Sexta Sei: Funk, cultura queer, marketing de guerrilha e safadeza gourmet na trajetória de herói de Dornelles

Cantor e compositor de Olaria, Zona Norte do Rio, dá aulas de estratégia enquanto constrói um caminho de hits e prepara EP com inéditas

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

O “corpo meigo e tão pequeno” do MC, cantor e compositor Dornelles, 24 anos, está a serviço do baile funk, da cultura LGBTQIA+ e do canal de saliências Sexy Hot, aonde ele trabalha como programador. Cria de Olaria, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ele chegou a ser expulso de casa por família de direita e vendeu brigadeiros, na rua, para custear asua música. Todo lançamento do Dornelles é uma era e tem tema bem definido, estratégia para as redes, videoclipe, coisa de  superstar. De marketing, ele entende, tanto que foi parar em todos os sites de fofoca com a ação na qual “sorteou um fã pra comer” uma promoção de fast food com ele no shopping. Dornelles tem a melhor qualidade de um artista: reflete e humanidade que há em todos nós.A gente se vê nesse menino e se encanta. Esta sexta, ele lança “Dedo Podre”, uma versão brasileira do hit gringo “Someone you loved”, de Lewis Capald, agora um piseiro com funk carioca tamborzão raiz que abre os caminhos do seu EP de estreia, “Só para maiores”. “A letra diz exatamente o que o nome quer dizer: uma pessoa que escolhe mal seu pretendente” conta, sobre o EP, que conta histórias ‘’de gays trambiqueiras”, como no épico clipe de “Mulekes do Mal”, no qual ele encarna o ator pornô ‘’Arthur Reizinho’’ sendo preso e os bate-bolas da Zona Norte, conhecidos pela arruaça embaixo das fantasias que acobertam a identidade. “Queremos mais gays sendo presa, gays empinando moto e etc.’’, brinca, citando o meme. “Trabalhar single a single é uma necessidade numa indústria que pede um lançamento por mês”, me contou, em bate-papo virtual, no qual falamos de família, novo EP com tudo inédito, parceria e amizade com Gabeu e muito mais. 

“Dedo Podre”

Moreira – Eu tenho adorado acompanhar o seu trabalho desde o clipe de “Queimado”, quando o Waguinho MPBDoll me indicou e quando a sua música entrou na seara LGBTQIA+. Como você aprendeu a fazer música? Todas as composições são suas? Você faz tudo sozinho, da composição à idealização dos clipes, divulgação? Em “Moleques do Mal”, conta um pouco a sua história vendendo brigadeiro para bancar a música.

Dornellles – Eu escuto muita música de todos os gêneros musicais possíveis desde muito novo. A música foi presente na minha vida desde a infância, começando pelo gospel por ter uma família muito evangélica. Isso tem um lado positivo, temos contato fácil  com músicos quando começamos a vida na igreja. Todas as músicas que lancei são composições minhas sim, eu tenho um certo TOC com isso. É como se não fosse ficar verdadeiro se não for meu. 

No início, como em “Queimado”, “Luz da Lua” e “Kama Surta”, sim, eu, além de compor, dirigi e roteirizei toda a parte visual. Agora, graças a Deus, tenho minha pequena equipe para dividir o peso desse trabalho infinito. 

Sobre o brigadeiro, o ano era 2021, e eu tinha sido assaltado, ainda era pandemia, mas eu sabia que não podia pausar minha carreira. Sem saber onde tirar dinheiro para executar meus projetos, eu fiz o que pude, fui à rua vender doces e consegui grana pra pagar o celular e o clipe de “Queimado”. A história, decidi por no clipe de “Mulekes do Mal”, que fala da minha raiz em Olaria, esse episódio também aconteceu lá.

“Mulekes du mal”

Moreira – Adoro o marketing de guerilha, como nessa ação de sortear um fã pra comer, que você até já fez duas vezes. Isso explodiu na imprensa da primeira vez, né? Isso fala muito sobre a nossa imprensa? Só lançando música, consegue espaço?

Dornelle – Hoje vivemos uma indústria da música que não valoriza mais o talento, as pessoas fazem músicas para as trends apenas, e eu não julgo, acho que o artista tem que ser inteligente e, se ele for o bastante pra viralizar por causa de uma estratégia de marketing, eu acho igualmente louvável. No meu caso, faltava investimento, então eu compensava na inteligência. Me orgulho do sorteio de comer um fã, faz parte da minha história, além de ser muito talentoso, claro.

“Bonde das Donecas”, com RaMemes e Bonde das Bonecas

Moreira – Você me contou que foi expulso de casa por ter família conservadora e religiosa. O que rolou? Vi que está morando com o seu namorado e fico feliz que tenha essa base de afeto e proteção. “Moleques do mal” extravasa um pouco essa energia, né? Muito interessante explorar essa cultura dos bate-bolas, que foi parar até na runaway da Drag Race Brasil.

Dornelles – Nós tínhamos muitos embates religiosos sobre minha orientação sexual, mas o ápice chegou após 2018, com a eleição daquele que não pode ser nomeado. Isso inflamou muito a população cristã, e eu fui uma dessas vítimas. Quando tivemos a chance de derrubar o crápula, fiz uma mega campanha pelas redes, e isso revoltou meus familiares, foi o suficiente para eu ser expulso. Mas, hoje, está tudo bem, o bozo caiu e tudo voltou ao normal. 

É muito mágico saber que meu trampo está seguindo uma tendência que não só eu tô ligado. A cultura bate bola é muito presente na periferia do Rio de Janeiro, tenho fotos de eu criança, vestindo um bem pequeno, porque meu sonho era entrar em uma turma. Hoje, faço parte e eu ainda gravo clipes com isso, olha que loucura hahaha.

“Precoce prazer”, já dentro álbum de estreia

Moreira – Você tem feito sucesso trabalhando seus singles um a um, sempre com temas e clipes.  Qual vai ser a tática de lançamento do seu primeiro EP? Três faixas já foram lançadas,e quantas mais estão vindo aí? Qual o plano? Vale mais a pena divulgar single a single?

Dornelles – Eu decidi não colocar nenhum single já lançado no EP, quero que todas sejam inéditas. Eu sei que isso pode inflar os números, mas eu sinto que é uma nova etapa e quero que as pessoas sintam que a partir daqui é algo realmente novo. Trabalhar single a single é uma necessidade numa indústria que pede um lançamento por mês. As coisas estão aceleradas e, infelizmente, ainda no funk não se consome o formato de EP/álbum como se consome singles. Mas quero mostrar que conseguimos fazer uma linha de raciocínio legal usando o funk como peça central.

“Colo da tropa”, com Gabeu

Moreira – Como foi trabalhar com o Gabeu? Ele é muito talentoso, e a faixa com ele é a que tem mais plays no seu Spotify. Achei o match perfeito, acho que vocês representam muito uma nova geração de artistas queer que se comunicam diretamente com o seu público e que fundamentam o trabalho no talento.

Dornelles – O Gabeu foi uma das melhores coisas que já aconteceu comigo, ele é divertido, educado, doido igual a mim. Nos tornamos, além de colegas de trabalho, grandes amigos, o considero muito. Acredito, sim, que estamos num caminho brilhante de uma leva de artistas que vão brilhar além da nossa bolha.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Josyara por Natalia Arjones

Neste simbólico dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, chega às plataformas digitais o EP “Mandinga Multiplicação: Josyara canta Timbalada”, novo trabalho da cantora, compositora e violonista baiana Josyara. Depois de  dois álbuns com canções autorais, “Mansa Fúria” (2018) e “ÀdeusdarÁ” (2022), ela lança o primeiro trabalho com releituras, homenageando uma de suas principais referências na música. O volume foi gravado no  formato voz e violão percussivo, estilo aclamado da artista. Para celebrar o lançamento, Josyara se apresentará no dia 2 de fevereiro na tradicional Festa de Iemanjá no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. O EP começa com Josyara entoando os versos de “Ralé”, lançada em 1993, mas que nos remete ao que está acontecendo neste momento na Palestina, trazendo uma importante reflexão sobre o genocídio. As outras faixas, românticas, representam o clima do verão de Salvador. Josyara assina os arranjos e a produção musical do projeto.

Geralmente, os álbuns do estilo tributo partem da obra de um compositor. O jovem e talentoso ator e cantor Darwin del Fabro, depois de reler a obra de Tom Jobim, em dois EPs, voltou seu olhar para a obra da Pimentinha no álbum de estreia “Darwin del Fabro Revisistando Elis Regina”, no qual se dedica a recriar as canções do repertório dela a partir de sua virtuose vocal, com direção e produção musicais da gigante e experiente  Delia Fischer. O resultado é surpreendente e emocionante. “Estávamos debruçados na canção “Como nossos pais”, quando tivemos a ideia de que menos seria mais. Mostrar o repertório da Elis na ótica não-binária, com suavidade, seria muito mais potente. As pérolas do álbum nasceram com a interpretação única e pessoal de Darwin”, analisa Delia. Darwin é enteado de Betty Lago e tem histórico no teatro musical e passagens por novelas da Globo. 

Recentemente, contracenou com Kevin Bacon no filme slasher LGBTQIA+, “They/Them”, do canal de streaming Peacock. O filme é uma história de empoderamento queer, ambientada em um acampamento de “conversão gay”. Queer e não-binário, Darwin usa os pronomes ele/elu. Essa perspectiva aparece no álbum. “Elis me ensinou a ser dono de mim. A ser livre. Me encantava aquela mulher que ia contra os padrões da época, era baixinha, de cabelo curto, se parecia um pouco com um menino, sendo uma menina. Era delicada, mas também bruta.  Tudo ao mesmo tempo”, pontua Darwin, gaúcho de nascimento, como a cantora. O belo videoclipe de “Tatuagem” tem direção de Bárbara Paz  

Jup do Bairro em "Amor de Carnaval"

A primeira coluna de música feita por ou voltada para a comunidade LGBTQIA+ do ano na Revista Híbrida está no ar, destacando os lançamentos de janeiro, como os álbuns de Antinoo, que passou por aqui semana passada, e RuPaul, além de singles de Irmãs de Pau + Pepita + Cyberkills, Lil Nas X,  Bia Ferreira, Reddy Allor e Diego Martins, Pabllo Vittar, Dandarona, Jup do Bairro e Astrit Ismaili ft. Mykki Blanco.

Almério & Martins
Orquestra Imperial
Djonga
A Makoomba voltou
Bloco "Reordar é viver"
“Consultório de Ilusões” no especial "Cabaret dos seres da ribalta"
"Detonautas Tour 20",
Ai que delícia o verão da Batekoo
Vandal no Bloco Afropunk

O Circo Voador tem os pernambucanos Almério e Martins em show com participação de Chico Chico e Juliana Linhares e abertura de Natascha Falcão, na sexta (2), Orquestra Imperial canta Rita Lee, com participação de Fernanda Abreu, no sábado (3) e The Varukers e Ratos de Porão no domingo (4).

A Fundição Progresso tem Ensaio do Monobloco na sexta (2), às 21h30, e showzaço de Djonga da tour “Inocente”, no sábado (3).

A banda infantil Meleka de Jacaré, a Banda do Ben, a Orquestra Sinfônica Pró-Música e Só Love comandam dia de folia  sábado (3), no Alto dos Passos, a partir das 11h.

O Baile do Come Quieto rola no sábado (3), às 22h, no Terrazzo.

Tem Samba de Colher no Tenetehara, no sábado (3), às 20h. 

No Cultural, o Bloco do Xeque Mate reúne Muvuka e Bloco do Zezinho, sábado (3),às 18h.

O Ensaio do Valle rola no Muzik, no sábado (3), às 22, com os DJs Math, Heyleldj e Alma Quimera e performance da drag Yara Villar.

O Makoombloco Superpoderoso agita a Praça Antônio Carlos no sábado (3) às 14h, com os DJs Crraudio, Amada Fie, OCrioulo, Ever Beatz e GG.

A programação do pré-carnaval de Juiz de Fora segue com o blocos Realce, às 18h , na Rua Halfeld, e “Acorda, Borboleta”, às 19h, no bairro (2),  Só Love, às 11h, no Alto dos Passos, “Meu concreto tá armado”, às 13h, em São Mateus, “Ingoma” , às 14h, na Praça Antônio Carlos (3), Parangolé Valvulado, às 12h, na Getúlio Vargas, “Cola no velcro”, meio -dia, na Praça Agassis ,no Mariano Procópio (4),“Recordar é viver”, da Praça Antônio Carlos ao Parque Halfeld, com a turma animada da terceira idade, às 16h30 (8). Veja a programação completa aqui.

Também tem pré-carnaval no Moinho, sábado, às 14h, com a bateria da escola União das Cores, e domingo, às 10h, com Só Love e mais.

Estreia na terça (6), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, o terceiro episódio do especial “Cabaret dos seres da ribalta”, com direção de Rodrigo Mangal.  Depois do Cine Theatro Central e da Praça da Estação,  a locação agora é a Escola Normal, desenhada pelo imenso Ramon Brandão. Destaque para esquete de humor com o próprio Rodrigo atuando e Gueminho Bernardes, dando vida a um número do repertório do Teatro de Quintal, “Consultório de Ilusões”. Participam, ainda, Fred Fonseca, Edmárcia Andrade e a grande dama Sil Andrade, cantando “Princesinha de Minas”, de Mamão. Depois da estreia, o material poderá ser visto no YouTube.

A Batekoo abriu a Casa de Verão Salvador, com programação negra, periférica e LGBTQIAP+ em dois espaços culturais: o Centro Cultural Solar Ferrão e a Praça das Artes. Toda a agenda, completamente gratuita, será divulgada, semanalmente, nas redes da Batekoo.

Na quinta (8), o Trio Afropunk desfila no circuito Barra-Ondina, em Salvador, com Psirico, Larissa Luz, Lunna Montty e Vandal.

Detonautas anunciou essa semana que passa por Jufas com a turnê “Detonautas Tour 20”, dia 3 de maio,  no Cine Theatro Central.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023,  2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Shaed, Pet Shop Boys, Depeche Mode, Duda Beat, Carmen Red Light, CHAI, Jamila Woods, Arthur Melo, Os Garotin + Caetano Veloso, Pedro Sampaio + Gasparzinho, A Outra Banda da Lua, Lara, Kelela, Justin Timberlake,, DJ Claudinho + Bonde Das Maravilhas, Muse, Megan Thee Stallion, Teto, Tiësto x Fast Boy,  Mombojó e Iara Rennó.

A campanha de crowdfunding da coluna continua, já atingimos 68.6%. Prefere fazer um PIX? O pix da coluna é sextaseibaixocentro@gmail.com