Sexta Sei: Esqueça tudo: Barro traz a síntese das sonoridades contemporâneas em “Língua”

Após seis anos desde o último álbum de inéditas, artista pernambucano lança seu terceiro disco, com participações de Rachel Reis, Chico César, Fran Gil e Marley No Beat

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Capa com ilustração de Pedro Vinício e foto Flora Negri

O pernambucano Barro, 39 anos, lança o seu terceiro álbum, “Língua”,  com uma bela síntese dançante das sonoridades contemporâneas, com pagodão e amapiano e as  panelinhas do brega funk, o reggae-xote, pra dançar juntinho, como se faz no Nordeste, e o funk com Maculelê. Batemos um papo sobre o trabalho, que tem participações de Rachel Reis, Chico César, Fran Gil e Marley No Beat. Falamos sobre o belo encontro de vozes soprosas com Fran, um dos áudios mais gostosos de ouvir, da parceria com a “sereiona” Rachel Reis, de quem ele produziu o álbum “Meu Esquema”, do estúdio que tem com Jáder em Recife, o Zelo, da incursão que fez no brega funk com Marley no Beat. ““Língua” tem uma abordagem muito forte do violão, que é a minha coisa mais íntima, em contato com a percussão e as claves da música brasileira. Originalmente, esse disco se chamaria “Matriz”, pensando nas matrizes musicais brasileiras. E esse nome foi deixado para trás no processo, mas ficou essa vontade de trabalhar com ritmos que fossem brasileiros, latino-americanos”, me contou.

Moreira – A faixa com Fran ficou muito boa, tanto que abre esse “Língua”. Como foi a troca com ele? Adoro os áudios da entrevista dele aqui na Sexta Sei, que voz… Outras vocês bonitas de ouvir em áudio são Assucena, Deize Tigrona, Larinhx, Clarice Falcão… Gosto da musicalidade dele, algo que se vê no álbum gravado com o Chico Chico. Um menino especial.

Barro – O Fran é um cara muito especial! O trabalho dele solo, “Raiz”, me encantou muito e ouvi muito esse disco em janeiro de 2020, foi um álbum que me pegou e eu achei também um disco que tinha a ver com o tipo de sonoridade que eu estava ouvindo, o tipo que eu buscava, o tipo de abordagem musical, enfim, passei a acompanhá-lo a partir daí. No meio da pandemia, alguns amigos em comum terminaram nos conectando. E aí, ele foi, mandou uma mensagem pra mim um dia, depois de a gente ter se falado, dizendo que estava ouvindo o meu disco, que uma namorada na época mostrou pra ele e estavam ouvindo, ele tava comentando as coisas das faixas e o som e tal, e aí a gente começou a se conectar e nos vimos no dia 2 de fevereiro. lá em Salvador, fazendo participações no show de Illy. Eu falei com ele do meu disco novo e ele falou: “me chama! Vamos participar! Vamos fazer!”. Chamei ele pra fazer algo junto e aí foi essa parceria, “Temporal”, que é uma música que eu quis trazer Fran também para o universo de sonoridade mais latina, tem muito da aura dele, e eu acho interessante porque nós dois temos vozes muito soprosas, então é um dueto que os timbres são próximos, é um toque de bola entre dois cantores que vai passando bem de uma forma suave, leve, e foi muito legal compor e gravar com ele. É uma das vozes mais bonitas, eu acho, da música brasileira nova que vem surgindo. Tem um jeito de cantar muito particular. E já fez muita coisa com Gilsons, com Chico Chico. Enfim, fiquei feliz de fazer parte desse leque de possibilidades de Fran.

Moreira – Outra participação do álbum é a baiana Rachel Reis, que teve seu álbum,  “Meu Esquema”, produzido por você, inclusive indicado ao Grammy, nê? Como é trabalhar com ela? Ela sempre imprime muita sensualidade, né, algo contagiante…

Barro – Eu e Rachel temos uma história muito interessante, porque a gente se conectou no início do trabalho dela. Falamos pela internet, ela falou que tinha uma música, e ela foi para Recife gravar comigo “Ventilador” e Sossego, que são os dois primeiros singles dela. E depois ela foi fazer um EP, o “Encosta”, com a galera de Salvador e, no álbum dela, retomamos a nossa parceria. E Rachel é muito incrível, ela é uma virtuosa da melodia, virtuosa da letra, e ela tem uma sagacidade incrível como compositora. Também tem uma voz muito bonita e encantadora, né? Daí que veio o apelido Sereiona. A gente já compôs algumas músicas pontualmente, mas eu queria muito coroar a minha parceria com ela no disco, e aí “Deixe Acender” foi esse encontro. E é uma música bem costurada, tem o meu violão, tem essa levada meio a amapiano, tem os timbres das panelinhas do brega funk, e eu trouxe Juliano Holanda também na poética, pra fazer a letra com a gente, então tem um universo bem comum desse meio grupo de Recife, Guilherme Assis, Juliano Holanda e Rachel Reis, que também toca com Guilherme, que produzimos juntos o “Meu Esquema”. E eu acho que coroou muito, né? Nossa união, nossa parceria, e pela primeira vez cantando junto com ela, e eu gosto muito também da união das nossas vozes.

Moreira – Marley no Beat é um nome pra se prestar atenção, né, adoro a versão dele no “DEB RMX” da Juçara Marçal e também no remix de “Murro na Costela”, para A Travestis. Ele é uma estrela do brega funk, acredito que a primeira manifestação do funk fora do Sudeste. Ah, e me conta como foi trabalhar com Jáder, batizado por mim de “a nova suprema do forró”, somos amigos virtuais… Adoro acompanhar a música e a expressão da viadagem, risos.

Barro – “Me ter” é uma faixa pra mim muito significativa, porque Jader é um parceiro, eu produzi junto com o Guilherme Assis o primeiro disco dele, tô fazendo mais coisa. Mas também deJar é sócio no estúdio que a gente tem em Recife, no Zelo, que é o Zelo onde a gente trabalha assim. Então somos parceiros da vida para além e já compusemos músicas juntos. E aí eu falei: “Jader, vamos fazer uma no meu disco”, chamei Marley, então acho que não tem nada a ver com o trabalho de Marley nem com o trabalho de Jader. Foi uma coisa dessa união mesmo pra gente fazer. Eu adoro essa música. Marley foi um cara extremamente importante pra mim, um irmão, um amigo, a gente se fala toda semana. Foi um cara que me abriu muito as portas para entrar dentro do universo do brega funk, conhecer como as coisas funcionam, entender esse gênero que eu já era muito fã, mas que eu pude ter uma visão mais aproximada, foi a partir dele e TomBC que eu pude conhecer a Tropa, Shevchenko e Elloco, lançar um single com eles e, enfim, participar desse universo mesmo, que eu adoro. Então, são duas figuras muito importantes pra mim, Jader e Marley e foi fantástico ter a parceria deles como autores nessa faixa, e Marley produzindo junto comigo e com o Guilherme essa faixa especificamente.

Moreira – O “Vira-lata Caramelo” é do reggaezinho? Ficou muita boa essa brincadeira com o ritmo, gravada com o ícone paraibano Chico César.  Além do reggae, da rumba com Fran, quais são as sonoridades presentes em “Língua”, o que você quis explorar nesse volume?

Barro –  “Vira-lata caramelo”, pra mim, é um reggae-xote, um reggae muito nordestino, que você poderia dançar com alguém como se fosse um forró. E é assim que a gadançlera a no Maranhão, então, na minha cabeça, “Vira-lata caramelo” é um reggae maranhense. E junto nessa sonoridade, trouxemos os sons que a gente curte. Na minha cabeça é como se fosse esse reggae maranhense com Gorillaz, que tem sintetizadores bonitos que eu curto muito. Essa faixa veio nessa história do meme, mas o meu disco, “Língua”, tem uma abordagem muito forte do violão, que é a minha coisa mais íntima, em contato com a percussão brasileira e com as claves da música brasileira. Originalmente esse disco se chamaria “Matriz”, pensando nas matrizes musicais brasileiras. E esse nome foi deixado para trás no processo, mas ficou essa vontade de trabalhar com ritmos que fossem brasileiros, latino-americanos. Então, além dessas que tu já citou, tem samba “Me Terr”, que é um funk com Maculelê, “Esqueça tudo” é um pagodão com brega funk. E entendendo que essa claves são ancestrais, mas também são claves urbanas, que se regeneram, se recriam nas nossas cidades.

Moreira – Mas que coisa mais genial a ideia de fazer a parte visual com o Pedro Vinicio, que é um gênio da nossa era e representa, como ninguém, o nosso viralatismo sulamericano, o nosso senso de derrota e o cringe universal. Taí um cara que sacou nosso zeitgeist. Ele também é pernambucano, né, de Garanhuns? Os pernambucanos estão sempre “um passo à frente”

Barro – Meu irmão, não elogie Pernambucano, a galera já tem um ego bastante inflado! Mas, nesse álbum, eu tive a sorte de ter a presença de Autran e Mateus Alves fazendo a direção artística criativa, então, foi muito legal. Mateus também é de Garanhuns e já vinha desenvolvendo um trabalho com Pedro Vinício em algumas ações, e aí trouxe Pedro Vinício para perto. A gente sabe que ele tem um trabalho incrível na internet, isso é incontestável, aos 17 anos já é uma sumidade, mas queríamos também trazer outras coisas que ele mostrou pra gente e que curtimos muito. Então, fomos desenvolvendo essas carinhas e rostos, e misturando com a arte mais cinematográfica nos clipes, e no projeto final da capa do “Língua”, teve esse auxílio de Flora Negri, que fez a foto junto com as ilustrações dele, e Luiz Ferr, que fez a direção de arte dessas fotos. Então foi uma junção de tudo, e Pedro Vinicio virou um amigão, um cara incrível, e que conseguiu também trazer toda uma ideia de memes para também trabalhar em “Vira-lata-caramelo”, que resultou num visualizer que a gente fez montando esses postes e animando.

Abaixa que é tiro!💥🔫

E o que vai ser mais bonito, romântico, profundo e rebelde do que  “Erasmo Esteves”, álbum com composições inéditas de Erasmo Carlos nas vozes de novos nomes da MPB, como Tim Bernardes, Xênia França, Rubel e Emicida, que participam juntos na faixa “Tijuca Maluca”, Chico Chico, Gaby Amarantos, Sebastião Reis, Jota.pê, Marina Sena, Russo Passapusso e Teago Oliveira, que acaba de sair pela Som Livre. As minhas favoritas são as interpretações de Chico Chico, Tim Bernardes e Russo Passapusso, que destaco aqui nas playlists das duas últimas semanas. O álbum, que tem produção de Pupillo e Marcus Preto, tem participação, na concepção, de Léo Esteves, filho do “higante gentil”que também participou da elaboração de  “O futuro pertence à… Jovem Guarda” (2022), ganhador do Grammy Latino. O álbum traz também uma forte pesquisa visual, realizada por Leo Esteves, e conta com uma série de cadernos, manuscritos, poemas, bilhetes de amor, rascunhos e anotações pessoais de Erasmo. “Erasmo Esteves”, a canção-título, é derivada de um texto autobiográfico do próprio Erasmo, “Tijuca Maluca”. Nela, o autor narra sua fase de formação como homem e artista, na infância e adolescência na Zona Norte do Rio. Chique demais.

Fotos de Pedro Miceli

Eu já tinha avisado aqui que o grupo vocal Os Garotin são musicais e líricos ao extremo. Depois de gravarem com Caetano Veloso a bela “Nossa Resenha” e lançarem o EP “Live Session”, eles botaram no mundo, essa semana, o excelente “Os Garotin de São Gonçalo”, inspirados pelos groove e swing nos antigos bailes black, navegando por ritmos como soul music, MPB e R&B. Anchietx, Leo Guima e Cupertino abraçam o público em melodias que alternam entre o enérgico e o suave para dar um toque sensual e romântico ao novo trabalho. O álbum vem, acompanhado do videoclipe da faixa de trabalho Calor do Momento. O álbum tem produção de Julio Raposo.

Black Pantera por @marcoshermes

O mais bacana da banda mineira Black Pantera, além do som, é a militância política quanto à questão racial e ainda a enorme humanidade que transparece em seus integrantes, especialmente os irmãos Chaene e Charles, que homenageiam a mãe, Dona Guiomar, com “Tradução”, segundo single divulgado de “Perpétuo”, quarto álbum da banda, que tá vindo aí. Contrariando a máxima de que “punk que é punk, lava a mãe no tanque”, eles aparecem com uma pegada mais leve do usual, que é de crossover thrash antirracista. O single fala da mãe dos irmãos e se estende a todas as mães e pessoas que fazem papel de mãe, sem perder de vista a perspectiva racial. “Hoje, adulto, entendo melhor como o racismo estrutural afetou a vida dela”, conta Chaene, autor da faixa.

Dona Guiomar e Chaene

“Minha mãe tem hora pra chegar / mas não tem hora pra sair / mesmo sem força, sai pra trabalhar / tem um sorriso impossível de extinguir / mãe, me  perdoa  ter entendido meio tarde demais / que  nossas vidas pra esses cu sempre foi tanto faz / até quem eu achava que gostava de noix/ um dia também  virou as costas”, diz a letra, que cita verso  de Mano Brown em “ratatatá, preciso evitar / que algum safado ou sistema façam a minha mãe  chorar /já dizia o poeta do Capão Redondo/ antes mesmo que eu pensasse em estar compondo”, cita a letra.A banda já lançou “Perpétuo”, que incorpora influências da música latina. e passou aqui pelas playlists sextantes A banda fez um dos melhores show que já vi na vida, ano passado, no evento ∂ia de Rock, na Praça da Estação, e deu, antes, boa entrevista aqui pra esse Moreira.

MC Drizzy na Batalha do Bandeirantes
Karol G em foto de Leo Arguello
Turnover
Lagum
Zé Ramajho em foto de Leo Aversa
Julio Secchin

“Nery, para sempre Ismaelíssimo”, é o nome de breve e nova exposição em cartaz no nosso Museu de Arte Murilo Mendes da Universidade Federal de Juiz de Fora (MAMM/UFJF). grande amigo do poeta, com textos de Mendes sobre Nery, além de retrato feito por Guignard, livros e objetos do acervo do museu. De espírito visionário e místico, Ismael conheceu Murilo em 1921, quando o poeta se mudou para o Rio. A solenidade de abertura da exposição acontecerá na quarta-feira (15), às 19h, no auditório do MAMM.com distribuição do livro “Murilo Mendes e Ismael Nery: reflexos”, das pesquisadoras Leila Barbosa e Marisa Timponi, de quem fui monitor na UFJF.

Rap é compromisso, e a Batalha do Bandeirantes faz edição solidária, recolhendo alimentos não-perecíveis e  para o Rio Grande do Sul na Liga do Trap, sexta, às 19h30, com o MC Drizzy, de BH.

cantora e compositora colombiana Karol G faz show daMañana será bonito tour”, sexta (10), às 16h, no Centro Esportivo Tietê, em São Paulo.

A banda de indie rock estadounidense Turnover faz show gratuito nesta sexta, às 20h, em BH, com abertura de Jasmin Godoy, que sextou aqui com seu álbum de estreia, “Show me the Way”.

Ruan Lustosa recebe o DJ Muller na festa Get it on, sexta (10), às 21h, no Maquinaria.

A multi-instrumentista americana Deanna Bogart apresenta sua fusão de boogie-woogie, blues. country e jazz, o “blusio”, com a banda Big Joe Manfra, sexta (10), às 20h,  na Versus.

Os mineiros do Lagum fazem show na sexta (10), às 22h, no Cultural.

Zé Ramalho faz show sexta (10), às 23h, no Terrazzo.

No sábado (12), às 14h, no Museu Ferroviario, estreia o projeto “Me libera”, com os DJs Crraudio, Amanda Fie e Juli e mini ball.

Alexandre Pereira e o Samba do Galo fazem show, sábado (11), às 15h, no Garimpasso do Tenetehara.

No sábado (11), às 21h30, tem Bang! no Beco, com Gramboy e Baixa Santo Soundsystem.

O cantor e compositor carioca Julio Secchin faz show de se segundo álbum, “Erupçando”, no Teatro Rival Petrobras, no sábado (11), às 20h.

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Instrumental – Cidade da Música de São João Nepomuceno, até 15 de maio, que distribuirá R$ 20 mil a instrumentaistas e grupos.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023,  2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com SOFI TUKKER, Purple Disco Machine + Benjamin Ingrosso + Shenseea + Nile Rodgers, Érica, Anitta, Nego Max + Rincon Sapiência + DropAllien, ¥$ + Ye + Ty Dolla $ign + North West, WILLOW, Icaro, Dolly Parton, Todrick Hall, Siamese, Trinity the Tuck + Jujubee, Pitty, Fireboy DML Shay + Bad Gyal, GRITTO + Jay-Gueto + Gau Beats, Farma G + Wish Master + Sonnyjim, Tropa do Bruxo + DXA + DJ Rei de Roma – Smu, Mc JF. Arthur Melo, Aline Paes e Paira

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