Duo formado por Ana de Oliveira (violino) e Sérgio Raz (viola de 12 cordas) reverencia as rabecas em segundo álbum. Selo Sesc anuncia álbuns de Pastoras do Rosário e o 16º de Olivia Hime, “Se eu te eternizar”
por Fabiano Moreira
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A primeira vez que ouvi falar em música armorial foi nos anos 00, por meio de um mashup que o Victor Hugo Mafra fez, “Etnia Galopante”, no qual promovia o delicioso encontro do clássico “Galope”, da Orquestra Armorial, e o hit “Etnia”, de Chico Science e Nação Zumbi, entrelaçando duas eras de ouro da cultura pernambucana. Muitos anos depois, no ano passado, fui ao CCBB, no Rio, para ver Marc Chagall, mas quem roubou a cena foi nosso Brasil brasileiro de Suassuna e Brennand (amo demais) na exposição “Movimento Armorial 50 anos” (cata registros aqui e aqui). Por isso mesmo, recebi com muito entusiasmo a sugestão do álbum “Armoriando”, do Selo Sesc, que tantos serviços tem prestado, esse ano, com as edições das obras de Hermínio Bello de Carvalho (“Cataventos”) e Wilson Baptista (“Eu sou assim”). Este é o segundo álbum da duo formado por Ana de Oliveira (violino) e Sérgio Raz (viola de 12 cordas), depois da estreia com “Carta de Amor e outras Histórias” (2019) com obras de Sérgio Raz e Egberto Gismonti. Batemos um papo, por e-mail, no qual falamos sobre a presença da rabeca na cultura popular em diversos cantos do território brasileiro, e de como o violino, no álbum, reverencia essa presença, e também como essa influência de elementos da cultura e música popular na criação erudita aconteceu em outros países, como na Rússia e na Alemanha. E da grande homenagem que o álbum presta aos grandes compositores do movimento, como César Guerra-Peixe, Antônio José Madureira, Clóvis Pereira, Jarbas Maciel e o próprio Sérgio Raz. O Selo Sesc não está de brincadeira mesmo e anuncia álbuns de Pastoras do Rosário, grupo de oito cantoras negras formado na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha, e o 16º disco da Olivia Hime, “Se eu te eternizar”, que cega dia 29.
Moreira – Tive o prazer de visitar a exposição “Movimento Armorial 50 anos” no CCBB do Rio, no ano passado, e fiquei impressionado com a unidade da estética armorial, que passa por várias linguagens, mas sempre com sua coesão, essencialmente brasileira. Fiquei impressionado com os croquis de figurinos de Francisco Brennand para o Auto da Compadecida e com os vários figurinos realizados, já nos manequins… E com a Onça Caetana agigantada, logo na chegada, recebendo… A arte armorial continua viva, sendo feita?
Ana de Oliveira (violino) e Sérgio Raz (viola de 12 cordas) – Ariano Suassuna, durante as comemorações dos 40 anos do Movimento Armorial, em Recife, em entrevista, deixou claro que o Movimento Armorial em si durou dez anos – de 1970 a 1980 – e reconhecia que o Movimento deixou frutos. Outros e outras artistas a partir da ideia original de Suassuna e seus companheiros do Movimento construíram suas obras inspiradas e inspirados em seu legado.
Moreira – O Movimento Armorial foi criado por Ariano Suassuna, em 1970, com a proposta de produzir uma arte brasileira, ligada às raízes de nossa cultura popular, mas erudita. Como a música armorial faz esse cruzamento do erudito com o popular? Qual o papel das rabecas nessa mistura de universos?
Ana e Sérgio – A rabeca faz parte da cultura, da música e da dança da Zona da Mata de Pernambuco há algumas centenas de anos e pode ser encontrada em várias manifestações da cultura popular em diversos cantos do território brasileiro. Também vemos, hoje em dia, um grande interesse da nova geração de músicos urbanos em tocar rabecas e criar seu próprio repertório. Essa influência de elementos da cultura e música popular na criação erudita já foi experimentada em diversos países onde surgiu a necessidade de criar uma música erudita nacional, que fugisse dos padrões da escola germânica. Como exemplo podemos citar, na Hungria, a obra de Béla Bartók, na Boêmia, a obra de Antonín Dvořák, Bedřich Smetana entre outros, na Rússia, o Grupo dos 5, entre outros países. No Brasil este movimento se deu em diversos períodos, sendo, provavelmente, a Música Armorial e todo o movimento, os mais recentes.
Moreira – Hoje, mais de cinquenta anos de sua criação, quais as contribuições que a música armorial continua trazendo para a música popular?
Ana e Sérgio – A música Armorial continua direta e indiretamente inspirando artistas e músicos (como nosso duo),por meio do legado e conceito mo Movimento. Uma linguagem muito significativa para as cordas brasileiras, sejam friccionadas ou dedilhadas.
Moreira – Como montaram o repertório desse álbum e quais contribuições trazem ao trabalho já conhecido de Quinteto Armorial e Orquestra Armorial?
Ana e Sérgio – O repertório do álbum “Armoriando” foi pensado no sentido de homenagear grandes compositores do movimento, como César Guerra-Peixe, Antônio José Madureira, Clóvis Pereira, Jarbas Maciel e compositores influenciados pelo movimento, como o próprio Sérgio Raz. Os arranjos são e foram próprios criados para violino e viola de doze cordas, uma formação minimalista de música de câmara, o duo. A viola de doze cordas foi escolhida por ter uma sonoridade mais representativa da música da cultura popular nordestina. A sonoridade do violino neste álbum remete aos sons das rebecas intencionalmente. As obras registradas têm uma importância histórica dentro do repertório de música Armorial.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Tenho acompanhado com grande interesse a campanha de lançamento do álbum de estreia do produtor, multi-instrumentista e engenheiro de som Renato Medeiros, “A curva dos dias”, bem emocionada e sentimental. Depois da baladona de cantar de olhos cerrados (rs) “Honesto”, ele lança “Um Lugar“, parceria de Renato com Lucas Gonçalves e André Mourão que busca inspiração no rock progressivo dos anos 70 com referências circenses e do pop barroco. Renato é bem conhecido na cena, por ter tocado baixo com nomes como Jup do Bairro, Giovani Cidreira, Alice Caymmi e Ananda Costa. O álbum tem produção de Lucas Gonçalves, que a gente ama, da Maglore, e as canções abordam temas como amor, redenção, depressão e jogos de azar, num mood setentista, sem perder de vista a autenticidade. O disco tem estreia prevista para outubro. Aliás, o próprio Lucas Gonçalves também está álbum novo a sair, “Câmara escura”, belíssimo, no dia 8 de outubro, um domingo, que poeta não aceita esse ditame mercantil sextante. Já ouvi e é temporal de amor.
Em abril, o bandolinista multipremiado e vencedor do Grammy Hamilton de Holanda lançou o álbum instrumental “Flying Chicken”, como contei aqui. Cinco meses depois, ele está de volta na praça com “Samurai – a música de Djavan” , com 12 faixas do artista alagoano. O trabalho tem participações do próprio Djavan (“Luz “e “Lambada de Serpente”), Zeca Pagodinho (“Flor de Lis”), Jorge Drexler (“Lilás”), Gloria Groove (“Samurai”), o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba (“Irmã de Neon”), a saxofonista norte-americana Lakecia Benjamin (“Samurai”), a cantora e flautista indiana Varijashree Venugopal (“Oceano”) e o pianista brasileiro Salomão Soares (“Capim”) que trazem um novo olhar para as canções. Participam do álbum, ainda, o baterista Big Rabello e o baixista André Vasconcellos, com participações dos percussionistas Armando Marçal e André Siqueira, além de trombonista Rafael Rocha. Em 2004, Hamilton ganhou de presente de Djavan uma canção feita especialmente para que o bandolinista gravasse com ele — a faixa-título do disco “Vaidade”. “Foi um dos primeiros grandes artistas a abrir as portas pra mim”, lembra Hamilton, que produziu o álbum ao lado de Marcos Portinari. Quatro das 12 canções do disco são de “Luz”, de 1982 — “Samurai”, “Luz”, “Capim” e “Sina”. “Djavan consegue com elementos complexos soar simples, prazeroso, natural. E esse disco, “Luz”, é especialmente representativo nesse sentido, é uma síntese disso”, explica.
LO cantor, compositor e realizador audiovisual Almir Chiaratti continua sua busca por uma visão contemporânea das raízes na canção brasileira e lança o clipe “Toada do Mundo”, vestindo sacos de lixo pretos que lembram o pretinho básico de Oliver Tree em “Only & One”. A música, que apresenta uma fusão de ritmos, com influências de funk carioca, rock e MPB, é uma ode à experimentação musical sem rótulos e faz parte do disco “Frágil”, de 2021. A produção musical é de Federico Puppi, com a colaboração de Jr. Tostoi para os arranjos de guitarra, complementados pelas percussões habilidosas de Marco Lobo. O clipe da música explora os contrastes entre a beleza natural da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, e a presença perturbadora do lixo na Baía de Guanabara. O filme traz vistas panorâmicas do Centro da cidade, da Igreja da Penha, da Região Serrana e da Ponte Rio-Niterói.
Bruno França interpreta o personagem Tecnocurupira, que faz parte da trilogia “Frágil”. Os figurinos são assinados pelo talentoso Gustavo de Carvalho e produzidos a partir do reaproveitamento de têxteis descartados. No fim do ano passado, Almir lançou seu primeiro livro, “Fissão: Juntar Sílabas Como Quem Separa Átomos”, na 20ª FLIP, em Paraty, pelo selo doburro.
Natural de Lima Duarte, o músico, multi-instrumentista, cantor, performer, compositor e palhaço Fred Fonseca, 37 anos, faz três shows de lançamento de seu álbum de estreia, o inventivo “Mar de morros”, MPB que flerta com o jazz e o rock e traz a figura simbólica do mar como personagem. Os shows acontecem no Palco Central, no dia 26 de setembro, no Cine-Theatro Central. e no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), no dia 22 de outubro, às 16h, ambos com entrada franca. Em 28 de novembro, ele apresenta o show no estúdio Audio Rebel, no Rio de Janeiro. O álbum foi gravado, durante a pandemia, e financiado com recursos da Lei de Auxílio Emergencial Aldir Blanc, viabilizada pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
Fred é multi-instrumentista que toca contrabaixo, violão, banjo americano, guitarra, ukulele, cavaquinho, piano, sintetizador, theremin, charango e otomatone. O álbum traz uma dinâmica com funk soul, canção, experimentação, tango e samba, uma viagem por paisagens sonoras conectadas pela irreverência de Fred. Seu disco traz uma agradável atmosfera de humor que lembra bandas como Os Mutantes e They Might Be Giants, tendo o mar como figura idealizada. “Na beira do mundo, eu podia me sentar e meditar”, ironiza em “Marasmo”, faixa que abre o trabalho. Nosso herói é “tragado pelo mar” em “Mergulhei”, e aprende a nadar quando se afoga em “Aprendi a nadar” e vai “de braçada até, fazendo um mar de estrada”, como anuncia em “Eu vou pra outra borda da beirada”. Em “Mão Boba”, ele rasga a veia cômica ao dizer que embebedou a mão, “de tanto álcool em gel que usei”.
As cerâmicas de Adriana Lopes estão em exposição, até o dia 18 de outubro, na Unbox. As peças refletem sua exploração visual por formas geométricas de composições ora duras, ora fluidas, mesclando linhas retas e curvas.
O Festival Timbre segue socando diversão e cultura, em Uberlândia (MG), em sua edição de dez anos, nos dias 23 e 24 de setembro, na área externa do Teatro Municipal, com BayanaSystem, Criolo, Maria Gadu, Gilsons, Urias e Braza (23) e Armandinho, Mariana Aydar, Chico César, Johnny Hooker e Yago OPróprio (24).
Maria Bethânia, Jorge Ben Jor, Gilberto Gil e Gilsons e Natiruts e IZA estão no domingo (24), às 16h, no Viva Brasil, no Mirante Beagá, em Beloryhills.
Na sexta (22), o DJ Ruan Lustosa faz mais uma edição da Get it on, às 22h, no Maquinaria, recebendo o DJ Lagartixa.
DJ Thai, do Heavy Baile, Vermin, RT Mallone e mais são os DJs da Skate Party, na sexta (22), às 22h, no Cultural.
Até domingo (24), tá rolando Semana Geek no Shopping Jardim Norte, evento gratuito com competições de videogames, concursos de cosplay, discussões, concurso de K-pop e mais.
Neste sábado (23), às 14h, na Praia do Ibiti Projeto, na Vila do Mogol, rola o Ibiti Sunset, com shows da banda ETC e DJ sets de Kureb e Offbeat.
De sexta (22) a domingo (24) de setembro, as cidades de Belo Horizonte e Ouro Preto recebem o festival Sons do Brasil, com shows gratuitos de Tim Bernardes, Monobloco, Afrocidade, Alaíde Costa, Aline Paes, Os Cria e outros. Tim Bernardes, aliás, esse filho glorioso de Maurício Pereira, tá de show “Mil Coisas Invisíveis” marcado no Cine-Theatro Central, dia 29, bafo.
A CineBH – 17ª Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte ocupa oito espaços da capital mineira, de 26 de setembro a 1o de outubro, com o tema “Somos brasil, somos latinos, somos América do Sul”, em sua segunda edição com foco na América Latina, enfatizando a questão da geografia, da política, da história, da cultura e do cinema, com uma seleção de mais de 90 filmes nacionais e internacionais, em pré-estreias e mostras temáticas.
O Inhotim inaugura, a partir de sábado (23), duas novas exposições temporárias que ocuparão a Galeria Lago e a Galeria Fonte, integrando o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. Na Galeria Lago, a exposição “Fazer o moderno, construir o contemporâneo”, com peças de nove artistas e, na Galeria Fonte, “Direito à forma”, com trabalhos de mais de 30 artistas que buscam expandir as possibilidades da presença negra no fazer artístico.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com Luiza Lian, Doechii, JMSN, Troye Sivan, Gabriel , o Pensador + Black Alien, Gabeu + Dornelles, Viagra Boys, Duran Duran, GA31, Zara Larsson + David Guetta, Yoùn + Carlos do Complexo, Milky Chance, CHAI, Charlie Vettuno, Mitski, Diplo & Walker & Royce, Oliver Tree, J Balvin + Usher + DJ Khaled, Becky G, Nathy Peluso + Tiago PZK, Jimbo e DJ Alex BNH.
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