Fotinha da Vacina

por: Marizótica

Minha mãe ficou emputecida por que eu não compartilhei a foto dela vacinando. E realmente, se não rolou emoção em ver seus familiares e amigos vacinando, não é amor de verdade. Se não postou a fotinha do seu ente querido vacinando, merece no mínimo uma semana de silêncio. Então, pra evitar isso eu acabei postando e entrando pro movimento Vacinada&Emocionada.

A fotinha: olhos aguados, cartaz forabozo na mão e seringa no braço.

A gente já presenciou vários movimentos nas redes, mas o movimento da fotinha da vacina com certeza é um dos mais legítimos. Gosto muito. Está sendo um dos melhores usos das redes sociais dos últimos tempos. Fico me perguntando se as pessoas que continuam presas naquele limbo -como eu- gostam desses flashes de realidade. Raras fotos saem bonitas, é difícil posar com a seringa no braço e sem tempo para não atrapalhar a fila. Mas a emoção real, o momento é real e, depois de tanta espera e ansiedade, nós conseguimos acessar com clareza o sentimento. Não tem espaço pra ranço nem cringe.

A fotinha da vacina é um ótimo momento para você se mostrar presente no feed alheio e começar uma conversa com aquela pessoa que nunca teve assunto pra puxar. São muitas as opções: saber qual vacina foi, fazer um comparativo das reações, contar casos que ouviu, falar mal de quem não quer vacinar, perguntar se pegou fila ou se acha que tem um melhor horário para ir no postinho… Sem contar que daria uma ótima história de velhice: “Conheci Sicrana porque vi a fotinha dela montada de jacaré tomando a vacina e não aguentei, fui puxar assunto.”

Aliás, uma ótima maneira de fazer novas amizades é simplesmente pesquisar hashtags como: #vacinei ou #vacineicovid19 e sair dando surra de likes. Só coisa boa pode sair daí, já que é um bom começo para evitar começar novos laços com negacionistas e já parte de um forte princípio de mutualidade.

Eu, postadora compulsiva que sou, fiz meu registro antes, durante e depois. Ficou incrível. Garanto uma nota 10 no trabalho escolar dos filhos que não vou ter. Também escrevi um relato sobre minha emoção do dia para adiantar o trabalho da criança, porque eu sou esse tipo de mãe imaginária. Aliás, pretendo me infiltrar em uma escola para roubar um desses cartazes que com certeza vai fazer parte do futuro escolar. Vou emoldurar e chamar de arte contemporânea.

Mas é isso, você entende? De todas as fotos que temos tirado, a da vacina é uma das poucas que realmente tem um significado, é a construção de uma memória coletiva. E é tão grande que não importa a qualidade da iluminação e do look. É sobre marcar sua presença -nem que seja virtual- nesse movimento e deixar bem claro, de que time você pertence nesse jogo da vida. Nosso embate não é contra a Covid. Vírus, não tem ideologia e opinião, não é algo a ser contra, é algo que tomamos medidas para controlar e nos protegermos para que não estejamos à mercê de suas consequências devastadoras. O nosso embate é contra os que acham que a vacina é uma escolha individual, feita baseada em opinião e crença. A saúde pública é uma responsabilidade coletiva e se conseguimos uma vacina em tempo recorde foi graças ao esforço de muitos profissionais. Quem se opõe à vacina tem uma postura homicida, é isso que combatemos quando reivindicamos o acesso à educação de qualidade e brigamos pela preservação do SUS. Não é escolha, é necessidade.

Então vamo sim floodar as redes com muita fotinha de vacina, textão emocionante, montação e #vivasus. Quando algo assim é conquistado, o mínimo que fazemos é compartilhar.

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