Sexta Sei: Almério, um artista pernambucano LGBTQIA+ em estado de paixão constante, cantando suas inquietudes

Em seu quarto álbum de estúdio, “Nesse exato momento”, ele chega rodeado de estrelas da música nacional, cantando o amor e honrando as tradições de seu país Pernambuco

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Almério por Renata Pires Crédito Renata Pires - almerio_NEM_centro_-4

O pernambucano Almério, 43 anos, firma seu nome como estandarte da nova música brasileira com seu quarto álbum de inéditas,  “Nesse exato momento”, que chega nesta sexta (12) às plataformas, pela Deck, com participações de estrelas da MPB, como Maria Bethânia e Zélia Duncan, e também de novos e grandes nomes, como Chico Chico, Mariana Aydar, Juliana Linhares e Zé Manoel. O álbum fala de amor sob a produção impecável de Juliano Holanda, com letras de Almério em parcerias com compositoras mulheres, como Ana Paula Marinho, Joana Terra, Ezter Liu e Isabela Moraes. Batemos um papo, por e-mail, no qual falamos sobre a importância de falar do amor, de essas parceiras assumirem esses espaços, predominante ocupados por homens, e também da moda que marca seu estilo nos palcos e de como é ser um artista LGBTQIA+ no Brasil. “É um desafio, principalmente nesse país machista e homofóbico que a gente vive, os mecanismos sempre são conduzidos pra gente desistir. Quando lembro que posso inspirar e encorajar outras pessoas com minha arte, sinto uma força maior do que eu com o propósito de mudar tudo para um lugar mais justo”, me contou, nesse papo sextante.

Moreira – Esse é um álbum com participações realmente especiais, com nomes como Maria Bethânia, Chico Chico, Mariana Aydar, Juliana Linhares, Zélia Duncan, Zé Manoel e Juliano Holanda… Como foram essas trocas e esses encontros?

Almério – Cada um do seu jeito, mas tudo muito naturalmente pela lei dos encontros, sintonia e identificação de amor e arte. Cuido muito de minha intuição, levo aromas e sensações pra dentro, pra estar atento e sentir as nuances dos encontros. Cada uma desses artistas têm uma comunicação específica comigo, bonita e importante. Sempre guiada pela música, sempre.

Moreira – Muito bacana a ideia de privilegiar compositoras mulheres em um país machista que as coloca em segundo plano e as remunera menos do que os homens nas mesmas posições no mercado. Quem são essas compositoras e como foi essa seleção? 

Almério – Não teve uma seleção, elas são minhas parceiras, Ana Paula Marinho foi a primeira, lá em Altinho, no comecinho de tudo quando eu tinha 13 anos, daí não parei mais de compôr. Essas compositoras são artistas contemporâneas à mim, que me emocionam e me despertam vários sentimentos!. Zélia Duncan e Ceumar são as de mais notoriedade e estrada, mas que cresci ouvindo, e hoje são minhas amigas. Depois vieram Joana Terra, Ezter Liu, Isabela Moraes, que são da minha geração e que eu tenho muita admiração. É importante elas assumirem esses espaços, predominante ocupados por homens, o mundo pelo prisma da mulher é mais amplo e, portanto, mais belo, sempre ouvi compositoras mulheres, foram elas que primeiro me influeciaram.

Moreira –  Outro dia eu te vi com uma roupa linda no “É de casa”, cantando Cazuza, um look que desafiava as convenções. Bem linda, de quem é? Você também está no horário nobre com Maria Bethânia, na trilha sonora da novela “Renascer”. Qual a importância de nós, da comunidade LGBTQIA+, ocuparmos estes espaços? Tem um menino gay em casa se vendo em você ali?

Almério – Obrigado pelo carinho. O stylist foi Nestor Mádenes, e a peça é da “Rosa Coringa” do estilista pernambucano Beto Normal. Desde sempre visto a moda autoral de Pernambuco, a gente se fortalece, é uma identidade forte, que é perceptível por onde passo com minha música! 

Sobre cantar com Bethânia, é o maior dos maiores acontecimentos para um artista, Bethânia é deusa! Me sinto abençoado por sua arte, a voz dela mapeia quase todo território nacional, ela gravou quase todos os compositores/compositoras desse Brasil. É muita imensidão! Quando ela grava a música “Quero você” (Almério / Isabela Moraes) ela pousa no interior de Pernambuco, resignifica e enaltece tudo, como um rio fértil e próspero. A música acabou entrando na novela e tem sido emocionante, é bonito ver as pessoas se emocionando, postando, casando, noivando, embaladas pela música! 

Olha, ser um artista LGBTQIA+ é um desafio, principalmente nesse país machista e homofóbico que a gente vive, os mecanismos sempre são conduzidos pra gente desistir. Quando lembro que posso inspirar e encorajar outras pessoas com minha arte, sinto uma força maior do que eu com o propósito de mudar tudo para um lugar mais justo. 

Moreira – Esse é um disco que canta o amor, né? Bem contemporânea a canção “Tóxico”, sua e de Juliano Holanda, falando sobre uma percepção que é mais da atualidade, da toxicidade. Outra boa sacada é “Boy magia”, sua, com o “meme da saudade”. O amor na contemporaneidade. É importante para um artista estar apaixonado? Como o amor influencia a sua criação? Como anda o amor nesses tempos de velocidade?

Almério – Nesse disco, eu canto minhas inquietudes, todas essas visões passam pelo amor e suas intempéries! O amor é político, principalmente de um artista gay! Todos os temas do disco são a realidade que vivo, meu olhar sobre o mundo, os diálogos, as coisas, a natureza, as pessoas e suas buscas existenciais, tudo me interessa. Vivo em estado de paixão constante, não necessariamente por uma pessoa, mas pela vida! É o que me mantém inspirado e corajoso.

Moreira – Sua música, sua identidade e seu sotaque transpiram Pernambuco, né? Ó terra encantada, de Chico Science às picas de Brennand, essa ciranda que nos dá dona Lia do Itamaracá, o frevo do mundo e o bolo de rolo, o rock de Mombojó, a poesia visceral de Johnny Hooker, as festas animadíssimas da Golarrolê, como se beija!, o forró gay que só dancei em Recife… Os pernambucanos estão “um passo à frente”? Como a gente faz pra acompanhar?

Moreira – Tenho muito orgulho de ser pernambucano, sobretudo ser do interior do agreste, nossa cultura popular é uma herança muito potente e deslumbrante. De onde viemos, passa por várias culturas, nasce com a cultura indígena, a mais completa e complexa, por isso mesmo muito rica e ilimitada. Temos essa euforia natural daqui, esse jeito nosso ancestral de celebrar, com festa, devoção, amor, generosidade, vem dos festejos juninos, das colheitas de junho, a multiplicação, nosso carnaval repleto de rituais religiosos, entre o céu e aqui mesmo! E essa efervescente cena que não para de brotar! Não estamos um passo à frente, a gente tá no passo! Só vem bebê!

Abaixa que é tiro!💥🔫

Pude ouvir antecipadamente ao segundo álbum do cantor e compositor paulistano Luiz Amargo, “Amor de Mula“, que chega no segundo semestre. Esta semana, ele entregou o segundo single do trabalho, o híbrido de indie e trip-hop  Quem Ficou, Rancor?, com instigante clipe surrealista (ele chama de vizualizer, mas aqui, bateu clipe legal) dirigido por Gabriel Socorro Mendes. “A melodia repetida do refrão no final de “Quem Ficou, Rancor?” me veio em sonho e tem a ver com a ideia de  o rancor ser um sentimento insistente”, explica. No vídeo, Luiz Amargo é um pugilista-pierrot iluminado por projeções de imagens rotineiras, feitas com o celular, em clima de cinema mudo. As gazes vieram de curativos que ele ganhou com um tombo de bicicleta, ajudando a criar a imagem do personagem que quer parecer forte mas que, na verdade, é muito vulnerável, apático e impotente frente às imagens que a vida projeta sobre ele. Agridoce, o trabalho do artista é influenciado por literatura, filosofia, teatro, cinema e audiovisual. Este é o segundo álbum do Luiz, que integrava, ao lado de Ricardo Resto, o projeto L&RR.

Fotos: Bruno Prada
Bateu Matou por @PauloSegadaes

O algoritmo, volta e meia, é bem generoso comigo, como quando me apresentou à banda portuguesa Bateu Matou por meio de seu segundo álbum, “Batedeira”, “um disco de música de dança sem medo de ser canção”, como avisa o release. O trio promove uma mistura de ritmos mundiais, mostrando como é o baile português, com chula, funaná, batuku, house, baião, baile funk, marrabenta, kuduro, semba, garage, kizomba e bangra. Bate legal. Formado por Ivo Costa, RIOT e Quim Albergaria, o Bateu Matou passou por aqui nas playlists sextantes com o clipe de “Cada x + perto” e a faixa “Those Lisbon Beats”. Cara Feia” também ganhou um clipe alucinante. O conceito é transformar tradição em futuro. Tá? Queria muito estar no show de lançamento, em 26 de abril, na Casa da Música, no Porto. 

Concluindo o ciclo de celebrações ao cinquentenário do rapper Sabotage, o Maestro do Canão, iniciado em abril de 2023, quando o artista completaria 50 anos, a Som Livre lançou o álbum  “Sabotage – 50 anos”, no qual o artista duela com nomes como Filipe Ret, Djonga, Bivolt, Nave Beatz, Xis, Yago Opróprio, Kamau, Sant, N.I.N.A do Porte, Rincon Sapiência, Iuri Riobranco e BK’. dentre outros. Na Sexta Sei que passou, as faixas com as duplas formadas por Luedji Luna e Don L e Vandal e Russo Passapusso abriram e fecharam a playlist. O álbum foi idealizado pela filha do artista, Tamires Rocha, com o apoio do irmão, Wanderson dos Santos, o Sabotinha, e desenvolvido como um presente da família para os fãs, com direção musical assinada por Tejo Damasceno e Zegon, que trabalharam com Sabotage em vida.

Além do disco que encerra as comemorações do cinquentenário, um novo ciclo de ações para celebrar a carreira do rapper – chamado pela família de Legado de Ouro – contará com a publicação de um livro, em agosto, uma exposição, em novembro, e um filme, em 2025.  Nascido na Zona Sul de São Paulo, Sabotage teve uma carreira de apenas quatro anos, mas que mudou para sempre a cena do rap nacional. Assassinado pouco antes de completar 30 anos de idade, em janeiro de 2003, o artista é até hoje ovacionado pelas letras contundentes de faixas como “O Rap É Compromisso”, título de seu único álbum de estúdio lançado em vida, em 2000. Sabotage ficou conhecido também por sua história de superação, tendo largado o mundo do crime para se dedicar à música.

Caio por Tinho Sousa
Isabea Taviani por Vinicius Mochizuki
Devendra Banhart no Queremos! Festival
André Frateschi rocks!
Royal Blood no Circo Voador. Foto - @directedbymad _
O hardcore punk da Turnstile
A banda punk paulistana Punho de Mahin no Feminikaos
Sete anos da Batalha de Rap do Bandeirantes
A Banda Legrand que eu gosto no Beco
Megadeth em São Paulo
Teto no Terrazzo
Ivonete Leite, da série "Kiriri", Assemblage

O cantor e compositor português Salvador Sobral faz turnê pelo Brasil com seu último álbum, “Timbre”, passando por São Paulo, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro, sempre recebendo convidados especiais. No Rio, nesta sexta (6), ele recebe Adriana Calcanhotto, às 21h, no Vivo Rio.

Os mineiros da Lamparina fazem show na sexta (12), às 20h, no Circo Voador, com abertura do meu amigo virtual Caio, lançando o álbum “Passageiro”.

Isabela Taviani faz show voz e violão sexta (12), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, comemorando 20 anos de carreira. Isabela é casada com a cantora mineira Myllena Varginha, que fez imenso sucesso em Juiz de Fora, nos anos 00, lotando barzinhos, com quem tem dois filhos gêmeos.

Na sexta (12), tem Paralamas do Sucesso, Biquini Cavadão e Capital Inicial, às 21h, no Terrazzo, reconfirmando Juiz de Fora como a terra do flashback. No sábado, por lá, tem a turma do rap jovem, com Teto, MC Daniel, Chefin, Maneirinho e Wiu, às 21h. 

No sábado (13), às 14h, tem edição da Feminikaos no Museu Ferroviário, com shows da banda punk paulistana Punho de Mahin e da local Valla, DJ set com Rosa Martins e performance com Ciça Liberdade. O evento é gratuito, e tem Vakinha rolando pra custear tudo aqui.

Adi Oasis, Alfa Mist, Ana Frango Elétrico, Devendra Banhart, Djavan, Djonga, KENYA20HZ, Lenine & Marcos Suzano e Rubel estão no Queremos! Festival, sábado (13), na Marina da Glória, no Rio. 

As bandas Legrand, Obey! e Liberta fazem noite de rock, sexta (12), às 21h30, no Beco.

Vocalista da Legião Urbana, André Frateschi faz show, sábado (13), às 22h, na Versus.

Fica em cartaz até o dia  26 de abril, no Fórum da Cultura, a mostra “Kiriri”, da fotógrafa Ivonete Leite, com série de 16 fotografias em grandes formatos, que exploram as belezas de formações rochosas e a flora sertaneja, presentes na região do Cariri Paraibano. Uma das mais bonitas já vistas no espaço.

No domingo (14), às 14h, acontece a Batalha de Rap do Bandeirantes, comemorando sete anos do evento, na Arena Bandeirantes, com 8 MCs na disputa.

O duo de garage rock e blues rock britânico Royal Blood faz show na terça (16), às 21h, no Circo Voador, no Rio,

A banda americana de hardcore punk Turnstile faz show em São Paulo, na terça (16), às 21h, no Tokio Marine Hall.

O Megadeth faz show em São Paulo, na quinta (18), às 21h30, no Espaço Unimed.

Para quem vai sentir a falta de Ziraldo, trago 16 presentes.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023,  2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com KREAM, WILLOW, La Grande Dame, Depeche Mode, Pet Shop Boys, London Grammar, The Marías, The Black Keys, Vampire Weekend, Empire Of The Sun, Caribou, Orville Peck & Willie Nelson, Omar Apollo, Lenny Kravitz, Dillon Francis +Space Rangers, Bullet Bane, Edgar + Nelson D, Jotaerre, Deize Tigrona + Badsista, Duquesa, Dj Caíque + Facção Central + Kid MC, Urias + Hodari

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