Banda carioca comemora dez anos colocando o dedo na ferida, sem dó, expondo o seu desconforto com o mundo, mostrando que rock é, acima de tudo, sobre inconformismo
por Fabiano Moreira
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Já faz um tempo que eu estou de olho na banda carioca Canto Cego, do Complexo da Maré, desde quando ouvi à versão deles para “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, que foi trilha de novela teen da Globo “Malhação” e estava no álbum de estreia do grupo, “Valente” (2017), e entrou para a minha playlist de versões. Como a própria letra avisa, ali eu vi que estava “nascendo um novo líder”, uma voz da periferia do Rio, feminina e feroz. Pois a banda está completando uma década de rock’n’roll no país da sofrência e com muito a dizer em “Canto Cego”, seu terceiro álbum. Bati um papo, por e-mail, com a vocalista Roberta Dittz, que me contou que este álbum fala sobre injustiça e o sentimento de pertencer a um mundo que não os aceita. “Ou um mundo que criou um sistema feito pra nos massacrar mentalmente e fisicamente. O rock, as guitarras, a bateria, toda sonoridade do nosso disco, das nossas letras, são para colocar pra fora esse desconforto com o sistema que vivemos”, dispara. Foi um dos maiores papos aqui da página.
Moreira – Uma década de banda e com a mesma formação não é pra qualquer um, parabéns pra Canto Cego. Segundo o release, “é por si só uma mensagem de afeto, tolerância e amor”. Qual o segredo para a convivência por tanto tempo e quais os desafios de se fazer rock no Brasil, o país da sofrência e do sertanejo?
Roberta Dittz (vocal) – A gente não entende muito bem, o segredo, talvez a vontade de seguir tentando e superar os momentos ruins juntos. Porque os desafios de convivência são diários, mas toda vez que a gente hesita em continuar, nos apoiamos na mensagem da nossa música e no quanto a gente se sente completo fazendo o que faz. Ser uma banda e, ainda mais, de rock é viver um dia de cada vez, dias melhores, dias piores, dias de trabalhar pesado, dias de estar perto das pessoas que acreditam no nosso trabalho, e assim por diante. O nosso segmento na música é bem limitado de público, pouco difundido no Brasil, acho que o desafio é entender que não somos como outros estilos, temos uma dinâmica diferente, e isso pode ser bom até porque o nosso público se conecta de uma maneira mais profunda com a música.
Moreira – Vocês são do Complexo da Maré e têm duas mulheres na formação. Como é fazer rock sendo mulher no Brasil, ainda existe muito preconceito? E como é fazer música na periferia?
Roberta Dittz – Eu sinto que sim, ainda existe muito preconceito em ser mulher. Principalmente quando se fala dos temas que falamos. A Canto Cego é uma banda com pegada de enfrentamento e de crítica social. Com certeza, uma mulher à frente de uma banda falando de temas políticos, não é algo que se leva tão a sério como se fosse um cara. Eu tenho essa sensação muitas vezes, de que se fosse a voz de um homem, a letra e discurso de um homem em cima do palco, as pessoas levariam mais a sério a banda, a mensagem da banda como um todo. Há pouco tempo, dei conta disso. Doido, né? Mesmo que não seja uma coisa que dê pra enumerar. Mas nós, mulheres, sabemos que temos que entregar “dois”, pras pessoas entenderem “um”. E acredito que o mesmo acontece para Ruth, baterista, também. Até as pessoas se darem conta que ela é uma baterista foda, e que sabe o que tá fazendo rola um certo ar de avaliação, rola um delay até levarem em consideração a nossa opnião, sabe?
Estar na periferia pra gente é um alento. É o lugar de onde viemos, é onde a gente vive nossa base, e o motivo também de fazermos nossas músicas. O lugar onde a gente se sente pertencer, a rua, o olho no olho. Mas ser uma banda de periferia tem um lado de que o mercado vai olhar pra você como algo preso em um lugar, e que não vai sair dali. Ficamos taxados. Nessa corda bamba a gente se equilibra, entre abraçar o que é nosso e mudar quando for importante.
Moreira – Quais as bandas de rock e outros sons que vocês estão ouvindo e que influenciaram este álbum da Canto Cego?
Roberta Dittz – Teve um pouco de tudo como sempre. Eu sempre vou pro lado mais Brasil, Rita Lee, Elza Soares, Titãs, Skank, Paralamas, Nação Zumbi. E a galera soma muito no caldeirão os gringos, Nirvana, Red Hot, Rage Against the Machine, Turnstile, Paramore, The Mars Volta, mas também O Rappa, Titãs, Sepultura. É uma viagem! Mas uma coisa legal de fazer nesse álbum, também por ele ser comemorativo de dez anos, foi a gente ter buscado referências em músicas nossas, e ter misturado um pouco dos outros dois álbuns, o “Valente” e o “Karma”.
Moreira – Quais são as principais temáticas desse álbum, que mostra o posicionamento crítico do grupo? É nem pessoal, né? Tem esperança, ansiedade e velocidade, paradoxos da produtividade, a luta para uma sociedade justa …? Qual o sentimento principal?
Roberta Dittz – O sentimento principal é a injustiça, é sentir que pertencemos a um mundo que não nos aceita. Ou um mundo que criou um sistema feito pra nos massacrar mentalmente e fisicamente. O rock, as guitarras, a bateria, toda sonoridade do nosso disco, das nossas letras, são para colocar pra fora esse desconforto com o sistema que vivemos. E também deixar a visão que podemos olhar de outro ângulo e dar valor a o que construímos até aqui. A principal temática somos nós, por isso, o nome do disco é o nome da banda. São as nossas vivências e as nossas angústias, o Canto Cego, o lugar escondido dentro da gente mesmo, virado do avesso.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Mangueboy que sou, me lembro de um show inesquecível da Banda Eddie, no Cultural, quando a casa ainda era embaixo do motel, e a gente ficava cara a cara com os ídolos, quase no palco. Por isso, a minha semana começou melhor pois, além do frio glacial que se foi, saiu o décimo álbum da banda, “Carnaval Chanson”, disco com releituras de clássicos do frevo e marchinhas ao lado de Karina Buhr e Isaar, o primeiro de músicas não inéditas. A banda está presente no cenário musical desde 1989, e teve texto de apresentação assinado pelo jornalista e escritor Xico Sá. Os integrantes Fábio Trummer (voz e guitarras), Alexandre Urêa (percussão e voz), Andret Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria) entregam a trilha sonora perfeita tanto para as festas de rua quanto para os salões de baile, proporcionando uma experiência por sentimentos como a euforia alegre da folia tradicional até a melancolia romântica de uma quarta-feira de cinzas. São 13 releituras de importantes compositores, incluindo Antonio Maria, Iberê Caldas Souza Leão, Alceu Valença, Carlos Fernando da Silva, Moraes Moreira e Miucha.
Em outubro do ano passado, o talentoso, romântico e existencialista baiano Uiu Lopes passou aqui pala Sexta Sei, falando sobre o cinematográfico clipe de “Horizonte”, que geral sentiu. Nesta sexta, ele lança seu aguardado álbum de estreia, “Por Fora, Por Dentro“, pelo selo Matraca Records, com produção musical de Fernando Rischbieter e participações especiais de Lou Alves (da Walfredo em Busca da Simbiose), César Lacerda e YMA. O álbum é marcado pela melancolia em contraponto a uma fé inabalável. “Essas faixas nasceram em meu antigo quarto na Zona Sul de São Paulo, na região de Interlagos. Era pandemia quando boa parte delas surgiu. O mundo estava sedento por uma resposta de como seria a vida dali pra frente, a nossa liberdade foi afetada, então foi sob esses sentimentos que comecei a escrever as canções do disco”, revela Uiu. A banda que gravou o álbum traz Thiago Leal (baixo), Pedro Lacerda (bateria), Leon Sánchez (teclados e sintetizadores) e Pedro Bienemann (guitarra). Lou Alves mixou metade das faixas e divide as vozes nas canções “Vento Vem Tu” e “Desejos de Um Leão”. YMA compôs e cantou em “Dançando no Escuro” e fez as artes, fotos e a capa do disco. César Lacerda é parceiro em “Desejos de um Leão” e fez parte do coro na faixa “Horizonte”.
Quem acompanha aqui as sextadas sabe que, ano passado, bati um papo com o simpático Ale Sater, compositor, vocalista e baixista, pra falar sobre “Gêmeos”, o quarto álbum de estúdio da banda paulistana Terno Rei, que fez show recente no Cultural. Pois tudo o que é bom pode melhorar e, essa semana, eles lançaram o EP “B-Sides Gêmeos“, pelo selo Balaclava, com quatro faixas inéditas da banda que ficaram de fora e que aparecem agora, para nossa alegria, ou melhor, melancolia. Todas as canções foram compostas entre 2020 e 2021, mas as três primeiras faixas do EP foram gravadas somente entre os meses de março e abril de 2023. Este ano, eles seguem a trajetória por festivais, confirmados na programação do The Town (São Paulo), Se Rasgum (Belém) e MADA (Natal), depois de passagens por Lollapalooza Brasil, Primavera Sound, C6 Fest e Rock in Rio .
O performer e dramaturgo Gabriel Bittencourt apresenta “leitura em performance” do monólogo “Ácaro”, sexta (14) e domingo (16), às 20h, no Estação Cultural.
Nestas sexta e sábado (14 e 15), às 19h, tem shows com a banda Eminência Parda no Ibitilua, em Ibitipoca.
Este sábado (15), às 10h30, tem Yoga no Museu Mariano Procópio.
No sábado (15), das 14h às 10h, acontece o Festival Bicuda no Campinas Hall, em Campinas (SP), comemorando cinco anos do coletivo cultural Bicuda, com Linn da Quebrada, Getúlio Abelha, Th4ys, Irmãs de Pau, Jovem Mk, Katú Mirim, A Julia Costa, Ava Rocha & Negro Leo, Saskia e mais.
Na sexta (14), às 20h, Gramboy recebe o DJ Alex C, de BH, na Bang!, no Beco. No sábado (15), às 20h, tem Arraiá do Ingoma, às 20h, com Ingoma, DJ Kalango e Forró Sagarana.
O Fórum de Coletivos e Mulheres Feministas de Juiz de Fora (Fórum 8M-JF) segue com a segunda edição do “Julho das Pretas”. No sábado (15), tem Festa Soul Charme, na Rua João Beghelli, no Dom Bosco, com DJ FaustoZ e shows de Laura Conceição, Dellon, Charmosas do Tamborim, Makamba e Muvuka.
O 20° Feijão de Ogun acontece no Parque Halfeld, com Samba dos Orixás na sexta (14), às 18h, RT Mallone e Samba de Colher, no sábado (15), às 17h, e Ingoma e Muvuka, no domingo (16), às 15h.
Tem forró, brincadeiras, pescaria, quadrilha e comidas típicas no Arraiá do Garimpasso, domingo (16), às 14h, com entrada franca e DJ Kalango, no Tenetehara.
A segunda temporada de Drag Race France está pura emoção e talento. Esta semana, Grag Queen, que já sextou, foi anunciada como apresentadora de Drag Race Brasil, que vem aí.
Tradicionalmente realizado em julho, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga chega à sua 34ª edição com 12 dias de concertos noturnos, em julho e agosto, além de masterclasses com os músicos convidados da programação, que é integralmente gratuita. Todos os concertos serão precedidos de palestras ministradas pelo professor Rodolfo Valverde (UFJF), uma hora antes,no, no Cine-Theatro Central. O segundo concerto acontece na quarta (19), às 20h, com “Trilhas Sonoras” executadas pela Orquestra Sinfônica Pró-Música. Na quinta (20), às 20h, será apresentado o programa “As Canções de Kurt Weill” por Tâmara Lorenzeto (mezzo soprano), Marcus Medeiros (piano), Rogério Nascimento (baixo elétrico), Francis Moura (trompete) e Marcelo Lobato (percussão). Os convites serão distribuídos no Centro Cultural Pró-Música, no dia de cada apresentação, das 8h30 às 17h30. Essas apresentações foram pensadas como um prelúdio para a temporada do Festival, que será no período de 23 a 30 de julho, quando acontece uma série de concertos noturnos no Museu de Arte Murilo Mendes, no Theatro Paschoal Carlos Magno, na Capela da Academia do Comércio, no Cenáculo São João Evangelista e no Cine-Theatro Central. Gratuitas, as inscrições para as oficinas, que serão realizadas de 22 a 28 de julho, estão abertas e podem ser feitas on-line.
Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.
Playlist de clipes com Troye Sivan, Janelle Monáe, OBMJ Ska, C. Tangana, MV Bill + Asfixia Social, Jards Macalé, Róisín Murphy, scarlxrd, Yago Oproprio ft. Fleezus (prod. Iuri Rio Branco), Lia Clark + Pabllo Vittar, Àiyé + Viridiana, blert, ANOHNI and the Johnsons, Gloria Groove, DJ Snake, Max Cooper + Kathrin deBoer, Gabriel Milliet, Marõ, Jamila Woods e Saint Motel.
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