Sexta Sei: Artista multimídia Lucas Nova aka Cyberpathology questiona limite entre realidades

Seja com sua personagem manifestada, a modelo virtual Cibel-e, ou a instalação digital “Internauta”, artista juizforano reflete que é cada vez menor a distinção entre o orgânico e o programado.

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Lucas Nova, 27 anos, é artista multimídia de estética cyber-pop, juizforano, graduado em artes e design pela UFJF, há dois anos em São Paulo e, como ele faz questão de dizer, bicha. Além do trabalho como motion designer, na Microsoft, ele desenvolve o projeto Cyberpathology, com diferentes reflexos da sua experiência pessoal no ciberespaço e, desde junho do ano passado, tem uma modelo virtual, a Cibel-e, sua “personagem manifestada”, na agência criativa Mutant Board. “Apelei para uma linguagem da internet BR, atrelado a referências de moda e comportamento de cenas alternativas. Um pouco do que vejo em mim e no meu círculo social, representado por uma modelo imersa no ciberespaço”, explica.

Ele também dá a cara digital na festa Goptun, aonde apresentou a  instalação digital “Internauta”, que “brinca com o limite entre nossas realidades”, explica o artista. “É cada vez menor a distinção entre o orgânico e o programado. A instalação discute, de forma metalinguística, a imersão no ciberespaço e os novos valores e referências imagéticas resultantes deste processo, conta  artista, que ainda desenvolveu um filtro

O artista

Em seu trabalho, ele apela para o inconsciente coletivo cibernético em obras que “refletem a plasticidade das redes sociais e de seus avatares”. Com animações expostas no Brasil e no mundo e milhões de visualizações em plataformas digitais de arte, o artista retrata diferentes reflexos da sua experiência pessoal no ciberespaço. “Não existe separação do que é arte e do que é tecnologia no meu trabalho. A tecnologia não é somente o suporte ou a ferramenta, mas o discurso principal. Vejo a internet como a maior via de expressão artística e pessoal, acessível, independente de posição geográfica, condição social, oportunidades. Acredito no poder de democratizar a arte por meio da tecnologia”, explica.

O artista viu a criatividade explodir na quarentena. “Foi meu exercício para a estabilidade emocional. Absorver referências e imergir em experimentações artísticas sempre foram uma terapia para mim, e o tempo em casa tem foi um privilégio nesse ponto. A quarentena nos convidou a explorar o que a internet pode oferecer, e é nesse campo que meu trabalho transita. Nas possibilidades infinitas do mundo digital e seus impactos em nosso imaginário”, analisa.

Acompanhe o nosso bate-papo por e-mail:

Moreira Você começou o texto logo dizendo que é gay. Como isso influencia seu trabalho?

Lucas – Começo logo me denominando bicha, pois acho importante afirmar meu espaço como artista LGBTQI+ em tudo que faço. Sinto orgulho da feminilidade que me foi negada por ser um homem numa sociedade extremamente misógina. Minha sexualidade se relaciona diretamente com quem eu sou como artista e com minhas obras. Elas são cheias de referências do meu mundo e de tudo que eu consumo como bicha. E acho que essa afirmação é importante para legitimar não só a minha mas todas linguagens não normativas e não binárias no mundo da arte.

Moreira – O que é o inconsciente coletivo cibernético?

Lucas – O inconsciente coletivo cibernético que me refiro é o conjunto de referências imagéticas acumuladas por todos que acompanharam de perto o surgimento e a

expansão da internet. Minha geração nasceu “montada no computador”, e isso criou uma rede imensa de ícones e imagens impregnadas no nosso imaginário. Desde um papel de parede daquele primeiro Windows que você utilizou como criança, até o emoji mais usado no seu teclado hoje, sua memória armazena uma série de referências que não são apenas funcionais, mas que também carregam algum tipo de memória afetiva. Acho interessante subverter esses símbolos da era digital no que faço.

Moreira – Qual trabalho você faz como Motion Designer na Microsoft? Está há quanto tempo em São Paulo? Seu trabalho era percebido e entendido aqui em Jufas? Como foi a sua experiência na cidade?

Na Microsoft trabalho com motion design, que é animação básica. A natureza do trabalho é mais institucional e quadrada, perto do que faço artisticamente. Porém, tenho liberdade para fazer projetos criativos em 3D quando é possível, e isso tem sido bem legal. Em Juiz de Fora, as oportunidades profissionais eram bem poucas. Nunca me senti valorizado, e sempre soube que só iria conquistar o que sabia que era capaz, quando fosse embora. É muito gratificante largar tudo pra trás, cair no caos que é

São Paulo e ver as coisas dando certo. Em dezembro completo dois anos na cidade, e as oportunidade não param de aparecer. Hoje, já tenho planos de sair do país e correr atrás de uma carreira centrada no design 3D.

Moreira – Você falou no email que me mandou que “A tecnologia não é somente o suporte ou a ferramenta, mas o discurso principal por trás das obras.”. Fala mais sobre isso, interessante.

A tecnologia não é somente o suporte ou ferramenta, mas o discurso principal por trás das obras. Isso significa que quando crio uma obra, busco ilustrar algum aspecto ou memória da minha vivência no mundo digital. Essa memória pode ser um ícone de um site que visitava na minha adolescência, uma imagem que vi no Instagram semana passada, uma personagem de um jogo de luta da minha infância. Minhas referências sempre transitam nessas memórias virtuais.

Moreira – Me me conta mais da Cibel-e? De onde veio esse corte de cabelo? Isso é muito Black Mirror! Rs

Lucas – Cibel-e foi criada a partir da minha visão de beleza e das minhas referências de moda. Seu cabelo, por exemplo, é inspirado em ícones como @salvjiia e @matieresfecales. Gosto de pensar que ela é a manifestação visual da forte cultura que vejo nas redes sociais de expressão pessoal não-binária underground.

Moreira – Me conta sobre esse trabalho agora na noite, com música eletrônica, na GOPTUN? Chama Internauta e brinca com o limite entre nossas realidades, fala mais desse limite?

Acho que a explicação para a brincadeira com o limite entre as nossas realidades de INTERNAUTA conversa bem com o que disse acima sobre a internet ser suporte e o discurso ao mesmo tempo. Em INTERNAUTA, podemos ver uma figura humana navegando de forma imersiva no ambiente digital. A obra foi criada de forma que essa imersão acontecesse também com quem assiste a video-arte ou usa o filtro de realidade aumentada. É como se essa experiência te colocasse como espectador e como protagonista da viagem cibernética retratada. Uma onda de metalinguagem haha.

Abaixa que é tiro!??

Foto: Azevedo Lobo

 

Baixista da boa banda baiana Maglore e primeiro dano da princesa indie Carime Elmor, o baixista Lucas Gonçalves faz show do bom disco de estreia, “Se chover”, domingo, dia 18, às 17h, direto do estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo, onde o disco foi gravado no ano passado. Os ingressos estão entre R$ 10 e R$ 15.

A  44ª edição da Mostra Internacional de Cinema ocorre este ano de forma virtual. São 198 filmes de 71 países, exibidos por streaming em plataforma criada para a mostra, a R$ 6 por visualização. Haverá exibição gratuita de 30 filmes pelas plataformas SPCinePlay e Sesc Digital. A mostra vai de 22 a 4 de novembro, e a abertura é com o mexicano “Nova Ordem”, de Michel Franco, vencedor do Grande Prêmio do júri em Veneza. Entre os destaques, está o vencedor do Urso de Ouro de Berlim, o filme “Não Há Mal Algum”, de Mohammad Rasoulof.  A imagem do cartaz é do diretor Jia Zhangke.

A Orquestra Ouro Preto apresenta o espetáculo cênico “O Pequeno Príncipe”, no domingo, dia 18, às 11h. O concerto será transmitido ao vivo, no YouTube, direto do Grande Teatro do Sesc Palladium, em BH. O espetáculo multimídia une teatro de bonecos da Companhia Pigmaleão e música e será regido pelo maestro Rodrigo Toffolo, com música original de Tim Rescala. Curiosidade: foi inspirado na antiga Coleção Disquinho.

O #SaveOurStages Fest é um festival de música virtual de três dias que começa nesta sexta, 16, e vai até domingo, 18, com apresentações de mais de 35 das maiores estrelas da atualidade em mais de 25 palcos de salas de concertos independentes nos Estados Unidos. Começa às 21h (horário dos EUA, aqui, 22h) e, entre os artistas, rolam nomes como Foo Fighters, Dillon Francis, Macklemore, Major Lazer, Demi Lovato, Miley Cyrus e muito mais. Segundo o festival, “90% dos locais de música independente estão prestes a fechar para sempre”. Assista tudo aqui.

O Circo Voador no Ar não falha, tem Forróçacana,na sexta, e Delacruz (ui!) , no sábado, sempre às 22h. E as lives? Tem Metá Metá nesta sexta, 19h, e Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador, segunda, 17h.

Não tá tendo nada mais fofo que os amigurumis (toys de tricô) assinados pela minha amiga e Bootie Rio girl Natalia Weber, que também faz uns hangers de macramê e cachepôs “bem santa ceciliers” na Artesa.nat. Entre os toys, destaque pro Curinga, pro Dorimê e presse cão que toma café quente entre as labaredas. Ela está no Rio e manda tudo pelo carteiro, só escolher aqui.

Playlist com novidades musicais dessa sexta, é preciso estar atento que saiu o segundo disco de Luedji Luna, “Bom mesmo é estar debaixo d’água“. Ah, o Rosa Neon lançou um single, na playlist, e lança mais um no domingo. Amo.

Sexta Sei, por Fabiano Moreira