Bang! Toncali

Do punk/hardcore as produções de Grime! Toncali lança ep pelo selo Club Yeke de Londres!

por Josimar Freire

Qual foi o começo do interesse pela música? Primeiro veio o Hardcore ou o skate? 

Como apreciador a música veio desde cedo, ouvia muito rádio, desde minha mãe trampando e ouvindo rádio AM, até algumas fitas que meu pai tinha, dava aquela ouvida e sempre tinha uns sons que batia aquela parada diferente, bem orgânico.

No meio do caminho entra o house, o rap, o rock mais pesado, mas sem ter aquela parada de rótulo. O som que batia, batia, não tinha essa, muita coisa eu ouvia e nem sabia o estilo, só pirava nos sons e ouvia de novo.

Sobre a relação skate e hardcore, o skate veio primeiro, foi foda, parada de escola, com os muleques do Magalhães em Santa Luzia. Mas o skate que abriu o portal pra conhecer outras paradas e abriu mais a mente.

Pode crer! Isso era 99, 2000? Qual era o bonde nessa época?

Sim mano, por aí… o primeiro bonde do skate foi o Felipinho, o Samuel ali do 25, tinha o irmão dele que também andava, o Francisquinho, eu meio que acompanhava ali a parada, me veio à cabeça o Esquerdinha também, que era mais chegado dos mlk e andava na normal.

Mas é louco que eu lembro do meu primeiro skate, umas roda vermelha grande, com bilha, rs; um shape meio old school que nem lembro a marca. 

Mas no skate foi onde começou mesmo, depois colou uma outra galera e tal, da rua, da escola também…

Da hora! E como foi que começou o lance com banda?

Cara, a banda veio em 2001, 2002. Comecei com os mlk da escola também, com a primeira rapa do skate, já era pra eu ter tocado bateria, mas não me interessei, os mlk tava evoluindo pesado no rock, rs. Mas aí rolou nessa fase aí mesmo, com Leitim, Luís e Victor.

Todo mundo dava umas remadas, só o Luis que não, dai foi o começo do fim, compramos uma batera, fomos pra garagem do Leitim, e começamos a aprender tudo junto mesmo.

Pra mim vocês foram os primeiros aqui com essa influência do hard core mais rápido. Como veio essa influência e como vocês conheciam os sons?

Foi uma parada de uma coisa levando a outra, a gente ouvia umas bandas mais conhecidas, tipo CPM, Charlie Brown, Dead Fish, e depois vieram Ratos, Presto?, Mukeka, umas paradas bem mais rápidas.

Em Jufas sempre tiveram muitas bandas melódicas né, que nasceram ali um pouco antes de nós, de rock, mas também tinham as bandas punk mesmo, tipo o Fobia, do Biquinho, irmão do Luis.

E junto com o Spike veio o lance de organizar os shows?

Sim, mas foi uma parada juntos com os mlk do Rotten (CxExM), Xurume do Capetão, Leitim metia as cara também! Dependia muito, cada show tinha uma rapa envolvida, mas eu mesmo participei de algumas coisas na organização, mas tinha bastante gente, e dependendo do show, sem contar a galera que eu não andava mas era bem ativa também nas organizações. Rolou muita coisa foda em JF com quase recurso nenhum.

Acho que aqui foi a única cidade que tocava Summer Eletro Hits no intervalo dos shows de Hard Core, rs. Você teve participação nisso?

Eu acho que nisso eu tive participação direta,rs. Se bobear esse CD era meu mesmo, devo ter pegado ele de alguém ou achei na rua. Mas é um tipo de som que sempre curti também, de mlk sempre gravei minhas fitinhas com uns sets nas rádios à noite rs.

Trenzinho, camisas rodando e os carae, rs.

Foi foda né, rs. hahahahaha Carnaval do hardcore, acho foda porque isso meio que ajuda a dar uma descontraída no role e tal.

Nessa época você já se ligava no jungles, Drum and Bass? Lembro de você aplicar quando voltou a morar ae em SP.

Não, provavelmente eu devo ter ouvido algum som ou outro, mas ter sacado o Drum and Bass de gostar mesmo e começar a acompanhar, foi depois de 2005, 2006.

Mas depois fui entendendo que várias coisas que ouvia de som eletrônico, mesmo não sabendo o que era, de certa forma estava ligado, mesmo que por BPMs diferentes, tipo sei lá, um The Prodigy por exemplo.

Pode crer e como você começou a conhecer esses sons?

Eu tava em uma  Virada Cultural e na época parecia uma rave, cada rua era um estilo, uma cabine com DJ em cada rua e caí bem na rua que tava tocando DJ Andy, domingão de manhã se não me engano, dali em diante fui mergulhando no estilo, ouvindo sets e conhecendo mais detalhadamente alguns estilos de música eletrônica e também reconhecendo que temos a nossa por aqui.

A cena BR é foda!  E começar a produzir foi quando mais ou menos?

Putz, não sei se você lembra, mas em JF eu já tinha tentado fazer umas paradas, pegava uns sons malucos de jogo, uns sample de funk, volt mix, sampleava e brincava no Acid, fazia umas montagens e tal, e saia umas paradas, tem coisa que tenho até hoje guardo acho.

Foi aí o primeiro contato com uma DAW, mas aí eu não conseguia manter um foco, sempre tive um problema sério com isso, aí deixava meio de lado, aí tinha a banda e tal.

Depois de muito tempo mesmo, já aqui em São Paulo, tentei alguns programas até chegar no Ableton, que foi quando fiz umas paradas mais sérias e tal, em 2011, eu ouvia dubstep pra caralho essa época, então foi o que me norteou pra criar os sons e tal, dai dei um tempo de novo, eu tava no DPR, e a gente gravou ensaiava todo domingo, eu tava no DPR, e a gente gravou ensaiava todo domingo, eu trampava pra porra, Yan tinha nascido, então fiz a escolha da bateria ao invés de produzir, rs.

O incrível é que lá no fundo não desisti da parada, e em 2014 eu tinha o ableton la, sempre tentava alguma coisa e foi saindo novamente, aí 2015 acho que foi a virada

Nessa época você fazia uns boom bap ou já foi direto pro bass?

Já fui pro lado do bass mesmo, curto Rap demais, mas na hora de fazer era sempre aquela parada com o bass, desde os house, os funk, e depois entendendo as baixas frequências vi que cada um tem seu caminho a seguir, e o meu foi o bass!

E quais foram os primeiros trabalhos lançados?

O primeiro trampo oficial que saiu foi Você me deve dinheiro, do SP Jungle, com o Felipe Flip e o Popó (ZDD). Aí na mesma época eu tinha Oarrasto, que era eu e o ZDD, fizemos algumas tracks e soltamos nas plataformas.

E tem uma definição mais específica pro Grime? Você considera suas produções mais pra esse lado, ou tem outro gênero, subgênero?

O Grime é um estilo da Inglaterra, nasceu em Londres no meio dos anos 2000, totalmente influenciado pelo UK Garage, Jungle, Ragga, Dancehall, o estilo é considerado rápido já que está na casa dos 140bpm.

Basicamente são batidas quebradas, graves, bass médios e marcantes.
É um estilo totalmente versátil, sem contar os esquemas de rimas dos MCs, influenciado total por Ragga, Dancehall. Embora o Hip-Hop influencie muito também no estilo, o Grime não é um subgênero do Hip-Hop, como o Trap, por exemplo.

Posso considerar que sim, é o estilo mais presente nas minhas produções, embora não seja o único, mas vamos dizer que é Grime, Dubstep e Funk. Uso muita percussão, tamborzão e samples de voz… ae fica com aquela característica que é a minha cara. Venho buscando isso, não só reproduzir o que é feito lá fora, mas trazer todas as minhas influências e dar uma personalidade pra parada.

Ta pegando agora aqui no BR né, como você vê essa movimentação?

Então, acho que demorou até, uma galera já tava ligada no som, muita gente já tava começando a fazer a parada, sei que tem uma galera de BH que já fazia, o Noxio de JF também já tava fazendo, Vandal na Bahia, Yescal e uma galera do ABC aqui em São Paulo também já tocavam e produziam dubstep, grime.

Eu ouvia Grime em 2008, 2009, mas nem me ligava no movimento, nem sabia muito, porque eu ouvia muito Dubstep, teve uma festa em São Paulo nessa época chamada Tranquera, tinha portal, rolava uma preocupação de mostrar o que era o estilo, que era som pra Soundsystem mesmo, sentir as frequências baixas, e nesse meio sempre tinha som com MC, sempre rolava um JME, Dizzee Rascal, Flowdan ali no meio, embora o Grime não fosse o foco, o Grime sempre tava ali, rolavam alguns sons, tem som do Jimmy Luv de 2009 talvez, que já era Grime.

De 2015 pra cá as coisas tavam tomando uma forma, eu enchia o saco dos caras mostrando os sons, teve quem torceu o bico, teve quem achou da hora, e paralelamente tinha essa outra galera fazendo som, só faltava a parada existir mesmo na rua saca.

Ai 2016 saiu o Konnichiwa do Skepta, que foi um album que tomou uma proporção bem grande, teve visibilidade dos Americanos, caiu pra uma galera aqui no Brasa que nem era tão ligada no Grime, ai juntou com a galera que já gostava e fazia.

A parada mudou de fato quando foi formada uma Cena mesmo, começar aquela parada de ter os rolês, a consolidação do estilo foi no RJ, talvez em 2019 com a galera do Brasil Grime Show ali, que deu uma visibilidade indiretamente a quem tava nas “sombras” e resolveu mostrar a cara também, e ano passado com o Brime! onde rolou dos caras irem pra Londres e fazer esse disco com intercâmbio de som, teve a parada do Skate também, de onde saiu o doc Say Nuthin, daí pra frente os caras viram que tinham ouro por esses lados de cá.

E cá estamos nós, tá ligado, o Grime é tipo um punk da musica eletrônica nas suas devidas proporções, o publico não é gigantesco, mas tá saindo muita coisa boa dos artistas daqui e tendo visibilidade lá fora.

Lembrando que o Funkero já rimava numas linhas bem grime também, né?! Aquela “Vários rolé” com produção do Digital Dubs… “Chapa o Coco” do Xis também me lembra bastante essa estética.

Pois é mano, não sacava esse som, até flagrei aqui, se você sobe esse som pra 140bpm fica a pegada total grime, essa é a parada entendeu, Digital Dubs, os cara pegada Jamaica total, várias mesclas, daí você vê que o Grime tá bem mais próximos das raízes jamaicanas e da música eletrônica do que do Hiphop americano propriamente dito.

E como foi o fechamento com o Aka Afk?

Ele me adicionou nas redes, a gente começou a trocar idéia, tinha curtido pra caramba os sons que ele já tinha feito, ele achava da hora minhas produças, mandei um beat que saiu foda, maluco me retornou dois dias depois com a guia, letra pronta, aí saiu “Dez e Faixa”, ele gravou as vozes, eu mixei, masterizei e mandamos marcha, ele lançou o som, eu mandei pra uma par de e-mail que eu já mandava uns sons meus, a parada rolou legal, deu uma visibilidade da hora, acho que “Dez e Faixa” foi o som que fez eu pensar nas minhas produções de forma diferente.

E como é seu processo de produção?  O que você usa?

Geralmente eu crio um loop, aí a ordem não importa, pode ser com sample, uma melodia tocada ou pela bateria/percussão, gosto muito de sample de voz, então às vezes dou uma garimpada legal pra ver se encaixa algo que me interessa, aí já coloco um bass pra sentir a pressão, se eu sentir o beat aí vou evoluindo, montando os tempos já imagino a evolução, como se fosse uma música cantada mesmo, intro, pontes, ápice do som e tal.

Não costumo produzir como linha de produção, sair 10 beats num dia, é uma parada de criar mesmo, sentir, tô até nessa disciplina de criar mais como uma linha de produção, mas é meio complicado pra mim, rs.

Eu uso o Ableton Live, pq foi o que familiarizei mais, então comecei nesse e fiquei.

E o Brasa no mapa?  Como foi o desenvolvimento e o contato com o selo de Londres?

Rolou orgânico demais, quando saiu o som “Pull Up”, que produzi, mixei e masterizei, fiz o mesmo esquema, antes de sair mandei o som por e-mail pra vários DJs, o som teve uma repercussão foda, tocou em sets, tocou em Rádio lá fora, aí um desses e-mails foi da DJ Tash, que é bem ativa na cena Club lá em Londres, ela tem o selo Club Yeke e convidou a gente pra fazer um EP e lançar pelo selo dela. Começamos a compor no final de março e no começo de Junho a parada já tava masterizada. O EP saiu no começo de Setembro e tá da hora, é diferente quando a parada vai pro lugar que tem a estrutura pra isso né, festas, rádios, meios de comunicação, você começa a ver uma galera que faz, que vive a parada elogiando, ainda mais na terra mãe do som que a gente tá fazendo, dá aquele sensação de dever cumprido, sem contar que aqui também tá com uma visibilidade da hora, que pra mim é o mais importante.

E tem mais produções engatilhadas?

Sim, eu tô com alguns sons prontos, to projetando um EP de sons mais percussivos, mais afrofunk, caribe, club, na casa dos 130 bpm, sempre quis explorar essa parada mais dançante e tal… tô experimentando, fazendo alguns loops e vendo onde a imaginação consegue chegar, provavelmente serão 4 sons, 2 instrumentais e 2 com Mcs e é isso.

E provavelmente soltar alguns singles também, e claro, continuar a parceria com MCs.

Aquele salve!

Só queria agradecer pelo convite meu mano, da hora demais mesmo, uma abraço pra você, e todos os meus outros irmãos ai de JF.
Na cidade conheci o skate e comecei na prática a fazer música, aprendi várias paradas da hora!

Na expectativa do som voltar a rolar, sejam nas casas, bares ou na rua.
Que as coisas melhorem pra todos, que esse ciclo nebuloso comece a ter uma luz no ano que vem. É isso, estamos aí nas redes e nas ruas!!

Vamooo!! Quando rolar uma Bang! De jungle e drum and bass você cola!
Acho que é isso, solta 5 produtores favoritos ae pra encerrar!


Skepta, Baauer, DJ Marky, KL Jay e Skream

Leia também

One thought on “Bang! Toncali

  1. Pingback: Jungle, Garage, Grime: o jeito brasileiro de fazer música britânica

Comentários não permitidos.