Curitibano fala do trabalho que mostra no Instagram e que não é um produto final, mas uma experiência coletiva sobre masculinidade
por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com
O ilustrador curitibano Igor Oliver, 33 anos, encheu o seu Instagram com suas visões de um coelho sensual, erotizado, sexy e fashionista, que, muitas vezes, se confunde com o próprio artista, em ensaios pra lá de quentes, bonitos pra caramba. Batemos um papo, por e-mail, dando continuidade a uma série de matérias aqui da #sextasei sobre um novo imaginário iconográfico gay. Ele revela que seu trabalho não tem produto final, mas é sim, uma experiência coletiva, um convite. A nós, só resta embarcar atrás do coelho 🐰.
Moreira – Como surgiu essa fantasia do coelho? Acredito que Coieo não seu seja seu sobrenome, mas um codinome artístico. É interessante como você levou isso ao extremo e transformou em uma poética, primeiro em desenhos e, depois, também em fotos. Dá sorte?
Igor Oliver – A imagem do coelho é um acessório visual a mais dentro da minha experiência visual. O Coeio vem da palavra coelho mesmo, foi uma forma de transformar a palavra. Me apoderei da imagem do animal por ser uma memória afetiva que surgiu desde criança. Quando pequeno, ganhei uma pelúcia de coelho, e o primeiro livro que li foi “Alice no País das Maravilhas” ( me apeguei no Coelho Branco e não na Alice, aliás, hoje já não faz mais parte do meu gosto toda a história), essas simbologias me ajudaram a mecanizar a minha forma de inserir em símbolos nas ilustrações e edições de imagem. Claro, hoje, aos meus 28 anos, a ideia é outra, compondo o erotismo e o mistério que o animal carrega. Assemelho essas características a mim mesmo, astúcia, ingenuidade, sensibilidade e intuição são parte do combo de estratégias que uso para o meu universo.
Moreira – Na minha adolescência e juventude, não era comum circularem trabalhos que falassem tão abertamente sobre homoafetividade. Você sente que existe uma maior liberdade, hoje em dia, com as mídias sociais? Ou você ainda leva muita martelada na rede? Isso tudo veio com as novas mídias ou há mesmo uma mudança de mentalidade?
Igor Oliver – Quando eu era mais jovem, o acesso que eu tinha era a TV, mas a representatividade era muito pouca. Na adolescência, eu não via isso no meio da arte contemporânea, e o que sei, hoje, é por um acesso tardio. Hoje, vejo que a cena de comunicação de homoafetividade está muito mais latente, e as redes sociais ajudam nisso, e hà quem levante bandeiras por anos, abre caminhos para novas pessoas a artistas. Quando o Instagram começou a ser muito popular e ser utilizado como forma de aproximação de públicos, foi o momento que percebi que poderia utilizar mais esse espaço, assim como Twitter e Tiktok. O instagram, definitivamente, me movimentou mais, pois é onde tive trocas e contatos com demais artistas. Falar sobre homoarte por meio da ilustração é, no momento, onde me sinto mais confortável, quando ilustro os meus personagens, muitos como autoretratos, percebo que me aproximo de demais pessoas que se identificam com isso. Assim como experimentar as edições em fotos, gosto de trazer esse lado fantasioso para algo que exponha a minha criatividade, que explore as minhas técnicas e olhar fotográfico. Durante os dois anos que venho realizando esses trabalhos com mais afinco, já perdi seguidores, ganhei outros, tive trocas, olhares estranhos, mas não me importo muito, pois eu gosto de provocar, de ficar inquieto. Hoje me sinto assim.
Moreira – Como você enxerga a sua masculinidade? Como ela é quando comparada à do seu pai? Como a sua família vê a sua sexualidade e a expressão dela no seu trabalho artístico?
Igor Oliver – A minha masculinidade sempre foi motivo de reflexão. Por ser mais afeminado que meu irmão, sempre tive a comparação de masculinidade dele, por amigos, familiares e outras pessoas, quando fui crescendo, fui entendendo mais o que acontecia, como o preconceito age através das pessoas. E, de alguma forma, eu sentia que, por mais que eu não conseguisse dialogar sobre isso com alguém, eu conseguiria desenhar. A ilustração me move dentro desses diálogos, por isso que digo que represento as minhas masculinidades, as minhas experiências. Minhas ideias não são escritas em pedras, pois não tenho um tipo de masculino talvez, mas momentos que ela se mostre diferente, eu sempre me observei muito, e o processo de desenhar me fez caminhar junto da minha sexualidade, não me cobrando e tendo empatia comigo mesmo.
A minha família não tinha costume de falar sobre sexualidade, tudo sempre foi muito raso, entendo um pouco o porquê disso, pois meus pais vieram de realidades pobres e com pouco acesso. O que entendi sobre essas vivências, foi por conta própria, foi por viver como o Igor. O meu irmão sempre esteve junto de mim e não tivemos papos sobre isso, talvez porque ele sempre entendeu como eu lidava com minhas sexualidade e como eu me expresso sobre a minha forma de ser. Meu pai sempre teve características masculinas viris e de ser o machão da casa, com o tempo, fui percebendo que eu não me adaptava nesse quadro e que eu poderia ser uma pessoa sensível, que gostava de bonecas, que sentiria afeto por outros homens. Isso me deixou inquieto e, por isso, comecei a ilustrar o que apresento hoje.
Moreira – Acho que, na coluna, essa entrevista se encaixa em uma série que inclui os posts sobre o o Cyberpathology, a Quimera Vermelha e as ilustrações sobre fotos de David Hodecker, no sentido de todos estarem em busca de uma nova representação iconográfica da a comunidade gay. Você sente que está fazendo parte de uma pequena revolução, mudando paradigmas? Nos anos 70, Alair Gomes fazia suas fotos pela fresta da cortina, não faz tanto tempo.
Igor Oliver – Quando eu comecei a ilustrar dentro da homoarte, não tinha muita consciência dos reais significados que eu precisava falar, simplesmente eu desenhava. Com o passar dos anos, eu senti que algo faltava. “Sobre o que eu quero falar?” Quando percebi que comecei a ter um público específico, que consumia mais as minhas artes, entendi que posso ser uma voz dentro da comunidade gay. Recebo com muito valor quando pessoas mais jovens ou mais velhas me mandam mensagens de que adoram meu trabalho ou que, de alguma forma, as inspira. Hoje eu tenho muito orgulho de onde o meu trabalho está, por onde passa e por ser uma fonte visual e sensível de falar sobre sexualidade.
Moreira – Quais são as suas principais referências, quais os artistas que você admira? E como é o seu processo de trabalho? É mais transpiração e experimentação do que inspiração? Voê já ganha dinheiro com esse trabalho?
Igor Oliver – Desde pequeno, consumi animes como Digimon, Yu-gi-oh e etc… Essas mídias me empurraram mais para o lado da ilustração. Na adolescência, filmes de suspense do Stanley Kubrick me despertaram um tom mais sombrio, assim como diversas produções do cinema. A Lady Gaga mudou muito a forma como eu via a arte, ela é da música, mas transforma todos os nichos da arte no diálogo dela, fala sobre dores e conquistas, transforma isso em arte, com certeza ela é uma das maiores inspirações pra mim, tanto em visuais quanto em explorar universos diferentes na arte.
Meu trabalho começou com muita repetição, muito estudo pessoal. Para entender o universo que eu trago hoje, estudei minhas ideias e conceitos visuais, desde de simbolismos até a inserção do coelho como imagem e comunicação. Acredito que ter apenas inspirações não constroem ideias, é preciso estudar, conhecer novos universos, fazer o que não gosta. Esse papo de “talento” é conversa pra boi dormir. A intenção sempre está acompanhada de tudo isso, para todos os artistas.
Gostaria que eu pudesse ganhar mais com o meu trabalho, pois realmente acredito nele, mas eu acho que estou onde eu deveria estar, a minha produção é, constantemente, uma experiência, nada é um produto final. Talvez ano que vem eu já não esteja com essas premissas, mas estou em um momento de entender quais são os meus objetivos e estratégias para querer ganhar mais dinheiro ou colocar meu trabalho em algum lugar.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Fotos: Matheus Angel
Eu falei aqui na #sextasei do trabalho da Lá da Favelinha na coluna sobre seu idealizador, o músico Kdu dos Anjos. Ele acaba de lançar livro sobre essa trajetória, em parceria com a Crivo Editorial. O livro “Lá da Favelinha” conta a história, as conquistas e os passos mais marcantes do projeto e foi escrito por artistas, parceiros e colaboradores.
O Centro Cultural Lá da Favelinha é uma iniciativa independente e sem fins lucrativos que surgiu em 2015, na vila Novo São Lucas, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Em seis anos de história, transformou o que antes era uma biblioteca comunitária e uma oficina de rap em um espaço cultural, político e de resistência, com grande potencial artístico, cultural e empreendedor.
Kdu dos Anjos por Luana Abreu
Minha amiga Clarice Silva é engenheira florestal e, atualmente, gerencia o Parque Estadual do Ibitipoca. Ela acaba de lançar o livro “Estórias inspiradoras de aves e outros bichos”, independente, com as fotos lindas que ela tem postado em suas redes sociais. “Durante esta pandemia, comecei a fazer uma amizade com as aves e outros bichos que estão ao meu redor e escrever sobre eles nos posts das redes sociais. Suas estórias, cheias de positividade, são inspiradoras”, me conta, pelo Whatsapp.
Interessados em adquirir a publicação podem escrever diretamente à autora pelo e-mail claricenlsilva@gmail.com. O livro custa R$ 25, indo buscar na serra, e R$ 30, para receber em casa. “O interessante do texto é que ele acompanha os vôos incertos das aves, oscilando entre humanizar aves e aviar homens”, comenta o pai, que também leva jeito com as palavras, Cyro Marcos da Silva. Inclusive evocou a minha playlist “Passarinho”, recentemente atualizada com boas sacadas do amigo Pedro Teixeira.
O Sesc ao vivo, recebe as atrações do Sesc Jazz, marcando a retomada de eventos, que seguem sendo transmitidos on-line. Na sexta (15), tem Jussara Silveira e Rodrigo Faria cantando o disco “Jóia”, de Caetano Veloso, às 19h, e Amaro Freitas & Ancestral Cumbe convidam Henrique Albino, Hugo Medeiros, Lais de Assis e Lucas dos Prazeres, às 22h. No sábado (16), tem Funmilayo Afrobeat Orquestra, às 19h, e Hamilton de Holanda, às 21h. A programação acaba no domingo (17), com The OTIS Project, às 19h.
Já está rolando e vai até domingo (17) a nona edição do Festival Curau – Culturas Regionais e Artes Urbanas, de Piracicaba, que fomenta diálogos entre gerações por meio da cultura popular. Os destaques são os shows de Ellen Oléria, Diego Moraes, Rafael Beibi e Caipira Jazz Duo, às 21h, hoje (15) e o showzaço de Juçara Marçal e Kiko Dinucci, às 19h, no domingo (17), com participação do Batuque de Umbigada Guaiá de Capivari. Os shows rolam no YouTube do festival, e a programação completa está aqui.
Josyara e Preta Gil estão no quarto episódio da websérie #SeguindoACanção, hoje (15), às 20h, falando sobre falam sobre autossabotagem, síndrome de impostor e autoestima.
No sábado, já sabe, é dia de Virada SP, com Paulinho Moska (19h) e Beto Barbosa (21h30).
Vai até amanhã a mostra de cinema Cine Horror, com filmes transmitidos pela plataforma streaming Cinebrac, que dá seis dias de assinatura grátis. A mostra reúne filmes de Brasil, EUA, Canadá, Portugal, Argentina, Alemanha, México, Istambul, Filipinas, Espanha, Venezuela e Japão.
O festival Rock Brasil 40 anos segue até 1º de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, com shows transmitidos pelo YouTube. Sábado e domingo, começa às 17h30, com apresentação da Orquestra Petrobras Sinfônica. No sábado (16), tem Ira! (19h), George Israel (20h15) e Barão Vermelho (21h15). No domingo, tem Kiko Zambianchi (19h), Fernando Magalhães (20h30) e Dinho Ouro Preto (21h20). Na segunda, tem pocket show com Inocentes (19h).
Estão abertas as inscrições para o superbacana In-Edit Brasil – Festival Internacional de Documentários Musicais, A 14ª edição aceita filmes até 25 de fevereiro de 2022. O regulamento está aqui. O festival mesmo vai rolar de 15 a 26 de junho de 2022. O melhor longa-metragem receberá o prêmio “In-Edit Brasil de Melhor Documentário Musical” e será exibido também no Festival In-Edit Barcelona 2022, com a presença do diretor.
Já o Rio Music Market 2021 abre chamada para apresentação de músicos e bandas na programação de dezembro, entre os dias 7, 8 e 9 de dezembro de 2021, no palco RMK no Teatro Claro Rio, dentro da programação de showcases da conferência. Os showcases têm 50 minutos duração, e serão selecionadas até três bandas de música brasileira autoral. A seleção será realizada por meio de inscrições pelo e-mail riomusicmarket@abmi.com.br. A apresentação receberá cachê, mas não serão custeados transporte, alimentação e logística de instrumentos. As inscrições serão realizadas até hoje, e o resultado será divulgado até o dia 29 no site www.riomusicmarket.com.br.
Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Aqui tem as playlists de 2020.
Playlist de videoclipes com Malía, Gilsons, Lulu Santos + Melim, Marisa Monte + Jorge Drexler, Helgi, Tuyo, Cao Laru + Luiza Brina, Semper Volt + Ava Rocha, Leo Quintella, Bomba Estéreo + Yemi Alade, Djonga + BK’ + Froid, Kevin O Chris + Pedro Bernardino + DJ Lucas Marques, Lia Clark + Bianca, Valesca Popozuda + Rebecca, Nicki Minaj + Jesy Nelson, Morena + BK’, Carmem Red Light, Duda Beat + Li Saumet, Sofi Tukker e Adele
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