Artista lançou, esta semana, segundo volume de trilogia que começou em 2019, reivindicando o controle da narrativa pela comunidade negra
por Fabiano Moreira
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Fotos: Alile Onayale
O rapper gaúcho radicado em São Paulo Zudizilla, 36 anos, lançou, essa semana, seu quarto álbum de inéditas, “Zulu Vol. 2: De Cesar a Cristo”, a continuação da trilogia iniciada com “Zulu Vol.1: de onde eu possa alcançar o céu sem deixar o chão” (2019). O projeto, realizado com recursos da Natura Musical, chega acompanhado do curta-metragem “Vozes do Silêncio”, que busca dar visibilidade aos pretos do Sul com sensível reflexão sobre a identidade negra gaúcha e o racismo estrutural presente na formação histórica do estado. Assista ao filme aqui.
Batemos um papo, por e-mail, pra falar como ele e outros atores sociais negros, como Winnie Bueno, criadora da Winnieteca, que promove a conexão de pessoas negras com a literatura e aparece no filme, estão reivindicando o controle da narrativa, para mudar a realidade dos pretos do futuro. “O fato de o Brasil vender uma imagem de miscigenado é porque não quer admitir que ele não é branco. Seria muito mais fácil se os brancos segurassem um pouco a louca e entendessem que eles é que são a minoria, isso facilitaria muito ao entender os lugares de fala”, dispara.
“Zulu Vol. 2: De Cesar a Cristo”, capa e contracapa
Moreira – O curta é muito impactante, as falas são muito fortes. Em uma delas, uma mulher fala que não é reconhecida como gaúcha dentro ou fora do Rio Grande do Sul. Em outro momento, outra mulher diz que a mente colonial do branco quer os negros ainda nas fazendas de charque. Como mudar essa realidade?
Zudizilla – A mulher é Winnie Bueno. Escritora, amiga e conterrânea, que escreveu um texto que me atingiu de forma muito peculiar quando li e falava sobre o não lugar e é sobre isso que se refere: sobre a não existência ou a existência apenas em lugares subalternos. Isso é um problema histórico a ser resolvido, porque não é e nem sempre foi assim. Sabe-se que Osuanlele Okizi Erupê, que no Brasil adotou o nome de Custódio Joaquim de Almeida, andou pelas bandas de Pelotas e Porto Alegre e era um príncipe africano, fora as histórias de insurreições, contos de negros errantes que viviam livres aterrorizando donos de charqueadas e os quilombolas, são parte da história do Sul do país que insistem em ser apagada. Eu, Winnie e mais uma leva de pretos está reivindicando a narrativa e, mais do que isso, está registrando esse nosso momento pra que ele sirva de alicerce para os pretos do futuro erguerem seus ideias de auto estima e sonhos a partir dessa retomada. É controlar a própria narrativa e contar a própria história que vai mudar esse panorama. E eu tô fazendo isso nesse projeto que agora alcança o segundo volume de uma trilogia chamada Zulu.
Moreira – Você trocou Pelotas por São Paulo, qual a diferença nessa realidade racial? Em “Tudo agora”, a letra fala que “A favela ainda tá sangrando, todo dia a meta é se manter vivo”. O Brasil é um país muito preconceituoso que vende essa ideia de falsa igualdade, né?
Zudizilla – A diferença é que em SP o racismo é mais sutil, e quando falo isso eu sei que aqui rolam os assassinatos da máquina de moer gente do governo (polícia), mas esse braço desce em pobres em geral, não só pretes. Eu falo do problema do racismo e ele se torna sutil em SP, mas não menos cruel. Creio que é até mais porque o sul é explicitamente racista, e aqui o racista tá disfarçado de aliado na causa social, mas na primeira oportunidade ele passa para outra pauta, e é assim há 500 anos. O fato de o Brasil vender uma imagem de miscigenado é porque não quer admitir que ele não é branco. Seria muito mais fácil se os brancos segurassem um pouco a louca e entendessem que eles é que são a minoria, isso facilitaria muito ao entender os lugares de fala.
Moreira – Quem são os beatmakers envolvidos na produção do disco? Fala mais também sobre a escolha das participações especiais, com bons nomes como Emicida, Coruja BC1 e Joabe Reis.
Zudizilla – Eu sempre trabalho com um número diverso de beatmakers pra ampliar a sonoridade do álbum, mas também tenho vontade de unificar essa produção. São todos amigos de rolé que eu encontrei e que em algum momento essa amizade resultou em música. Já as participações têm um critério diferente, porque quando tu cita CorujaBC1, Emicida e Joabe Reis logo se entende o porquê de optar pelas outras participações. Esse disco tem a função de tornar visíveis pessoas que eu acho extremamente importantes no cenário nacional e que não recebem o valor merecido, assim como eu. Trazer nomes anônimos entre esses grandes e consagrados é uma estratégia que vai de encontro ao que já falamos no filme. Serginho Moah, que divide a faixa comigo e Emicida, é um ícone que cravou seu nome no pop rock sendo esse um campo extremamente branco. Eduardo Freda, da faixa “OYA“, foi o artista que mais me inspirou a seguir na minha caminhada e ainda quero ver ele entre os grandes. Bart é poeta e mc de Pelotas e que merece o mundo. Cronista do Morro é uma força da natureza que conheci em Salvador e que depois de procurar muito entre pessoas pra compor aquela música eu fiquei de cara em como não pensei nela primeiro, sendo que ela amassou na track. NP Vocal eu sou fã e é um resquício do que há de mais real no rap. Coruja é um irmão que a vida me deu e Emicida sempre será o MC que quando vi ao vivo me deu vontade de nunca mais parar. Abrindo parêntese sobre o Emicida, eu queria destacar que entrei em contato com outros MC’s e ver a solidariedade dele com meu corre e o carinho pra me responder a cada áudio até que mandasse as vozes foi algo que me fez enxergar ele com a grandeza que ele se coloca. Ali eu vi a diferença entre ele e os demais. E o Joabe é foda.
Moreira – No release, é dito que, entre as referências estéticas que guiaram a concepção do disco estão Don L, Racionais, Emicida, Kendrick Lamar, Jack Kerouac e Lima Barreto, fala mais como cada um influenciou o trabalho.
Zudizilla – Acho que os MC’s tá nítido o porquê. Todos eles levam a sério aquilo que hoje é minha vida, logo, eles levam a minha vida a sério. Os escritores têm peculiaridades: Kerouac escreve como eu escrevi, sem pausas e com muitas palavras e conclusões que se tu não tá acompanhando tu vai achar absurdo, mas é só falta de vírgula e acentuação. Ele derrama assunto pelas palavras e tem um arsenal delas pra descrever situações. Lima Barreto é o escritor preto e marginalizado do Brasil que teve seu fim no ápice de sua produção artística; porém, foi pobre. Algo que eu vislumbrava mas, como se sabe bem, você não se torna a sua referência: você a supera.
“Ameixa”, Zudizilla, Luedji Luna e Dayo
Moreira – Falei aqui na página sobre o feat com a sua companheira, Luedji Luna, “Ameixa”. Como é conviver intimamente com uma das maiores artistas do nosso tempo? Sou muito fã 😉
Zudizilla – Luedji é um ser humano que eu curto muito ter ao lado e é tipo a primeira pergunta: pessoas que eu gosto muito geralmente produzem algo comigo. “Ameixa” é um som pro Dayo e eu também sou muito fã de Luedji. Ouvia ela antes de vir pra SP e ainda ouço. Mas meu olhar pra ela de fã agora mudou, eu a tenho como uma mãe preciosíssima, é uma mulher incrível de se estar casado. Mas isso não tem lá muito a ver com meu disco e minha saga, afinal temos histórias e históricos completamente diferentes, e acho que, dela, geral já sabe muito. É hora de saber de mim, ou melhor, de nós: OS PRETOS DO SUL.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Gravar “Pixinverso – Infinito Pixinguinha”, disco do clarinetista, saxofonista e compositor Caetano Brasil, foi um processo que levou cerca de três anos, atravessando toda a pandemia da Covid19. O disco é uma volta às suas raízes e de toda a música brasileira com um olhar para o futuro e revela a inédita “Quebra-cabeça”, choro que tem aqui sua primeira gravação. “Pixinguinha é talvez o compositor que há mais tempo e de forma constante faz parte do meu repertório”, relembra Caetano. O disco se dividem em dois lados: uma primeira metade com recriações de grandes clássicos como “Carinhoso” e “Rosa” e uma segunda, com tesouros garimpados pouco conhecidos. Na banda, estão Gladston Vieira (bateria), Guilherme Veroneze (piano) e Adalberto Silva (baixo). Seu álbum anterior, “Cartografias”, foi indicado na categoria de Melhor Álbum Instrumental ao Grammy Latino 2020.
Dois programas legais pra ver no canal de streaming HBO Max: a competição musical entre drag queens comandada por Pabllo Vittar e Luísa Sonza, a Queen Stars Brasil, que estreia no dia 24, e o projeto “2022”, que já está no ar com mais de 50 artistas interpretando 22 canções em três episódios com concepção de Monique Gardenberg.
Na Queen Stars Brasil, 20 drag queens terão de apresentar suas habilidades de canto, dança e performance em oito episódios. Os jurados são Vanessa da Mata, Diego Timbó e Tiago Abravanel. A partir de 4 de abril, também será exibido na TNT, toda segunda-feira, às 20h.
Em dois episódios de apresentações musicais de 22 canções e um terceiro episódio com bastidores e entrevistas, “2022” já está no ar, com apresentações de Caetano Veloso e MC Owerá, cantando um medley de “Um índio” e “Mbaraeté”, música inédita do indígena, Carlinhos Brown, Chico Buarque, Elza Soares, Gal Costa, João Bosco, Ludmilla, Emicida, Criolo, Arnaldo Antunes, Paralamas do Sucesso, Racionais, Martinho da Vila e outros. São 22 nomes celebrando a Semana de Arte Moderna, com direção musical de Liminha e Kassin. O time ainda tem Felipe Hirsch (direção), Daniela Thomas (direção de arte) e Fernando Young (direção de fotografia).
Neste sábado (19), às 18h, rola a primeira edição do ano do Slam Poético da Ágora, da Confraria dos Poetas, com a poetisa Laura Pavão como slam master. As inscrições podem ser feitas nesse link. A transmissão rola pelo Facebook e pelo YouTube.
Está no ar o primeiro show com banda completa do álbum “Logo Ali“, do mineiro Bemti, realizado por meio do edital Natura Musical e escolhido pela APCA como um dos melhores discos de 2021. No palco, Bemti (voz e viola caipira), Bianca Predieri (bateria e bases), Kinda Assis (viola) e o amigo Lucas Gonçalves (baixo e backing vocals).
Domingo (20), às 10h, na feira da Avenida Brasil, rola a última edição do projeto “Samba na Rua – Batuque na Roda”, coordenado pela batucadora e pesquisadora Fabrícia Valle.
Claudia Manzo em fotos de Luciana Diniz
Nascida em Santiago, no Chile, Claudia Manzo veio para o Brasil há dez anos em busca de novas experiências e caminhos pra vida. Esse ano, ela já passou aqui pelas playlists sextantes com a pedrada que é “Água Benta”, feat poderoso com o BaianaSystem. A faixa encerra “Re-voltar”, segundo disco da artista que chegou às plataformas digitais hoje (18), com participações especiais de Luiza Brina e Mariana Cavanellas (ex-Rosa Neon).
“Água Benta”, feat com BaianaSystem
Claudia já tinha chamado a minha atenção no EP “America”, parte do disco “OXEAXEEXU” , do BaianaSystem, no qual ela entrou com duas parcerias em composição, instrumentação e vocais: “Pachamama” e “Capucha”. O disco “Re-voltar” é uma grata surpresa, bom do começo ao fim em dez faixas autorais, algo raro hoje, no mercado, quando os feats que antecedem ao trabalho acabam sendo as melhores. As letras versam sobre questões do universo feminino de uma mulher latino-americana que vive no Brasil e enfrenta desafios como a luta contra machismo, a dor da injustiça social que assola o país, além de temas como a saudade, a liberdade dos corpos e a plataforma de encontros e desencontros que são os idiomas.
A produção musical é assinada por CIDO, produtor belo-horizontino responsável por trabalhos de artistas como Lamparina, Nath Rodrigues e Rosa Neon, entre outros. O disco mescla bases eletrônicas atravessadas por uma instrumentação orgânica, com instrumentos como o cajón peruano, o três cubano, o cuatro (instrumento fortemente presente na música latino-americana), além de violões, guitarras, baixos e metais.
Em julho passado, eu falei aqui na Sexta Sei do EP de estreia do meu amigo Billy Crocanty, da banda Biltre, o bom “Pessoas Fritas”. Pois, essa semana, o homem segue fritando com “Verão Frito”, mais um EP de cinco faixas,“pegando uma última nesga de sol”. “Hora de Brilhar” é uma música festiva feita em parceria com a amiga Luísa Arraes como presente para o companheiro dela, o ator Caio Blat. Tem clima de vacina e de “o mundo tá retomando”. Adorei também “Carnaval em Recife”, com a parceria com Arthur Ferreira, da Biltre. “É Q Nós 2” foi colaboração com Daniel Chaudon, à distância. “Bebê Gigante”, feita para o pai, Paulo Japyassu, sobre as conversas delirantes entre os dois, e “Amassagar” são músicas de gaveta que foram deixadas de lado e retomadas. Ah, ele avisa que tem disco novo da Biltre vindo aí, ainda este ano.
Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano. Ainda tem as playlists de 2021 e 2020.
Playlist de clipes com Elton John + Stevie Wonder, Sigrid, Years & Years + Regard, Megan Thee Stallion + Dua Lipa, Duda Beat, Florence + The Machine, Orville Peck, Madonna + Sickick, Tiësto + Ava Max, The Black Keys, BRAZA, Emicida + Matuê + Drik Barbosa, Luccas Carlos, DJ Créu, VND, Rosalía, Oreia, Orang Utan, Ramstein
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