fortaleza, São Paulo e pelo mundo, com temáticas brasileiras que dão visibilidade às populações indígenas, negras, mestiças e nordestinas. Um Brasil profundo que ele dá vida, em pinturas monumentais, uma habilidade que desenvolveu sozinho, como autodidata, e começou a aprender com o pai, que fazia faixas para torcidas de futebol com aerógrafo. 

O artista Wesley Rocha

Batemos um papo, por e-mail, no qual ele me contou que é da terceira geração do pixo de Fortaleza, dos anos 90, quando encontrou, nos muros da cidade, a sua plataforma de expressão artística e, nas periferias, a inspiração dos personagens aos quais dá vida em cores e traços. Também falamos do alto poder de impacto sobre o território dos painéis em grandes escalas, e apurei dicas para o meu amigo e gênio da raça Stain, que já me mostrou planos de algo assim sobre a Avenida Rio Branco. Também falamos como seu trabalho se aproxima do muralismo mexicano em termos de motivação e contexto social e que, como seu conterrâneo Belchior, em Fotografia 3X4″, descobriu o poder da alegria pela dor.

O painel do mestre Jerônimo, pescador do Mucuripe que navegou até o Rio de Janeiro de jangada, duas vezes, para cobrara direitos dos pescadores.Painel fica no acesso ao Morro Santa Terezinha, em Fortaleza

Moreira – Você é um artista autodidata, como fez para aprender a pintar? Você começou com o seu pai, né, em 1999, desenvolvendo faixas para torcidas de futebol, já com  aerógrafo. O que você aprendeu com seu pai? O que segue no seu trabalho dessa fase?

Wesley Rocha – Sou, sim, autodidata, mas os estudos não fazem parte, necessariamente, do meu processo de evolução, para chegar aonde cheguei, precisei de muita pesquisa e experimentações, a vivência na rua e os livros são necessários para a evolução do artista. A referência do meu pai foi na questão de ter contato com as tintas, daí à vontade de pintar, a princípio, fui pichador, foi a forma que encontrei de me expressar, era muito imerso no cenário do pixo de Fortaleza, isso no final dos anos 90 e início dos anos 2000, o contato com o “ jet”, como chamamos o spray no Ceará, é viciante e, ao mesmo tempo, libertador. Tenho registros dessa época da pichação e também do início na aerografia no Ceará. O que segue no meu fazer artístico hoje são as técnicas adquiridas com os anos e, principalmente, minhas raízes na periferia de Fortaleza, a forma simples e única de quem vivencia o olhar artístico no contexto.

Na Praia de Iracema

Moreira – Como é fazer pinturas de grandes dimensões? Quais os recursos necessários? Os grafiteiros aqui de Juiz de Fora estão interessados e sonhando em fazer murais assim, mas ainda não temos nenhum… Tem dicas?

Wesley Rocha – Pintar murais grandes é o que mais gosto de fazer, trabalhar com escalas maiores tem um impacto diferente nas vidas das pessoas, acredito que um painel artístico feito em grande escalas tem o poder de impactar o território em volta. Cada um dos espectadores tem uma perspectiva da obra, e um olhar único, para ter sua interpretação através da sua própria perspectiva. A dica que eu posso dar a artistas que querem fazer murais em grandes dimensões é sempre pensar em um plano além do mural em si, mas tentar inserir a arte no ambiente, para que ela possa abranger o cenário como um todo, buscar ao máximo fazer que a leitura da composição artística não passe despercebida e, lógico, estudar formas de ampliação para produção do mural.

Moreira – No seu trabalho, vejo a preocupação com o registro iconográfico de personagens de sua terra natal, do Ceará. Belchior, o pescador mestre Jerônimo (personagem histórico do bairro do Mucuripe), Padre Cícero, o músico Patativa do Assaré e o educador Paulo Freire. Qual a relação possível entre grafite e memória?  O grafite é, essencialmente, transitório, né…

Wesley Rocha – Gosto muito do resgate cultural em minhas obras, lógico que fazendo isso de uma forma leve e espontânea, não classificaria minha forma de fazer arte com graffiti original, mesmo que o graffiti real possa fazer essa conexão facilmente, o que produzo hoje é na minha visão mais parecido com o muralismo, um pouco parecido com o muralismo mexicano em termos de motivação e contexto social.

Moreira – Seu trabalho tem temáticas bem brasileiras, que dão visibilidade às populações indígenas, negras, mestiças e nordestinas. Qual a ideia ao escolher esses personagens?

Wesley Rocha – Os temas fazem parte de quem sou e onde estou inserido, sou brasileiro e nordestino, pelas minha vivências  em muitos estados do nosso Brasil, vejo que somos ricos em todos os sentidos, há uma conexão na periferia do Bom Jardim, aqui no Ceará, como também no Jardim Helena, na zona leste de São Paulo, as mesmas crises e também os mesmo valores. É uma mãe que cria seus filhos sozinha, a criançada na rua jogando bola , o tiozinho catando reciclável com o sorriso no rosto, o playboy querendo ter a estética da favela sem ter a vivência e as cicatrizes, e o indígena tendo orgulho de sua ancestralidade como nunca antes. Cresci os vendo sendo inferiorizados e estigmatizados, coisas que também senti quando saí do Nordeste para São Paulo. Não é um discurso de vitimização, mas sim de mostrar que o Brasil é rico, e suas multiformas culturais, é isso que trago no peito e na expressão da minha arte. Como Belchior fala em ˜Fotografia 3X4″, “a noite fria me ensinou a amar mais o meu dia, e pela dor eu descobri o poder da alegria”.

Abaixa que é tiro!💥🔫

RT Mallone por Natalia Elmor
Ney Matogrosso em foto de Marcos Hermés
Eu te amo Duda Brack
Nara Pinheiro por Marcela Calixto
Super Pancadão
Ludica Musica! Foto Gal Oliveira
O biaile do Gramboy
Helgi no JF Rocck City em foto de Pedro Quíron
Yoga no Museu Mariano Procópio
Nina Mello e a série 'Pano de fundo"

Um dos maiores talentos da cena local, RT Mallone é a atração da festa Brisa, nessa sexta (17), no Cultural, em noite que também tem o rapper Veigh. No domingo, às 17h, a casa promove o encontro das bandas que adoro e que já sextaram aqui, lindamente, Jovem Dionísio e Terno Rei. 

Tem sábado (18) pra lá de especial no Sensorial, às 21h, com show de Ney Matogrosso, acompanhado do pianista Leandro Braga. Pra completar, o show de abertura é com a talentosa Duda Brack, de quem sou fã e já falei antes aqui, quando saiu o álbum de estreia.

Diva de qualquer estação, a flautista, cantora e compositora Nara Pinheiro faz show de lançamento de seu excelente álbum de estreia, “Tempo de vendaval”, ‘sábado (18), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com entrada franca

Depois do sucesso da Pankaô, vai rolar uma edição da Super Pancadão, sábado (18), às 22h, na La Cucaracha, com os DJs residentes Ever Beatz e GG e os convidados Nat Baby e Bbylonik

Falei aqui, na Sexta Sei passada, que o trio Lúdica Música! que eu gosto apresenta o show do álbum “Espelho do Coração” no próximo dia 28, no projeto Palco Central, do Cine-Theatro Central. Vindos de Portugal, eles precisam da ajuda dos fãs para pagar a viagem e estão em campanha. No próximo dia 21, a  batalha de danças urbanas, Pedepoesia (21) acontece no teatro, dentro do mesmo projeto Eo Lúdica! divulgou o calendário de shos no Brasil..

No Beco da gente, sexta (17), às 20h, é dia de Bang!, a festa de soul. funky, brazucas, rap, reggae e grooves do talentoso Gramboy, que recebe o nova-iorquino DJ Fleg e intervenções do MC Erik Rk. No domingo, às 18h, é dia de forró pé de serra com o DJ Kalango.

O Jardim Norte realiza de sexta (17) a domingo, no estacionamento frontal, o Saint Patrick’s, com shows de Helgi (dia 17, às 19h), Venice e Muamba (dia 18, às 16h), Aline Crispim e Zona Blue (dia 19,às 16h). A entrada é gratuita e adquirindo o copo personalizado, dentro do evento, a renda é destinada ao Instituto Bruno, centro de apoio e tratamento de pessoas com múltipla deficiência e surdo-cegueira por paralisia cerebral, que fica em Juiz de Fora.

Boa notícia para quem, como eu, é amigo do Museu Mariano Procópio. O projeto “Yoga no Museu” volta ao parque, sempre no terceiro sábado de cada mês, às 10h30, e a primeira aula será no dia 18, com as professoras Mariana Mendes e Marina Vassalli.  

A fotógrafa que eu gosto Nina Mello estå em cartaz com a exposição “Pano de Fundo”, até 31 de março, na Unbox, em São Mateus.

terraplana ´por Eduarda Hipólito

Eu já estava bem curioso pra conhecer a Canil Recs,  no Jardim Gloria, com esse nome sugestivo, au-au, quando o pessoal da Balaclava Records me convidou para conferir o show de lançamento do álbum de estreia do quarteto curitibano terraplana, o “olhar para trás”, com lindas e ruidosas guitarras, domingo (18), às 16h. Recomendo ir de capacete que o pau vai torar kkk. O álbum foi produzido por Gustavo Schirmer e mixado e masterizado por Nico Braganholo, que já trabalharam com  Jovem Dionísio e Terno Rei, bandas que também se apresentam em Jufas nesse domingo, no Cultural. A identidade musical do terraplana é enraizada no shoegaze, mistura de vocais obscuros, distorção e efeitos de guitarra, agora com arranjos mais abertos, como a Sophia Chablau e uma enorme perda de tempo. A capa retrata anônimo com rosto borrado, reforçando a ideia da busca por reconhecer a si mesmo. A banda está em uma mini tour que já passou por São Paulo, plana hoje (17) por Belo Horizonte, sábado (18) pelo Rio e termina em casa, em Curitiba (31), com outra banda do selo que eu adoro e já passou bem aqui pelas playlists, a fluminense gordutrans.. A Canil Recs fica na Rua Doutor João Pinheiro 307,e os shows começam às 18h, com abertura da local  Purple Chameleon , lançanto .o single “Dissoluções” 

A fotografia analógica Eduarda Hipólito na capa do álbum
foto; José Victor Soares

Tem coisa mais bacana que a liberdade que as novas gerações podem experienciar com relação à sexualidade?. O cantor e compositor juiz-forano Pablo Abritta, 27 anos, fez sua estreia na carreira assim, “Livre pra ser”, em clipe com perfume de nostalgia, mas não de tempos repressores. Além da liberdade, essa geração tem ainda referenciais de artistas gays em quem se espelhar, como Jão, que é a principal influência  no trabalho de Pablo, que lança nessa sexta (17) o seu segundo single, “Dominó”, que fala sobre relacionamentos e responsabilidade emocional. O videoclipe da música estreia no próximo dia 24 e é carro-chefe do EP homônimo, que ele prepara, com mais três músicas, para o segundo semestre deste ano. Além de cantor e compositor, Pablo também é ator e participou do musical “A Família Addams – Um Halloween Musical” e se prepara para protagonizar “Moulin Rouge”, da local Entreato Produções, com estreia prevista para julho. “Meu maior receio era das pessoas não se identificarem com o que eu estava expondo. Foi um medo que eu fui desconstruindo ao longo de muitos anos e, agora, me sinto seguro em poder compartilhar. Cantores como o Jão contribuíram para esse processo de conseguir entender esse meu desenvolvimento como artista e entender esse lugar que estou agora”, conta. 

Foto; Pedro Soares
Fui caminhando até o Mercadinho Qualquer Coisa

Eu adoro um visual full on, tipo o do nosso saudoso Marrakesh, ali onde comecei a discotecar, nos anos 90, e onde hoje fica o Muzik, ou o Barroco, um bar maravilhoso, quase em frente ao colégio Granbery, que também apostava em banquete para os olhos com base no excesso de informação. Essa estética da quinquilharia é muito legal e o prato principal da nova versão do  Mercadinho Qualquer Coisa, que volta à cidade, depois de uma temporada em Tiradentes, em um simpático pocket bar na Ladeira Alexandre Leonel 943, no Cascatinha. Tudo é criação do proprietário e boa praça Fernando Santos. “A proposta é ser um portal para outro mundo, onde o tempo passa mais intensamente, e o cotidiano fica do lado de fora”, me conta, pelo zap, ele, que também assina a trilha sonora que atravessa décadas. No cardápio, espetinhos, belisquetes e a famosa cachaça de Tiradentes. Funciona de quarta a sábado, das 17h às 1h. E, se é pra ir pra outro mundo, o Rocket Pub, na Avenida Itamar Franco, comemorou seus cinco anos no novo endereço convidando a artista que eu gosto Pekena Lumen para fazer uma pintura luminescente logo na entrada que ficou de outro planeta.

O Rocket Pub que acende com a arte de Pehena Lúmen
Viridiana por Stella Michalski

Viridiana, artista gaúcha que eu gosto e que já sextou por aqui, sereia travesti, lança, nesta sexta (17) o single “Pérolas de Plástico”, no qual explora as influências da house music e da música disco, criando, na letra, uma narrativa de empoderamento trans. O clipe tá belíssimo e foi dirigido por Theo Tajes e Luisa Casagranda. O single chega pelo selo musical e produtora PWR Records, também sextante. Outro artista que eu gosto, o pernambucano Jáder, que eu decretei como a nova suprema do forró lá na Revista Híbrida, além de ter destacado seu último clipe, “Frentinha”, um pagodão baiano, nos lançamentos de fevereiro, lança, também nessa sexta, com a artista gay e paraense Aíla, o piseiro Me Beija”, que ganhou clipaço dirigido por Roberta Carvalho no parque de diversão icônico e retrô da cidade de Belém, o ITA, que só é montado na época do tradicional Círio de Nazaré.

Jader e Aíla nas fotos de Kleber José

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Playlist de clipes com Shea Couleé, Meet me @ the altar,  Black Pantera,  Àiyé, Viridiana, Miley Cyrus, Cícero, Everything But The Girl, Cafuné, Tuyo + Vitão, Becky G, Aíla + Jáder, WD + Negra Li, Mahmundi + Tagua Tagua, Marta, Welisson, Anitta + Jão,  Emilia Ali + Arlo, MC Don Juan + MC Pedrinho + Gaab MC e Nath Rodrigues.

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