“Jamevú”, redução de “já me vou”, é o oitavo trabalho de estúdio com direção artística e produção musical do guitarrista Saulo Duarte
por Fabiano Moreira
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LoremO mestre da guitarrada Aldo Sena está de volta, e em grande estilo. “Jamevú” é o seu oitavo trabalho de estúdio e o primeiro de inéditas em 30 anos, e uma celebração festiva, com a assinatura marcante do também guitarrista e paraense Saulo Duarte, responsável pela direção artística e produção musical. Esse é um lançamento do selo YB Music, que tantos serviços nos tem prestado. Bati um papo com os dois, no qual falamos da intimidade da guitarra com os gêneros latinoamazônicos. “Minha forma de tocar sempre foi de buscar aquela guitarra que chora, que traz aquela essência do interior, da cultura ribeirinha”, resume Aldo Sena, esse gigante. “Sempre levando a vida com Deus no Comando”, finaliza.
Moreira – Durante sete anos, eu fiz a festa Bootie Rio, a festa dos mashups, época na qual o gaúcho DJ JAK me apresentou à obra de Aldo Sena ao fazer um mashup com “Ela é top”, do MC Bola, que toquei à exaustão pelo Brasil. O mashup se chama “Guitarrada é top”. Depois, Gaby Amarantos e WaldoSquash me forneceram vários stems e produzimos a mixtape “Esse ao irei a Belém do Pará”, com o mashup do Aldo fechando a fitinha. E não é que eu fui tocar na Meachuta? Pedi para ficar uns dias a mais pra comer o máximo de sorvete Cairu possível, tomar cachaça de jambu, colocar jambu em tudo que pudesse, conhecer a antiga Quintarrada, de outro mestre das guitarras, Félix Robatto, e a casa Gotazkaen, aonde fiz bate-papo sobre mashups e fanzines. A guitarra, no Pará, como diz o mashup, é mesmo top, né? Porquê o instrumento virou sinônimo do estado, qual o diferencial paraense na forma de se tocar guitarra? Essas guitarras de vocês, paraenses, parecem falar. Não a toa, a guitarrada, ou lambada instrumental, é Patrimônio Cultural do Pará. Viva o povo brasileiro!
Saulo Duarte – Eu acho que essa intimidade da guitarra com os gêneros latinoamazonicos, que desagua na guitarrada, se dá nessa transição entre as manifestações acústicas e as primeiras gravações. O carimbó, as manifestações do boi, nasceram todas acústicas. O Pinduca, o rei do Carimbó, tem uma contribuição muito grande, pois, se não me engano, ele foi o primeiro a fazer essa transição para o elétrico. Isso foi uma revolução. Até pela facilidade de gravação, de conectar direto na mesa de som. As primeiras gravações foram feitas com guitarras em linha, sem nem passar por amplificador.
Aldo Sena – Minha forma de tocar sempre foi de buscar aquela guitarra que chora, que traz aquela essência do interior, da cultura ribeirinha. Sinto isso importantíssimo de conectar com o público através disso, do ritmo, das harmonias e com a guitarra trazendo o solo da amazônia pro mundo.
Moreira – Como se deu esse encontro geracional entre vocês dois? Como foi para Saulo encontrar esse monumento vivo que é Aldo Sena? “Sinto um clima tropical” é uma disco music a brasileira, né, e também temos a inserção de beats, isso tudo faz parte desse encontro?
Saulo Duarte– Eu conheci pessoalmente o Aldo Sena em 2015 ao fazer, a convite do Daniel Groove, a direção musical de um show dele. Desde então, vemos trocando e estreitando relações. Em 2022, oportunizei a vinda dele para São Paulo e gravamos as bases do que virou o disco. Ele me deu total liberdade pzra produzir o disco, e a ideia foi exatamente trazer novos elementos. Não inventamos a roda já que pessoas como o Waldo Squash vinha fazendo isso, mas é algo novo na obra do Aldo. Sinto que quando acontece esses encontros geracionais, os dois se atualizam. A gente atualizou o Aldo e ele atualizou a gente.
Aldo Sena – Conheci o Saulo em um Festival em Fortaleza e de lá pra cá ficamos nos falando. O trabalho dele é muito sério e ele me convidou para um show no Sesc na capital paulista. Ficamos uma semana em São Paulo e antes do show gravamos esse trabalho. Estou muito feliz de ter uma parceria com esse que é um dos maiores artistas do Brasil que tenho orgulho de chamar de amigo. Agora quero é o show de lançamento.
Moreira – Porquê Aldo ficou 30 anos sem lançar um álbum de inéditas? Fez muita falta, mestre. Seu trabalho é primoroso, virtuoso.
Saulo Duarte – Na verdade não são 30 anos sem lançar nada, tiveram alguns discos ao vivo com inéditas e pilulas, mas ele nunca parou. Acho isso importante apontar que sempre rola uma invisibilização de alguns artistas do Norte. Esse disco, na verdade. é o maior compilado de inéditas. Foi a circunstância de unir ele, a yb entrando no jogo, e esse disco é a continuidade. Sinto que o meu maior orgulho é ter esse disco que é um ótimo registro de quem é o Aldo hoje, em 2023.
Aldo Sena – Realmente, essa é a primeira gravação oficial grande, eu vinha trabalhando coisas menores até em estúdios menores. Foi muito importante pra mim esse momento. Espero que tenhamos um grande fim de ano agora, tenho já shows projetados aqui pra Fortaleza, onde moro, pra Belém e pra Bahia. Sempre levando a vida com Deus no Comando.
Moreira – Esse figurino de vocês está muito maravilhoso, gente, tem que abrir um lojinha e vender. Achei que, ao mesmo tempo, aponta para tradições, mas também para o futuro. Um olhar modernizante. Quem desenvolveu esse figurino? A capa e o projeto visual são da artista Lola Ramos, né?
Saulo Duarte – Essas fotos foram feitas com dois artistas que admiro muito, o fotógrafo José de Holanda e a stylist baiana Livia Cady com roupas da marca baiana Ateliê Mão de Mãe. A Livia propôs essa identidade visual incrível com as rendas e redes. A capa foi feita pela Lola Ramos, uma artista incrível com quem já tinha trabalhado anteriormente.
Aldo Sena – Muita gente gostou desse figurino. Além de ter produzido o disco, o Saulo ajudou com essa ponte e sinto que pra esse disco eu só tenho que agradecer primeiro a Deus e depois ao Saulo. E também para todos que acompanham a minha música nesses anos, por isso gostaria de deixar um abraço para você e para quem me ouve.
Moreira – 🫶
Abaixa que é tiro!💥🔫
Ferakalt é o projeto solo da cantora, compositora, produtora musical, multi-instrumentista e artista visual paranaense Natasha Durski. Ela se prepara para lançar seu primeiro álbum em novembro, “Corpo no Mundo // Corpo que Habito”, trabalho do qual ela dá pistas, pixando e incendiando, no single “Colapso Tropicaos”, que já chega com clipe revolucionário, militante e black bock. “Comecei a compor ‘Colapso Tropicaos’ em um momento de turbulência interna e externa. Estávamos na pandemia, vivendo um governo negacionista e genocida“, conta a artista. Eu tenho um carinho por pessoas que usam balaclava, acho muito daora, risos, como as Irmãs de Pau em “Shambaralai“. E adoro artistas que lutam “por mudanças em um mundo em colapso”. A faixa é a terceira música lançada do novo projeto solo da compositora, que já conta com “Existo”, que também tem vídeo cool, no qual ela está gatíssima 🐈⬛, balaclava free, e “Tonight”. O projeto perpassa vertentes musicais como synthwave, dreampop, shoegaze, post punk, sadcore, lofi, noise e synthpop, para nossa alegria. Pra gente, aqui de Jufas, impossível não lembrar da performance e do filme “Colapso”, de Gramboy, dadas às semelhanças temáticas e também no uso da caligrafia como arma revolucionária.
A gente já sabe que o Pupillo só se envolve em projetos maravilhosos, e eu não sei em qual planeta eu estava que ainda não conhecia o My Magical Glowing Lens, projeto solo da multi-instrumentista e produtora capixaba Gabriela Terra que tem visuais de endoidar, como no clipe recém-lançado para “Sobrevoar”, primeira canção produzida junto a Pupillo e mixada por Benke Ferraz, da banda Boogarins, que estará no próximo álbum dela, “Gamana”. A música fala sobre tentar compreender os outros, e o clipe promove o encontro filosófico entre destruição e criação. Fiquei tão encantado que fiz um intensivão no YouTube do projeto, aonde me deparei com a live “Da Ordem ao Fluxo – Uma Live Híbrida e Experimental”, de se assistir gritando e rodando a cabeça tipo a menina do “Exorcista”, uma instalação artística imersiva virtual e experimento do coletivo Metassoma que traz uma retrospectiva do álbum de estreia, “Cosmos” (2017). “Me inspirei em instalações de arte imersiva e tecnológica, que exploram arquitetura e imersão do espectador”, conta. O clipe recém-lançado traz para a tela a vivacidade da natureza noturna, sensação intensificada por meio de tecnologia digital. As cenas foram gravadas nas cidades de Vila Velha, Vitória e em ambientes virtuais. Em suas obras, a artista mistura elementos orgânicos e eletrônicos, montando arranjos que criam ambientes sonoros de inspirações oníricas, que levam o ouvinte para uma dimensão sonora ainda pouco explorada. Eu tô passada. E quero mais.
DJ dos bons que despontou em festas como a Batekoo e a Mamba Negra, Evehive acaba de lançar seu segundo EP, o fervido e divertido “Pisa Pisa”. “Toca pra elas”, diz a faixa de abertura, “Bala solta”. Natural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, ele vive atualmente em São Paulo. A dualidade entre o que é bruto e delicado é um ponto focal do EP, no qual o artista habilmente oscila, amplificando contrastes. Numa miscelânea de texturas, ora vibrantes, ora densas, Evehive desenvolve uma sinfonia que transmite sensação de alegria. E muito fervo, como na outra faixa inédita, “Vo socá”. O visual do EP tem uma divertida brincadeira com coturnos, e o som tem mixagem do amigo DJ b o u t. O lançamento é da MAMBArec. Pra fechar a tampa, o DJ faz “fumaça igual dragão” e toma “chá de cucetinha” na maconhista “Fazer fumaça”, com as participações de Zaila e Pamka nos vocais, na “qual pega no rolê, mas não responde no whatsapp”. Essa foi direto pra minha playlist “Tem alguém queimando coisa”. O EP é um dos destaques do mês de setembro na música LBGTQIA+ na minha coluna na Revista Híbrida.
Uma tigresa de unhas negras registrada e protegida pelo Ibama, nossa diva maior dessa geração Filipe Catto, minha amiga virtual desde a era do Fotolog, acaba de lançar “Belezas são coisas acesas por dentro”, álbum produzido por ela e Fabio Pinczowski, captado ao vivo para reverenciar o repertório de outra gigante, Gal Costa, logo após sua recente partida, projeto que adiou o seu quarto álbum de inéditas, em processo. O projeto nasceu primeiro como espetáculo nos palcos do Sesc em São Paulo e chegou ao público no último dia 26, dia do aniversário das duas Gracinhas, e é uma luxuosa ópera rock. Minhas favoritas são “Nada mais”, “Tigresa”, “Vaca profana” e “Negro amor”.
O finde no Cine-Theatro Central tem shows de Tim Bernardes, esta sexta (29), às 2oh, com o espetáculo de seu segundo álbum, o belo “Mil Coisas Invisíveis”, sobre o qual falei aqui. Imperdível. No sábado, no mesmo horário, tem Oswaldo Montenegro & Orquestra e participação de uma das musas do artista, a flautista Madalena Salles. No domingo, tem Concerto para Crianças com a Orquestra Sinfônica Pró-Música, às 16h30. Os ingressos são gratuitos e já podem ser retirados na recepção do teatro.
Dado Villa-Lobos & Marcelo Bonfá, os caras da Legião Urbana, fazem show da turnê “As V Estações”, sexta (28), às 21h, no Terrazo, em noite que também tem Paulo Ricardo, confirmando Jufas como a terra oficial do flashback #bateuumaondaforte. No sábado, às 21h, rola a 4ª edição do JF Rap Festival, com as lendas Poze do Rodo, Oruam, Orochi, Veigh e Raffé.
Na sexta (29), às 21h, grandprix e Wry, originalmente de Sorocaba, fazem show, às 21h, no Maquinaria.
Tem Roça Nova e Rama Ruana neste sábado (30), às 21h, no Beco.
O espetáculo “Para Lennon & McCartney – os Beatles e o Clube da Esquina” tem única apresentação neste sábado (30), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. com um septeto de cantores-instrumentistas. No palco, Deco Fiori (voz, violão e bandolim), Dudi Baratz (voz, baixo e guitarra), Sérgio Sansão (voz e percussão), Lourival Franco (teclados), João Freire (violões e voz), Hugo Belfort (guitarra) e Marcelo Vig (bateria).
Jards Macalé faz show de lançamento do álbum “Coração Bifurcado” nesta sexta, às 22h, no Circo Voador, em noite que ainda tem Rubinho Jacobina e noite de autógrafos do livro “Narrativas Imprevisíveis” do escritor e também músico e querido Botika.
“Nosso Sonho” , cinebiografia da dupla Claudinho e Buchecha (vividos por Lucas Penteado e Juan Paiva,) \estãoá em cartaz no cinema. UCI , do Ideedênccia Shopping.
O festival Porão do Rock, essa instituição e patrimônio imaterial nacional, comemora 25 anos com edição entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, no Eixo Cultural Ibero-Americano (antiga Funarte), em Brasília, com 28 atrações. No line up, estão Edu Falaschi, Krypta, Galinha Preta, Evil Corpse e Kidsgrace (29), Céu, CPM 22, Dead Fish, Luísa e os Alquimistas e YPU (30) e Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, Rita Lee por Beto Lee, Plebe Rude, Day Limns, Selvagens à Procura da Lei e Orquestra Quadrafônica (1), citando os destaques. Pela primeira vez, o Porão terá um palco feminino dedicado à apresentação de bandas/artistas compostas majoritariamente ou lideradas por mulheres. E 90% da equipe técnica e de produção desse palco será composta por mulheres. O festival ainda homenageia Rita Lee e Canisso (baixista da formação original dos Raimundos), que partiram recentemente, dando seus nomes aos dois palcos.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com Borgore, Depeche Mode, CHAII, Doja Cat, Sufjan Stevens, Amanda Sarmento + Ciana, Lylith Pop, Filipe Catto, Devendra Banhart,, Daya, Benito Di Paula e Rodrigo Vellozo, Hamilton de Holanda + Djavan, Stephen Sanchez, David Kushner, blink-182, Shakira + Fuerza Regida, MC Sid + Krwak, Silva + Liniker, Kylie Minogue e Jungle
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