Sexta Sei: Encurtando dores e furtando cores com o pop fantasioso de Chameleo

Novo nome da cena nacional, artista esbanja talento em disco de estreia, “Ecdise”, com clipes futuristas de fantasia que ajudam a criar sua imagem camaleônico

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

A capa de Ecdise e as fotos de divulgação clicadas pelo duo Mar+Vin com styling de Victor Borges.

A figura de Chameleo, 27 anos, é marcante, mágica, sexy, potente e, sobretudo, empoderada. O artista escolheu esse pseudônimo e o título de seu álbum de estreia, “Ecdise”, a troca de exoesqueleto animal, como forma poética de falar sobre as transformações pelas quais passou ao enfrentar e vencer um câncer, há três anos. E decidiu não parar mais de mudar e se transformar, que sorte a nossa. Ele é um artista que tem quebrado paradigmas e em quem devemos prestar bastante atenção.

Batemos um papo, por e-mail, e falamos sobre as barreiras que ele quebra entre masculino e feminino, sobre a moda descontrol, quase um personagem, em seu trabalho, e sobre a nova e promissora produtora Vívian  Kuczynski, de apenas 18 anos, que, além da carreira solo, anda produzindo faixas para ele, Alice Caymmi e Pabllo Vittar. Também falamos da amizade desde a adolescência com o diretor Federico Devito, que liberta a fantasia em  seus clipes fantásticos.

Moreira – A sua figura é muito potente, sexy, fashionista, artística, empoderada. Você sente que  está mudando os parâmetros de aceitação e representatividade? Inspirando novos  camaleões por aí? Como é a sua relação com a moda? Você mesmo cria essas  imagens? Li que já trabalhou na área.

Chameleo – Eu realmente espero que sim, espero conseguir mostrar para as pessoas, por meio da minha imagem e do meu trabalho, que entre masculino e feminino existe um caminho enorme, então, pra quê se limitar? Então, acho que a moda vem super com essa função, como forma de complementar a música, porque são formas de expressão artística que andam muito de mãos dadas, uma complementa a outra. Eu tenho amigos stylists que me ajudam, mas, geralmente, a ideia inicial parte de mim. No dia-a-dia, eu escolho o que eu visto, por já ter trabalhado na área também e ser uma grande paixão, como a música também é. Mas, na correria de clipes e eventos, como já tenho que pensar em várias  outras coisas, hoje eu tenho ajuda do meu stylist Victor Borges.

Moreira –  O simbolismo do disco e do seu nome artístico é muito bonito, o Chameleo que passa  pelo processo de troca de pele, a “Ecdise”, parece ser um bom símbolo para a sua  trajetória de artista que começou cantando em inglês e curou um câncer em 2018. Tem muito desse sentido de renascimento e transformação nessas metáforas do  disco? Ele tem uma cara de “it’s all happening”.

Chameleo – Com certeza. Meu processo de ecdise começou naquele momento, quando tive o  câncer há três anos, e está acontecendo até hoje. Assim como os répteis trocam de pele a cada mês e meio, acho essencial estar em constante transformação e evolução.

“Pendejo”

Moreira –  Uma canção me marcou, especialmente, foi “Pendejo”, que saiu até antes do disco,  como single, eu nunca vivi situação igual, mas rolou uma empatia e me coloquei na sua  pele, que era, na letra, “a parte secreta” na vida de alguém”. Estava lendo em uma  matéria que esse boy queria te cobrar a um certo momento? KKKK Está difícil se  relacionar em tempos de apps de encontro e pandemia?  

Chameleo – Sim, a história de “Pendejo” é cômica agora que passou, porquê, na época, eu fiquei  bem mal. Mas sim, acho que está mais difícil de se relacionar, não só por conta da  pandemia, mas que os apps e a internet mudaram a forma de se relacionar e de flertar hoje em dia, está tudo muito rápido e raso e acaba ficando um pouco mais superficial.  Penso que “ninguém quer se relacionar”, mas parando pra pensar, será que eu quero?  Será que eu estou dando essa abertura também? Será que as pessoas estão dando essa abertura? Então, respondendo a pergunta, digo que sim.

“frequente(mente)”, Chameleo e Pabllo Vittar emulando “A Forma da Água”

Moreira –  O disco tem muitas participações, só nomes bacanas. Como foi fazer os feats com  Johnny Hooker e Alice Caymmi? Adoro (e venero) demais os dois. Com Pabllo Vittar,como foi também, você a conheceu como assistente de styling? Esse trouxe muita  visibilidade para o seu trabalho, né?

Chameleo – Foi incrível, né? De contar com esses nomes, de artistas que admiro tanto e que  fizeram parte da minha construção como pessoa também, é muito especial. Eu sou muito fã de todos que estão ali no disco e trabalhar com cada um foi uma  experiência incrível. Eu cheguei na cara de pau mesmo (risos), oferecendo as músicas, e todos foram muito abertos e toparam, o que torna o projeto mais do que especial Eu conheci a Pabllo por meio do João Ribeiro, stylist dela, fazendo assistência para ele, e nos tornamos muito amigos, e as coisas foram naturalmente acontecendo. Com certeza, a música com a Pabllo é um marco na minha carreira que abriu muitas portas  para o meu trabalho.

Tokyo

Moreira –  Como é o seu processo criativo? Vi que a maioria das faixas foi produzida por Lucas  Vaz, até segui a playlist com produções dele. Eu ando muito curioso sobre a Vívian  Kuczynski, que anda fazendo coisas lindas, inclusive com Alice. Você escreve a maioria das letras? Como costuma trabalhar? Você estudou  música nos Estados Unidos, como foi essa formação? E me conta também o lance dos  clipes e essa sinergia com o Federico Devito, como você criam essas belezas?

Chameleo – Acho que varia muito, mas eu estou sempre tendo ideias na minha cabeça, de  letras, e aí abro o celular e vou escrevendo no meu notes. Eu estou todos os dias escrevendo coisas, pensamentos que, depois, possam vir a virar música. A Vivian é uma super amiga de Curitiba, bem novinha, de 18 anos, e é um fenômeno. Eu a acho incrível, e está trabalhando comigo, com a Alice e a Pabllo, então eu acho ela um  nome muito promissor dentro da produção de áudio fonográfico no mercado brasileiro. Eu escrevo a maioria das letras e tenho amigas e amigos compositores que me  ajudam a transformar as melodias, principalmente, mais pop. Geralmente, eu gosto de me reunir com eles, com o produtor que vai fazer a música, e criamos todos juntos, de acordo com o tema, com o que quero falar e a ideia que trago. Eu acho que a minha formação nos Estados Unidos me ajuda bastante porque lá eu aprendi a compor em formatos, principalmente, para este universo mais comercial, enfim,  acho que agrega muito na hora de compor. O Federico sempre foi o meu amigo desde os 15 anos de idade, sempre fomos muito próximos, e ambos apaixonados por cinema. Lembro que, lá nos nossos 15 anos, já gravávamos uns curta-metragens caseiros, e a vontade sempre existiu e enfim, hoje  em dia, nos lugares em que estamos na nossa carreira, conseguimos sentar e desenvolver um videoclipe juntos e trazermos para a vida real as nossas ideias malucas.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Foto: Antonio Cassara

A Prefeitura de Juiz de Fora decidiu adiar a segunda apresentação da performance “Praia”, que rolaria neste 

sábado (12), no Parque Halfeld, coladinho ao Paço Municipal, celebrando o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Segundo a nota oficial publicada, a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc) apurou “riscos elevados de turbulência social com ameaças à integridade física dos artistas e demais pessoas nas ruas de Juiz de Fora”. Também foi adiado o evento “Paz, Amor e Liberdade”, que aconteceria hoje (11). 

O ato do coletivo Mercúrio Líquido tem direção de Leticia Nabuco e é financiado com recursos do edital “Pau Brasil”, motivo pelo qual foi envolvido em polêmicas conservadoras durante a semana. O público, que não é bobo, prometeu apoiar indo de roupas de banho. Havia uma passeata conservadora sendo organizada em paralelo. Sim, tudo por causa de roupas de banho. Nem parece a terra de Raíssa Vitral e Marcus Kamil. O cancelamento é um sinal de alerta de que o Estado não é capaz de garantir a segurança das pessoas, que não podem mais se expressar livremente, o que é garantido pela constituição federal.

Uma das melhores reflexões foi do psicólogo, mestre em memória social, estudante de letras e técnica de restauro de obras de arte Bruno Portes Castro, na página do Movimento Artístico Evolucionário (Mare) no Instagram. “Eu achei que faltou timing… Os números de Covid e mortes subindo, e o empobrecimento da população… A Funalfa poderia ter adiado ou adaptado as produções… Sobre essa intervenção em específico, a mim ressoa como uma produção de classe média que se direciona a um público específico (a semelhantes, sobretudo) e que nem os corpos parecem ser tão diferentes e fora desse padrão da classe média assim… Há uma afinação com a Semana de Arte Moderna de 22, movimento de certo modo elitista… O próprio Oswald de Andrade era de família paulista de classe alta… Só ressoa pra mim a estereotipação de Juiz de Fora, nada das memórias e história, nada do Rio Paraibuna (que já foi usado como “praia”)… enfim, munição para fascistas, infelizmente”, comentou. No chat do Instagram, ainda completou, comigo, sobre a ausência de corpos envelhecidos, gordos, periféricos, pessoas com deficiência, a dona de casa, etc.

O coletivo Mercúrio Líquido recebeu apoio do Mare e de outras entidades e grupos de cultura, como Movimento Negro Unificado, o grupo de percussão afrobrasileira Muvuka e os slams periféricos. O grupo publicou uma nota oficial, na qual argumenta quanto aos pontos pelos quais foi criticado, uso de máscaras e do dinheiro público e falta de diversidade de corpos.  Publico uma síntese da nota, a seguir. Ontem, eles fizeram coletiva de imprensa, à noite, mas não divulgaram posicionamento. “Estamos sendo usados como bode expiatório para ataques ao governo da cidade, à esquerda, aos artistas, aos corpos e corpas LGBTQIA+. Tivemos total interesse em selecionar corpos gordos, sem sucesso. Também lamentamos o fato de não termos conseguido. Entre 15 artistas, temos duas mulheres trans, um corpo queer, mais da metade eram corpos LGBTQIA+, uma mulher de 57 anos, um homem de 51. Segundo o “Juiz de Fora Viva – cidade em movimento”, artistas podem se apresentar sem uso de máscaras. Caíram na conta do projeto exatos R$15.369,36. O projeto conta com 19 pessoas envolvidas, em quatro meses de trabalho.”

Identidade visual do Estudio Cru 

Falando em semana de 1922, o assunto será tema do episódio de estreia do podcast literário “Palavra Alada”, no dia 13, com apresentação da atriz Drica Moraes e curadoria do escritor, poeta e acadêmico Antônio Carlos Secchin. “O modernismo dessacralizou a linguagem, incorporou temas do cotidiano, mergulhou muito numa realidade brasileira que não é apenas a urbana. Abrir todos esses ‘Brasis’ que existem dentro do Brasil foi uma tarefa muito meritória do modernismo”, diz Secchin. O podcast estará disponível nos canais Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer, Google Podcasts e YouTube. Outra fonte sobre o tema é a Agenda Tarsila, maior plataforma dedicada ao movimento modernista, que reúne 400 dos principais e melhores eventos sobre o Modernismo que ocorrem pelo país.

A charmosa Sala da Casa que eu gosto, em São Mateus, está exibindo duas videoperformances da artista, poeta e pesquisadora Katia Maciel, as obras “Autobiografia” e “Via” (2014), nas quais ela escala uma estante de livros. Além disso, a curadora Mariana Bretas fez uma seleção esperta de livros de artista, cartazes, zines, postais e fotografias, com obras de Daniela Avelar, Amir Brito Cadôr, Liliana Pardini, Josimar Freire, Marilá_Dardot, Regina Vater e grande elenco. As exposições ficam em cartaz até o dia 24, de quarta a sexta-feira, das 15h às 19h. A Sala da Casa fica na Rua Oswaldo Aranha 163, São Mateus, na Casa da Esquina.

“LIA (pt. 1)”, da drag queen funkeira Lia Clark. Foto, Maicon Douglas
O futuro pertence à… Jovem Guarda, por Erasmo Carlos

Na série álbuns pra prestar atenção, veio aí “LIA (pt. 1)”, o terceiro da drag queen funkeira Lia Clark, que já passou aqui na página da semana passada, na playlist, no feat delícia com a Naninha, “PQP (tu fez do jeito que eu queria)”. A capa é uma homenagem à Playboy da Valesca Popozuda. O disco é a primeira parte de um todo que será completado ainda este ano e traz feats já conhecidos do público, como o sucesso Eu Viciei, com Pocah, e “Sentadinha Macia”, com TH4I, e também novidades, como o pagodão baiano “Vrau”. Segundo a artista, é uma volta às raízes do comecinho da carreira. 

Também veio na playlist da semana passada a faixa de abertura de “O futuro pertence à… Jovem Guarda” (Erasmo Carlos), a maravilhosa “Nasci para chorar”. O projeto de releituras de canções do movimento da Jovem Guarda reúne oito faixas, as quais Erasmo nunca havia gravado anteriormente. Nada de novo no front, mas é tão bonito o rosto, com produção sempre impecável de Pupillo… Adoro o Tremendão. No repertório, releituras de músicas que foram sucessos com Golden Boys, Vips, Renato e seus Blue Caps, Eduardo Araújo, Roberto Carlos e mais.

O que pode ser mais romântico e juvenil que um bom e velho fanzine? Eu já tinha falado aqui antes da Sophia Bispo, 16 anos, uma das três representantes da cidade na disputa da Competição Nacional de Poesia Falada, o Slam BR. Ela está vendendo esta gracinha de ezine, “Versos Cativos”, que fez com a amiga Sabrina Ferreira,  17 anos, sobre os sentimentos em meio à pandemia.

As duas são artistas nascidas e criadas na periferia de Juiz de Fora, cursando o terceiro ano do ensino médio, e podem ser encontradas no perfil @a.alma.ama, no qual Sabrina ilustra os poemas de Sophia. É lá que dá pra comprar o ezine, cujas imagens destaquei na galeria acima, por R$ 7. Elas também lançaram curta, “A Morada”, fazendo um paralelo entre os cômodos de uma casa e as emoções humanas.  

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.


Playlist de videoclipes com Rosalía, Red Hot Chilli Peppers, Luísa Sonza + Ludmilla, Jão, MC Livinho, scarlxrd, Nêssa, Tuyo Todrick Hall, Lia Clark + MC Naninha, Di Ferrero + Vitor Kley, Cleo + Karol Conká + Azzy, Pedro Sampaio, Joy Crookes, Luan Santana, MV Bill + Papatinho + Kmila CDD, Jader, Gabeu, Arthur Nogueira e Bala Desejo


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