Sexta Sei: Um acesume para o abstrato, para o desinforme, para aquilo que não se mostra de imediato na “Arte de Bicha” do paraense Rawi

Potente artista de Santarém embrulha música eletrônica, artes plásticas, moda, conceito e gritaria em seu segundo álbum

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Fotos: Bárbara Vale

Rawi, 26 anos, é uma abreviação estilosa do nome de batismo Rafael Vinícius, um dos artistas queer mais potentes e expressivos do Brasil, como já tinha comentado na Híbrida sobre o trabalho desse paraense de Santarém que extrapola a música ao produzir conteúdo visual e de moda. Saiu em novembro o seu segundo álbum, “Arte de Bicha”, com patrocínio de Natura Musical, com o título que é também seu nick no Xuíter, sucessor do excelente “Facão que abre os caminhos”. Já nos vizualizers, as duas primeiras faixas fortalecem essa ideia da música acompanhada das artes plásticas em “ADB1 Tapajônica Icônica” e “Canvas”, assim como as próprias maquiagens artísticas, algo que ele estende a telas. O álbum é quente e úmido, como o clima de sua natal Santarém, e situa o corpo LGBTQIAP+ amazônico num tempo, espaço e som, com a poética do quadril que rebola, da língua que enrosca, da minissaia que salva as tardes de calor. Os 13 visualizers servem looks e conceitos em uma experiência visual única, com visualidades de sua poética, mergulhando em sua identidade queer a partir de referências pop e símbolos da cultura regional nortista-santarena. Os visualizers tem a direção de Bárbara Vale e direção criativa de Gustavo Dorado e Rawi. O álbum é uma experiência sonora que remete a uma festa psicodélica e eletrônica em um barco, com a produção musical de Andrew Só, do estúdio Monhangarypy. O álbum também foi destaque hoje na coluna da Híbrida. Rawi é um artista não binárie, que nasceu e se criou em Santarém, numa região conhecida como “planalto santareno”. “Só sei que, de um desenho, foram surgindo telas, aquarelas, e as telas foram ficando maiores e, até um tempo depois, já estava com a estreia da minha primeira exposição marcada, que misturava artes plásticas, música ao vivo, entre outras coisas. Sempre tive um acesume para o abstrato, para o desinforme, para aquilo que não se mostra de imediato e que você tem que cavar os sentidos”, me conta, nesse último papo do ano da Sexta Sei. Semana que vem, servirei as playlists de 2024 em streaming e clipes.

Moreira – O seu trabalho tem uma interface forte com as artes plásticas, como fica bem visível nos dois primeiros visualizers, de “ADB1 Tapajônica Icônica” e “Canvas”, que brincam com as telas. A “Arte de Bicha”, além da música, tem essa manifestação visual, estética? É tinta fresca? A make é incrível até molhada… Tá bem bonito.

Rawi – Teve um momento da minha vida, lá perto de 2018/2019, quando, a partir de um desenho que fiz, assim de linhas únicas, tudo meio que mudou, sempre fui um pouco amostrada e tímida, contraditório, né? Pois é… Só sei que, de um desenho, foram surgindo telas, aquarelas, e as telas foram ficando maiores e, até um tempo depois, já estava com a estreia da minha primeira exposição marcada, que misturava artes plásticas, música ao vivo, entre outras coisas. Sempre tive um acesume para o abstrato, para o desinforme, para aquilo que não se mostra de imediato e que você tem que cavar os sentidos. “ADB” é frescura infinita, é abstração concreta, epifania que perdura… Ainn, obgg 🙂  

Moreira – Mais do que apelo visual, também tem uma transa muito legal com a moda. “Nada no rio comigo que é de boa” tem uma peça linda que parece ser feita de bolhas… A moda é mais uma ferramenta artística? Você acompanha bem de perto essa parte? O styling é de Luciana Freire e da Quimera Verzéqui a partir da persona artística que você criou?

Rawi – Nossa, a roupa, o look, e tudo que compõe isso sempre me interessou, desde de pequena sempre busquei por me expressar por meio da visualidade, sempre gostei de uma certa estranheza, e isso cresceu cada dia mais, experimentando e criando novas formas de se colocar no mundo, por ser afeminada e já ter ultrapassado de alguma forma essa questão binária nas vestimentas, também é um ponto marcante para eu me dispor a acreditar muito na moda como uma ferramenta artística essencial pro conjunto da obra. Eu já fiz looks pra mim, já co-criei vários, tanto no meu primeiro disco quanto nesse eu estive basicamente em todas as reuniões, como numa espécie de direção criativa, deixando observações do que eu entendia do universo, do que o roteiro contava nas entrelinhas, o que a letra estava gritando, e assim fomos criando.

Moreira –  Acho muito legal a divisão do álbum em duas partes e o aviso bem sinalizado disso em “ADB2”. O clima fica mais noturno e sensual, sobe bem a barra da saia, aparecem as balaclavas e tangas bordadas, né? “Um pouquito de glamour”… Um tropicalismo dark, como diria Liana Padilha, correntes… 

Rawi – Égua, a divisão do segundo ato se mostrou no caminho da criação, conforme o disco ia se revelando como uma grande aparição, eu entendia nos símbolos que me lembra o teatro (o que me moldou e me trouxe até aqui) a divisão dos atos, apresentação do universo, etc.. Pra mim, o segundo ato é bem isso, uma mistura louca de tensão, tesão, raiva e fome de algo a mais, é a reviravolta que se pede em “TEC”. De alguma forma, “ADB2” iniciar dizendo que não estamos ainda no segundo ato, me traz algo como se o segundo ato nem fosse a segunda parte do disco, mas sim uma outra coisa, algo que ainda está além.

Moreira – Sendo do mesmo estado e tendo poéticas similares, uma certa tendência alienígena, se assim pudermos dizer, é bem natural que você colabore com Aqno, um artista que, como já comentei contigo, admiro muito. Como foi colaborar com ele em “Corpo Elétrico”?

Rawi – Eu amo o Aqno, e é muito doido ter um feat com ele agora, desde da primeira vez que escutei e assisti ele, eu me apaixonei e pude de alguma forma ficar “meu Deus não estou sozinha sendo camp nesse cenário todo”, principalmente pensando fora do eixo capital. Foi uma delícia construir “Corpo Elétrico”, já tinha partes da letra e uma base ainda bem inicial, mas ele adorou a faixa de cara. Quando tava escrevendo, bateu muito isso dessa entrega no palco que beira o visceral, uma coisa sem parâmetro, estático, dinâmico kkk.

Moreira –  Como é ser um corpo queer no Norte do Brasil? Sua presença deve questionar bastante o estabelecido, como fazem os artistas potentes como você. O patriarcado treme? Sou seu fã.

Rawi – Acho que, além de ser no Norte no Brasil, é ser no oeste do Pará. Santarém ainda é bem conservadora, é tomada por uma cultura sojista, e por colocar pessoas com características e visualidades diferentes como anomalias, minha música aqui ainda está numa bolha, no momento, vivemos aqui o segundo ar mais poluído do planeta, são tantas questões, crise climática, uma cidade que não consome de forma ampla seus artistas, um distanciamento da capital e suas inúmeras possibilidades, o custo amazônico ( termo utilizado para se referir aos custos adicionais de logística e transporte que empresas e governos precisam arcar para realizar operações comerciais, infraestruturais ou de serviços na região amazônica do Brasil.), entre outras coisas… Só o nome do disco já é uma barreira, vale o conteúdo, e acho que isso me excita e me destrói na mesma medida.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Zaina Woz lançou o single Boneca de Porcelana”, faixa de electropop experimental em clima de balé eletrônico ou caixinha de música clubber,  antecipando o seu disco de estreia. A faixa tem produção musical da catarinense radicada em São Paulo em parceria com Arthur Kunz (Strobo, Os Amantes), e traz uma temática feminista sobre uma relação tóxica. “A imagem da boneca de porcelana, que é rígida e inanimada, me possibilitou explicar o que eu sinto como uma pessoa que se relaciona afetivamente, e que muitas vezes se sente como um objeto na mão do outro”, conta Zaina. A música chega com videoclipe inspirado no desfile de alta costura da Maison Margiela deste ano, com  direção de Marilia Curtolo. A direção criativa e o figurino são assinados pela própria artista, que tem formação em Design de Moda. O lançamento vem com blog, com inspiração na onda “Brat”.

Composta por títulos de canções gravadas por Elvis Presley, traduzidas e organizadas pelo poeta e músico Vitor Wutzki, a faixa “hotel coração partido” chega nesta sexta (6), com clipe cinematográfico e cheio de imaginação e poesia produzido pelo artista mais acessado do ano três aqui da Sexta Sei, Antonio Sobral. Vitor Wutzki acompanha em shows artistas como Bruna Lucchesi e Luís Capucho, e a faixa sucede ao álbum de estreia espaço em branco, lançado em julho.  A canção surgiu durante a residência artística São João, em São José do Vale do Rio Preto, e ressalta a constante aparição da palavra azul nas letras de Presley (“Blue moon”, “Blue Suede Shoes”, “Blue River”). O clipe é uma ode aos prazeres de amar livremente.

Sempre fui fã e gostei de acompanhar o trabalho do do guitarrista e compositor gaúcho Guri Assis Brasil. Ele acaba de lançar o projeto Animal Invisível, com duas faixas instrumentais,  “Que delícia é viver” e “Animal Invisível”, que anunciam o álbum de estreia, que está vindo aí. O projeto traz um amálgama de  groove norte-americano, sintetizadores dos anos 80, riqueza melódica da música brasileira, jazz, funk e hip-hop, em uma interpretação contemporânea da música instrumental brasileira. Sonzeira. O projeto começou na pandemia, com cada artista enviando sua parte remotamente. Das gravações, participaram os percussionistas Thomas Harres e Big Rabello e os trompetistas Reginaldo 16 Toneladas e André Levy. 

Adriana Calcanhotto em foto de Leo Aversa faz show acústico no Central
Toninho Geraes é autor de um dos meus álbuns favoritos
Tassia Reis
Letrux e a Trem Base. (Foto: Antonio Brasiliano)
Iron Maiden
Dead Fish por Lucca Miranda
O mineiro Anderon Noise na D-Edge Carioca
Alice Caymmi e "Rainha dos raios"
O Studio Viva Dança no Cine-Theatro Central
Livraria La Lorca do Centro Cultural Queerioca
Os sócios do novo Contra: Beatriz Beire, Nathalia Rubert, Eduardo Kneipp, Thais Barra, Julio Piubello, Crraudio e Taian Martins
Information Society na Fundição Progresso
Cátia de França + Amelinha no Psica
Amaarae no Afropunk em São Paulo
Voando com o 14 BIS

Na sexta (6), Adriana Calcanhotto faz show voz e violão, às 21h, no Cine-Theatro Central.

Ruan Lustosa faz a última Get it on do ano, sexta (6), no Maquinaria, recebendo Filipim, às 21h.

Quem acompanha aqui o sextamento sabe que eu sou um grande fã de Toninho Geraes, de quem falei aqui no lançamento do belíssimo álbum “Aluayê – os novos afro-sambas”. Ele participa de roda de samba com os craques locais Sandra Portella, Alexandre Pereira, Grupo Segredo e Mamão com bloco do Beco na sexta (6), às 22h, na Versus. 

A grande cantora Tássia Reis faz show do belo álbum “Topo da minha cabeça”, no sábado (7), na Casa Savana,  no Rio de Janeiro.

Letrux é estrela da festa de 5 anos da Trem Base, no sábado (7), às 22h, em Contagem.

A banda britânica de heavy metal Iron Maiden faz show sábado (7), às 19h30, em São Paulo, no Allianz Park.

O boa-praça Ruan Lustosa faz a última Get it on do ano

Um novo clube abre na cidade neste sábado (7), às 22h, o Contra, que fica na Rua Francisco Maia 90, de frente ao estacionamento do Santa Cruz Shopping, com um time de colaboradores e sócios formado por Beatriz Beire, Nathalia Rubert, Eduardo Kneipp, Thais Barra, Julio Piubello, Crraudio e Taian Martins. Na estreia, tem  Crraudio e Juliø na cabine. A abertura ao público é no dia 13, e a casa abre, em dezembro, nos dias 14, 20, 21, 27 e 28.  

No domingo (8), rola a última Batalha do Bandeirantes do ano, às 14h30, na Arena Bandeirantes, na Praça Arthur Bernardes, com o MC Guima Zilah (BH), do hit “Faraó”.

Em dezembro, a Casa Queer, primeira casa literária LGBTQIA+ da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), assume a curadoria da Livraria La Lorca do Centro Cultural Queerioca, uma residência literária fixa,  promovendo lançamentos, debates e eventos mensais. Neste final de semana, tem Samba Queer, sexta (6), às 20h, além de mesas e debates.

Na sexta (6), os capixabas da Dead Fish fazem show comemorativo dos 20 anos de “Zero e Um”, com abertura da Rancore e do DJ Suisso, às 20h. No sábado (17), a banda ucraniana Jinjer, fenômeno do metalcore progressivo, faz show com participação da banda de melodic death metal/metalcore Heaven Shall Burn, com abertura das cariocas Innocence Lost e Clava. A casa abre às 18h.

No domingo (8), tem edição do Dominikaos,  às 14h, Beco da Cultura, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) com cinedebate da Frente Autônoma de JF com a exibição de vários documentários sobre limpeza étnico-territorial e resistência indígena, discotecagem de Rosa Martins, e shows das bandas locais Nostalgia do Medo, Valla e Traste e da brasiliense Caos Lúdico.

No sábado (7), às 23h, o mineiro Anderson Noise é a atração da festa Neblina, no D-Edge carioca.

Alice Caymmi faz show voz e violão do grande álbum “Rainha dos Raios”, quinta (12) às 19h30, no Teatro Rival.

O Studio Viva Dança apresenta domingo (8), às 19h30, no Cine-Theatro Central, o espetáculo “O essencial é invisível aos olhos”.

Com imagens selecionadas a partir de um universo de fotografias microscópicas obtidas em pesquisas científicas, a professora titular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, Rossana Melo, realiza a mostra inaugural da Galeria Hélio Fadel, no dia 9, às 9h, no anfiteatro das Pró-reitorias, no Campus. As imagens foram captadas por microscopia eletrônica, monocromáticas, em escala de cinza, e foram colorizadas com ferramentas digitais.

“Presépios da tradição natalina” segue em cartaz até o dia 10 de janeiro, no Fórum da Cultura, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Entre os dias 21 de dezembro e 06 de janeiro de 2025, o Forum da Cultura não realizará atendimento presencial.

Leucócito
Linfócito

O Information Society (InSoc), um dos grupos mais emblemáticos da música eletrônica dos anos 1980 e 90, chega à Fundição Progresso no dia 13 de dezembro, às 20h, com Kon Kan.

Em edição histórica, o Psica 2024 celebra a potência da Pan-Amazônia e, pela primeira vez, traz shows internacionais no line-up. A edição deste ano reúne mais de 50 atrações nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, no Estádio Olímpico do Pará, em Belém, com shows da vencedora do Grammy Latino, Liniker; da lendária cantora paraense Fafá de Belém, rainha da tecnocúmbia; da peruana Rossy War; da estrela da sofrência João Gomes; do fenômeno BaianaSystem; e feats inéditos, como Cátia de França + Amelinha.

O Afropunk fincou de vez os pés no Brasil, para nossa alegria, e, depois de edições em Salvador e Pará, chega a São Paulo, para edição Experience, no dia 14, no Parque Villa-Lobos, com line-up poderoso com Amaarae, Ludmilla, Rachel Reis, Yago Oproprio e Anelis Assumpção.

A banda que amamos 14 Bis faz show, dia, 22h no Cultural.

O último Baile da Bôta, na Autêntica, em BH, terá o último show da turnê de despedida de Luisa e os Alquimistas, dia 20, às 22h.

Começa nesta semana o festival Novas Frequências, do Chico Dub, que teve nota detlahada na sexta que passou. Sexta que vem saem as playlists de melhores do ano e encerramos o ano de 2024.

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Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023 2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Tyla, Daniel Haaksman, Thiago Malakai, The Black Keys, Greentea Pang, Ben l’Oncle Soul, Abacaxepa + Felipe Cordeiro, Samora N’zinga, Earthgang, Negra Li, Irmãs de Pau, Bruna Black, Brasativa e Bloco do Caos, Luthuly, Fireboy DML, Melanie Martinez, dada joãozinho + Raça, Uaná System, Kacey Musgraves e Mdou Moctar

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