Sexta Sei: O samba-canção embalado em sonoridades dançantes pelas drags Sara e Nina

Drags cariocas celebram a deprê em belo álbum, “Minhas mulheres tristes  – Uma ode furiosa ao Samba-canção”, que homenageia as vozes femininas do samba-canção

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Sara e Nina por Beto Pego (aka Betina Polaroid)

O samba-canção, a música de “fossa”, foi embalada em sonoridades dançantes pelo produtor Pedro Barbosa em “Minhas Mulheres Tristes – Uma ode furiosa ao Samba-canção”, segundo álbum da dupla de drag queens Sara e Nina, personagens dos cariocas Gabriel Sanches, 35 anos, ator formado em Letras, e Alessandro Brandão, 50, ator, cantor e dançarino por formação. O produtor conta que a inspiração veio de “Cuidando de Longe”, com Gal Costa com Marília Mendonça (amo o remix de Diogo Strausz). O bom álbum traz releituras de sucessos eternizados nas vozes de cantoras como Dalva de Oliveira, Maysa, Elza Soares, Linda e Dircinha Batista. “Aceitar a tristeza, as dores, os traumas e vivê-los em vida é deixar morrer o medo de não ser perfeito, é abrir mão do controle e do ideal de vida feliz que pintam”, ensina Sara, sobre dar espaço ao feminino reprimido. Ficou curiose para vê-los desmontados? Os gatos aparecem barbados aqui nesse clipe.

Moreira – As drag queens que fazem música, hoje, no Brasil, estão mais vinculadas ao funk e aos ritmos dançantes. Interessante vocês usarem essa plataforma drag para falar de dor de corno. De onde veio essa ideia, vocês já tinham feito um show com esse conceito que ficou seis meses em cartaz, em 2016, no Bar Semente, na Lapa, enquanto eram um casal, né? E como é a vivência drag de vocês, vocês também se montam na noite?

Sara/Gabriel – A vontade de abrir cada vez mais espaço para o feminino reprimido que existe em nós sempre esteve atrelada ao medo de sofrer, de não ser amado, não encontrar grupo de pertencimento, acolhimento, afeto. Afinal, essa é a experiência mais comum entre pessoas que são socializadas como homens, a de ter o feminino abafado, condenado, extirpado. (Não é de se surpreender que numa sociedade de masculino imperativo, tenhamos tanta misoginia). Lembro que criança, minhas brincadeiras preferidas eram sempre configuradas como “de menina”, o que sempre trazia constrangimento quando eu me via feliz e cercado de garotas para brincar, amar, festejar, divertir, mas os dedos em riste faziam chacota e me condenavam ao exílio masculino. “Viado”, “baitola”, “ridículo”! Eu era péssimo em futebol, gostava de vôlei. Era bom no carteado, na conversa, na queimada, penteando cabelo, inventando moda para bonecas e histórias de amor. Eu gostava de enrolar a toalha na cabeça e cantar a música tema da pequena sereia. E essas e outras experiências são memórias contraditórias que carrego. Hoje, sei amar e honrar essa criança e essa história, mas sei do tanto de humilhação e dor que foi sendo aos poucos precisando desentulhar o passado para que o presente possa prosperar. Toco nesses assuntos ao responder à pergunta para elucidar a questão da dor, do sofrimento. Faz parte da minha história e ouso dizer de forma generalizada e afirmativa que faz parte da história de qualquer pessoa LGBTQIA+ nessa sociedade. A gente se torna pessoas muito mais empáticas, amorosas, acolhedoras com os nossos e formamos uma família de proteção uns para os outros porque sabemos que viemos todos de dores muito parecidas. E falando no tema paixão, então, aí a questão se torna ainda mais complexa. Quantas paixões surgiam pelo colega mais bonito da turma, o mais gentil, o mais inteligente, o mais amigo, e cada vez que um garoto se tornava alvo do desejo, o fogo que poderia queimar era apagado ao som dos gritos da minha mãe, da ventilação das narinas estufadas do meu pai, do cinto estalando nas pernas, dos olhares de reprovação de tanta gente. O amor é negado para nós desde muito cedo. A começar pelo exílio familiar. Mesmo para pessoas que não são expulsas de casa em função de sua sexualidade e identidade, a condição de participar de família é explícita: você será único, isolado, um caso complicado de se entender. E é melhor se esconder, ser “passável” ao crivo heterocisnormativo. Eu e o Alessandro nos conhecemos e descobrimos muitas semelhanças nos nossos desejos em ter família, suporte, confiança e incentivo para perseverar, prosseguir. Descobrimos que, assim como viemos de um modelo de família, queríamos ter direito a criar um modelo que fosse também um espaço melhor para pessoas como a gente. Queríamos criar um mundo onde gente que nem a gente pudesse ter direito a existir sem a ameaça de morte, do extermínio que nos assombra tanto. Nos apaixonamos pela alma um do outro, pela possibilidade de finalmente ser amado por ser quem somos. Em 2016, estávamos num processo específico da nossa relação. Já estávamos juntos há nove anos e havíamos construído uma história inspiradora juntos. Nossos familiares nos recebiam em suas casas sem franzir a testa, tínhamos conquistado respeito e aceitação, uma trajetória admirável aos olhos da sociedade heterocisnormativa. Sentíamos que fazíamos parte finalmente daquele mundo que era tão hostil. Talvez o que tenha acontecido é que tenhamos nos deixado iludir pelo desejo de pertencer à mesma sociedade que tanto lutamos pra nos libertar, a mesma que nos condenou a vida toda. Ao mesmo tempo, nossa relação não sobreviveria dos mesmos parâmetros. A monogamia compulsória, por exemplo é algo que intensifica ainda mais a exclusão que sentimos a vida toda. Mas isso é papo pra muito mais conversa que não vai caber aqui. Deixemos esse assunto um pouco de lado. O que vem ao caso é que, lá em 2016, nossa relação já vinha dando sinais da necessidade de reformulação. Se por um lado, artisticamente estávamos cada vez mais livres e buscando expandir nossas percepções; como casal, havíamos endurecido e nos deixado acomodar pela fórmula de “sucesso” da família tradicional (a qual jamais seríamos). É muito comum acontecer isso, depois de lutar para conquistar um espaço de “igualdade” acreditamos que fazemos parte, temos os mesmo direitos e relaxamos, nos acomodamos. Naquela época já encarávamos as falhas do sonho da relação “perfeita”. Então, quando o Alessandro recebeu o convite para um show no extinto Bar Semente, uma conhecida casa de samba, na Lapa, ocorreu a ele levar Sara e Nina para os palcos cantando. Apesar de Sara e Nina terem surgido em 2014, ainda não cantávamos como dupla. Até então, tínhamos feito ensaios fotográficos, nos engajado ativamente em movimentos sociais e feito participações com performances em eventos de outros artistas. Tínhamos feito cinema! Alessandro é cantor há muito tempo, eu era um jovem ator em início de carreira. Do convite para Alessandro cantar no Bar Semente, veio a ideia de fazer o show de Sara e Nina. E numa casa de samba canta-se samba! Alessandro sugeriu o repertório de samba-canção que fazia parte de suas memórias de domingo na infância, quando o pai colocava na vitrola os discos de Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Aracy de Almeida, Elza Soares, etc. e ainda que eu tenha relutado a cantar, Sara era a abertura para tantas descobertas artísticas que eu ainda viria a ter. Propusemos o show “Minhas Mulheres Tristes”, que, depois de alguma relutância por parte da dona do Bar, foi um sucesso por seis meses. A dramaturgia do show surgiu a partir de um trabalho que apareceu pra mim. No dia da estreia do show, eu teria pouco tempo para me montar. Naquela época, demorávamos seis horas para ficar prontas. Eu não teria esse tempo, então sugeri que Sara e Nina tivessem uma briga no camarim e com isso apenas Nina faria o show se lamentando da briga e do término. Assim, Sara, no momento que chegasse, entraria em cena e seguiríamos com um número de reconciliação. Mas, por motivos de destino, consegui chegar a tempo do início do show e ao encarar a situação, decidimos manter a dramaturgia criada. Foi uma comoção geral. Cada vez que nos apresentávamos, o público ia do riso às lágrimas em minutos com aquele drama de separação embalado pela fossa dos anos 50. A vida imitando a arte (ou seria já a arte que estava reproduzindo nossa vida e nossas questões de amor de forma inconsciente?), algum tempo depois, nos separamos e iniciamos um longo processo de transformação da nossa relação. Hoje, acredito que essa foi a razão de termos lançado primeiro um disco autoral (“Céu de Framboesa”, 2021) antes de lançar o “Minhas Mulheres Tristes”. Afinal, foi nosso primeiro show, na lógica, seria ele a ser gravado primeiro. Mas acho que aquele repertório na época da gravação do primeiro disco precisava se tornar distante, afinal, as dores ainda eram recentes. Era preciso nos reconectarmos com nós mesmos, cada um consigo, num processo de resgate, de costura das ranhuras que um término causa. “Céu de Framboesa”, nosso primeiro disco, foi um processo de lida com os pedaços de nós que estavam machucados, mexidos, bagunçados. Tanto que é um disco de estilo diverso, ritmos variados, letras que falam de amor, de comunidade, de ativismo social, falam da realidade das nossas e nossos. Nossa arte é consequência da nossa vida e, nossa vida, um desdobrar da nossa arte, num ciclo. Por enquanto, não tocamos pop, porque acho que o pop ainda não está na nossa realidade como expressão mais presente, mas já estamos pensando no terceiro álbum. Quem sabe…

Nina/Alessandro – A Sara já foi sublime na resposta acima, mas eu queria completar só um pouquinho. A Nina, pra mim, está totalmente vinculada ao que eu acredito enquanto artista. Minha drag vem para potencializar minha voz de artista, criar outras fricções. Eu canto o que me toca e sempre foi assim. Eu quero falar do feminino que me movimenta. Eu cresci escutando muita música, por influência do meu pai. De Dalva de Oliveira, Roberto Carlos, Martinho da Vila, Maria Creuza, Odair José, Nelson Gonçalves, até Elvis Presley, Júlio Iglésias, Cuco Sanches, Amália Rodrigues, Chavela Vargas, Violeta Parra e tantos outros artistas. Meu pai tinha uma coleção gigantesca de LPs. Eu, criança, ficava horas do meu dia perdido entre aqueles discos, entre aquelas descobertas. E é claro que isso moldou meu gosto musical. Meu pai sempre foi o rei do Lado B, do brega, da dor de corno. Eu sempre fui muito eclético nas minhas escolhas musicais, e outra característica minha é que gosto de tudo o que me toca, que me emociona. Quando eu descobri o mundo erudito então foi um mergulho profundo e intenso. Eu chorava ouvindo Callas cantando “É strano!” em “La Traviata”, ou “Que farò senza Euridice”, em “Orfeu e Euridice”. A música abriu a minha percepção para as artes cênicas, além de que a música me acolhia, ouvir as vozes agudas daquelas mulheres me confortava, porque ser uma criança LGBTQIA+  trouxe tantos desconfortos que eu preferia estar sozinho, e os discos eram parte do que me fazia companhia no meu dia. Eu ouvia aquelas estorinhas dos “disquinhos” e ficava fazendo todas as vozes junto com as histórias. Então, eu fui estudar canto erudito, depois dança clássica e teatro. Falei disso tudo porque Sara e Nina são pra mim a junção de tudo isso, de toda a nossa trajetória nas artes até aqui, são muitas camadas. Sara e Nina vem com a potência total do Gabriel e do Alessandro. Entã,  usamos a plataforma drag para falar sobre o que nos movimenta enquanto artistas e enquanto uma pessoa LGBTQIA+ no mundo. E eu encontrei na Nina essa chama original que me fez artista, por isso ela canta.

Moreira – Como foi a escolha do repertório? São todas faixas que ficaram conhecidas em vozes femininas? Tem canções muito emblemáticas da dor de corno, como “Errei sim”, “Segredo”, “Risque” e “Meu mundo caiu”

Nina/Alessandro – Não foi fácil escolher essas doze canções. “Minhas Mulheres Tristes” é mesmo uma grande homenagem a todas essas mulheres fortes e potentes da época do samba-canção. Eu sempre me emocionei muito ouvindo aquelas mulheres cantando as suas dores, confesso que quem primeiro me conquistou, ainda em criança, foi Dalva de Oliveira perguntando, tristíssima, “o que será da minha vida sem o teu amor?” Depois, eu fui cada vez mais me apaixonando por todas essas mulheres, Linda, Dircinha, Aracy, Dolores, Angela, Nora, Marlene, Maysa. E o que me tocava eram os timbres femininos, as dores, a maneira como elas assumiam os erros, as vinganças, os desesperos. Eu me tremia inteiro com cada agudo de cristal de Dalva ou  em cada lamento cheio de graves de mormaço de Maysa. Eu me identificava ali, e isso não tem explicação lógica, eu era criança e chorava com elas. Portanto, esse repertório me acompanha desde a mais tenra idade. Eu sempre que podia queria cantar esse repertório. E quando apareceu a oportunidade de cantar no Semente eu tive a certeza que não seriam meus amados fados de Amália, mas sim todas as mulheres tristes que marcaram minha infância. E já que era o feminino que eu queria cantar nada melhor que deixar Sara e Nina abrilhantarem esse repertório. O que eu não imaginei foi a força que esse repertório criou com elas cantando, as camadas sociais que tocamos ao cantar essas canções. Nos quase um ano e meio que cantamos esse repertório, nós juntamos um material com mais de 120 canções. Esse material ficou guardado quando entramos na fase de separação. Depois que a turbulência passou, nós resolvemos partir para esse disco, e aí pegamos aquela lista de mais de 120 canções para escolher 12. Não foi nada fácil. Chamamos o Pedro Barbosa, que é o nosso parceiro musical desta época e o produtor musical do disco, para iniciar a escolha do repertório do álbum. E conseguimos, escolhemos essas canções tão emblemáticas nas nossas vidas e também no cancioneiro nacional. O que nos guiou foi, primeiro, as músicas que foram mais emblemáticas como é o caso de “Que será?”, “Risque”, “Vingança”, “Meu mundo caiu”, também aquelas que habitavam o lado B dos compactos como “Tudo acabado”, “A grande Verdade”, “Lama” e as que são consideradas obras primas como “Segredo”, “Errei sim” e “Nunca”, aquelas que quase ninguém lembra como “Fracassamos” e a quase desconhecida “Tenho Moral”. Ficamos muito felizes quando conseguimos chegar a esse repertório. Ficaram outras pérolas que ainda queremos gravar como “Fim de Comédia”, Ninguém me ama”, “Ouça”, “Bandeira Branca”, “Décima vez”… e tantas outras. Estou rindo aqui agora, quem sabe no próximo disco que está chegando.

Moreira – Como foi a escolha de trechos da “profundamente depressiva” carta do poeta português Fernando Pessoa a Mário Sá Carneiro para abrir os dois lados do LP?

Sara/Gabriel – Li a referida carta nos tempos da faculdade (fiz Letras) e conheci mais profundamente Fernando Pessoa e Mário Sá Carneiro no curso de Literatura Portuguesa com a professora Teresa Cerdeira. Era uma matéria e uma aula espetaculares ao comando da professora Teresa, uma artista da sala de aula. Conheci Mário Sá Carneiro nessa época e redescobri Pessoa com tamanho encantamento e desvelamento que nas palavras escritas encontrava um pouco da minha vida. Aceitar a tristeza, as dores, os traumas e vivê-los em vida é deixar morrer o medo de não ser perfeito, é abrir mão do controle e do ideal de vida feliz que pintam. A vida é todas as partes que a compõem, inclusive dor, perda, descontrole, morte. Aquilo que taxamos de ruim e negativo é uma das faces do que chamamos de vida. Viver é permitir que as faces dessa esfera sejam todas reais, presentes. Enquanto um lado está iluminado, o outro sombrio, mas existe, está ali. E é preciso cuidar do todo, viver o todo, para não morrer em vida, que é a pior morte, ser não sendo.

Moreira – Vamos falar de sofrimento e música. Hoje existe uma tendência de valorização de músicas “pra cima”, aceleradas, ou ainda há espaço para o sofrimento, tão valorizado nas canções do nosso sertanejo, a nova sofrência, e também na cultura emo? Eu sou um emo tardio e, em 2023, amei as bandas nacionais Fresno, Supercombo, Scalene, Dead Fish, Obey!… O emocore me ensinou que sofrer pode ser bem bonito e melódico… 

Nina/Alessandro – Eu nasci ouvindo músicas que trazem lágrimas aos olhos, seja de tristeza, melancolia ou de extrema alegria. Durante um tempo do início da minha vida adulta e artística, eu morei em Portugal e aprendi o fado por lá. Entendi, com eles, os portugueses, que cantar as tristezas, falar delas, cura. Então eu vejo que a sofrência, a música de corno, a música de fossa, cura. Falar sobre o que te faz sofrer, falar sobre suas dores, sobre o que te magoa, cura. Quando Dalva gritava “errei sim!”,  ela estava se curando e chamando a população para partilhar as dores e as curas com ela.  E a população sabe disso, temos certeza disso ao ver o sucesso estrondoso que Marília Mendonça foi e continua a ser. Vemos isso também nos sucessos eternos de Roberto Carlos, que continuam comovendo as pessoas por aí, principalmente quando Bethânia inventa de canta-los. A tristeza, assim como a alegria, faz parte da nossa natureza, e não tem como fugir, mesmo que você grite pelo mundo “é melhor ser alegre que ser triste” (sabemos que é, ou não) mas isso não faz a tristeza sumir, não dá pra ser alegre sem ser triste. E, de alguma forma, as pessoas sempre encontram onde curar suas dores, onde se identificam, em qual estilo musical. Mas a música triste vai sempre estar aí, e as pessoas sempre vão ouvir, nem que seja em casa escondidinho, com fones de ouvido e chorando na mesa da cozinha. Acredito que essa tendência a valorar mais a música pra cima está muito mais vinculada ao mercado, ao que se estipula como o que se deve consumir agora. Mas até mesmo a música pra cima pode ser triste. Vou contar um história rapidinha aqui, tenho um amigo que não gosta nada quando eu escuto fado, ele acha muito pra baixo, triste. Aí eu falei: põe então uma música pra animar, ele colocou um pagode, que eu adoro, mas tristíssimo, chamado “Velocidade da luz”. Quer dizer…. Eu apenas morri de rir.

Moreira – A cultura drag ganhou imenso interesse com o sucesso da corrida da RuPaul, que agora tem franquias em diversos países, inclusive no Brasil. O programa já tem 15 anos de sucesso e vem mostrando pioneirismo em aceitar novas formas de se fazer drag, abraçando pessoas trans, mulheres cis e até mesmo homens hétero que fazem drag. Qual a importância da cultura drag para a humanidade?

Sara/Gabriel – Há uma máxima muito interessante popularizada através da voz de RuPaul que diz “nós nascemos nus, o resto é drag. E acredito que essa fala representa a importância tão grande e profunda da arte drag porque lembra de algo que é muito dito por aí de forma irresponsável e banal quando o assunto é preconceito. Muita gente que se diz aliada, que se diz sem preconceitos, que prolifera um discurso progressista e liberal, costuma repetir “por baixo da pele, todo mundo é de carne e osso, feito das mesmas coisas, somos todos iguais e merecemos o mesmo respeito.” Mas essas mesmas pessoas, com esse discurso aparentemente “bom”, são as que dizem “mas precisa fazer aos olhos de todos?”, “não acho que precisa trocar carinho em público”, “pra que esse negócio de colocar homem beijando homem na novela?” Falas que parecem tão inofensivas aos olhos de quem as profere, são uma forma de esconder a realidade: eles são a norma e para nós sermos aceitos precisamos ser invisíveis aos critérios de reprovação deles, caso contrário não nos toleram e os problemáticos somos nós. Com esse tipo de discurso “aparentemente inofensivo”, muitos de nós não conseguimos nunca chegar a sermos quem se é, o destino se torna apenas a solidão, a dor, a tragédia, e para tantos, a morte. E a verdade é que o que nós somos, todos nós, é drag, é performance. Nascemos nus, o restante é drag. A diferença é que existe um padrão hétero cisgenero e branco que acredita ser a referência. O restante é divergente, dissidente e precisa se curvar e adaptar. Mas hétero, cis, branco é uma das possibilidades de corpo político/social, que precisa se reconhecer e ser visto como tal: uma possibilidade. Não uma regra. Para que exista, de fato, igualdade, é preciso equalizar os fatos. Nascemos todos nus, o resto é drag.

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Abaixa que é tiro!💥🔫

Fotos da coletiva da Sepultura e da Ludmilla por Stephan Solon

Duas importantes turnês nacionais da produtora 30e passam por Jufas este ano: a tour de despedida do Sepultura, “Celebrating life through death”, em 2 de março, às 21h, no estacionamento do Cultural, e Ludmilla in the house tour”, que encerra a campanha nacional em 31 de agosto, às 22h, no estacionamento do Estádio Municipal Mário Helênio. 

No ano quando completa 40 anos de estrada, a Sepultura dá adeus aos palcos em uma turnê global que vai virar um álbum com 40 músicas. O grupo, atualmente, é formado por Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocal), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Jr (baixo) e colocou o rock brasileiro no mapa mundial da música com shows em 80 países. O primeiro momento da tour tem oito datas no Brasil e, além de Juiz de Fora, passa por Belo Horizonte e Uberlândia (MG), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e São Paulo (SP). Novas datas serão anunciadas em breve, com passagens pela América Latina e pelos Estados Unidos.

“Estamos felizes e muito agradecidos com tudo que aconteceu na nossa história, fizemos grandes álbuns e shows, cultivamos amizades, conhecemos nossos ídolos, ajudamos a colocar o metal brasileiro no mapa mundial e, agora, deixamos a cena com o sentimento de dever cumprido”, afirma comunicado da banda.

“Sexy Ludmilla” 🎵 comemora uma década de carreira como a rainha das canetadas, uma compositora de mão cheia e profícua que coloca um desafeto pop em seu lugar em “Rainha da favela”. “Foca no meu bumbum” 🎵. Serão 19 arenas pelo Brasil, com “estrutura imponente”, avisa o release, para honrar a primeira artista negra da América Latina a ultrapassar a marca de três bilhões de reproduções. A tour ainda passa por Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Belém, Manaus, Fortaleza, Natal, Teresina, São Luís, Recife, Salvador, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Aracaju, Porto Alegre e Curitiba.

Assisti a um show da Ludmilla em 2015, no festival Back2Black, na Cidade das Artes, no Rio, quando ela tocou em um palco menor na noite do show do belga Stromae, bem pertinho do público, no chão, uma festa real. A mulher é uma máquina, canta e dança pra caramba, uma presença, ar-tis-ta, a gata amassa. Toma, “só socadona” 🎵. Além disso, são notáveis seus feitos pela comunidade LGBTQIA+, “eu por baixo, tu por cima”, levando a pauta para as famílias.  Não podem ficar fora do setlist as minhas favoritas “Pra te machucar”, feat com Major Lazer e os amados da ÀTTØØXXÁ, “Sou má”, com as irmãs Tasha & Tracie, e “Verdinha”, que a diva, além de tudo, é pró-legalização. “Ludmilla in the house, caraleo” 🎵.

Assisti a um show da Ludmilla em 2015, no festival Back2Black, na Cidade das Artes, no Rio, quando ela tocou em um palco menor na noite do show do belga Stromae, bem pertinho do público, no chão, uma festa real. A mulher é uma máquina, canta e dança pra caramba, uma presença, ar-tis-ta, a gata amassa. Toma, “só socadona” 🎵. Além disso, são notáveis seus feitos pela comunidade LGBTQIA+, “eu por baixo, tu por cima”, levando a pauta para as famílias.  Não podem ficar fora do setlist as minhas favoritas “Pra te machucar”, feat com Major Lazer e os amados da ÀTTØØXXÁ, “Sou má”, com as irmãs Tasha & Tracie, e “Verdinha”, que a diva, além de tudo, é pró-legalização. “Ludmilla in the house, caraleo” 🎵.

A produtora 30e assinou as recentes turnês de Paul McCartney, Kendrick Lamar, Slipknot, Gorillaz, The Killers, Roger Waters, Bring Me The Horizon, Titãs Encontro, NX Zero, Jão e Ivete Sangal e festivais MITA, Knotfest Brasil e GPWeek.

A agenda local está bem fraca essa semana, mas deixo a dica: todas as segundas-feiras de janeiro, a dupla Nara Pinheiro e Márcio Guelber se apresenta no Brasador, às 19h.

Se não puder executar “De Norte a Sul” à exaustão, melhor não dar o primeiro play no último trabalho do rei do piseiro e do forró, o pernambucano João Gomes, artista indicado ao Grammy Latino. Minha porta de entrada para o álbum foi a boa versão de “Piloto”, de Flora Matos, que comecei ouvindo no repeat. Depois, incluí no repeteco-chiclete “Mais ninguém”, de Mallu Magalhães, “Minha felicidade”, de Roberta Campos, o clássico dos Fevers “Vem me ajudar”, “Maresia”, de Rachel Reis, e “Andressa”, de Delacruz. Com tantas favoritas, tive que me entregar ao álbum inteiro, delicioso, que não saiu dos meus fones no final de 2014 e já tinha aparecido na última playlist da Sexta Sei do ano passado. O álbum, além das boas versões, traz seis faixas inéditas, como “Leão do dia”, que ganhou clipe, numa fusão envolvente de novidade e nostalgia. O clipe mostra o artista em suas lutas diárias,viajando pelo país, “de Sul a Norte”, esbanjando simpatia e humildade. 

Não à toa, a cantora afinadíssima Mãeana, que já sextou por aqui, está em cartaz com o show Mãeana canta JG, “uma mistura dos repertórios de João Gilberto e João Gomes, unidos pela sofrência e pelo bolero escondido nos ritmos envolventes da bossa nova e do piseiro, chamamos de pisa-nova o que acontece toda segunda na Casa da Mãe, em Salvador”, me contou, por e-mail. Dá para ter um gostinho das delícias aqui, aqui e aqui. Ela e João dividem “Meu pedaço de pecado”.

Foto de Carol Curti

Rico Dalasam tem o dom de compor as mais belas canções brasileiras de amor da atualidade. Na minha playlist apaixonada, estão “Tarde D+”, do EP “Fim das Tentativas” (2022), “Braile” e a belíssima “Estrangeiro” (essa eu espanquei), ambas do álbum “Dolores Dala Guardião do Alívio” (2021). Em dezembro, depois de muito protestar contra os canais de streaming enrolar e disponibilizar o álbum para os fãs, via whatsapp, ele lançou Escuro brilhante, último dia no Orfanato Tia Guga (EBUDNOTG)”, do qual escolhi “Imã” para minha discoteca Dala do amor. “Todas as vezes que adiei o lançamento desse disco, estive na procura do exercício abissal, o evento canônico dessa narrativa. Foi quando me dei conta que a dualidade, que sempre acompanha minha obra, dessa vez quer se mostrar do amor à orfandade

Se eu quisesse dar um passo nas coisas do amor, eu preciso voltar para me buscar no orfanato da minha história”, compartilha Rico, se levando pelo braço, como declama na abertura. Segundo a divulgação, essa é a fase mais astral e pop do artista, que confirma sua veia de compositor, mestre das palavras, poeta. O amor das letras é embalado pelas produções contemporâneas de Dinho Souza e Mahal Pita, da ÀTTØØXXÁ. O disco traz ainda as participações de duas importantes cantoras negras brasileiras: Liniker, em “Quebrados”, e Eliana Pittman, em “Vicioso”, com sample de “Nem Saudade”, canção que ficou conhecida na voz da cantora na década de 1970.

O duo Cyberkills

Quem acompanha aqui a Sexta Sei sabe que eu sou muito lianer, fã do duo música eletrônica NoPorn, um dos poucos personagens a sextar duas vezes, aqui e aqui, nos lançamentos dos álbuns “Contradança” e “SIM”, ambos da nova era do retorno de Liana Padilha, agora com Lucas Freire. Para celebrar os 20 anos sob a luz strobo, chegou ao streaming “Adoro DJs”,  coletânea inédita de remixes com curadoria de Dimas Henkes, lançamento de estreia do selo Perfecto Estado. O álbum de remixes conta com 20 artistas que recontam a história da música eletrônica brasileira. Entre os destaques, estão BADSISTA, que já sextou aqui,  que dá novas cores ao grande clássico “Baile de Peruas”, e a dupla paulistana Cyberkills em “Geleia de morango”. O projeto, com linda capa de Luccas Morais (LadyLetal), ainda traz remixes de Andrea Gram, Gabto, DUPLA 02, DJ BASSAN, Rico Jorge, Andrea Gram, Baroque Angel, Cassius A., Entropia-Entalpia, FKOFF1963, Alírio, Guza & Mari Herzer e Las Bibas From Vizcaya. As sonoridades passeiam por ballroom, baile funk, disco music, house music, drum’n’bass, electro e techno.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023,  2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Bad Bunny, Manu Gavassi, DPR IAN, 6lack, Ajuliacosta, Gutto + Dj Caique, Froid + Santzu + Hate Rct,  Usher + H.E.R, Carol Biazin + Marina Sena + Vulgo FK, Kiko Dinucci, Nigy Boy, Mary Timony,  Colouring, Hotelo, Hess is more, Jeong Sewoon e Milky Chance.

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