Depois de ser partida ao meio em “Puérpera”, a carioca volta transante e sensual em álbum de pagotrap produzido por ela e Jonas Sá
por Fabiano Moreira
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“‘Verana ’ veio como um bote salva-vidas que está me levando ao encontro dessa nova mulher”, conta a minha grande amiga, compositora, cantora e agora produtora Lila, 42 anos, sobre seu segundo álbum, que acaba de chegar, na seqüência de “Puérpera”, com reflexões sobre a maternidade. Pois a mãe tá on, tomou um sol, botou um biquinaço e está cantando a sensualidade de verão carioca ao ritmo do pagotrap, essa pequena revolução. Pela primeira vez, ela mesma produziu o trabalho, enquanto aprendia a produzir, e o produtor Jonas Sá escutou o canto da sereia e embarcou, colocando “molho e umas maldades”. “Verana” é, essencialmente, sobre empoderamento feminino. “‘Verana’ me fez ver que é possível e que a gente é capaz de muito mais coisas do que a sociedade nos diz”, conta a artista. Ela não anda ela desfila. ♫
Moreira – Depois de “Puérpera”, que falava do processo de nascimento do seu filho e do quão devastadora a gestação pode ser para a mulher, “Verana” traz uma Lila sexualmente liberada, recentemente separada, pronta pro jogo, em um disco sobre o prazer pelo viés da mulher, quente, tomando sol. Como foram essas transformações?
Lila – Acho que poderia escrever uma tese sobre esse processo de “Puérpera” à “Verana”, mas o que gosto e sei fazer são discos. A maternidade, hoje já um assunto mais conversado e menos tabu, é um mergulho em águas muito profundas e acho que a mulher quando volta de lá é uma mulher grandona e dona de si. “Verana” veio como um bote salva-vidas que está me levando ao encontro dessa nova mulher. Um encontro poderoso com a liberdade e a autonomia das próprias escolhas. Uma versão mulher que ainda está se revelando para mim, na verdade, porque assim como o disco vai ganhar amplitude no seu lançamento, eu também vou me alargando e ocupando cada vez mais novos espaços. Estou fazendo esse álbum há dois anos, em um processo longo e prazeroso como um sexo bom. E “Verana” me ensinou muito sobre tesão, sabe? E, quando eu falo de prazer e tesão, não é só no campo da sexualidade, mas num lugar das práticas diárias e escolhas de vida. Claro que, para uma mulher, se permitir ter autonomia das escolha do próprio prazer é revolucionário, né? Pode parecer papo de feminista, mas você já viu do que uma mulher livre é capaz?
Moreira – Um aspecto interessante desse disco dançante e solar é que ele marca a sua estreia como produtora. Como você produziu esse álbum sozinha, com quais ferramentas, como aprendeu? Jonas Sá pegou o que você tinha feito e refinou?
Lila – Fiz o disco ao mesmo tempo quando fui aprendendo a fazer. Foi meio despretensioso, sabe? Não era pra ser um disco. Fiz uma aula de ableton live (software usado para gravar e editar os arranjos dentro do computador) e olhava no youtube a cada ideia nova que tinha e não sabia como fazer no programa. Fui construindo os arranjos das bases e fazendo as músicas ao mesmo tempo. Algumas letras nasceram juntas da melodia, outras eu escrevi depois de escutar a música algumas vezes. Fui refinando os arranjos, as produções e aumentando o repertório do disco. Fico pensando que estudei bacharelado em arranjo na UniRio, mas nunca tive coragem de encarar o projeto de um disco sozinha. Acho que só rolou porque eu não sabia que estava fazendo um. Comecei a fazer shows com as músicas do disco num esquema one woman band, com teclado controladora midi, tantan, tamborim, computador e fui vendo as músicas que funcionavam mais, as que funcionavam menos e onde os arranjos podiam melhorar. Durante o processo, também fui mostrando pra amigos músicos e produtores pra sentir. Quando já estava com todas as músicas, o Jonas escutou e combinamos dele colocar um molho e umas maldades. Só que “Verana”, como um canto de sereia, puxou ele pra dentro e ele mergulhou fundo. Colocamos camadas, refinamos arranjo e gravamos instrumentos novos. Foi dele a ideia de chamar mais amigos para tocarem tb e isso deu vida ao disco. Ele assina a produção junto comigo, o que me deixa muito honrada, porque sempre admirei ele como artista e poder trocar com ele foi um privilégio.
Moreira – Como você define este estilo musical do álbum? É pagotrap? Drill romântico? Quais foram as sonoridades que te levaram a este resultado, o que você tem ouvido?
Lila – Um estilo musical transante (hahaha), foi isso que me guiou no processo para fazer beats, melodias, harmonia, arranjos e etc. Agora, pensando em estética sonora e nos clichês melódicos e rítmicos, definiria como música brasileira contemporânea. Sinto raízes muito firmes da minha musicalidade que passam por MPB, pop, samba e funk, mas não acho que seja um disco de mpb, nem de samba, nem de pop, nem de funk. Escutei, durante esses dois anos que estava fazendo ele, alguns artistas no repeat: Ana Frango Elétrico, Marina Sena, Liniker, Bruno Berle, Melly, Djavan, Daniel Caesar, Larinha, Xande de Pilares, Beyoncé, Antonio Neves, Gal Costa, Frank Ocean, Zé Manoel e mais um monte de gente. Mas fiquei curiosa: como você definiria “Verana”?
Moreira – Pagotrap é muito simpático e nos lembra Jeza da Pedra. Charme drill? O feminino é algo sempre presente na sua lírica, tanto que uma das suas faixas com mais plays é “Não é Não“. O álbum de estreia foi sobre a maternidade. Qual a importância desse tema do feminino no seu trabalho?
Lila – Desde que me descobri feminista, esse assunto não sai da minha vida e da minha música. Sou mulher e sempre estou na jornada de compreensão do que é ser mulher nesse mundo que a gente vive. A música é o meu espaço de expressão e é por ela que consigo dialogar com o mundo. “Verana” é um disco que não é panfletário nas letras, mas na atitude. É um disco que me ensinou sobre autonomia, prazer e liberdade durante o processo. Nunca me achei capaz de produzir um disco, de tocar instrumentos, nunca me vi como uma mulher poderosa e capaz. “Verana” me fez ver que é possível e que a gente é capaz de muito mais coisas do que a sociedade nos diz. Fico orgulhosa e espero ser inspiração para outras mulheres. Primeiro, porque o disco ficou muito legal (escuto direto, o que pra mim não é habitual, sempre tive vergonha do meu trabalho e não achava bom o suficiente) e, segundo, pela capa. Uma mulher de 42 anos, mãe, posando de biquíni era inimaginável pra mim há alguns anos atrás. Me lembro quando fui eleita a musa do carnaval do Rio e queriam que eu posasse de biquíni, e eu não queria ser objetificada, mas também tinha insegurança do meu corpo e não fiz as fotos. E, agora, essa mesma foto vem de um lugar de poder, sabe? Acho que meu caminhar é sobre me libertar das amarras estruturais que me apequenam e inspirar outras mulheres no caminho. A gente precisa ocupar o tamanho que a gente tem.
Moreira – Esse álbum também marca o seu retorno ao Rio. Estava com saudades? Eu estou demais. Você é muito carioca, né, vocalista e bloco de carnaval, de fio dental na praia…
Lila – Verana é um disco que tem muito do Rio de Janeiro, porque lá é o lugar onde me sinto em casa e pra onde fui buscar o tesão de viver quando eu murchei pós pandemia e puerpério. Tem música pro Clube dos Democráticos, tem homenagem ao Céu na Terra, ao carnaval, ao funk e ao samba, pois são as coisas que me dão prazer e me fazem bem. Um reencontro com o que me preenche e onde consigo me reconhecer. Acho que o grande lance é a gente buscar o que alimenta nossa alma, viver com alegria e sair dessa lógica cinza que nos quer só gerando dinheiro sem pensar no que nos faz bem de verdade.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Jamie xx, que era responsável pelos beats e pela produção na banda inglesa The XX, lançou seu segundo trabalho solo, o aguardado “In Waves”, pela Young Recordings. E o mais importante: ele vem ao Brasil, em outubro, no dia 26, para show na Gop Tun, festa de música eletrônica, na Praça das Artes, em São Paulo. O show aqui faz parte de uma série de aparições globais, que começou com uma residência em um clube de Londres, com participações de Charli XCX e 2ManyDJs, Nova York e Los Angeles, com Four Tet, Bambii e Sister Zo. Nas 12 faixas do álbum, Jamie reproduz os crescendos emocionais e a volatilidade de uma noite quase mística ao lado de um elenco de colaboradores que inclui The Avalanches, Kelsey Lu, John Glacier e Panda Bear, Oona Doherty e seus colegas de banda do The xx, Romy e Oliver Sim. “Treat Each Other Right” é um hino de breakbeat e soul futurista, com videoclipe da fotógrafa e filmmaker Rosie Marks. Em junho, ele colaborou com Robyn em seu primeiro grande lançamento em seis anos, com “Life”, uma explosão de horns e loops, apresentando uma das vocalistas mais icônicas dos últimos tempos. Ao lado dos recentes singles “All You Children” com The Avalanches, “Dafodil” e agora “Waited All Night”, com seus colegas de The xx, ele mostra a potência desse trabalho.
O baiano Giovani Cidreira dá os primeiros passos de seu projeto especial interpretando os sambas de Ederaldo Gentil com o lançamento de “Feira do Rolo”, em parceria com o rapper Vandal, que adicionou novos versos, e produção musical de Mahal Pita e Filipe Castro. A canção foi gravada pela primeira vez por Alcione, em 1977, no LP “Pra Que Chorar”, o clássico álbum do giro com o vestido amarelo. “Vem que a feira é do rolo / Vem quem tem pra rolar”, diz a letra. O single, assim como o álbum completo, que vem aí este ano, faz parte do projeto “Identidade: Giovani Cidreira canta Ederaldo Gentil”, contemplado pelo edital Territórios Criativos. Desde que ouviu “O Rei”, o cantor Giovani Cidreira se encantou pelas voz e composição do sambista: “eu fiquei naturalmente atravessado por aquilo e quis saber mais da história dele”, conta o artista, falando também da tristeza que emana de muitas canções. “Ederaldo, assim como Vandal, não fez concessões para a indústria, não referenciou nada. Eles têm um comprometimento com a verdade, com uma música muito verdadeira”, reflete. A nova versão tem elementos de salsa, MPB, samba e rap, uma roupagem original que preserva a força das palavras de Ederaldo. O lançamento é da dobra discos da gente.
Eu curto acompanhar a trajetória da banda Daparte, que, depois do lançamento de “Meus Poucos Amigos”, botou na rua “Belo Horizonte”, parceira com Ana Caetano do duo Anavitória. A banda se prepara para o seu terceiro álbum. Apesar do título da música, o vocalista João Ferreira acaba de se mudar da capital mineira para a paulista. “’Belo Horizonte’ é uma faixa que nasceu na minha mudança para São Paulo. É uma ode à saudade que eu sinto da cidade, mas ao mesmo tempo, também é uma música sobre tédio, sobre se sentir pequeno numa cidade muito grande, sobre ter dificuldade em se encontrar e querer extravasar isso, querer jogar tudo para fora de alguma forma”, comenta João, compositor do single em conjunto com Juliano Alvarenga. O clipe, inclusive, roteirizado e dirigido por Lucas Calais e João Ferreira, foi gravado inteiramente em São Paulo, trazendo, visualmente, o tema central que é a vida na metrópole.
Uiara Leiggo faz show, no sábado (28), às 20h, no Experimental Container Bar. Na sexta (27), ela lança regravação de “Caleidoscópio”, de Herbert Vianna.
O grupo vocal que eu amo Boca Livre faz show da turnê do álbum “Rasgamundo”, no sábado (28), às 20h, no Cine-Theatro Central,, Bati um papo com o quarteto para a Tribuna de Minas aqui e estou mais confirmado que corda de Tiradentes.
O espetáculo “Mineiramente”, da companhia de excelência Ponto de Partida, de Barbacena, será apresentado sábado (28), às 20h, e domingo (29), no Teatro Paschoal Carlos Magno. Abraçados pela poesia de Drummond, a fala de Guimarães Rosa, a música de Milton Nascimento, Fernando Brant e Tavinho Moura, o grupo conta com Caetano Brasil (clarineta) e Gladston Vieira (bateria), de Juiz de Fora, que formam o trio com Pitagoras Silveira (piano), todos mestres na Bituca, a faculdade de música gerida pelo grupo.
O duo local de fama internacional Dubdogz se apresenta na Privilege, no sábado (28), às 23h, com Marquinhus SP e JP Valente. Entrevistei a dupla pra Tribuna de Minas aqui.
No sábado (28), às 15h, tem colab do Espaço Hip Hop com o Pancadão Sistema de Som, no vão do Viaduto Hélio Fadel Araújo, com Ever Beatz, GG e Roko
Nesta sexta, às 19h, tem Lucas Guida Quarteto de jazz, no Maquinaria. No sábado, por lá, as bandas Legrand e a Bratislava (SP) fazem show, às 21h, A banda paulistana divulga seu quinto álbum, homônimo.
No Beco, a sexta (27) tem rock com Soul Rueiro e Roça Nova, às 22h.
No sábado (28), a House of Império faz ball, ás 18h, na Sala de Giz.
O Festival Timbre 2024 rola sábado (28) e domingo (29), na área externa do Teatro Municipal, em Uberlândia, com Brisa Flow, Letrux, Djonga, Marina Sena, Seu Jorge e Marcelo Falcão (28), Black Alien, Banda Uó, Lamparina, Detonautas e Bia Nogueira (29).
No Circo Voador, no Rio, tem Samba que elas querem e Fundo de Quintal, na sexta (27) e Metá Metá e Crizin da Z.O., no sábado (28), sempre às 20h. “Bota tua cara que é certo o B.O.”
O paraense Saulo Duarte faz show do álbum “Digital Belém”, sexta (27), às 21h, na Autêntica, em BH. No sábado (28), Jota.pê lança “Se meu peito fosse o mundo”.
Em BH, no sábado (28), tem Rock festival com Pitty, Raimundos, Fresno, Nando Reis, Di Ferreiro, Detonautas e comemoração dos 30 anos de Charlie Brown Jr com Marcão Britto e Thiago Castanho, às 12h, na Esplanada do Mineirão.
A Rádio Wobble está de casa nova, no @macunaarte, em Botafogo, e recebe, no domingo (29), às 17h, o coletivo GRAU, dos DJs @suelenmesmo e @luiz_lzr, e a DJ e produtora @_eramexp, que serão recebidos por Bibs e Rodrigo S..O programa é postado, depois, no YouTube ou no Soundcloud.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023, 2022, 2021 e 2020 nos links
Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com half•alive, WhoMadeWho, The Driver Era, Justice, Rufus du Sol, Ana Moura, Jonathan Ferr + Orquestra Ouro Preto, MC Cabelinho + Teto, Rosalía + Ralphie Choo, Chico Chico, J Balvin, Yaeji, Anitta + MC G15, Jean Tassy + Don L + Iuri Rio Branco, Sub Urban,, Kinbra, Kempa, Glass Animals e Travis Scott
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