Sexta Sei: O crossover thrash antirracista, sem perder a ternura, dos mineiros do Black Pantera

Mineiros de Uberaba estão em melhor fase com o lançamento do terceiro álbum, “Ascensão”, e nome nos setlists dos principais festivais brasileiros, como Rock in Rio, Primavera Sound, Afropunk Bahia e Lollapalooza 2023

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Black Pantera nas fotos de @sete77sete

Os mineiros de Uberaba Charles Gama (guitarra, vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria) consolidaram a sua banda de crossover thrash (uma mistura de heavy metal, punk rock e hardcore) Black Pantera em 2022, com o lançamento do seu terceiro álbum, o excelente “Ascensão”, libelo antirracista que levou a banda ao line-up dos festivais Rock in Rio, Primavera Sound, Afropunk Bahia e levará ao Lollapalooza 2023, com direito a passagens pelas edições de Nova York, Paris e Miami do Afropunk, do Download (França) e do Altavoz (Colômbia). Eles também estão concorrendo como melhor grupo no Prêmio Multishow.

No último Dia da Consciência Negra, eles reafirmaram a luta antirracista com o lançamento do single “Legado”, entre Malcom X e Luther King, filhos de Zumbi. Bati um papo, por áudios de Whatsapp, com o baixista Chaene da Gama. A pinta de roqueiro heavy metal cai por terra quando falo no nome da nossa banda Tuyo, os “lindos, fofos”que o Black Pantera amam (e nós também) e particioam do álbum, na faixa “Estandarte“. Abaixo, o nosso papo, com luta antirracista, furar a bolha, acolhimento e da ascensão das minorias, do projeto eugênico do governo brasileiro e do retrocesso do governo Bolsonaro.

Moreira – É muito comum, entre as bandas de rock mais pesado, encontrar músicos de pensamento fascista, como a própria Pantera e tantas outras. Vocês vieram para quebrar paradigmas, né? O nome da banda já é inspirado no Partido dos Black Panteras, e as letras são o mais antirracista possível… Como esse setor do rock mais pesado reage à presença revolucionária de vocês? Caras, vocês estão muito à frente… 

Chaene da Gama (baixo) – Boa tarde, amigão, sim, o nome da banda é inspirado no partido das Panteras Negras, a gente queria um nome que realmente falasse o que é a banda, o que a banda se propôs a ser. A gente vê que há uma certa resistência a alguns fatos, mas a gente está conseguindo quebrar, furar várias bolhas, conseguimos romper vários padrões. Somos uma banda preta de rock e antirracista, e estamos conseguindo chegar a lugares inimagináveis. Nós concorremos ao Prêmio Multishow, fomos convidados para a pré-estreia do filme “Pantera Negra 2”, tocamos no Rock in Rio e no Primavera Sound, vamos tocar no Lollapalooza Brasil. A gente tem tocado em diversas partes do país, tem sido incrível, porque agora os contratantes, as pessoas, o público também tem visto com outros olhos, a banda tem crescido e tem trazido muitas pessoas, principalmente o público feminino. E elas se sentem muito representadas. É uma parada de acolher mesmo. São as minorias acolhidas. Estamos vivendo uma fase incrível, e o disco proporcionou isso pra gente,um disco que fala da ascensão de todas essas minorias.

Moreira – As mensagens antirracistas são a tônica do trabalho. Em “Padrão é o caralho”, a letra esclarece que “Jesus não era branco / Nao era ariano / A vida começou no continente africano”. A sociedade brasileira ainda é muito racista? Quais são os principais desafios do Brasil para superar os efeitos perversos da escravidão? Andamos para trás nesses últimos quatro anos de governo facista? Como nós, brancos, podemos colaborar na luta? Como diz Angela Davis, “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”

Chaene – A sua pergunta é muito pertinente. A sociedade brasileira é racista, com certeza, e isso vem um pouco dessa questão da falsa democracia racial que foi plantada aqui. Sempre disseram que, no Brasil, não existia preconceito, que éramos todos um povo só, miscigenados. Mas, na verdade, você sabe que as pessoas pretas não chegam aos cargos de poder, apesar de serem a maioria da população. Isso são efeitos que a escravidão provocou, foram quase 400 anos de escravidão e não houveram políticas públicas para inserir essa população, que foi jogada ao léu. A ideia do governo brasileiro é, com certeza, de que os pretos morressem e fossem apagados da história do Brasil. Foi um projeto realmente de eugenia, mas, se estamos aqui, é porque nossos ancestrais sobreviveram. É igual à lei de cotas, uma política pública para diminuir essa desigualdade, tem muita gente que tem ranço, que não concorda, mas se esquece que há uma disparidade enorme entre um rapaz preto e um branco que estão entrando no mercado de trabalho. Com certeza, o preto será menos favorecido. A gente sabe muito bem qual é a cor da classe média pobre desse país. Claro que existem brancos pobres, mas nada se compara ao processo que a escravidão e o racismo criaram nesse país. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, isso é muito, muito complicado. Retrocedemos, sim, nesse governo. O atual presidente, que vai sair, amplificou esse discurso racista, fascista, nazista. A gente tá vendo aí. Na semana passada, um músico negro foi agredido por um coronel nazista. O cara estava simplesmente andando na rua e foi agredido, com um cassetete, foi xingado com vários adjetivos racistas. Essas pessoas se sentem à vontade para sair do esgoto e falar e fazer o que pensa. Então, é, realmente, são tempos difíceis, tempo de retomada, é tempo de combate, porquê ou a gente começa mudando a nós mesmos, mudando até o que a gente diz no dia-a-dia. Racismo é sério e mata, ele é institucional, estrutural, recreativo. O branco, ele precisa ser antirracista. Ele precisa não aceitar, também não omitir sua opinião em relação a isso. As coisas só vão mudar quando todo mundo realmente mudar. O racismo está aí, ele mata, e muitos negros não vêem e não entendem, tamanha a falta de letramento racial.

“Legado”, lançada no Dia da Consciência Negra

Moreira – Vocês já tocaram no Rock in Rio, no Primavera Sound e já estão confirmados no Lollapalooza 2023. Logo no começo, foram escalados para o Afropunk, inclusive agora na edição em Salvador. Qual a importância de vocês estarem nestas plataformas?  O Afropunk é demais, né, sou muito fã.

Chaene  – Todos esses festivais são alto nível, mas o Afropunk é especial, tocamos na edição Bahia neste final de semana e foi o primeiro festival que a gente tocou, em 2014. Tocamos em 2016 em Paris, em 2018 nos Estados Unidos, a banda ainda não tinha nem nome. Estamos na correria até agora, apesar de estarmos com um pouco mais de visibilidade agora, mas o Afropunk foi a primeiro, lá na gringa, a acreditar, criamos uma relação de afeto, amor e cumplicidade.

“Eles que lutem”

Moreira – Quais são as principais referências e inspirações de vocês, o que estão ouvindo? Tem mais bandas nesse rolê bacana anti-racista?

Chaene da Gama (baixo) – A gente tem ouvido muita coisa. O hip hop e o rap sempre foram antirracistas. Ouço muito Racionais, BaianaSystem, Devotos, que tocou com a gente  no Rock in Rio, Punho de Mahin. A maioria dos grupos de rap são antirracistas. O Living Colour sempre foi, pelo discurso e por serem bandas pretas rompendo essas bolhas desde a década de 90. A primeira banda punk é o Death, antes dos Ramones e dos Sex Pistols. Poxa, tem muita gente e muita coisa.  As pessoas precisam procurar e entender que houve apagamento histórico na nossa cultura. E assim segue o apagamento que eles fazem. As pessoas vão, copiam e lançam como sendo algo novo, mas aquilo já existiu antes. Para qualquer banda que já existiu, existia uma  banda preta lá atrás.

“Corre”

Moreira – Achei curioso que, na deluxe edition de “Ascensão”, vocês façam feat com a banda Tuyo, que é uma das bandas favoritas aqui da página, mas também uma banda conhecida pela suavidade. Eles são muito massa, né, esse clima “gente como a gente” é muito legal, como rolou esse encontro e a troca? Como eles participaram da faixa? Vejo as meninas sempre militando nessa questão racial, inclusive nesse episódio recente da abertura do show de Erykah Badu em São Paulo.

Chaene da Gama (baixo) – Essa questão da Erykah Badu, acho que não preciso nem dizer. A curadoria desses festivais está mudando, para melhor, teve três bandas pretas no Rock in Rio, antes era inimaginável. O Lollapalooza sempre teve essa questão de ser um festival mais inclusivo. Nessa questão da Erykah Badu, eu vi, realmente, o movimento, e concordo em gênero, número e grau. E ainda bem que as bandas que foram convidadas (Bala Desejo e Céu) pela curadoria realmente desistiram, porque não faz o menor sentido. Nós temos grandes cantoras pretas aí à frente e há décadas fazendo o corre, fazendo música de qualidade, mas que a gente sabe que não chega, porque o racismo é realmente a base estrutural. A Margareth Menezes, por exemplo, que é a cara do axé,  precursora do axé, e ela não conseguiu alcançar tantas pessoas igual a Ivete Sangalo e à Cláudia Leitte. Então, racismo, racismo, racismo estrutural, racismo institucional. Então, fiquei muito feliz que as bandas que foram convidadas realmente se absteram, tomara que ponham bandas pretas no lugar (o festival anunciou Larissa Luz, Anelis Assumpção, Majur, DJ Tamy e DJ Nyack, e o trio Gilsons continua), mulheres pretas, principalmente. E sobre o Tuyo: eles  são lindos, fofos, nós os amamos. Tudo é música, e assim, a nossa relação já vem de longa data, de festivais, de bastidores. Eles sempre foram incríveis com a gente. Foi mais que natural esse processo. Fecha o disco de uma maneira incrível, de uma maneira espetacular.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Stain, fundador. Fotos: Matheus Pereira

É como diz  Paulinho Boca de Cantor: “o tempo tá passando ligeiro demais”, e o Espaço Hip Hop, que a gente viu nascer e pegou no colo, está completando um ano de rolê gratuito e ativista, ali embaixo do Viaduto Hélio Fadel, no Centro, e faz o seu quinto rolê público, neste domingo (4), a partir das 13h. O Espaço Hip Hop fica na Rua Leopoldo Schimidt 230. O coletivo Espaço Hip Hop é uma iniciativa do artista urbano Stain e da arquiteta Gabriela de Morais (ex-Casabsurda e atualmente integrante do Coletivo Bananal) e, hoje, tocado por um grupo de 12 pessoas.. A turma ocupou o vão do viaduto, criando uma galeria de arte a céu aberto com pinturas de artistas como Stain, Pekena Lumen, Didi, Gloobmund e muito mais, além das disputas de tags, slams e a dança de rua que explodiu ali

Sábado e domingo (3 e 4) agora, tem mutirão de graffiti com pigmentos, rolos e pincéis pra embelezar ainda mais o nosso rolê. Na festa de aniversário, tem DJ set com os discotecários presentes desde a primeira edição e residentes,  Anditaum e Alex Paz, recebendo Gramboy, Padrão e Umiranda. E ainda tem pocket show com DMA, apresentando seu EP “Paradoxo”, e também com o MCs Telin e LA7ALYAlém da área para a prática de skate, com obstáculos, que já virou tradição, as novidades da edição são o campeonato de basquete de rua e o Varal de Arte, com poesias, zines, ilustrações, prints, telas e fotografias. Aqui está o line up com os horários.

A banda Supercombo lança novo álbum no começo de 2023, e deu pistas do que vem aí com o single e o clipe para “Aos Poucos”, cheio de luzes estroboscópicas, dirigido por Chris Tex, marcando a estreia na Deck. Pela primeira vez, Leo Ramos (voz, guitarra e violão), Carol Navarro (voz e contrabaixo elétrico), Paulo Vaz (teclado e programações) e André Dea (bateria) entraram em estúdio sem ter nenhuma música composta. Ligaram os instrumentos e saíram tocando, o que fez deste um disco bem coletivo e orgânico. O primeiro single é enérgico, tipo pé na porta, mas fala sobre viver num ritmo mais lento.

Supercombo por Renato Peres
Pietá no Sensorial. Foto: Elisa Mendes
Tatá Chama e as Inflamáveis. Foto: Natalia Elmor
Zé Ramalho no Terrazzo
Fagner no Cine-Theatro Central
Silva Soul. Foto: Rodrigo Ferreira
Martiataka no Maquinaria
Trupicada no Alameda
Concerto para Crianças da Orquestra Sinfônica Pró-Música

O cearense Fagner apresenta o show acústico “Onde Deus possa me ouvir”, acompanhado do violonista Cainã Cavalcante, no sábado (3), às 21h, no Cine-Theatro Central. O nome do espetáculo é uma canção do mineiro Vander Lee que está no setlist.

No sábado (3), às 21h, tem dobradinha no Sensorial que eu gosto, reunindo duas bandas-desejo. Os cariocas da banda Pietá, que eu vi nascer, comemoram dez anos de trajetória enquanto preparam novo disco, e a nossa Tata Chama e as Inflamáveis lança seu álbum de estreia, “Fogo Fátuo”.

Sábado (3) tem  “Cabaré do Cambará”, às 20h, no Beco, com forrós, MPB tropical e outras latinidades, com DJ Marcelo Castro.

O Baile do Silva comemora 20 anos tocando soul, funk e black music, sábado (3), às 22h no Cultural, com show da banda Silva Soul.

No sábado (3), às 21h, tem Martiataka e Covil no Maquinaria.

Zé Ramalho está de volta com a turnê “Show dos Sucessos”, na quinta-feira (8), às 23h, no Terrazzo.

O espetáculo “Como Cozinhar uma Criança”, do Grupo Trupicada, está em temporada no Shopping Alameda, Passos. nos dias 3, 4, 9, 10 e 11. Na sexta, a apresentação acontece às 19h. Já aos sábados e domingos, o horário é 17h.

A Orquestra Sinfônica Pró-Música estreia no domingo (4), às 18h, no Cine-Theatro Central, com entrada franca, seu mais novo projeto, o Concerto para Crianças, que estreia com arranjos baseados em composições do álbum “Arca de Noé”. Os ingressos estão sendo distribuídos na recepção, das 9h às 12h.

Dezembro taí, e a Netflix tem, entre as novidades “Brincando com fogo 4” (7), “Pinóquio” de Guillermo del Toro (9), “Emily in Paris 2” (16), “Alice un Borderland 2” (22), “The Witcher, a origem” (25),  “Casamento às cegas brasil 2” e “The Circle USA 5” (28).

‘Tenho esse pesadelo / de estar nua no meio da cidade / mas ontem à noite a lua mudou / de repente acordei / na rua / como vim ao mundo / e agora o pesadelo é realidade”, diz a letra de “Nuda in mezzo alla città”, um das três faixas do EP visual “Claudio”,da artista sonora e visual baiana Ananda A. L. Costa, a Nana Lacrima, que estuda Comunicação Visual em Berlim e havia lançado, em 2017, o álbum “CMG-NGM-PDE”, assinando como Nana.  O clipe do EP é assinado por Calebe Lopes e foi filmado em Salvador (BA) com inspiração no cinema giallo (gênero literário e cinematográfico italiano de suspense e romance policial que teve seu auge nos anos 60 e 70) de Dario Argento e Mario Bava e também na nossa pornochanchada

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Hot Chip, Franz Ferdinand, YOÙN + BIAB + Rahiza & Pretinho da Serrinha, Metronomy + Sebastien Tellier, Supercombo, Zuana, Falamansa + Natiruts, Mano Brown + L7NNON + Papatinho + Lil Baby, ETC, MC Livinho + MC Biel do Furduncinho,  Bixarte, Mílian Dolla, Marô, Márcia Novo + Lia Sophia, Snoop Dogg, Stacey Kent, Paulo Londra, Röyksopp e a-ha.

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