Sexta Sei: A sonoridade com papel narrativo em “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”, de Luiza Lian

Depois de cinco anos do premiado “Azul Moderno”, cantora e compositora volta em trabalho com o produtor Charles Tixier que questiona o impacto da virtualização sobre os afetos

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

A capa do álum "7 Estrelas | quem arrancou o céu?. Fotos: Larissa Zaidan

Cinoo anos depois de lançar um dos melhores álbuns da década, “Azul Moderno”, eleito o melhor disco de 2018 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), a  cantora, compositora e artista visual paulistana Luiza Lian lança, nesta sexta, em parceria com o produtor musical Charles Tixier, o álbum “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”,  com muitas texturas, ruídos, colagem digital,  timbre límpido e sons alienígenas. Um álbum que desce às profundezas em rumo a um triunfo luminoso. Batemos um papo, por e-mail, para falar da pesquisa com vozes e distorções desde 2017, com o álbum “Oyá Tempo”,  e de como a sonoridade ganha um papel narrativo, nesse  mergulho no espelho digital.  “Mais do que uma crítica ao digital, existe no álbum uma crítica ao que a virtualização de tudo fez conosco, com os nossos afetos, com o nosso pensamento”, conta Luiza, que ainda falou das falsas taiobas gigantes e da amizade com o talentoso ex-vizinho Thiago Pethit.

Fotos: Larissa Zaidan

Moreira – “7 Estrelas | quem arrancou o céu?” é um álbum feito em parceria com o produtor musical Charles Tixier, com muitas texturas, ruídos e colagem digital. Ao mesmo tempo, sua voz segue poderosa e límpida, Como foi essa mistura e o trabalho de criacão? “A minha música é uma miragem pra olhar conforme a sua vontade”, diz a faixa de abertura, “A minha música”….

Luiza Lian –Nós viemos de um desenvolvimento dessa pesquisa com vozes e distorções que vem desde 2017 com o “Oyá Tempo”. Nesse disco, a sonoridade das vozes e o caminho que essa sonoridade faz ganha um papel narrativo, é o mergulho no espelho digital até se perder de si mesmo, se reencontrar e recomeçar novamente. A construção da digitalização e “des-digitalização” da voz acompanha a poética do disco. A produção, o canto, as distorções e a poesia vão formando uma trança que conta essa história. 

Foto: Larissa Zaidan

Moreira –  Adoro as músicas com muitos ruídos e voz robotizada, como “Forca” e “Cobras”, a parte mais pesada do álbum, com clima de pesadelo. Passamos uma barra, né? A sua voz  vai sendo manipulada cada vez mais, criando duplos, é uma crítica  ao nosso uso das mídias digitais, a mistura de natural e artificial? 

Luiza Lian – Mais do que uma crítica ao digital, existe no álbum uma crítica ao que a virtualização de tudo fez conosco, com os nossos afetos, com o nosso pensamento. Mas, no caso dessas duas músicas, elas têm um aspecto muito mitológico também. “Forca” é uma fábula sobre poder, sobre a corrupção de si mesmo que vem junto com o poder. Sempre falando do que está fora e do que está dentro. “Cobras” é uma trama onde não há inocentes. Em toda crítica que é feita no disco sobre o externo existe também o olhar para dentro que não deixa de se implicar no problema.

Fotos: Leon Gurfein

Moreira – A segunda metade do álbum é mais solar, em outro tom, a partir de “Viajante”, quando você nos sugere uma volta por cima.  Como a gente supera essa nossa “época decrépita”?

Luiza Lian – Eu apostaria que o primeiro passo é olhar pra si mesmo, se encarar de frente, silenciar, sair do modo automático, ter coragem de olhar para o que você acredita de verdade e tentar flagrar o que você está reproduzindo no automático, por medo e movimento de manada.

Fotos: Leon Gurfein

Moreira –  Precisamos falar desse rolê das taiobas gigantes. Eu cresci em uma casa com galinheiro, pés de fruta e muita taioba, mas não sabia das taiobas gigantes. Achava que era alguma montagem, risos. Elas têm o mesmo sabor? Aonde ficam essas taiobas? Sempre leio no Twitter o Thiago Pethit comentando que é seu vizinho, vocês trocam muito? Sou muito fã dos dois, deve ser gostoso aí essa vizinhança.

Luiza Lian – Hahahahaha a taioba não era uma taioba, na verdade, descobrimos que era uma alocasia, inclusive super tóxica, não pode comer de jeito nenhum. Era na casa da minha mãe. Eu era vizinha de parede do Thi até o mês passado, acabei de me mudar. Fui morar na Santa Cecília no fim de 2020, viramos vizinhos de parede. O lockdown ainda era muito presente, até então nós nos conhecíamos quase que só de vista e umas trocas muito superficiais nas redes, quando eu contei pra ele que queria me mudar pra região e ele me disse que tinha um apartamento vago do lado do dele. Assim começamos a dividir parede e, entre as nossas duas varandas, tinha só uma parede com tijolos de vidro, quando eu via que ele estava fumando na varanda dele eu ía para a minha para a gente papear. Depois, viramos o nosso círculo de segurança nas épocas mais fechadas. Ele foi o maior presente que esse período me trouxe. O Thi é realmente uma pessoa muito especial, um grande artista. Nesse momento tão sufocante que a gente estava vivendo, presos dentro de casa, bitolados no celular, a troca com ele foi um sol na minha vida. Tivemos conversas muito profundas, muito inspiradoras e instigantes, ele é um grande artista e uma pessoa que tem muito conhecimento e consegue compartilhar isso. Com certeza, foi um encontro transformador pra mim, ele virou um irmão e um parceiro precioso. Acredito que ainda vamos construir coisas lindas juntos. 

Abaixa que é tiro!💥🔫

“One & Only”

Eu ando completamente fascinado e obcecado com o som e a persona criada pelo artista espanhol Oliver Tree, que lança seu quarto álbum em 29 de setembro, “Alone In a Crowd”, que conta a história do personagem Cornelius Cummings, um estilista que fará seu último desfile. Os singles que saíram prometem emoções, como  “One & Only”, que ganhou clipe fashionista e contorcionista, com vestido escultural feito com sacos de lixo. O single anterior, “Bounce”, também tem clipe que flerta com a moda e as histórias em quadrinhos e desenhos animados, um universo todo próprio de Tree. E a música também é bem boa, um pop eletrônico com esteróides. O álbum foi gravado no lendário Abbey Road Studios de Londres. Tee explora e disseca a cultura moderna e a obsessão pelas redes sociais., com temas como solidão, desconexão e a experiência humana. O álbum terá tour que começa no dia 10 de outubro, na Nova Zelândia, e passa por Austrália, França, Luxemburgo, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça e Itália.

Nada esse mês vai ser mais bonito e tocante do que a versão instrumental de “De volta pro aconchego”, faixa  que integra e antecede o álbum-tributo que relembra os dez anos sem Dominguinhos, de Gabriel Grossi (harmônica e harmônica baixo) e Arismar Espírito Santo (baixo, violão e piano). O álbum, “Domingou”, é lançamento da gravadora Biscoito Fino, ainda sem data, com 15 músicas, sendo 12 do próprio Dominguinhos, duas de Arismar dedicadas ao mestre e uma faixa composta no estúdio, em uma colaboração entre Arismar e Gabriel, que empresta seu nome ao disco. “De Volta Pro Aconchego” ganha roupagem instrumental com gaita e baixo, violão e piano, com musicalidade única. Gabriel Grossi e Arismar do Espírito Santo são referências no cenário da música instrumental e tiveram a honra de tocar e gravar ao lado de Dominguinhos, além de serem amigos próximos do mestre. As ilustrações do clipe são de Pedro Índio Negro. A canção fez enorme sucesso, nos aos 80, na trilha da novela “Roque Santeiro”, na voz de Elba Ramalho.

Gabriel Grossi e Arismar do Espírito Santo em fotos de Fernando Okabe

O multiartista pernambucano Adriano Salhab e a banda Forró Xique Xique se unem em um caldeirão sonoro, o “Forró do Libanês”, em “A Rabeca Secreta”, álbum lançado pelo selo Fervo, da yb music. A parceria reverencia os tradicionais ritmos nordestinos, com destaque para o forró, em um trabalho plural e com forte veia autoral. “Há pelo menos duas décadas, atuo continuamente nos ciclos juninos de Recife e, mais recentemente, de São Paulo, com repertório que sempre contemplou os clássicos, de Luiz Gonzaga a Alceu Valença,  junto aos pernambucanos mais modernos, como Mestre Ambrósio e Cumadre Florzinha. O disco contempla o rico panorama rítmico do universo ‘lustra fivela’ dos salões de barro pisado e ’forrós pé de calçada’”, conta o artista. Um discaço desse pesquisador da rabeca e do bandolim e regente de orquestras de pau e cordas, como o Frevo de Bloco. Sua trajetória musical passa ainda pela banda Textículos de Mary e pelo Teatro Oficina Uzyna-Uzona, de Zé Celso.  Craque.

Adriano Salhab por Jennifer Glass
Jasmin Godoy por Caril

Em maio,  já tinha chamado a atenção, aqui, para a cantora, compositora, produtora musical e multi-instrumentista Jasmin Godoy, filha do cantor e compositor Marcelo Godoy, músico icônico de Montes Claros, no norte de Minas, e de mãe holandesa, falando do lançameto do single “Horizon”. Pois ela acaba de lançar o álbum “Show me the Way”, um alento e respiro, pop e psicodélico, dentro desse mundo veloz que nos enfiaram. Na semana passada, destaquei aqui na playlist sextante “Salve”,única faixa com letra em português no trabalho. Ela me contou, pelo caht do insta, que é a primeira de muitas, que venham doces. O álbum conta com nove músicas pessoais, que exploram temas como solitude, vulnerabilidade, recomeços e autodescoberta. Um folk alternativo com nuances psicodélicas e um toque de Clube da Esquina.

O Parque Bom Jardim, na Praça Vovó Elvira (fotos),  que foi lindamente pintado pela Medina, como mostram passeios meus por lá aqui e aqui, vai ter festa de  inauguração, sábado (29), das 10h às 17h, na Rua Diva Garcia, 1564. Vão ter atividades ao ar livre, com prática de futevôlei e tênis de praia, brinquedos infláveis, pula pula, feira, comidas, campeonato do jogo digital  Free Fire e, claro, skate.

O duo Felguk, formado por Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal, se apresenta neste sábado (29), às 23h, no Privilège.

Tribo de Gonzaga e Maracaju de Gaveta, na sexta (28), e Čao Laru, Assombro de Bicho e Grupo NUN, no sábado (29), sempre às 20h, estão na programação do Beco.

Na sexta (28), às 21h, as divas cult Marizótica e Amélia do Carmo, vocalista das bandas Varanda e André Medeiros Lanches, fazem DJ set e dancinhas no Maquinaria.

“Moulin Rouge, o Musical”, da Entreato Produções, faz as suas duas últimas apresentações da temporada no Teatro Solar, sábado e domingo, sempre às 20h, com 34 artistas no palco e banda ao vivo.

O “Julho das Pretas” convida para show inédito das irmãs Alessandra e Aline Crispim no sábado (29), às 18h, na Praça Antônio Carlos.

No sábado (29), às 20h, tem um dream team de DJs no Mercadinho Qualquer Coisa, com  Tuta, Elpp Aravena, Snüp-in, Pedro Paiva e Alex Paz.

André Medeiros Lanches faz show em formato de bolso domingo (30), às 15h, no Meiuca da gente, com entrada franga.

O projeto  Palco Central segue a temporada de sucesso com “Sararau Crioulos Acústico”, dia 8, com os poetas e MC’s Igor Braz, Dalagoa, Tay, Preto Vivo eSophia Bispo.

No dia 11, uma sexta, tem Especial Brasil x Dinamarca – Música, com Dudu Lima (contrabaixo), Maria Hiort Petersen (vilão e voz), Bem Besiakov, (piano) e Leandro Scio (bateria). A agenda segue com Guido Del’ Duca  (15) e Homenagem ao Mamão (17). Os espetáculos são sempre às 18h30, e a distribuição de ingressos começa seis dias antes da apresentação.

Na quinta (3), começa a etapa Ouro Preto do Festival Tudo é Jazz, com abertura da exposição “Elza Simone e Nina Soares”, às 20h, e show da banda Mambo Jazz, às 20h30.

A edição 2023 do Festival de Cinema e Gastronomia de Sarandira (SaranCINE 2023), distrito de Jufas, acontece entre os dias 3 e 5 de agosto, com foco no debate de questões socioambientais, conservação da biodiversidade e a promoção da gastronomia local. Na abertura, quinta (3), serão exibidos os documentários “O ferro velho de cada dia” (cotidiano de sete proprietários). “Pa’Muña” (história da feirante que criou sete filhas transformando milho em quitutes) e “Mar de lama” (mineração e sustentabilidade no Brasil).

O festival de dança Esquinas & Vielas faz edição especial neste sábado (29), no Museu Ferroviário, a partir das 9h.

Playlist com as novidades musicais da semana. Todas as playlists do 2012, 2021 e 2020 nos links.

Playlist de clipes com Oliver Tree, London Grammar + CamelPhat, JMSN, Irakytan, Harry Styles, Criolo, ZAYN, Melody + Paula Guilherme, Pedro Sampaio + MC Tato, Sylvan Paul, scarlxd, Geese, Tropkillaz + Troyboi, A$AP Rocky, Arquétipo Rafa, Iara Rennó, Mariana Nolasco, Tinashe e Gabriela Garrido

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