Sexta Sei: A obra de Leminski, como um vírus, nos timbre e canto expressivos de Bruna Lucchesi

Curitibana radicada em São Paulo lança um dos melhores álbuns do ano, em parceria com o produtor Ivan Gomes

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Bruna Lucchesi por Camilla Loreta

Da primeira vez que ouvi ao canto da curitibana radicada em São Paulo Bruna Lucchesi, 33 anos, já me encantei com seu timbre pouco usual e canto expressivo em  “Quem faz amor faz barulho”, com Kiko Dinucci na guitarra, interpretando a obra musical do meu poeta preferido, o também curitibano Paulo Leminski. Ela acaba de lançar o álbum homônimo à canção, no qual destaca as músicas compostas por Leminski, que foi um grande compositor. Batemos um papo sobre como a obra de Leminski invade a nossa vida como um vírus, contaminando tudo, e se transforma em uma espécie de oráculo de consulta. Também falamos das parcerias com Kiko Dinucci, e o produtor do álbum, Ivan Gomes, figura constante aqui na página, e das cascatas de maravilhas que emanam de Estrela Leminski, filha do poeta.

Moreira – A obra do Leminski se infiltra na nossa vida como um vírus, né? É viral, midiática, tuiteira, antecipadora de novidades. Eu me agarrei à sua antologia quando a comprei, há uns 8 anos, e saí por aí, fazendo fotos, porque eu sou blogueirinha, risos. Esse livro fica bem a mão, porque sempre o leio, é meio oracular… Como conheceu a obra de Leminski e como decidiu gravar esse álbum tão lindo? Qual a importância de lermos Leminski hoje? Geral sentiu…

Bruna Lucchesi – Adorei essa idéia da obra do Leminski se infiltrar na gente como um vírus. Comigo foi bem assim também. Bom, acho que tudo começa pelo fato de eu e ele sermos conterrâneos, de Curitiba. O nome dele sempre ecoou por aí, mas tudo começou pra mim com a antologia e a exposição “Múltiplo Leminski” quase que simultaneamente. Era 2013, e eu estava cursando meu último ano do curso de música da Unicamp. Eu havia adquirido o livro durante um passeio pela cidade com a minha mãe e, desde então, ele se tornou também uma espécie de oráculo que está sempre à mão para consultas e inspirações. Depois, ao visitar a exposição, fiquei impactada com o tamanho de sua obra e seus desdobramentos em imagens. Acabou que um de seus poemas deu nome ao meu recital de formatura “não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase”, apresentado em novembro daquele ano na no Instituto de Artes da Unicamp. O nome era meio longo.. mas não tinha como ser menos. Corta a cena para 2018. Eu estava morando novamente em Curitiba e me tornei amiga da Estrela Leminski e do Téo Ruiz. Naquele ano, eles me deram o Songbook Leminski de presente de aniversário e foi aí que efetivamente tudo começou. Eu comecei, despretensiosamente, a folhear aquelas páginas para tirar as músicas (praticar um pouco a minha leitura de partitura) e comecei a entender que ele, de fato, era músico. Fiquei intrigada com o fato de ele ter canções assinadas só por ele e boa parte delas não podiam ser encontradas para ouvir em nenhum lugar, então comecei a cantar e tocar essa música a partir do papel mesmo, criando levadas, testando diferentes andamentos e tentando imaginar como elas deveriam soar na voz dele. Depois disso, o processo de criação foi bastante fluido… Eu tirava as músicas e mandava para o Paulo Ohana, que tinha concordado em me dirigir nessa missão de montar um repertório para um eventual show (começamos a trabalhar na pandemia, antes de haver perspectiva de voltarmos aos shows presenciais). Gravamos “Energia Solar” (até então inédita) em 2021, estreamos o show “Encharcar o Planeta de Leminski” em 2022, o trabalho foi se desenvolvendo, ganhou outro nome e o disco foi consequência desse processo todo. 

A capa de Marcus Braga

Moreira – Sou muito fã do Kiko Dinucci, que é simpaticão comigo pelo Twitter. Como foi trabalhar com ele no single “Quem faz amor faz barulho”? Ele é muito inventivo. O que ele e Juçara Marçal fazem é surreal e inovador…

Bruna Lucchesi – Eu também sou muito fã do Kiko! Nos conhecemos por aí pela cena da música paulistana e, há muito tempo, eu tinha vontade de fazer alguma colaboração com ele. Ao elaborarmos o arranjo de “Quem Faz Amor Faz Barulho”, uma canção cuja sonoridade se destaca do repertório, detectamos uma afinidade com a música do Kiko. Ou seria uma influência? Hehe Ao longo do processo do disco tive a ideia de chamar ele para participar e ele não só topou de imediato como foi altamente generoso ao longo de todo processo. Ficamos muito felizes com o resultado da gravação.

Moreira – Ivan Gomes volta e meia aparece por aqui na Sexta Sei, nas produções para Assucena e Abacaxepa, por exemplo. Como foi trabalhar com ele, e quais contribuições ele trouxe ao álbum?

Bruna Lucchesi – O Ivan é primordial para a existência deste projeto e tem sido um parceiro incrível ao longo desse processo todo. Ele já gostava muito da canção “Valeu” e se empolgou quando eu apareci com “Energia Solar” – que eu havia apresentado em formato solo no show comemorativo aos 75 anos de Leminski em Curitiba. Na época, estávamos circulando com “BLÄR”, meu projeto autoral lançado em 2019, e ele ficou botando pilha pra gente colocar essa do Leminski no repertório. Depois, durante a pandemia – adeus shows – as canções do Leminski eram um ótimo motivo para trocarmos idéias musicais e fazer planos. Ele produziu o primeiro single (“Energia Solar”) lá em 2021 e nos demos muito bem ao longo do trabalho. Nós tínhamos bastante clareza da direção que gostaríamos de tomar, com referências folk, punk e até meio country. Essa afinidade de ideias foi essencial para a fluidez do processo de criação e da gravação, que foi toda ao vivo, com a banda inteira tocando ao mesmo tempo e sem metrônomo no Estúdio Lebuá. 

Moreira – Quem passou aqui por Juiz de Fora, antes da pandemia, foi a dupla formada por Estrela Leminski e Téo Ruiz. O show foi maravilhoso, ela cantou algumas canções do pai. Eles são muito bacanas, não conhecia o trabalho e fiquei encantado…. Fui atrás do nome Leminski igual uma mosca vai pra luz… Achei curioso que seu release cita mais nomes que sempre falo também, como Paulinho Boca de Cantor e Vitor Rammil, que tem parentes por aqui. Acho que é o famosos “tatu cheira tatu”…

Bruna Lucchesi – A pesquisa da Estrela a respeito da obra musical do pai e o cuidado que a família tem com a obra são primordiais para a existência deste projeto. Nos tornamos cúmplices na missão de informar o povo de que o Leminski era sim compositor, músico, escrevia melodias e fazia canções. O nome dele é tão amarrado à literatura que as pessoas ficam muito confusas antes de entender. Eu sempre falo que “a minha pira” nesse trabalho é de investigar o leminski-compositor. Sou muito fã do poeta, claro, mas não tenho tanto interesse assim nos poemas musicados… Mas aí é que entra o Vitor Ramil. “O Velho Leon e Natália em Coyoacán” é o único poema musicado que entrou no disco. O Vitor Ramil tem um trabalho minucioso na elaboração de suas canções de forma que esta música dialoga tão perfeitamente com o nosso recorte da música “Leminskiana” que entrou na nossa seleção. 

Abaixa que é tiro!💥🔫

É hoje (11) o dia! A página aqui, a Sexta Sei, completa três anos com festerê cultural nesta sexta (11), às 21h, no Maquinaria, em São Mateus, com shows de com shows de Laura Conceição e Amanda Fie (com participações de Alice Santiago e PretoVivo) e Pedrada, o Legítimo, DJ sets comigo,  apresentando uma síntese dos mashups da Bootie Rio (melhor festa do Rio pela Revista Época em  2012 e festa oficial dos 60 anos do Lulu Santos) em set para estourar as calcinhas, Igor F Beats (relembrando a minha festa Electrobogie, dos anos 00) e Alex Paz. A festa ainda terá a exposição de desenhos  “Escatalogias Cítricas”, do artista  Clóvis Cacá Faria, fotos do Ballroom Kunt JF de Natalia Elmor para a página e DJ sets com Fabiano Moreira (apresentando uma síntese do seu projeto Bootie Rio, de mashups, melhor festa do Rio pela Revista Época em  2012), Igor F Beats (que foi DJ residente de outro projeto de Fabiano, a festa Electrobogie, que aconteceu no Muzik e no Dama de Ferro, no Rio) e Alex Paz (do Espaço Hip Hop, de AFeira e da Manufato). Ingressos aqui até às 18h dessa sexta (11) No sábado, a casa recebe o show da Legrand, responsável, ao lado da Varanda, por uma das melhores edições do Palco Central.

No sábado (12), às 14h, rola mais uma edição do mais do que tradicional Festival de Bandas Novas, de Adriano Polisseni, na Praça da Estação. Fui no último e foi diumtudo.

No sábado (12), Pedro Paiva, do Vinil é Arte, comanda o novo rolê maravilhoso do Mercadinho Qualquer Coisa, no Baixo Centro, a partir das 21h, recebendo o DJ OPreto, de Salvador.

MPB4 e Kleiton & Kledir fazwem show no sábado (12), às 21h, no Trade Hotel.

Sábado (12) e domingo (13) acontece a primeira edição do Doce Maravilha, que vai reunir 28 artistas para mais de 22 apresentações na Marina da Glória, em dois palcos, com nomes como Gilberto Gil & BaianaSystem, Margareth Menezes & Luedji Luna, Adriana Calcanhotto & Rodrigo Amarante, Furacão 2000, Millos Kaiser, Los Sebosos Postizos toca: Jorge Ben Jor (12) e Caetano Veloso, João Gomes convida Vanessa da Mata, Liniker & Pericles, Marcelo D2 canta: A Procura da Batida Perfeita, Orquestra Imperial toca: Rita Lee e Michael Sullivan canta: Xuxa & Tim Maia (13) e mais.

Dia 30 de agosto começa a Drag Race Brasil na MTV e no streaming Paramount+, com apresentação da brasileira Grag Queen, vencedora de “Queen of the Universe”, tendo o estilista Dudu Bertholini e a humorista Bruna Braga na bancada de jurados. Aqui tem o vídeo com as dez queens no páreo.

Personagem recente aqui da Sexta Sei com o álbum “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”, Luiza Lian estreia como diretora no curta-metragem musical, “Capítulo II: O Julgamento – Forca | Cobras na sua Mesa”, com as canções “Forca” e “Cobras na sua mesa”, propondo uma reflexão sobre a teatralidade artificial de nossos tempos. Ela divide a direção com Caio Mazzilli. O filme, em dois atos, revela a ascensão ao poder e a queda. Em um misterioso jantar, segredos obscuros vêm à tona, rola um envenenamento e uma série de revelações sobre a verdade e a ética de cada um.

Uma grata surpresa da semana foi a descoberta do trio amazonense D’Água Negra, por meio do clipe “Escárnio”, primeira canção inédita na sequência do EP de estreia, “Erógena”. O som é jazzístico, soul, indie e psicodélico, e o clipe foi gravado no Rio de Janeiro, durante a turnê do EP, composto e gravado na pandemia.  A faixa “Acopalices” retrata o apocalipse vivido por Manaus durante o surto. O trio é formado por Bruno Belchior, Clariana Arruda e Melka Franco. Vou acompanhar.

D_água Negra por Efronito

Fiquei encantado com a voz de Nina Maia, cantora e compositora revelação da cena paulistana, no single “Sua”, que é inspirado no contraste entre ápices dos vocais, respiros e silêncios, como nas obras de Billie Eilish e Rosalía, e tem letra que remete ao universo buarqueano em “Atrás da Porta”. “Um xote de timbre mais eletrônico junto com a sanfona, mais orgânica. Algo que vai na linha de “Segue o Seco”, da Marisa Monte, por exemplo”, aponta a artista, cheia das referências. Com direção de Gabriela Boeri, o clipe revela uma narrativa sobre a superação de ausências por meio da arte, com participação da bailarina Ana Beatriz Nunes (Balé da Cidade), em trabalho concebido de forma colaborativa entre as três. Nina já gravou com Tiê no álbum “Gaya”, e vem chamando a atenção com singles como Gosto Meio Doce, um feat. com Chica Barreto e De Dentro, com produção musical de Lucio Maia (Nação Zumbi).

O poema “Uma biografia”, escrito pelo poeta beat e ecologista japonês Nanao Sasaki em fevereiro de 1985 ganhou a sua primeira tradução ao português pelas mãos de Felipe Melhado e foi gravado pela banda Myossãssu, recém-criada. A sugestão chegou aqui pelas mãos do Antonio Sobral, músico e cineasta que rendeu o post mais acessado do terceiro ano da Sexta Sei e dirige o clipe. Fã de Nanao Sakaki, ele estava justamente passando uma temporada no Japão, estudando o idioma, e uniu imagens da correria cotidiana de cidades como Tokyo e Osaka, contrapostas a cenas idílicas e diários de viagem, filmados entre templos budistas, trens e bares exóticos. Essas imagens do Japão foram misturadas a imagens caseiras dos integrantes interpretando a música. O grupo se conheceu na Residência São João, espaço de imersões e produção cultural em contexto rural agroecologico, em atividade há 11 anos na serra carioca e fundado por Antônio.

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Playlist de clipes com Doja Cat, Kevin o Chris + Maluma + Karol G + DENNIS, Saweetie, Tove Lo,  Travis Scott, Kayode + Rincon Sapiência, Dadá Joãozinho, Gabriel Milliet, MHD, Queens Of The Stone Age, Tropkillaz + Different J  + Kaê Guajajara & Owerá, Planet Hemp, Dope Lemon, Cannons, Rádio Bita + Gilberto Gil, Jade Faria, Carlos Pompeu, Capim Limão, Ana Moura e Bonde das Maravilhas.

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