Depois de tempos difíceis, rapper paulistana se une ao duo Quebrante em novo EP, quarto de sua carreira
por Fabiano Moreira
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A rapper paulistana Lurdez de Luz, 43 anos, lança nesta sexta (10) seu quarto EP, “Devastada”, somando mais um trabalho à sua boa discografia de três álbuns lançados, desde 2010, quando despontou na cena do rap nacional com um trabalho que está antenado com as tradições da música popular brasileira. O novo EP traz quatro canções, produzidas ao lado do núcleo de produção Quebrante, formado pela dupla Mathieu Hébrard (baixo) e DJ Will Robson (beats e efeitos). O trabalho faz uma reflexão sobre o que é ser uma mulher latino-americana na atualidade e traz como tema principal a recuperação após tempos difíceis. Batemos um papo, por e-mail, no qual falamos como todos nós, devastados, estamos nos refazendo após a pandemia e o último governo fascista, da sua busca intencional pela ideia da brasilidade, que dá a identidade ao seu trabalho, do aprendizado de uma nova forma de produção a distância, durante o período da pandemia, e as influências multidisciplinares do EP, o “caldeirão de bruxa, a mente da vilã”, que vão da escritora e artista portuguesa Grada Kilomba, passando pela performer, escultora e pintora cubana Ana Mendieta e o cartunista Gilbert Hernandez, autor da HQ “Crônicas de Palomar”.
“Devastada”, Lurdez da Luz e Quebrante
Moreira – Essa pandemia devastou a gente? Eu estou me refazendo, confesso. “Devastada” é sobre todas essas violências a que fomos submetidos no governo fascista?
Lurdez da Luz – Todas é muitaaaa coisa, não daria conta. O single “Devastada” foi a primeira letra que escrevi para essa nova fase. Nele, trouxe questionamentos da nossa história, desde o nosso processo de decolonização (caminho para resistir e desconstruir padrões, conceitos e perspectivas impostos aos povos subalternizados, sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo), que permanecem até hoje arraigados e que são tão específicos, porém refletem e estão conectados a esse fortalecimento da ideologia neo-facista mundial. Agora, principalmente o EP e os próximos singles com o “Quebrante” tem bem a ver com o que você falou: se refazer! Reconstrução a partir dos afetos, da paixão pela vida.
EP “Devastada”
Moreira – A faixa traz essa influência de forró e ritmos nordestinos, e é interessante como você ficou conhecida justamente por promover essa mistura entre o rap e a tradição da música brasileira; Rap nacional é diferente? Como a nossa música pode influenciar o rap? Adoro o EP “Nordeste futurista”, de Luana Flores, e Chico Science…
Lurdez da Luz – Adorei ver Luana ao vivo, super potente!!! E ter visto Chico definitivamente mudou minha vida e direcionou meu trampo. Eu acho que o que entendem como rap nacional tem diferença, tem outra estética, tem todo um movimento além da música, mas é genuinamente brasileiro. O lance é que eu busco, intencionalmente, pela ideia da brasilidade, porque é algo que me tocou, que fez parte da minha cultura, e nos últimos anos, porque me mantenho aberta para o que o povo ouve, mesmo gostando mais de outras décadas da produção musical.
Moreira – Como foi trabalhar com o coletivo Quebrante (Mathieu Hébrard no baixo e DJ Will Robson nos Beats e efeitos) na produção do EP? Como é o processo de criação de vocês? Vocês trabalharam juntos em “Modo aleatório” e em um EP deles, “Hey Man/Pégasus 7”?
Lurdez da Luz – Foi bem uma extensão desses trabalhos que você citou. Como tinha fluído legal, eu os convidei a serem minha banda nova e pra fazermos novas músicas, mas, dessa vez, Lurdez convida Quebrante em vez de Quebrante convida Lurdez, então passa mais pelas minhas propostas. Esses sons eu me sinto bem co-produtora. Foi feito todo à distância, naquela troca de arquivos sem fim (kkkk). Aprendemos um novo jeito de produzir, mas termos feito poucos ensaios presenciais na flexibilização da pandemia foi fundamental.
Moreira – Como veio a ideia de homenagear a ativista cubana Célia Sanches, trouxe ainda mais latinidade pro trabalho…
Lurdez da Luz – Essa música surgiu depois de ler sobre ela. Fidel a chamava de “a flor mais autóctone de Cuba”. Então, foi fluindo, bem intuitivamente, pensando em um amor revolucionário, um amor por ideais coletivos unindo duas pessoas. Eu gosto da sensorialidade dessa música, “la mariposa” é a flor símbolo de Cuba e ela expele um cheiro doce como da dama da noite, como o irupé… Tem uma exaltação à exuberância da natureza tropical também.
Moreira – Gosto da forma multidisciplinar como você explica o trabalho, o release traz várias referências fora da música; Como tudo isso age sobre a criadora?
Lurdez da Luz – É aquele caldeirão de bruxa, a mente da vilã (kkkkkk). O que atravessa não tem como negar, tem coisas bem mais simples do dia a dia que tem o mesmo peso, mas acho importante também a bibliografia do trabalho, quais produtos culturais eu consumi em todo esse período. Eu escrevo muito mais do que eu consigo lançar, espero equilibrar melhor isso esse ano.
Abaixa que é tiro!💥🔫
E, se em vez de uma pedra, como no famoso verso drummondiano, houvesse uma palavra? O que pode uma palavra sozinha diante da paisagem? Pois foi essa a ideia que, em plena pandemia, acometeu o simpático artista plástico Márcio de Carvalho, 54 anos, que criou o projeto encantado “Tinha uma palavra no meu caminho”, no qual espalha palavras, pintadas em tinta branca, pela bela cidade do Rio de Janeiro. Por meio da observação das ruas, principalmente do bairro do Catete/Glória, aonde mora, sua pesquisa reflete sobre as relações sociais do universo popular. Sua arte já virou cenário para o show de Leci Brandão no especial, “2022”, de Monique Gardenberg. A convite da curadora Daniela Name, espalhou frases de Dona Ivone Lara pelo Rio, “As pessoas me pedem muitas palavras, vou anotando e fazendo uma curadoria”, me conta, pelo Whatsapp.
Mais um finde animado no Beco, com Baile do Cambará, sexta (10), show da banda que eu gosto Roça Nova, no sábado (11), sempre às 20h, e o tradicional encontro dos compositores, na segunda (13), às 19h.
Serasse a reunião de duas bandas configura um festival? O La Cueva de Cervantes acredita que sim, e o importante é acreditar, e faz o seu La Cueva Rock Festival nesta sexta (10), às 22h, com meu amigo Glauco Batista e as bandas Mosquito Elétrico e Velotrol.
O conceito de festival segue na pauta com o Festival de Verão, às 15h, no Alameda Salvaterra, com shows de Oriente. da banda ETC que eu gosto, Venice e Rooftime.
A banda que gosto Tatá Chama e as Inflamáveis faz show sábado (11), às 21h, no Sensorial, recebendo a dupla de irmãos Júlia Vargas e Ivo Vargas, originalmente de Cabo Frio, que apresentam o show “Dois Varguinhas”. Adoro o canto dela. Na sexta,
Um tradição piscianja é a Festa do Peixe, que os nativos do signo e guitarristas Wesley Carvalho e Danniel Goulart, da banda Emimência Parda, fazem, desde que os conheço, nos anos 90. A desse ano rola nessa sexta (10), às 21h, no Bar do Fábrica.
Banda do meu ex-colega de redação Bebeto Castro (voz), a 0,3,2 Único faz show, sábado (11), às 18h, no Caminho da Roça . Zé Roberto (violão e viola de 10) e Anderson Fofão (percussão, flauta e gaita) completam a banda, que promove resgate da mais autêntica música brasileira.
As bandas Coiote Negro (formada por Márcio Reis e Megusta Zagusta) e Chá das 5 fazem show, sexta (10), às 21h, no Maquinaria.
O primeiro Samba das Trabalhadoras de Juiz de Fora rola no sábado (11), a partir das 17h, no Armazém do Campo do MST, na Praça da Estação, no próximo sábado, a partir das 17h, com as Mulheres do Samba.
No sábado (11), às 22h, o Rocket completa cinco anos no atual endereço, recebendo o DJ caioca Caíque Meirelles..
Caetano Brasil (clarinete), Bia Nascimento (violão) e Chico Cabral (percussão) formam o trio Caetano Brasil & O Choro Livre, que apresenta repertório de choro, no domingo (12), às 17h, na Autoria, no Granbery.
O Projeto Palco Central, do Cine-Theatro Central, divulgou a lista de projetos selecionados para apresentação no palco do teatro. Em março, rolam apresentações dos projetos “Esquinas & Vielas: O Desafio” (14), de batalha de danças urbanas, “Pedepoesia” (21), de música e contação de gistórias, e o trio Lúdica Música! que eu gosto apresenta o show do álbum “Espelho do Coração” (28).
Ocupar os espaços públicos é muito importante, vide o Espaço Hip Hop, que criou um rolê seguro e democrático embaixo do novo Viaduto Hélio Fadel. O festival Mulheres no Volante, no Parque Halfeld, empoderou as mulheres do rock na praça pública. O festival Ratos na Praça, organizado pelos skatistas José Hansen, 33 anos, aqui do Baixo Centro, Pablo Pessanha, 33, da Necessáire, e João Pedro Castanheira (GUT). 30, comemora dez anos e sete edições de história, neste sábado (11), a partir das 15h, na Praça Jarbas de Lery, em São Mateus. No palco, as bandas carioca Brita (indie rock) e a local Saginata (emo).
No começo, o festival era feito com equipamento emprestado e segue independente, sempre com essa bandeira do rolê acessível, contra os altos preços cobrados pelas bebidas nos rolês privados. O custos serão pagos com a venda de bebidas, já que o projeto não conseguiu apoio no edital de cultura da cidade. Já passaram pela praça bandas e artistas como Lê Almeida (RJ), Top Surprise (JF), Acid Drop (RJ) e Traste (JF). O evento também costuma exibir vídeos de skate, como “Passagens”, de João Vitor Foureaux,que rola neste finde. Tem muito homem bonito andando de skate, ALERT 🗣 ️. Vai rolar, ainda, exposição de desenhos de Clóvis Cacá Faria (escatologiaa em cores cítricas) e Tássio. Tem um dossiê do projeto aqui no Baixo Centro, com vídeos maravilhosos, como esse, de Halloween.
O flyer por Valpero Delacroix
“Redemoinhos para suspender o chão” é o nome do espetáculo que o Grupo NUN gestou na pandemia e apresenta ao público, este final de semana, nos dias 10, 11 e 12, às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. Esse é o terceiro espetáculo da companhia, criada em 2018. A peça tem direção geral de Cecília Cherem e sua concepção começou ainda no período da pandemia, e a pesquisa que veio daí se utiliza de movimentos espirais dos gestos como mote para estados de presença nos corpos. A motivação do espetáculo parece ser uma certa confusão pós-pandêmica e a resistência a golpes. “Mesmo na iminência da queda, celebramos as vidas e nossa pulsão coletiva de abraçar o risco e fazer do riso uma restauração do fôlego em movimento”, diz a curta sinopse. Os ingressos variam de R$ 30 a R$ 60, e o espetáculo conta com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Juiz de Fora. As fotos, de Natalia Elmor, estão belíssimas.
A Hiato Galeria abre exposição coletiva em homenagem ao Dia Internacional da Mulher neste sábado (11), às 11h. À mostra, estão trabalhos de artistas representadas pela galeria, as craques Angélica Gomes, Fernanda Cruzick, Heloisa Curzio, Júlia Vitral, Marcia Evaristo. Nina Mello, Paula Duarte, Soraia Miscoli Torres, Valeria Faria, Valeria Gouveia e Vanessa Raquel, uma seleção bem plural em linguagens, suportes e trajetórias. A exposição fica em cartaz até o dia 23.
Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com slowthai, Negro Leo + May Tuti, Dimitri BR + Lucas Matos, Sleaford Mods + Perry Farrell, Idris Elba + Solardo, Aitana, PVRIS, Supercombo, Lali, Grandson, Adi Oasis + Leven Kali, Natascha Falcão, Portugal, the man, Sophie Ellis-Bextor, Adriana Calcanhoto, Hans Pucket, Romeo Santos e Artic Monkeys.
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