Sexta Sei: A música afrocentrada do multi-instrumentista e compositor juiz-forano Diogo Veiga

Pesquisador de cultura popular preta e instrumentos africanos lança EP com quatro faixas que nos transportam para a natureza

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Diogo Veiga em fotos de Thiago Britto

Não é todo dia que tenho acesso a um material tão único e mágico quanto o EP de estreia do multi-instrumentista e compositor juiz-forano Diogo Veiga , 38 anos, “Egbe Tóbi Ode”, com três temas instrumentais e uma canção que nos levam a um mergulho na mata e na natureza, uma viagem espiritual, uma epifania, uma visita imaginária à África. Eu me emocionei. Pesquisador de instrumentos africanos há mais de cinco anos, Diogo nos apresenta aos sons de harpa Kamale Ngoni, palha da costa, tambor de cabaça e o piano ancestral Balafon. O EP teve financiamento do Programa Cultural Murilo Mendes. Batemos um papo sobre música afrocentrada, o desejo de África e racismo. “Já imaginou a gente com um arco e flecha dentro de uma grande floresta? “, provoca.

Moreira – Logo que voltei à Jufas, depois de 15 anos fora, fiquei encantado com uma nova e pulsante expressão artística da comunidade negra, no trabalho do artista urbano Stain, um dos autores daquele painel negro na Praça Antônio Carlos, que acaba de ser demolido, na potência aglutinadora do coletivo Makoomba, que sacudiu a mesma praça com o Makoombloco, na voz que canta nas ruas, encantado as crianças, de Sil Andrade, e no pagode LGBTQIA+ de Alessandra Crispin, no Samba de Colher. Agora, com o seu EP, isso é ainda mais elevado e nos transporta diretamente para a África. Há uma nova consciência negra na cidade? Jufas é uma cidade racista? 

Diogo Veiga – Bem, eu vejo que as vozes das pessoas pretas da cidade estão sendo mais ouvidas e acolhidas. Estamos tendo mais possibilidades de mostrar nossos trabalhos pelas mídias sociais e nas ruas daqui. Se reconhecer como preto ou preta é de suma importância para que esses movimentos artísticos aumentem cada vez mais, pois numa cidade onde o racismo é ainda muito latente, devemos ocupar e mostrar para deixar um legado de trabalho cultural afrocentrado. 

Caxixis
Harpa Kamale Ngoni
Tambor Tama
Palha da costa
Tambor Tama
Harpa Kamale Ngoni

Moreira – O seu EP me tocou profundamente, me senti no meio da natureza, da selva, e, mesmo sendo ateu, me senti mais perto do divino e de mim mesmo, foi uma conexão com a alma. Como você descobriu essa música africana e como fez para adquirir todos esses instrumentos especiais que estão na gravação? Fale mais desses instrumentos para que possamos conhecê-los e participar dessa magia da sua música contigo.

Diogo Veiga –  Quando iniciei meu trabalho como arte-educador, um amigo me disse que deveria procurar no Rio de Janeiro o músico e também arte-educador Fábio Simões, pois meu trabalho naquele momento se parecia com que o Fábio propunha nas suas práticas. Não demorei nada e corri no Mestre e, logo em seguida, com a força que esses instrumentos carregam, foram chegando outras pessoas também muito especiais como a Mestra Mo Maie. No EP, gravei na primeira faixa a Harpa Kamale Ngoni. A harpa do jovem caçador e o tema retratam a caminhada do caçador pelas matas e florestas, por isso, utilizei palha da costa para dar uma camada de folha na audição do tema. A Harpa Malien, de origem no Mali, foi uma pesquisa além de sonora, porque eu tive a possibilidade de investir no processo de construção do instrumento. Na segunda faixa, trouxe o ritmo Ijexá, advindo dos terreiros de Candomblé Ketu. Este Ijexá homenageando a orixá Oxum é uma composição minha. No final da canção, viramos para um samba de roda, continuando a homenagem a Ìyágbá, canção composta por Diogo Veiga e Caru Calixto. A terceira faixa é um tema de Mbira Dzavadzimu, instrumento que vem do continente, mais especificamente, Zimbabwe e Moçambique. E também desses instrumentos não convencionais, toco o Tambor Kalabash (Tambor de Cabaça). Na última faixa, encerramos a caminhada do jovem caçador voltando para a sua comunidade em êxito, por isso, a faixa é intitulada “Festa na Comunidade”. O instrumento à frente nessa faixa é o piano ancestral Balafon, que possui origem no Império de Mali.

Capa de Cety Soledad

Moreira – Mesmo nos levando até lá, você ainda não foi à África, né?  Esse é um sonho que você gostaria muito de realizar? Você tem trocado muitas informações com artistas africanos? Como é essa rede? Eu ando curtindo muito-muito-muito os nigerianos Yemi Alade e Ruger, conhece? São artistas pop, mas com muita ancestralidade. Quais são as suas dicas de música africana?

Diogo Veiga –  Ainda não tive oportunidade de chegar ao continente africano, isso é um sonho que em breve vamos realizar. Ir até lá seria muito interessante, pois, assim, nossas pesquisas seriam realmente feitas em solos de origem. Aprendendo com os iniciáticos dessas práticas e musicalidades. Acredito que a ida ao continente será realmente um divisor de águas pra mim como pessoa e também vai acabar influenciando diretamente a musicalidade. Eu ainda não estou tendo tantas possibilidades de troca direta com africanos, por enquanto, estou preocupado em mostrar o trabalho aqui na cidade de Juiz de Fora e alcançar artistas de âmbito nacional da qual admiro e eu enquanto musicista acho que a musicalidade e ações vão de encontro. Ouço muito o Mestre Mamady Keita, Fela Kuti, Toumani Diabaté e Mû Mbana, dentre outros.

Apito êmbolo

Moreira – Me conta como foram as motivações para a escolha do nome do EP, as palavras “EgbeTóbi Ode”, “comunidade dos grandes caçadores/caçadoras”?

Diogo Veiga –  Sim, o título do álbum é em linguagem Iorubana que, numa tradução, conseguimos chegar nessa definição: Comunidade dos Jovens Caçadores(a). A motivação maior foi a natureza, as matas, folhas e tudo que nela habita. Já imaginou a gente com um arco e flecha dentro de uma grande floresta? Vamos afinar nossos corpos e ouvidos para vermos quais sensações que nos tocam na audiência deste lançamento.

Harpa Kamale Ngoni

Moreira – A sua primeira ideia era de fazer um EP somente instrumental, né? Como aconteceu a única música com letra e canto, o primeiro single lançado, “Ìjèsà pra Osùm”, que passou aqui pela playlist sextante? Adoro o ponto ao final, “foi na beira da água”… 

Diogo Veiga –  Sim, a primeira ideia era ser um EP inteiro instrumental. Mas, a cantiga veio e pensei que não teria como deixar ela pra depois, já que é o momento que vivemos. Mesmo sendo uma letra curta, ela nos faz refletir algumas ações e, juntamente com a orquestra do Candomblé, tocando o ritmo “Ijexá”. Essa segunda parte da letra é minha e da artista e compositora Caru Calixto. Nós estávamos realmente nesse cenário que a letra retrata. Estávamos na beira da água de cachoeira, admirando a beleza da natureza e daí veio o verso “foi na beira da água , que eu vim me banhar”…

Abaixa que é tiro!💥🔫

Raquel Lara Rezende e Tiago Guimarães por Bruna Piazzi

Falando em música que toca a alma, acabo de conhecer a cantora mineira de Belo Horizonte, Raquel Lara Rezende, que já passou por várias cidades do estado, incluindo nossa Jufas, aonde participou dos grupos de tambor mineiro Tambuzada e Ingoma, tocando o patangome, e ainda Viçosa, Montes Claros, Itabira e Divinópolis, e que, hoje, está radicada em São Paulo. Raquel canta na frequência 432hz, usada no canto gregoriano, e nos leva a uma atmosfera de sonho e divindade, com uma vibração de cura para o corpo, para a mente e para o espírito. Ela é da família do intelectual, escritor, jornalista, advogado e muso de Nelson Rodrigues, Otto Lara Resende, primo do seu avô materno.

Ela acaba de lançar o belíssimo álbum “Consciência do ser”, em parceria com o compositor paulista com raízes portuguesas Tiago Guimarães. O álbum, na verdade, nasceu da parceria dela com o músico e compositor juiz-forano Renato da Lapa, em 2020, quando compuseram, juntos, algumas canções que traziam reflexões espirituais, como  “Voz de dentro”, que integra o álbum. Ele, aliás, tocará guitarra e violão no show de lançamento, em formato intermediário, com banda reduzida, que ela apresenta, no dia 14 de abril, no Sensorial, com participação da querida Juliana Stanzani, que também estará lançando um novo trabalho na mesma noite. A belíssima “Matriz divina”, que encerra o álbum, passou aqui pela playlist sextante, semana passada.

"Voguebike ou pedalando na bicilcetinha na cabeçå do Getúlio Abelha
Danilo Timm em “EnganoDesengano”

A criatividade é LGBTQIA+ e é sem limites. Essa semana cansou de esfregar essa sensibilidade da comunidade na nossa cara, notadamente com os clipes “Voguebike”, que nos leva para dentro da cabeça insana do cearense Getúlio Abelha, e “EnganoDesengano”, uma ode ao trisal de Danilo Timm, integrante da banda Aquafaba, ambos artistas que já passaram por aqui antes e fizeram lançamentos bem inventivos e diferentões. Está nascendo um novo líder! (rs)

Getúlio Abelha flerta com o surrealismo no clipe, com direção de Lucas Sá e gravado em em São Luís para encerrar a era do seu primeiro álbum, “Marmota”, que destaquei como um entre os dez mais importantes de 2021 para a comunidade LGBTQIA+ aqui. O clipe tem participação especial da Frimes, que a gente ama, coreografias no estilo voguing e uso de tecnologia 3D para dar vida à ideia maluca de Getúlio.  “Imagina carregar seu peso pedalando e o de outras pessoas? Tem que valer muito a pena. No fim das contas, “Voguebike” fala de amor, paixão e companheirismo. Não deixa de ser uma música romântica”, reflete Getúlio.

O artista brasiliense radicado em Berlim Danilo Timm lançou quinto clipe de sua carreira solo, depois de dois álbuns com o grupo Aquafaba, dos quais falei aqui e aqui. A canção conta a história de seu namoro com um casal, que o levou a se mudar para a cidade alemã em 2014. O trisal está sempre entre os temas do artista. O clipe foi gravado logo antes da abertura da exposição de um amigo, Ole Ukena, com 12 performers dançando e tendo os corpos pintados  na igreja Start Bahn, em Berlim. O clipe abre alas para o álbum, “NilØ”. que chega em abril.

Vai ter Súbita de novo,no Museu Ferrrovi´årio. Fotos lindas do Gabriel venzi
O Kureb é o cara
este escriba cutindo
Llollapalooza Brasil
Rap Gane
Racionais
A ETC que eu gosto
Baile do Cambará. Foto: Débora Agostini
Samba de Colher em foto de Nathalia Pacheco

Lembra que eu relatei aqui o triunfo que foi a edição carnavalesca da Súbita, a festa do Kureb, no Museu Ferroviário? Pois neste sábado (25), tem mais uma edição, das 14h às 20h, com entrada franca e bebedor de água 0800 (levem suas garrafinhas). Como em time que ganha não se mexe, o line up segue com os simpáticos IsiProjeto Emuni e a dupla  Kureb e Marcellus Reoli.

Começou nesta quinta (23) e vai até domingo (26), em São Paulo, o Lollapalooza Brasil 2023, com nomes como Billie Eilish, Lil Nas X e Kali Uchis, sexta (24), Twenty Øne Piløts, Tame Impala, Jane’s Addiction e The 1975, sábado (25) e Drake, Rosalía, Armin van Buuren e Tove Lo, no domingo (26). A transmissão acontece no Multishow e no Canal Bis. 

Este sábado (25), em Belo Horizonte, acontece o Rap Game, com 22 atrações do gênero no line up,  no Mineirão, com nomes como L7NNON, Poze, Orochi,  Djonga, Tasha & Tracie, BK’, MV Bill, Raffa Moreira, Luccas Carlos e muito mais,.

Neste sábado, no Sensorial, tem o forró sem fronteiras do Baile do Cambará, grupo formado pelas feras Nara Pinheiro (voz e flauta), Marcio Guelber (sanfona), Victor Rozeni (baixo), Tallia Sobral (voz e triângulo), Leandro Scio (percussão) e Rick Guilhen (zabumba). A noite ,que começa às 21h, ainda conta com show dos cariocas do Sexteto Curupira.

A banda que eu gosto ETC faz show, às 22h, no Cultural, com discotecagem de MCastro.

Racionais, Maneva e Marcelo Falcão se apresentam, sexta (24), às 22h, no Terrazzo.

O grupo juiz-forano de pagode Samba de Colher faz show gratuito na Praça CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados Coronel Adelmir Romualdo de Oliveira), nesta sexta (24), às 19h30, no Anfiteatro Hermínio de Sousa Santos, marcando o lançamento do EP “Pagar pra Ver”, que chega dia 31

Na última sexta, tava meio borocoxozinho. Mas a minha vida se transformou ao encontrar a repórter fotográfica, hoje professora universitária, Gleice Lisboa, vencedora do Prêmio Ayrton Senna, no museu, quando meu trabalho foi mais do que elogiado e reconhecido por quem entende. Aguardem pautas em conjunto, pois vem aí, dando continuidade ao trabalho que já fizemos, juntos, na Tribuna de Minas.

Mas a cura total veio mesmo quando uma amiga me encaminhou, pelo zap, o áudio sextante do humorista carioca Eduardo Torreão, que mora em Itaipu, Niterói, e sempre começa os áudios com o bordão “Bom dia, família!”, e intercala as piadas com uma cantoria de algum hit chicelete. O trabalho já tem dois anos, e ele não perde a consistência. Quem o descobriu foi Lázaro Ramos. É de rachar de rir e eliminar qualquer baixo astral. “Passou do meio-dia, não é alcoolismo”, diz uma das piadas. Eu já assinei aqui.

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links. A playlist do streaming consolida lá pelas 2h da sexta-feira.

Playlist de clipes com The Chemical Brothers, CARA FEiA + Raíssa + Pité, Getúlio Abelha, Danilo Trimm, Funny Alexander, Qinhones, Edgar, Medulla, Josyara + Juliana Linhares, NPKN, Kaya Conky + Puterrier, Luna Ki, half alive, Zimbra, Ana Moura, Fueled by Ramen, Amaarae, MC Hariel, Himalayas, Sabina Sciubba e Shygir

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