Sexta Sei: Não procrastina: coloca a boca no trombone de Josiel Konrad e sua mistura de jazz e funk

Terceiro álbum do trombonista, compositor e cantor da Baixada Fluminense, “Boca no trombone”, chega no dia 15 de novembro, unindo os dois ritmos negros

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Josiel Konrad por Anderson Costa

“Mexe a boca, usa essa boca, não procrastina, coloca a boca no trombone”, diz a letra de “Boca N° 0 (Funk Carioca)”, ponto de partida do trombonista, cantor e compositor Josiel Konrad, 36 anos, cria da Baixada Fluminense, para o seu terceiro álbum de estúdio, “Boca no trombone, que chega no próximo dia 15, com essa provocação que é a mistura de rap jazz, funk carioca, R&B e música popular brasileira. O álbum tem um quê de marxista e questionador da realidade de opressão, sugere que botemos a boca no trombone e será lançado com show no Teatro Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no dia 1º de novembro, às 20h. “O acesso ao jazz, que nasceu na periferia, foi cada vez mais sendo apropriado pela alta classe da sociedade, se afastando de suas origens. O álbum me inspira a sonhar e a lutar por um mundo mais justo e igualitário, que aproxima as pessoas, voltando com o jazz para a periferia, tenho como ponto crucial levar essa mistura de sons para a alta classe”,  afirma o multiartista, em papo bacana aqui pra Sexta Sei.

Moreira – Me conta como foi o clique inicial para você começar a fazer essa mistura de jazz e funk, uma ideia que os puristas devem se arrepiar com ela, né? É uma forma de retornar o jazz para a periferia, de onde veio? E também de lançar um novo olhar para o funk, tão marginalizado, e tão potente em sua simplicidade e acesso…

Josiel Konrad – A primeira memória que eu lembro do funk foi quando eu tinha 12 anos, em 1998, morava momentaneamente na Favela do Dick, em São João de Meriti, e tocava no rádio de pilha a música “Favela também é arte”, e a letra me pegou, era um funk melody do Mr. Catra, e minha mente ficou imaginando milhões de possibilidades pra criar um funk, aquilo me inspirou de uma tal forma que eu queria virar MC e pedi à minha mãe pra comprar um walkman que gravava, olha que, nessa época, eu nem era músico, devido às condições, eu não tive esse sonho realizado. Passaram-se três anos, voltei a morar em Austin e, ali, estava eu aprendendo trombone,e a tônica era que funk era música ruim, e por muito tempo eu acreditei nisso, é só depois de viajar para a Europa em 2017 e conhecer outros países, que eu me perguntei, qual a música raiz do Brasil, e daí começou a busca, e fiz um EP chamado “Quando menino” e, a partir dele, senti a necessidade de retomar minhas origens com as minhas raízes, e daí nasceu a primeira música do meu álbum, “Boca N° 0″

Foto : Rubens Gonçalves

Moreira – Você sempre associou o canto ao trombone? Isso está presente já no primeiro álbum, “+Amor” (2017). É uma forma muito dinâmica de se apresentar, acredito que não deve ser fácil ter fôlego para alternar… Você me disse, no bate-papo do zap, que não é cantor, mas sempre interpretou as próprias canções… Como você vive essa dinâmica?

Josiel Konrad – Sim, sempre achei o som do trombone parecido com a voz do meu pai, que é cantor, tem a voz bem potente, sempre tentava cantar na igreja, mas tinha vergonha, é só comecei a interpretar as minhas músicas quando não encontrei intérpretes para gravar as faixas do meu primeiro álbum, “+ Amor”, daí criei coragem e saí cantando, sempre preparo nenhum, hoje em dia, penso em começar a preparar mais a voz. 

Moreira – O segundo single divulgado, “Essa é a realidade”, fala da luta de classes, que os trabalhadores sustentam a mordomia da burguesia, com a intenção de colocar a boca no trombone… Seu trabalho tem esse fundo político e revolucionário, né, de questionar as estruturas…

Josiel Konrad – “Essa é a realidade”, sim, é bem política, com a polarização que vivemos hoje, acho que partidarizar se tornou algo muito comum para quase tudo, e eu sou muito inconformado em ver que, na Baixada, a maioria não se entende como pessoas à margem. Como fui criado em família evangélica, e a maioria é conservadora, e ser conservador ou não, para mim está tudo bem, porém, muitos acreditam em meritocracia, mas eu não acredito, então nasceu esse som que de fundo de pano traz minha opinião bem direta, porém antagonizando a classe burguesa, como sempre deve ser e para onde devemos olhar e fazer as nossas comparações e não se comparar com o vizinho que não teve talvez a mesma sorte que eu tive de ser encontrado pela música. 

Foto : Rubens Gonçalves

Moreira – A questão racial fica evidente em “Pretos”, mas ela permeia todo o álbum. Qual é a mensagem nesse sentido? “Viva o povo preto, em todos os lugares”…

Josiel Konrad – Essa música eu escolhi pra ser o ponto alto do álbum, focando na questão racial só nela, e fiz questão de colocar uma introdução bem soft, pois já senti muito medo de falar sobre racismo, e o álbum me fez perder esse medo. Ela segue um jogo perguntas, no início, no qual, a primeira pergunta é respondida pela pergunta seguinte, mesmo sendo uma pergunta, que já é respondido pela terceira pergunta, e todo esse jogo de perguntas e respostas são para as pessoas pretas que acreditam não nunca terem sofrido racismo, e logo após as perguntas, sigo para enfrentamento direto na canção, o que me fez saudar com vivas aos povos pretos, com suas religiões e crenças de todos o lugares do mundo, que se erguem para esse enfrentamento, super necessidade, e que começa dentro de nós mesmos.

Foto: Guilherme Bezerra

Moreira – Além do funk, em “Festa tropical”,  tem um perfume de bossa-nova e sambalanço, a ideia é trazer o jazz para a nossa cultura nacional? 

Josiel Konrad – Rs… sim, super… lembra das TVs P&B minúsculas de 6 polegadas, foi por uma delas que vi a pela primeira vez a orla de Copacabana, o Cristo e a Sapucaí e, quando comecei a compor, só me lembrava dessas imagens, e essa bossa meia jazzística, pelo incrível que pareça, inspirei-me assistindo um gringo tocar “Chega de saudade” (I e II), o meu ídolo Dizzy Gillespie.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Recentemente, falei aqui do meu apreço por música instrumental que faz viajar. Pois acabei de conhecer o trio gaúcho Cardamomo, que lançou seu segundo álbum de estúdio, Meridiano, com clipes bem legais paraWoo Pt. 2″ (acima), Sem Chão”, “Acelerado e Farol“. O trio instrumental de rock alternativo experimental e multifacetado (uma mistura de indie rock, shoegaze e  post rock) é composto por Guilherme Boll (bateria), Joni Oliveira (baixo) e Marcelo Henkin (guitarra), todos de Porto Alegre (RS), aonde vai rolar show de lançamento do álbum, no dia 5 de novembro, no tradicional Bar Ocidente. Frederico Demin, que dirigiu os clipes de “Acelerado” e “Farol”, assim também o último vídeo de “Woo Pt. 2″, usando fotos de Frances Rocha como base para a montagem do clipe. Dialogando com a narrativa aberta anteriormente no vídeo de  “Farol”, Demin volta a incorporar elementos de inteligência artificial, fazendo uso de ferramentas como a Runway, que possibilita a animação de imagens estáticas. O clipe apresenta um filtro analógico que dá a sensação de uma filmagem em película. As fotografias se integram à inteligência artificial, criando uma espécie de colagem artística, que inclui imagens de esculturas, outras fotografias e animações. 

Isabel Nogueira e Luciano Zanatta (LucZan), o Bel Medula. Fotos: Douglas Jung

Bel Medula, o duo gaúcho formado por Isabel Nogueira e Luciano Zanatta (LucZan), uma das sextadas mais maneiras que já me aconteceu, acabam de lançar seu quinto álbum de estúdio, A dança do caos”, mais uma vez com produção de João Milet Meirelles, do BaianaSystem, com clipes para “Samambaia” (amoooo) e Um sorvete de manhã“. O álbum foi pensado para ser tocado ao vivo, e é menos eletrônico e mais de performance, ainda que sejam utilizadas bases eletrônicas. Bem bom. O show de lançamento está marcado para o dia 28 de outubro, às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, em Porto Alegre, e terá participação especial da gaúcha Viridiana, que a gente também ama e é sextante.

Capa do álbum por Luiza Padilha
Alexandre Z 💦

Seguindo a boa safra de versões de Chico Buarque que apontei aqui na última sextada, o cantor Alexandre Z e ator e humorista Rafael Infante lançam, nesta sexta (27), a sua visão para “Jorge Maravilha”, esse clássico buarqueano, sinônimo de rebeldia e liberdade, com sonoridades brasileiras como samba de roda, guitarra baiana e batidas de carnaval. Censurada durante a ditadura militar, a letra fazia referência à filha do general Ernesto Geisel, presidente do país, na época, que se declarou para o cantor. “Não existe nada mais poderoso do que a arte. Mesmo em tempos sombrios, a arte está lá. Foi assim no regime militar, nos últimos anos de retrocesso e será assim pra sempre”, analisa Alexandre Z. O show de lançamento da música será sábado (28),  às 20h, no Galpão Ladeira das Artes, no Cosme Velho, no Rio. Nascido e criado em Nova Iguaçu, na baixada fluminense, Alexandre tem álbum lançado, “Sempre mandando bem” (2022), e “Jorge Maravilha” estará no próximo, “De braços abertos”.

Em novembro do ano passado, eu destaquei aqui a voz do jovem e talentoso César, 27 anos, como um dos destaques da In/sane Sessions. De lá pra cá, não só nos conhecemos pessoalmente, como tive a oportunidade de vê-lo em ação no Palco Central e também no musical “Hair”, quando confirmei que ele é um dos artistas mais potentes da nova geração na cidade. Pois ele começou a postar, esta semana, uma série de três videos da nova série In/sane Epiphany, começado com Lei da atração, faixa de seu EP de estreia, “Monotema”. Nas próximas quintas, às 18h, saem “Implora e Chora”, mais uma autoral do EP, e “Conselho”, de Almir Guineto. O trabalho de César é dedicado a explorar as narrativas do cotidiano e as relações afetivas e seus atravessamentos. Os vídeos foram gravados na casa do diretor e produtor audiovisual Ciro Cavalcanti, em Juiz de Fora, com César acompanhado, ao violão, por Yann Okada.

Fotos Still / Making-off: @certarosa
Ed Motta no PRIO Blues & Jazz Festival, no Rio. Foto: Stefano Martini
"Família Addams, o musical", no Teatro Solar
Wagner de Almeida na Canil Recs
Roger Waters e a turnê de despedida "This is not a drill"
DJs Crraudio e Amanda Fie no Baile Pirigótico
Halloween do Skylab no Circo Voador
A mostra “Imensidão do Azul”, do artista plástico Everaldo Silva
Exposição "A linguagem do lenço", de Rodrigo Dias e Mariana de Andrade

A primeira edição do PRIO Blues & Jazz Festival acontece entre sexta (27) e domingo (29), na Marina da Glória,no Rio, com shows de Marina Lima, Orquestra Imperial, Ivan Lins, Frejat em Blues,Tuto Ferraz e Victor Biglione (27), Luedji Luna, Maria Gadú, Seu Jorge (28) e Céu, Ana Cañas, BNegão&Black Mantra cantam Tim Maia, Sandra Sá, Ed Motta, Ricardo Verocai e Marcos Suzano (29).

O espetáculo “Família Addams, o musical”, da Entreato Produções, faz curta temporada no Teatro Solar, de sexta (27) a domingo (29), às 19h. A indicação etária é a partir de 10 anos: Wandinha cresceu e se apaixonou, e o espetáculo mostra como o encontro de uma família tão esquisita com uma família convencional.

Na sexta (27), às 21h30, a Banda do Ben comemora seu aniversário de cinco anos, no Beco, com participações de RT Mallone e Alessandra Crispin.

Arte "contenporânea" no Halloween da Nécessaire

No sábado (28), às 15h, tem o divertido Halloween Nécessaire 🦇, como dá pra ver em fotos de outro rolê temático aqui, com show da Permaneço Deitada e sets com os DJs Alfinete e Rafael Cloudwave. Já dá pra imaginar a galera fantasiada de skate na miniramp.

Na quarta (1), às 21h, tem o Halloween do Skylab, no Circo Voador, matador de passarinho!

O Novembro Negro, ção do Mês da Consciência Negra, tem programação gratuita, começando com a exposição “A linguagem do lenço”, de Rodrigo Dias e Mariana de Andrade, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, que mergulha no costume de as mulheres usarem lenços na cabeça. Um documentário será exibido na noite de abertura, às 20h30.

A Canil Recs 🐶 apresenta o show de lançamento do sexto de Wagner Almeida, de Beloryhills, “Com Cuidado”, que mistura rock alternativo, folk, shoegaze e MPB, com o nosso Baapz, na quinta (2), às 17h. 

Um dos maiores nomes do rock e do ativismo político, Roger Waters traz a turnê de despedida, “This is not a drill”, para o Brasil, passando por seis cidades, e tem show no Rio de Janeiro, no Engenhão, no sábado (28), e em Belo Horizonte, no Mineirão, no dia 8, ambos às 21h. Ele lançou, este mês, o “The dark side of the moon redux”, uma uva.

No sábado (28), às 22h, Halloween da American Party, com show da banda Disk e os DJs Müller e Cabelo (Douglas Rodrigues), no Muzik, aonde também rola, na quinta (1), às 22h, o ralouín da Kaô Funk, o Baile Pirigótico, com os DJs Crraudio e Amanda Fie, da Makoomba.

A mostra “Imensidão do Azul”, do artista plástico Everaldo Silva, está em cartaz na galeria do Fórum da Cultura.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Green Day, Duran Duran + Victoria DeAngelis, Kali Uchis, Anitta, Vitão, Letrux + Lulu Santos, Supercombo + Tuyo, ÀIYÉ, Capim-Limão, Orquestra Bamba Social, Jovem Dionísio, Marcão Baixada, Chris Brown, Jump, Jorge Aragão + Xamã, Future Static, will.i.am + J Balvin e Eduardo Manso

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