Sexta Sei: Anos 70, música latina, disco music e misticismo no caldeirão que mexe do Festa Tempestade

Duo paulistano lança disco de estreia, homônimo, criado durante a pandemia, misturando MPB dos anos 70, música latina e disco music

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Festa Tempestade por Naira Mattia

No começo de julho, eu recomendei aqui o trabalho do duo paulistano Festa Tempestade como forma de consumir poesia, fantasia e mistério. O duo, formado por Zé Ferraz (baixo, violão, vozes, percussão) e Guilherme Tieppo (pianos/sintetizadores, violão/guitarra, vozes, percussão) lança nesta sexta (4) seu disco de estreia, auto intitulado, que mistura duas atmosferas, festiva e contemplativa, como anuncia o nome. O disco tem a melancolia do Clube da Esquina, a discoteca dos Bee Gees, a energia de Marcos Valle, elementos dos anos 70/80 e estética latina. 

Festa Tempestade por Ziza Rechtmann

Bati um papo, por e-mail, com Zé Ferraz, no qual falamos como o nome do duo traduz uma gangorra sentimental, essa mistura de alegria e tristeza, uma melancolia esperançosa, presentes no disco, e que a ideia de fazer uma festa a partir do nome, criado na pandemia, já é real. Falamos também da amizade entre os dois e a pandemia, que possibilitaram a criação do disco, e da visão 360 de criar a música aliada aos visuais, neste trabalho, ligados a ilustrações. Também no papo, a mistura de MPB dos anos 70, música latina de maneira geral e a disco music americana dos anos 70/80 que tornaram esse disco tão especial.

“Vale”

Moreira – O nome do grupo é bem curioso e causa até uma certa confusão, quando recebi o primeiro single, levei um tempo aqui pra catar que era uma banda, e não uma festa. Como chegaram a esse nome?

Festa Tempestade – O nome foi uma consequência do universo sonoro que a gente construiu. Conforme as músicas foram surgindo, percebemos que existia um clima que era comum a todas elas: uma mistura de alegria e tristeza, uma melancolia esperançosa. Com o passar do tempo e com o projeto se consolidando, a gente sentiu que precisávamos buscar algum nome que pudesse sintetizar esse sentimento e até servir de “conceito” para tudo o que a gente estava idealizando naquele momento. “Festa Tempestade” representa o contraste entre sentimentos, e o ritmo constante que existe entre eles, e caiu como uma luva para nomear o som que criamos. É um nome que nos permite navegar entre músicas dançantes/alegres e baladas mais lentas. O disco é um bom resumo dessa gangorra sentimental e, ao longo das dez faixas, é possível entender muito de como pensamos a “Festa” e a “Tempestade” dentro desse contexto. Mudando um pouco de assunto, mas respondendo à parte final da pergunta, foi uma surpresa para nós quando começaram a nos confundir com uma Festa. No auge do nosso isolamento durante a pandemia, não tivemos essa percepção mas, no final das contas, achamos incrível. Inclusive, não é uma má ideia organizar uma festa com esse nome no futuro.

“Mexe”

Moreira – Eu estou prestando bastante atenção aos lançamentos que antecedem ao disco, a trilogia “Vale”, “Mexe” e “Vai Passar”. Senti falta de uma bio de vocês. Como vocês se conheceram e como começaram a fazer música juntos? Qual a história de cada um na música? Vocês realmente se parecem muito, fisicamente, ou foi algo intencional na comunicação desse trabalho?

Festa Tempestade – Nos conhecemos no colégio com uns 14 anos, e a música sempre fez parte das nossas vidas. Eu (Zé) comecei a tocar violão com 10 anos e tive inúmeras bandas na adolescência. Fiquei rodando o circuito underground do rock de São Paulo durante muitos anos e, em 2014, entrei para o Gram, uma banda de rock aqui de São Paulo e que me abriu as portas para palcos maiores. Toquei com eles até 2018 e foi um tempo de muito aprendizado. O acúmulo da experiência desse período foi fundamental para chegar no Festa Tempestade mais maduro artisticamente. O Chimpa toca piano, violão e compõe desde pequeno. Sua família sempre incentivou bastante a música, inclusive com um pequeno estúdio em casa (onde gravamos a maioria das prés do disco). Desde 2008, o Chimpa também foi se experienciando em diversas bandas autorais e projetos musicais. Nós sempre tocamos juntos, em rolês, festas e projetos pontuais. Com o tempo, fomos nos encontrando cada vez mais entre a gente para criar, tocar e falar sobre a vida (normalmente nas madrugadas). Com a pandemia, esse processo se intensificou e acabou se materializando no disco que estamos lançando. E eu não sei se nos parecemos muito fisicamente haha. Mas tudo o que fazemos é intencional, desde a maneira com que a gente se veste até o corte do cabelo, por exemplo.

Capa de Festa Tempestade por Mariana Poppovic

Moreira – Eu adoro essa brincadeira com as ilustrações de vocês, as que Fábio Vido fez para a trilogia de singles, cada uma em uma inspiração, e a da capa do disco, por Mariana Poppovic. Como foi a interação com os artistas e qual a proposta nessa comunicação lindona de ilustrações?

Festa Tempestade – “Festa Tempestade” é um conceito que serve como norte para a nossa música mas também funciona como premissa para qualquer tipo de expressão artística que a gente fizer. Isso ficou claro pra nós quando demos vida ao Festa Tempestade de forma estética, ampliando o universo que estamos criando e evidenciando todo o lado visual do projeto (que inclusive é um dos pilares do nosso trabalho.) O Chimpa teve uma empresa de moda por muitos anos e eu (Zé) sou designer e diretor criativo, o que nos ajudou muito no processo de construção da nossa imagem e na produção do projeto como um too. Sobre o processo, primeiro pensamos na capa do disco. Queríamos muito que ela vivesse além do digital e fosse, de fato, uma obra de arte. Por isso convidamos a Mariana Poppovic para pintar um quadro a óleo baseado em uma foto que tiramos com outra artista igualmente talentosa, a fotógrafa Naira Mattia. O quadro fica pendurado no nosso escritório , se você fizer uma ligação de vídeo com a gente, fatalmente vai conseguir dar uma espiada nele. Seguindo no processo, a gente definiu que queríamos criar uma unidade visual nas capas dos nossos singles e do disco pra ter uma coerência na narrativa imagética do Festa. Decidimos manter a ilustração/pintura como a estética base dessas artes e a ideia das imagens foi bem simples: nos retratar de maneiras diferentes pra que o público pudesse identificar facilmente quem estava por trás do som. O Fábio Vido, que é um dos melhores ilustradores do Brasil, na nossa opinião, foi indicado por um amigo e acabou virando parte fundamental na construção dessa estética com as suas ilustrações. E a dinâmica com os artistas foi bem tranquila, padrão num processo criativo. Em tudo que fazemos, a gente atua como diretor criativo e com a ideia clara na cabeça, vamos atrás de profissionais que possam nos ajudar a tirar as coisas do papel.

Festa Tempestade por Naira Mattia

Moreira – Tem Clube da Esquina, Bee Gees, Marcos Vale, ritmos brasileiros com disco music, quais as inspirações de vocês para esse som que apresentam no disco de estreia? E o que vocês estão ouvindo?

Festa Tempestade – As referências são muitas, mas, para o disco, nos inspiramos, majoritariamente, na MPB dos anos 70, música latina de maneira geral e a disco music americana dos anos 70/80. Depois de muita discussão por aqui conseguimos chegar num top 10: Bee Gees, Clube da Esquina, Carole King, America, Secos e Molhados, Tim Bernardes, Gilberto Gil, Marcos Valle, Kings of convenience e Cassiano. Inclusive, fizemos duas playlists pra mostrar as músicas que inspiraram o disco e também os sons que estamos ouvindo agora.

‘Vai passar”

Moreira – Tem um clima místico e mágico, né? Atmosférico. Como diz Beto Guedes, “ao mesmo tempo luz e mistério”. O “Pá pá pá” em “Vale” no mantra que convida a dançar de “Mexe”…. Como vocês constroem tudo isso, musicalmente?

Festa Tempestade – A música, para nós, sempre traz uma carga visual forte, e usamos muito as imagens que o som cria nas nossas cabeças na hora de compor. Com isso, criamos atmosferas sonoras que transmitem um pouco das coisas que a gente curte, mas isso acontece de forma mais intuitiva mesmo,  pensando mais no que combina com a música e o que queremos passar. E o misticismo e ocultismo de maneira geral vão ser sempre assuntos que rendem horas de conversas nos nossos encontros. Apesar de existir uma coesão no disco, cada música tem o seu próprio clima e tentamos criar imagens únicas para cada uma. Enquanto “Vale” é solar, convidativa e esperançosa, “Mexe” é misteriosa e cheia de simbolismos dentro da estrutura de mantra da canção. E, para nós, esse é um dos maiores êxitos do disco, deixar o ouvinte viajar entre todos esses climas e tirar suas próprias conclusões de cada música.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Helgi no JF Rocck City em foto de Pedro Quíron

O boa-praca, gato e talentoso Helgi lança, hoje (4), seu segundo single, o emocional  “Guadalupe”, que chega um ano depois do primeiro lançamento, a solar “Flores pra enfeitar”. A faixa destaca a força da fé e da resiliência existentes nas classes menos favorecidas, e a letra foi influenciada por um atentado ocorrido na comunidade de Guadalupe (RJ), em 2019, quando o carro de uma família foi atingido por mais de 80 tiros, disparados por policiais, causando uma morte, os “cem tiros sem direção” da letra. A faixa tem produção de Henrique Villela, o mesmo que trabalhou com Tatá Chama e as Inflamáveis no bom disco de estreia, e bateria de João Cordeiro, que passou por aqui com o Duo Nascente.

Renato da Lapa

Os boa-praça não páram, e Renato da Lapa também lançou single,  “Depois”, “um canto de esperança e desabafo, um olhar pra frente que anseia um futuro novo e possível, iluminado por faróis que não ofuscam, pelo calor do ser“, como postou no Instagram. O single foi produzido por Pedro Brum, da banda Tatá Chama e as Inflamáveis, que também gravou as guitarras e os vocais. A arte da capa foi desenvolvida por Lívia Almeida, do Ás de Copas estúdio, a mesma que fez a bandeira linda dos visuais do disco “Fogo-Fátuo”, de banda Tatá Chama e as InflamáveisA composição foi feita com amigos, Rogério Arantes e Lucas Lemos, de São Gonçalo do Sapucaí (MG), no final do ano passado, em uma viagem para o Sul de Minas, um reencontro após o confinamento.  “Era pandemia e toda aquela clausura, mas também era o reflexo desse governo de morte e maldade. Depois se referia a isso, ao reencontro com os amigos, já vacinados, com a vida social, com os abraços e a esperança“, me conta o artista, por DMs no Twitter.

“Gisele”

Eu sou totalmente a favor de um mundo com mais meninos de cropped, como o vocalista da banda paulistana Ganggorra, Pedro Marques Pimentel (vocal e guitarra), no clipe de “Gisele”. A banda faz um som punk-pop-hardcore com influências de nomes como Machine Gun Kelly, Blink 182 e Green Day que é pura energia juvenil e estreia nova identidade visual com o clipe.

Yas, cropped
Luizga nb clipe de "Yemamaya" e no Beco
Luizfa no clipe de 'Txaísmo" e no Beco

Artista que, anteriormente, conhecemos por Luiz Gabriel Lopes e LG Lopes, em projetos como Graveola e Rosa Neon, Luizga lança EP Yemamayanesta sexta (4) com novo nome artístico, que vem usando já na divulgação de dois singles já públicos do trabalho, “Yemamaya” e ‘Txaísmo”, com o indígena Txana Tuin Hunikuin, do povo do Acre, e o rapper Oreia. Além das faixas, já públicas, o EP, lançado pelo selo europeu elis records, traz um cover para “Álguém cantando”, de Caetano Veloso, e mostra o trabalho dele com o produtor francês Izem, ou Jérémie Moussaid Kerouanton, com quem trabalhou no EP em Portugal.

Àiyé por Hannah Carvalho
Primavera Sound no TikTok
Racionais em documentário na Netflix
Rock the Mountain dois finais de semana na Serra
Obey! por Saul Carvalho
Dom Bosco Cultural
"Operando" no Cine-Theatro Central
Guilherme Veroneze. Foto Paula Duarte

Dez espetáculos de companhias de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Campinas serão apresentados no Teatro Paschoal Carlos Magno, durante o 3º Festival Sala de Giz de Teatro, que acontece de hoje (4) a 13 de novembro. Hoje (4) é a vez de |“Descartes com Lentes”,da  Cia Brasileira de Teatro (Curitiba), às 20h. Programação completa aqui.

O pianista Guilherme Veroneze faz concerto de piano solo no Espaço Contemporão, nesta sexta (4), às. 21h. Nesta sexta, ele teve a faixa “Passagens” incluída na coletânea internacional X, criada pelo selo canadense Little Symphony Records, com compositores de música neoclássica.

O projeto “Operando” chega ao Cine-Theatro Central no domingo (6), às 20h, com a Orquestra Sinfônica Pró-Música e cantores solistas do curso de Música da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) interpretando diferentes árias de Mesquita, Verdi, Puccini, Mozart, Pergolesi e Bellini, sob a regência do maestro Victor Cassemiro. Uma hora antes do espetáculo, o professor Rodolfo Valverde faz palestra sobre a história da ópera. Entrada gratuita, com ingressos (máximo de quatro por pessoa) a serem retirados na bilheteria do teatro.

Domingo (6), às 18h, tem “Eles e a mineira: um tributo à Clara Nunes“, com a dupla Marcus Amaral e Alexandre Pereira, no Beco.

A primeira edição do Primavera Sound São Paulo contará com transmissão exclusiva no TikTok, nos dias 5 e 6 de novembro, com os shows dos dois palcos principais do festival: Beck’s e Primavera.

Novembro animado na Netflix, com a boa segunda temporada de “Young Royals” já rolando e vindo aí  a última season de “The Crown” (9), o documentário “Racionais: das ruas de São Paulo para o mundo” (15), a terceira temporada de “Disque amiga para matar” (17) e a estreia de “Wandinha” (23), de Tim Burton. Uma série bacana no canal é “The Playlist”, com as perspectivas de pessoas envolvidas com a criação do Spotify.

No dia 10 de novembro, às 20h, tem show do projeto Àiyé, da multi-instrumentista e produtora Larissa Conforto, no Café Muzik. Fundadora da banda Ventre (RJ), ela se apresenta sozinha, desaguando as pesquisas sobre construções e identidades latinas com ritmos e tambores, futurismo, beatmaking e espiritualidade. Falei dela aqui, quando lançou o single que eu amo “EXU (tenho fome)”.

O Rock the Mountain rola em dois finais de semana de novembro, dias 05 e 06, 12 e 13,  no Parque Municipal de Petrópolis, em Itaipava, região Serrana do Rio, com shows de Gilberto Gil, Gloria Groove, Duda Beat, Lulu Santos, Ney Matogrosso, Chico Cesar & Geraldo Azevedo, Liniker, Fernanda Abreu, Letrux, Céu, Roberta Sá, Xênia França, Dona Onete e mais.. Ingressos aqui.

A festa Rock Cerva, sábado (5), tem shows de Detonautas, e da Obey! que eu gosto, às 22h, no Cultural.  

O projeto “Dom Bosco Cultural” segue até o dia 6 com oficinas, rodas de conversa, palestra, documentário, música, slam, teatro, pula-pula e cama elástica. Os shows acontecem na Rua João Beghelli, conhecida como Rua do Campinho. Cata a programação aqui.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.

Playlist de clipes com Planet Hemp, Pabllo Vittar + Gloria Groove, Upshuck, Black Eyed Peas + Anitta + El Alfa, Duda Beat, Djonga, Dornelles + Danny Bond, Garbage, Chlöe + Latto, SZA, Rina Sawayama, RT Mallone, Funny Alexander, GA31, Avatar, Aori e CJNK, Ganggorra, Rihanna, Yeah Yeah Yeahs, Roça Nova, WinniT

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