Artista Josimar Freire tem trabalho de excelência nas artes plásticas e ainda atua com DJ, na festa Bang!, e skatista, pelas ruas
por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com
Conheci o artista plástico Josimar Freire, 32 anos, o Gramboy das pistas de dança da festa Bang!, na abertura de sua exposição “Variação de unidade”, em maio do ano passado, em uma das ações da Sala da Casa, da nossa amiga em comum, a jornalista, doutora e estudiosa do livro de artista Mariana Bretas, que acabou editando também o meu livro de fotos. Nas paredes, estava a sua maior expressão artística, o traço preciso, feito a bico de pena e pincel para criar imagens que desafiam a ótica e saltam à imaginação. Aí, passei a acompanhar o seu site, sempre repleto de imagens que estimulam a imaginação e falam sobre perfeição e precisão. Conversamos sobre a sua atuação artística, que se mistura com o trabalho como DJ na festa de sucesso Bang! e ainda na atuação como skatista, esferas que une, como ninguém, nesse universo elegante que é a marca Gramboy. Em tempo, a próxima Bang! rola no dia 19 de maio.
Moreira – A precisão do seu traço é impressionante. Esse trabalho a bico de pena e pincel exige muito treinamento, prática e descanso? Que cuidados você precisa ter com a saúde para não atrapalhar tanta perfeição?
Gramboy – O início no bico de pena exigiu muita prática, porque uso para traços longos e contínuos essa técnica que é mais usada para hachuras e traços curtos. O encontro com a técnica foi mais uma maneira de me conectar com o processo, por ser mais demorado/meticuloso consigo articular melhor os circuitos de cada composição que acontecem mais na hora da pintura do que nos estudos pré-estabelecidos. Essa exigência controla a parte impulsiva, me auxiliando a chegar no arranjo e na harmonia que cada circuito necessita, ampliando também a relação de entender o tempo que cada trabalho necessita para ser entendido e finalizado. Com a saúde, preocupo-me mais em fortalecer a coluna e cuidar da postura, rs.
Moreira – Em tempos de IA escrevendo e criando imagens, o que ainda é exclusivo de nós, humanos? O que temos a oferecer além das máquinas? Seremos substituídos?
Gramboy – Acho que uma exclusividade importante é a de interpretar necessidades diversas e de retornar para o público algo concebido a partir das relações pessoais… Ainda podemos oferecer muitas ações que vem de práticas tradicionais e da manualidade, essas ações sempre se reinventam, são redescobertas e podem dialogar com a tecnologia/modernidade. Mas essa pergunta já é mais distante do meu universo, rs. Que é muito físico, material, pessoal e as vezes analógico (com o pavor do rumo que a palavra tomou), rs.
Moreira – Você sempre tenta entrelaçar a música e a prática do skate ao fazer artístico. Como se dá essa mistura? É um trabalho só? Estive na nova Praça Vovó Elvira, no Linhares, e vi como a galera do skate está se apossando do local. Fizeram uma pista e tanto por lá, e a Medina vai pintar a área. Quais são os locais para a prática do skate na cidade, e o que falta para maior acesso ao esporte?
Gramboy – Uma atividade alimenta a outra, por isso sempre estão muito conectadas. Ao mesmo tempo, uma oxigena a outra pra que eu possa puxar o nível e não saturar nenhuma delas. Essa mistura começa com o skate aos 9 anos, é a via que apresenta outras manifestações… Aí, por meio do skate, fui conhecendo a cena independente, aos 14 anos, envolvi-me com o punk/hardcore, ajudando a produzir shows e, na sequência, comecei a pintar na rua. Daí, fiquei no ateliê, comecei a colecionar discos e conhecer os grooves universais, tocar e fazer festas, relembrando essa parte pra resumir um pouco o furacão, rs. Então essa mistura vem daí, todas as três são muito intensas e dentro de cada uma delas, existem vários universos. Sobre o skate, não considero skate esporte, tanto que tenho uma série de trabalhos e um vídeo onde abordo esse questionamento. Então me interesso mais na visão do skate que serve como uma ferramenta de vivenciar e interpretar a cidade, pensando mais na conexão com a pintura, a música e outras manifestações que vão além do skate. A conquista da pista foi muito legal, tô indo direto! Mas posso responder mais pelo o skate que acontece mesmo nas ruas, na ocupação e na leitura da cidade, então, apesar da arquitetura aqui ser bem limitada nesse ponto, os lugares são diversos pra prática, basta ter a visão. O lugar construído como uma pista é uma adaptação do que acontece nas ruas, que é o lugar originário e genuíno da prática.
Moreira – A sua festa, a BANG!, caiu no gosto da nova geração, no Beco, com sua mistura musical de soul, funky, música brasileira, grooves, afro beat, jazz, RAP e reggae. O que tem agradado tanto à garotada?
Gramboy – Acredito que é uma sequência do trabalho que vem sendo construído desde a minha primeira festa (Ritmo.Arte.Manifesto!) que durou de 2009 a 2011. A Bang! é uma sequência dessa ideia que começou lá atrás, de ter uma festa de grooves na cidade, com um recorte musical que prioriza a fundação e a essência desses estilos, produzidos principalmente entre o meio da década de 60 até os anos 80. Além do som, a festa abriga premiéres de vídeos de skate e lançamento de publicações, e isso diversifica mais o público. Então desde que começamos a Bang!, em 2014, foram ótimas temporadas, por onde a festa passou, acredito que pela comunicação fluída e o clima que a festa tem de celebração e muita dança. Então tem uma atmosfera única, com uma pesquisa musical consistente. A temporada no Beco tem sido incrível por estar conseguindo trazer convidados de fora com frequência, necessidade pertinente desde que comecei a fazer festas. Assim, o intercâmbio se fortalece e o público tem a oportunidade de ver DJ’s importantes do cenário nacional (como Marcelinho da Lua, Lys Ventura, DJ Groovy, o americano Fleg e os juiz-foranos da Space Lab, equipe de baile das antigas) que dialogam com a essência da Bang! Aí, na real, acho que nem é só a nova geração, cola gente de todas as idades, pessoas que vão pela primeira vez e gente que acompanha minha caminhada desde o começo nos toca discos. O aniversário é realmente coletivo! Rs.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Eu estava com alta expectativa com o álbum de estreia da paraibana Bixarte, “Traviarcado”, lançado no último dia 30, Dia Internacional da Visibilidade Trans, pela Natura Musical. Bicampeã do Slam Estadual da Paraíba, Bixarte é muito ligada a alguns personagens do rap e do slam de Jufas, como Laura Conceição, MC Xuxú e PretoVivo, que já sextaram. A faixa “Pitbull sem Coleira”, feat. com Urias, abriu a playlist de sexta passada. flertando com pop e techno. Bia Ferreira, Drik Barbosa e A Fúria Negra também fazem participações especiais. Os homens trans Winnit e Julian Santt (participam de “Carta de Advertência”, faixa que contesta o silenciamento recorrente de homens trans. Revelação do rap, Bixarte apresenta uma nova versão artística ao flertar com ritmos latinos, etnopop, trap, batidas do Kettu e influências de R & B. O álbum clama pela necessidade de as pessoas enxergarem as travestis e pessoas trans como seres humanos, contestando o modelo patriarcal e instaurando o “Traviarcado” do título. “Eu espero com esse disco, que as crianças viadas, a população LGBTQIA+, as mulheres pretas e as travestis consigam entender que há outro caminho a não ser o da morte. E, quando eu falo em morte, eu estou falando sobre a morte dos nossos sonhos também. Esse disco traz um fôlego de vida para sonhar. Para mim, isso significa também que eu estou viva”, comenta a artista, que está na tela da TV Globo, na série “Cine Holliúdy”.
Taí um negócio bem raro: um artista emplacar duas músicas de um mesmo álbum em duas playlists distintas da Sexta Sei, feito de Adriana Calcanhotto com o álbum “Errante”, o 13º de sua discografia, que emplacou “Era isso o amor?”, na semana passada, e volta com a poética “Nômade”, essa semana, que parte de título de instalação de Lygia Clark, “A casa é o corpo”, como premissa. O álbum, gravado por um timão com Adriana (violão e voz), Alberto Continentino (baixo, piano e lira), Davi Moraes (guitarra e violão), Domenico Lancellotti (bateria e percussão), Diogo Gomes, Jorge Continentino e Marlon Sette (sopros) trazem a artista passeando por ritmos como tamborzão, samba-de-roda, rock, xote, bossa nova e samba-canção. O álbum começa com a artista referenciando a frase de Oswald de Andrade no “Manifesto Antropofágo”, “A alegria é a prova dos nove”, em “Prova dos nove”, reiterando sua condição de herdeira do modernismo. Depois do isolamento que levou ao álbum “Só”, em 2020, “Errante” quer, desde seu título, a porta afora. Vale destacar a beleza e a poesia dos visualizers que acompanham o álbum e que mostram como tempo tem sido generoso com a nossa diva atemporal.
Comecei a me ligar no trabalho do baiano Giovani Cidreira no ano passado, com o lançamento de seu quarto álbum, o interessante “Nebulosa Baby”, que contava com uma lista pra lá de especial de participações, com nomes como Jadsa, Obinrio Trio, Luiza Lian, Boogarins, Vandal, Jup do Bairro, Alice Caymmi, Ava Rocha e Josyara. Esse ano, ele surge em feat do Máquina de Louco, o selo de novidades musicais do BaianaSystem que tem, entre os artistas, Vandal, Orquestra Afrosinfônica e Russo Passapusso. “Um dos nossos objetivos é recriar formatos e impulsionar o material produzido de forma independente pelos artistas mais próximos e que fazem parte da cena musical baiana”, destaca Beto Barreto, idealizador e fundador do selo que já sextou aqui antes, sobre o feat dele e os também baianos Russo Passapusso e Melly, “Dois lados”, uma investigação da musicalidade negra com produção de Marcelo Sekobass. A letra é retrato de um desejo não realizado, um desencontro amoroso, que reflete a incerteza das relações afetivas contemporâneas, embalada pelo pagodão baiano da sofrência. O clipe, dirigido por Giovani Cidreira e Edvaldo Raw, evoca a célebre capa do álbum de Caetano Veloso de 1987.
As artistas YMA, paulistana, e Jadsa, baiana, ganharam destaque na cena da nova música brasileira com seus bons álbuns de estreia: “Par de Olhos” (2019) e “Olho de Vidro” (2021). Elas acabam de anunciar o lançamento do EP conjunto “Zelena” com seu primeiro single, “Meredith Monk”, que passou aqui pela última playlist sextante. Com influência de kraut rock, David Lynch e Titãs, o arranjo faz de “Meredith Monk” uma faixa enérgica e onírica em homenagem à performer, compositora, vocalista, cineasta e coreógrafa americana. Zelena tem lançamento este semestre pelos selos Matraca Records/ YB Music. O EP contará com videoclipes dirigidos por Mooluscos.
Sábado (8), às 18h, Alpha Ville Chalés, em Ibitipoca, recebe o evento Ibiti Vibra, com shows de Banda Maneva, Gabriel, o Pensador, ETC convida Amanda Coronha e Gabriel Elias.
Na segunda (10), as 18h, rola o Encontro de Compositores no Beco, com o lançamento físico do álbum “Encontro de Compositores JF (Volume 1)“, que chega hoje às plataformas. Tive acesso ao material, e destaco as faixas de Alice Santiago, Renato da Lapa, Laura Januzzi, Pedrada, o Legítimo (que grata supresa), Dougg Ribeiro e Pedro Teixeira.
Atenção para os próximos shows do Palco Central: tem Guilherme Veroneze no dia 18 e Gabriel Acaju no dia 25. Os ingressos começam a ser distribuídos sempre na quarta-feira anterior à apresentação.
Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links. A playlist do streaming consolida lá pelas 2h de sexta.
Playlist de clipes com Björk, Irakytan, Yaeji, Shygirl, Luthuly, Thiago Pantaleão, Supercombo + Kamaitachi, Moby + Doug Mandagi, Chlöe + Future, Larinhx + Ebony + Slipmami, Baapz, Giovanni Cidreira + Russo Passapusso + Melly, Adriana Calcanhoto, Mukeka di Rato, Black Eyed Peas + Daddy Yankee, Mc Hariel + MC Lipi + MC Neguinho do Caixeita + MC Paulin da Capital, Kalli, Duquesa e Jisoo.
A campanha de crowdfunding da coluna continua, já atingimos 42.9%. Prefere fazer um PIX? O pix da coluna é sextaseibaixocentro@gmail.com