Entre Bikini Kill e Agnaldo Timoteo, artista expurga sentimentos lésbicos em punk apaixonado com sua imensa barriga de cerveja
por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com
Eu adoro fazer reportagens sobre o amor entre mulheres, até por achar que falta espaço para a comunidade lésbica em meio à gay, por pura reprodução de um sistema misógino. Quase fui à loucura quando o amigo virtual Gustavo Koch recomendou o álbum de estreia da capixaba Roberta de Razão, persona artística de Lorena Bonna da Costa, 36 anos, de Vila Velha, que acaba de lançar o excelente álbum “Mais forte que trovão”, no qual mistura as suas veias românticas e cafonas ao mais original e bruto punk rock. Batemos um delicioso papo, no qual falamos sobre como a música apareceu em sua vida como uma forma de expurgar sentimentos, a criação do personagem a partir de uma legenda de foto de Réveillon, e de como a Roberta de Razão a transformou em uma sapatão romântica que afirma a barriguinha de cerveja. “No meio do punk, existe uma comunidade muito forte das minas sapas, riot e queer até pela brutalidade do som”, me contou, nesse papo massa aqui pra Sexta Sei, no qual demos início a uma playlist do amor entre mulheres. Rendeu até convite para uma breja em Vila Velha.
Moreira – Não sei em qual país eu estava morando que ainda não conhecia o seu trabalho! Vi um tweet do Gustavo Koch, que sabe das coisas, e mergulhei a valer nesse universo punk brega psicolésbico… Quais são as principais influências do seu som, e como chegou a essa mistura de punk, pós-punk, cumbia e brega? Você é de Vila Velha (ES), terra de Mukeka di Rato e Dead Fish, como os roqueiros vêem o seu trampo?
Roberta de Razão – Eu sempre tive contato com a música desde muito cedo, o meu pai era um apaixonado por Roberto Carlos, inclusive tem todos os discos dele. Quando fiquei adolescente, tinha muita dificuldade de me expressar e expurgar meus sentimentos e acabei me encontrando na música. Veja, mesmo meu pai gostando muito de música, nunca me deu muito apoio em tocar algum instrumento por eu ser mulher e achar que não tinha futuro algum. Mas, como todo adolescente rebelde, eu troquei um videogame velho por uma guitarra mais velha ainda e montei uma banda de punk com mais duas amigas. Na época. estava me descobrindo como pessoa e também minha sexualidade como sapatão, até que conheci a cena Riot Grrrl (movimento punk feminista que rolou no Brasil nos anos 90*) e bandas só com minas como Dominatrix, Bulimia e minha principal referência, Bikini Kill, o que foi libertador!
Moreira – Quando você me chamou no Whatsapp, vi que seu nome é Lorena. Inclusive as músicas estão creditadas a Lorena Bonna da Costa. Como foi a criação dessa persona Roberta de Razão? Toda sapatão está sempre coberta de razão? O nome é muito bom.
Roberta de Razão – A sapatão nunca tem razão, é o famoso dedo podre rsrs. Disso, veio a criação do nome e das minhas vivências no amor e nas decepções que a vida traz. Inclusive, a partir do nome que veio a criação desse projeto. Era apenas uma foto que tirei no réveillon e coloquei o nome. Fui convidada para tocar no TendaLab (festival de rock capixaba*) e nem música tinha ainda, eu aproveitei pra dar uma de doida na vida e mergulhar nesse personagem aí, que era totalmente ao contrario de mim, que não se importava em ser cafona, não se repirimia e, agora, eu sou mais a Roberta que eu mesma que loucura né?
Moreira – Como comentei contigo, adoro fazer matérias sobre representatividade lésbica, como a entrevista com o Sapabonde e a cobertura do Isorpozinho das Sapatão que fiz na TransCultura. Porquê você acha que ainda existe menos visibilidade lésbica? Qual a importância de se cantar esse amor, como você faz na sua obra? A sua poética é maravilhosa.
Roberta de Razão – Acho que depende muito de qual bolha estamos vivendo, na cultura pop, eu concordo que é menor, mas acho que, no meio do punk, existe uma comunidade muito forte das minas sapas, riot e queer até pela brutalidade do som. Mas como dizia aquela música de Agnaldo Timoteo, “Os brutos também amam” e, seguindo dessa premissa, eu vivo sendo uma punk apaixonada que senta na mesma do boteco sozinha e entre um copo de cerveja escrevo minhas letrinhas. Às vezes, sobre alguém, às vezes, sobre minha vida.
Moreira – Adoro as temáticas do seu trabalho e como você fala de forma divertida sobre o “amor de sapatão”, “Mais forte que trovão”, a mulher “Copo sujo”, que vai direto ao assunto, bate “palma pra palhaço” em “Talvez (Lúcia)”, o garçom que consola em “Flertando com o bar”, “pelo menos ele é único”, tomando duas doses de Campari em “Ainda dei meu show” ou requebrando na “Lambada psicolésbica”. Também acho que tem uma narrativa body positive que é importante, de transar o corpo numa boas.
Roberta de Razão – Se tem uma coisa que tenho orgulho é da minha imensa barriga de cerveja, nosso corpo representa toda nossa vivência nesse mundo maluco em órbita. Então eu trago tudo isso das letras no meu lookinho ruim e bruto.
Moreira – Faz um top 10 pra Sexta Sei de músicas sapatônicas? Vou começar uma playlist temática com o que sugerir. Vamos cantar e dançar o amor sapatão. Eu começaria com “Fraca e abusada”, da musa maior Angela Ro Ro, com um pouco de vingança.
Roberta de Razão –
Abaixa que é tiro!💥🔫
Eu já tinha falado aqui de “Hora de acordar”, primeiro single divulgado de “Perambule”, o terceiro álbum da artista de Barbacena Clara Castro, o primeiro criado em São Paulo, com co-produção do parceiro de vida e música Nathan Itaborahy. Na semana passada, passou aqui pela playlist sextante “Fome de Gritar”, com Laura Conceição, logo depois de “A Torre”, com o clarinetista Caetano Brasil. O belo – e em alguns momentos, melancólico – álbum é um registro documental e atmosférico do movimento de chegada a São Paulo, com Clara mergulhando em seus próprios arquivos e canções anteriormente lançadas e, agora, vistas com olhos de que vaga e perambula pela metrópole. O volume ganhou um belo desdobramento visual assinado por Anas Obaid com o uso de câmeras de vigilância e semáforos. O casal de artistas abraça a “poluição sonora” de buzinas e construções que persistem em São Paulo como instrumentos na música. O álbum conta com Lucas Gonçalves, da Maglore, nas guitarras e Douglas Poerner no baixo. Das dez canções, três são inéditas: “Morro da Garça”, “Outras Notícias do Oriente” e a faixa-título “Perambule”, uma síntese do álbum. Adoro “Fé na Fé” que me amparou esses dias em uma caminhada no Mariano.
Depois de um hiato de 38 anos, Roberto Riberti volta ao disco com o belo álbum “Estrela é o samba”, com parcerias suas com grandes nomes do gênero, como Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulo Vanzolini, com canções gravadas entre 2012 e 2023. Artista gravado por nomes como MPB4, Elza Soares, Beth Carvalho, Quarteto em Cy, Marcia, Eliete Negreiros e Leila Pinheiro, a produção de Roberto já transitou entre o samba, tema desse álbum, a MPB clássica e a vanguarda paulista, movimento que integrou, com Arrigo Barnabé. O álbum traz músicas e gravações inéditas, entre elas três sambas fruto da parceria com Elton Medeiros, o clássico “Estrela” (letra de Riberti e melodia de Elton e Eduardo Gudin). “Imensidade” e “Pobre amor”. Bom do começo ao fim.
O nome aqui do site já denuncia que somos admiradores do Baixo Centro da cidade, aonde se encontra o maior patrimônio arquitetônico e histórico, dos tempos quando Jufas era conhecida como a Paris do pobres. Duas ocupações do território aproveitam essa ambientação do belo casario da parte baixa em três andares de possibilidades: o recém-inaugurado antiquário, café, piano-bar e restaurante Madame Geváh, na Marechal Deodoro 280, e o Exo Laboratório Criativo, na Getúlio Vargas 540, uma ocupação e espécie de hub coletivo que une artistas e produtores de tatuagem, moda, breaking, deejaying, fotografia e pintura. As casas, vizinhas, transpiram criatividade e apontam o Baixo Centro como ponto de convergência artística e de encontros no coração da cidade.
O Madame Geváh homenageia a Getúlio Vargas no nome e é uma iniciativa dos sócios Paula Buarque, Rodrigo Gabriel e Wesley Carvalho, da banda Eminência Parda. A casa tem um piano que ajuda a contar essa história do Baixo Centro que é um charme e um terraço com vista estonteante para o recém-revitalizado Hotel Majestic. A bela vista do hotel é algo que a casa compartilha com o Exo, um espaço amigável e convidativo que respira arte em seus três andares, espaço para o compartilhamento de experiências e aonde estão expostos trabalhos de artistas urbanos de imensa sensibilidade, como Pekena Lúmen, Stain e Roko, este último, um dos integrantes do coletivo que comanda o espaço. O grupo é formado ainda por Maria Fernanda @salvemar.ia, que é tatuadora, pintora e estilista da marca Me Ghusta Salve Maria, que já sextou aqui, ao lado de @ghusta.ff, DJ, b-boy e professor de breaking no espaço, @starbabyyyyy_ , tatuadora e DJ, @flow.ninjatattoo, tatuador, @_rangeljunior, fotógrafo e diretor de criação e vídeo e o Ever Beatz, que dá as aulas de DJ. Roko e Ever Beatz são as duas metades da festa Pancadão.
Beto Guedes faz show sexta (9), às 21h, no Cine-Theatro Central, celebrando seus 50 anos de carreira.
O Festival de Bandas Novas, patrimônio imaterial dos camisas preta de Jufas, tem mais uma edição no sábado (10), das 16h às 22h, na Praça Antônio Carlos, O evento irá recolher doações para a Sociedade Beneficente Sopa dos Pobres pelo PIX 21.618.418/0001-37. Nesta segunda noite, as bandas são Corvus, Ladeira, Temporal, Libertà, Ghoró, Minério, Patrulha66, Heavyher e Insannica.
A Cuuute faz edição na sexta (9), às 21h, no Maquinaria com o retorno do Crraudio ao line, ao lado de Grelin. Na quinta (15), às 18h, tem Pedro Baapz.
Esse é brabo: Rennan da Penha é atração do Cultural, no sábado (10), às 22h30.
No sábado (10), às 10h, o curta “Isaac, o filme”, dirigido por Vinícius Cristóvão com animação da Estação Lunar Studio e produção de Renata Peralva será lançado na Praça CEU, com ação com adoção de cachorros e gatos e palestra sobre o tema comportamento animal.
A terceira edição do Ascomcer Beer Festival rola de sexta (9) a domingo (11), na praça do bairro Bom Pastor, com Maracaju, Pedro Paiva, Ponto do Samba e Ingoma. A Ascomcer administra hospital oncológico com 72 leitos e 98% de seu atendimento direcionado a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e foi criada em 1963.
O API Rock Festival acontece em São João Nepomuceno desde 2015 e tem edição neste finde, sexta (9) e sábado (10), com Pedro Paiva e as bandas Pedra Relógio, Libertá, Mantra, Traste, Big Monter Blues Band, Martiataka, Off The Track e Inmente.
O Beco faz dois anos no sábado (10), às 21h30, e comemora com as atrações que sempre tocam na casa , como Roça Nova e Jady Garcia, Samba de Colher e Gege e Amanda Martins (Só Parênt) e os DJs MCastro e Müller. Na segunda (12), rola o tradicional Encontro de Compositores, com entrada franca até às 20h.
Na sexta (9) tem Mau, a festa do mestre Maurício Lopes no @clubmeia3, no Humaitá, com @ber.djj vs @s.mello._, e @___gustavotata___ .
Com 28 anos de música, gastronomia e histórias, o festival uruguaio Medio Y Medio aterrissa pela primeira vez fora de seu país de origem e chega ao Rio para intercâmbio cultural nos dias 9, 10 e 11, no Circo Voador recebe shows exclusivos reunindo grandes artistas da música hispano-americana, além de uma imersão na culinária uruguaia inspirada na atmosfera do Medio y Medio, tradicional restaurante e casa de shows de Punta Ballena. Na sexta (9), tem o show Territórios, com Maria Gadú, Liliana Herrero (Argentina) e Sílvia Pérez Cruz (Espanha), no sábado (10), Dani Black e Mat Alba (Argentina), Paulinho Moska e Kevin Johansen (Argentina), e no domingo (11), Geraldo Azevedo e Hugo Fattoruso (Uruguai) e Hermeto Pascoal e Grupo. Chique.
No domingo (11), tem Baile do Manifesto, na Praça Antônio Carlos (PAC). No dia 17, rola a The Revolution Ball dentro do Miss Brasil Gay, na festa Fun House. Retratei a vivacidade dessa cena e do grupo Ballroom Kunt JF aqui, em post que o terceiro mais acessado do ano três aqui da página.
Adriana Calcanhotto faz show voz e violão, “Ultramar”, quinta (15), no Blue Note Rio, em duas sessões, às 20h e 22h30.
Na quinta (15), às 20h, a Audio Rebel, no Rio, recebe as bandas carioca Mundo Vìdeo (apresentando o EP “A Hora das Revelações”). e a baiana Tangolo Mangos, essa com participação do trio que eu gosto Aquino e a Orquestra Invisível (RJ) e Vinicius Marçal (PE).
A Entreato Produções apresenta o musical “Mar e Ana”,inspirado nas canções da banda O Teatro Mágico, sexta (9) e sábado (10), às 20h, no Teatro Solar, A temporada inclui ainda apresentações nos dias 16, 17, 23, 24, 30 e 31.
Pela primeira vez em Juiz de Fora, a drag queen Silvetty Montilla apresenta o stand up “É o que tem pra hoje”, quinta (15), no Teatro Paschoal Carlos Magno, e sexta (16) no Museu Ferroviário.
Milton Nascimento e Esperanza Spalding participam do Tiny Desk (Home) Concert, gravado no Rio de Janeiro, com as participações especiais de Guinga e Maria Gadú.
A exposição “Ideias radicais sobre o amor”, da carioca Panmela Castro, será inaugurada no dia 9 de agosto, às 17h, no Museu de Arte do Rio (MAR). Com mais de 20 anos de trajetória, a artista apresentará uma exposição com obras participativas, tendo como fio condutor a ideia da psicologia que fala sobre a necessidade de pertencimento como impulso vital dos seres humanos.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023, 2022, 2021 e 2020 nos links
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