Dupla de instrumentistas mostra força da música sanfônica de Dominguinhos, dez anos após a sua partida, com zambumbaixo e fole de boca
por Fabiano Moreira
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Como homenagear um sanfoneiro sem usar o instrumento que o tornou um mestre da música popular? Pois é essa a missão que se entregam, de forma intensa e apaixonada, dois craques da música instrumental brasileira, Gabriel Grossi, 45 anos, um dos maiores harmonicistas vivos, e Arismar do Espírito Santo, 67, lendário contrabaixista que também toca de forma exímia guitarra, violão, piano e bateria, no álbum “Domingou”, que reinventa a música do pernambucano Dominguinhos para as gerações atuais, dez amos após sua partida, em lançamento da gravadora Biscoito Fino. “Não tem nada escrito nesse disco de música, é tudo tocado, intuído, é o espírito do Dominguinhos”, diz Arismar em um vídeo de apresentação do álbum, no qual Gabriel explica a formação com “fole de boca, zabumbaixo, resfulego de beiço, batucada de corda”. Das 15 faixas do álbum, 12 são composições originais de Dominguinhos, e outras três o prestam homenagem. O registro de “De volta pro aconchego” despida de sua letra já é uma das gravações mais bonitas deste ano. Um acontecimento. Bati um papo com a dupla de mestres sobre como foi tocar com Dominguinhos, a importância da “obra do chorão ou o liberto frevêiro“, o modo percussivo do baixo de Arismar e a nave de vento pilotada com maestria por Gabriel.
Moreira – Qual e como foi a convivência de vocês com Dominguinhos? Vocês chegaram a tocar com ele? E vocês, como se conheceram e começaram a trabalhar juntos?
Arismar do Espírito Santo – Gravei com Dominguinhos uns três LPs e viajei num projeto dele chamado “Asa Branca” uns três anos, entre 1991 e 1993, junto de uma grande banda com Heraldo do Monte, Borghetti, Hermeto, Osvaldinho, Tânia Alves, Dió Araujo, Fubá de Itapetininga, Zezum e Fernando Pereira. Ele gravou em três álbuns meus e tenho muita admiração pelo ser lindo que ele é e pela energia que emana.
Gabriel Grossi – Eu tive o prazer de conhecer o Dominguinhos em Brasília, no Clube do Choro. Eu estava no começo de carreira, com uns 18 anos. Ele, muito generoso, me convidou para tocar com ele sem nem me conhecer, só de ouvir falar de mim por outras pessoas. Tocamos três vezes juntos, mas essa primeira foi marcante pois ele me introduziu de um modo tão sincero e tocante que eu chorei no palco.
Moreira – Após dez anos de sua partida, qual a importância de celebrarmos a obra de Dominguinhos e quais as principais contribuições de sua obra para a música brasileira e mundial?
Gabriel – Acho que Dominguinhos é uma das poucas unanimidades que temos. Ele agrada a todos, tem um cancioneiro popular e, ao mesmo tempo, muito virtuoso. É um artista completo e muito sensível. O legado dele ajudou a desenhar o DNA da música brasileira.
Arismar – O que fincou na aura da música é que o sonho do diferente é ser igual. A universalidade do eco que a obra do chorão ou o liberto frevêiro ou ainda do aboio romântico emoldurando a essência d’onde veio.
Moreira – Vocês resolveram homenagear a obra de um sanfoneiro com harmônicas, baixo, violão e piano. Como foi fazer isso sem a sanfona do homenageado? Foi uma forma de reinventar sua música para as gerações atuais? O resultado é realmente tocante, “De volta pro aconchego” já chegou trazendo essa dose cavalar de emoção, uma canção tão conhecida do público despida de sua letra e com o mesmo ou maior potencial de tocar as pessoas. Geral sentiu. Um trabalho de mestres… Acho que a gravação mais bonita desse ano, parabéns.
Gabriel – Antes de tudo, muito obrigado pelo carinho em sua mensagem. A gente até brinca que o disco tem um subtítulo que é o zabumbaixo, com o Arismar e esse modo percussivo que ele toca, e o fole de boca, com a gaita trazendo essa familiaridade que tem com o acordeom. E eu usei uma técnica remetendo exatamente ao acordeom.
Arismar – Toquei baixo imaginando uma orquestra linda com cordas, sopros, coro e um trio com sanfona, triângulo e zabumba acompanhando. Tudo isso d’altitudes mais puras. Daí veio esse som e o vento das notas que o cumpadi Gabriel pilota a nave de vento com maestria.
Grossi – A gente repensou o jeito como nós tocamos para abraçar esse repertório.
Moreira – E como foi escolher 12 canções no repertório do mestre, quais foram os critérios? E também me conta mais sobre as três músicas de vocês que entraram no álbum e que dialogam diretamente com esse universo dominguineano, mas são composições de vocês.
Arismar – Escolhemos bem na hora de gravar, pois todas as músicas de Dominguinhos são golaços.
Gabriel – Realmente, foi complicado, pois tinham muitas canções ótimas. Decidimos selecionar um pouco de diversas partes do repertório dele, do instrumental ao cantado, do choro ao baião, sem esquecer de hinos como “De volta pro aconchego”, que você citou. As duas músicas do Arismar que escolhemos foram canções que o Dominguinhos gravou com ele. Já a nossa parceria surgiu dentro de estúdio, improvisando melodias e acabou nascendo a “Domingou”.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Como emo recém-convertido, não podia deixar de curtir o punk rock emocionado do novo álbum da banda paulistana The Mönic, “Cuidado Você”, o primeiro álbum com letras em português do grupo, lançamento da Deck. Aqui na playlist sextante, destaquei a faixa no foco do lançamento, “Simplifica”, com o ultimato feminista “beija agora ou não beija mais”. O volume traz um minucioso trabalho vocal, já que os quatro integrantes cantam e/ou fazem backing vocal. Ale Labelle (guitarra), Dani Buarque (guitarra), Joan Bedin (baixo) e Coiote (bateria), novo integrante, registraram essas músicas em longas sessões, tendo ficado 15 horas no Estúdio Tambor, no Rio, ao lado do produtor Rafael Ramos (Pitty, Titãs, Dead Fish). Contundente e, ao mesmo tempo, divertido, “Cuidado Você” traz letras sobre relacionamentos, autonomia, sentimentos, feminismo, vícios e TDAH em “TDA”, a música das rodinhas nos shows, sempre de forma bem humorada. A banda organiza a festa “Não tem banda com mina”, com a qual têm excursionado pelo Brasil
Lúcio Maia é, sem sombra de dúvida, um dos maiores guitarristas brasileiros, graças à sua participação na banda pernambucana Nação Zumbi, de sua criação até este ano. Ele acaba de lançar a música instrumental “Hora iguais”, na qual toca guitarra, baixo, percussão, cordas, além de assinar mixagem e produção, ao lado de Rafael Cunha (bateria). O mote da canção é o encontro inevitável dos ponteiros do relógio às 12h12, no ponto mais alto. “Horas Iguais tem a ver com encontros. Na linha das horas, os ponteiros se encontram, os números também. Encontros que celebram a vida, um dia a mais, um ano a mais”, comenta Lúcio. A faixa é inspirada na psicodelia e tem clipe com animação dos artistas Jonas Santos e Vinícius K. “Adoro animação. Psicodelia é uma vertente presente no meu estilo, desde sempre”, explica Lúcio sobre o clipe com imagens psicodélicas de clima anos 60.
Adorei conhecer o rapper e cantor paraense Cronixta no single “Rádio do Caribe”, parceria com o também paraense Felipe Cordeiro, responsável pela guitarra e pelo synth bass. O single antecede ao lançamento do seu segundo álbum, “Wi Fi da Floresta”, que chega ainda em setembro. “Ela foi escolhida para abrir o disco por conta de toda a história que faz eu acreditar que, por meio das rádios, obtivemos as frequências mais importantes das periferias caribenhas para transformar a música da minha região, especificamente o Pará”, conta.
Adorei o álbum de estreia de Loreta, “Antes que eu caia”, que tem produção musical da “Cavala” Maria Beraldo. “O fio condutor para esse projeto foi criar diferentes pontos de vista sobre o diálogo entre o quarteto de cordas com a voz. Sempre com o protagonismo equilibrado entre nós, as linhas das cordas traçam narrativas tão importantes quanto as melodias e letras das canções”, explica Loreta. O álbum conta com as participações gloriosas das cantoras e compositoras Jadsa (Salvador, BA) e Anná (Mococa, interior de SP). “Não me chama pra trampar” traz a força da lírica da artista.
Sábado tem prática de yoga gratuita no Jardim Botânico da UFJF, às 9h, e no Museu Mariano Procópio, às 10h30.
No sábado (16), a partir das 14h, rola a final dos slams da Confraria dos poetas, no Memorial da República Presidente Itamar Franco.
A partir dos depoimentos de mais de 90 mães de pessoas LGBTQIA+, Márcio Azevedo elaborou o roteiro da peça-documentário “Eu sempre soube”, que será apresentada gratuitamente no sábado (16), às 21h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com a atuação de Rosane Gofman. O trabalho conquistou vários prêmios e fala de casos de homofobia, a preocupação com filhos que estão transicionando de gênero, os riscos das cirurgias e o contágio por HIV, entre outros.
Comemorando 20 anos, o Museu Ferroviário de Juiz de Fora, abriga a mostra “Haroldo Barros Fonseca”, com obras de grandes artistas que desenvolveram sua produção na cidade, como Arlindo Daibert, Breno Chagas, Carlos Bracher, Dnar Rocha, Eliardo França, Guima, Jaime Soares, José Alberto Pinho Neves, Leonino Leão, Paulo Simões, Renato Stehling, Roberto Vieira e Ruy Merheb, até o próximo dia 31. A visitação é gratuita, de segunda-feira a sábado, das 9h às 17h.
Sábado (16), das 10h às 18h, rola o “Festival de Arte e Cultura da Juventude”, debaixo do viaduto Helio Fádel Araújo, concurso cultural nas modalidades batalha de poesia (slam); breaking; competição entre artes; skate e Ballroom
No sábado (16), às 22h, o pau vai comer no Café Muzik, com shows de Traste, Insannica e Libertà.
Brava gente maconheira, esse finde rola a 1ª edição da ExpoCannabis, de sexta (15) a domingo (17), no São Paulo Expo, na Vila Água Funda, em São Paulo, com o tema “Plantando o futuro”. A feira mostra possibilidades que a cannabis pode oferecer para o Brasil, como alternativa econômica e sustentável, além de abrir discussões sobre a regulamentação e a pesquisa na área. Trilha sugerida pelas Casas Moreira.
A 3ª edição do Festival Acessa BH, focado no protagonismo de artistas com deficiência, tem apresentações gratuitas de teatro, dança, performance e contação de histórias, além de exibições audiovisuais e oficinas em vários pontos de Belo Horizonte.
O impacto do teatro na vida de pessoas da terceira idade é o mote do documentário “Outono da Vida”, que a produtora audiovisual Açucena Arbex lança no próximo sábado (16), às 16h, na Praça CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados Coronel Adelmir Romualdo de Oliveira). A sessão tem entrada franco.
A banda ETC que eu gosto faz show, nesta sexta (15), às 22h, no Cultural. No sábado (16), o Samba de Colher lança seu EP visual “Pagar pra ver”.
A Galeria do Rock rola sábado (16) e domingo (17), a partir do meio-dia, no Moinho, com shows de Zona Blue e Tio Jones (16) e Urbana Legio, Raultopia e Os Milpes (17).
O Coala Festival acontece de sexta (15) a domingo, no Memorial da América Latina, em São Paulo, com shows de OlodumBaiana, Ubunto, Fafá de Belém e Johnny Hooker, Péricles, Puterrier, FBC, Boogarins e Jadsa (15), Novos Baianos 50 anos, Simone (showzaço da porra!), Jards Macalé com Ana Frango Elétrico e Tutty Moreno, Don L, Luana Flores e Metá Metá com Rodrigo Ogi (16) e Jorge Ben Jor, KL Jay, Marina Lima e Fernanda Abreu, Angela Ro Ro e Letrux (caraleo), Marcos Valle, Joyce Moreno e Céu, Bruno Berle e Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo (que álbum) (17).
O Festival Timbre completa dez anos com sua 7ª edição, em Uberlândia (MG). A abertura é com show gratuito, no dia 17 (dmingo), às 13h, na Praça Sérgio Pacheco, com Marina Peralta e Octavio Cardozzo. A programação principal rola nos dias 23 e 24 de setembro, na área externa do Teatro Municipal, ccom BayanaSystem, Criolo, Maria Gadu, Gilsons, Urias e Braza (23) e Armandinho, Mariana Aydar, Chico César, Johnny Hooker, Yago OPróprio.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com Jão, The Rolling Stones, Keynan Lonsdale, Cardi B + Megan Thee Stalion, Georgia, Ladytron, Ana Frango Elétrico, Jonathan Wilson, Laufey, Yvie Oddly, TeeF, Nizz + Mahmundi, Christine and the queens, Tagore, Anna Sofia, Max Cooper, Don L + Terra Preta, Sigus Rós, Portugal, the man e Bruno Berle.
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