Sexta Sei: Ancestral, onírico, potente e político: o Elã na música inventiva, futurista e amazônica de Reiner

Álbum de estreia do artista paraense exalta a arte feita em Belém, no Pará e na Amazônia

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Reiner por Duda Santa

Fiquei de ouvidos bem atentos desde que ouvi ao trabalho do paraense Reiner, 29 anos, com o single “Elã”, noticiando aqui, que anunciava o álbum homônimo, que chega nesta sexta (19), transbordando pirarucu e cultura paraense e amazônica, no que ele batiza de Amazofuturimo. Ao navegar pelas correntes de uma Amazônia futurista, Reiner deixa fluir um som que reverencia o passado e olha diretamente para o futuro, enquanto mescla o local e o global. Influências da música negra e indígena se misturam à guitarras que ecoam Sepultura e samples de Portishead. “Meu intuito era tentar entender as diversas formas de linguagem da minha gente e me apropriar, no melhor sentido da palavra, desses sons”, me contou, nesse papo transamazônico pra Sexta Sei.

Capa do disco por Vinny Araújo, Duda Santana, Reiner e Bernardo Lobo

Moreira – Muito legal esse conceito que você está lançando de Amazofuturimo, uma viagem pelas sonoridades de Belém que você costura com influências de músicas negra e indígena, guitarras que ecoam Sepultura, samples de Portishead e até releitura de brega. A Amazônia é, realmente, um pólo de sabores e culturas. Como você trouxe tudo isso ao álbum?

Reiner – Esse disco é o resultado de uma intensa pesquisa que realizei durante alguns anos. Pra mim, é muito natural trazer todas essas referências, porque estou fazendo isso de forma consciente e tentando mostrar que a arte feita em Belém, no Pará e na Amazônia é também fruto de experimentações. Por exemplo, a guitarrada e o tecnobrega são gêneros musicais calcados neste tipo de raciocínio. Então, quis trazer sonoridades que em teoria não são óbvias de coexistirem em um primeiro olhar… Assim como as músicas que tocam na minha cidade que é muito plural nesse sentido, aqui em toda esquina se escuta uma música diferente de décadas diferentes e de estilos diferentes. Meu intuito era tentar entender as diversas formas de linguagem da minha gente e me apropriar, no melhor sentido da palavra, desses sons. O Elã que falo no disco é justamente isso: há algo ancestral que costura a música paraense desde o rock até o carimbó; nossa visão sobre arte é única. O que é legal também é que consegui trazer a minha personalidade nesse rolê todo, tentando trazer as minhas influências de música gringa e das músicas daqui e jogar tudo em um caldeirão de ritmos tradicionais e modernos, criando uma sonoridade que, pra mim, me define e define a minha geração de músicos amazônidas.

Moreira – A parte visual e de moda do trabalho também é muito instigante e tem esse sabor gostoso de novidade e juventude. A balaclava do single “Elã” é muito moderna e esperta, fala mais sobre os significados da capa, com todos à mesa, servida com um pirarucu, e só você olhando para a câmera. Lindos visuais que embalam muito bem esse álbum inventivo. Esse look branco é um espetáculo. Você que faz a parte de moda?

Reiner –  A parte de moda é feita pelas mãos de Maíra Martins e Vinny Araújo, dois amigos que trabalham comigo há muito tempo. A gente queria trazer a sensação de algo onírico, mas potente e político também, assim como o disco. A balaclava com o escrito “amazônico” nasce do conceito de que não importa o rosto, a trajetória e nenhuma outra característica que nos faça correr de onde somos, sempre seremos tachados como sendo daqui de forma exótica e xenofóbica. A capa representa os dois lados do disco, a Terra e a Água, juntos partilhando de um momento sagrado em quase todas as famílias do norte: a hora do alimento. O pirarucu também representa a fartura, um peixe gigante que temos por aqui e que é típico da região. Segundo alguns contos, o deus Tupã teria transformado pirarucu, um guerreiro, em peixe por ter sido desobediente. A moça em azul representa as divindades existentes em meu território. As crianças representam o nosso futuro, e a outra figura é a minha mãe. Quis trazê-la, pois além do que ela representa pra mim, a Amazõnia também pode ser considerada a mãe de vários povos e etnias.

Moreira – “¿brasil profundo” questiona esse conceito que remete a Sérgio Buarque de Hollanda em “Raízes do Brasil”, Euclides da Cunha em “Os sertões” e Gilberto Freyre em “Casa grande e senzala”. O poeta roraimense Eliakin Rufino diz que “Não há Brasil profundo/ Brasil profundo foi inventado por quem pensa raso /Teóricos da superfície, acadêmicos urbanos, intelectuais do asfalto / Brasil profundo somos nós, nortistas, indígenas, quilombolas, caboclos, ribeirinhos, povos da floresta, somos vistos com desprezo”. E me conta mais sobre o Movimento Roraimeira que Eliakin criou. 

Reiner – O conceito de Brasil Profundo é um conceito xenofóbico criado para nos colocar em um lugar “menor” em relação ao Brasil e isso vem funcionando há muito tempo. Nossas terras, nossas riquezas, nossas carnes e nosso intelecto são explorados há séculos por aqui e nada nos sobra, apenas a resistência. Eliakin é um figura central para combater a beligerância do Brasil contra nós, amazônidas. Ele, ao lado de Zeca Preto e Neuber Uchoa, desenvolveram um movimento nos anos 80 em que Roraima seria o centro criativo daquele coletivo, falando sobre a natureza e os saberes indígenas intrínsecos à cultura amazônida. O movimento roraimeira é como se fosse o despertar de um empoderamento amazônico através da poesia e da música.

Moreira – “O Sul e o Sudeste dormem muito, mas só conseguem sonhar com si mesmo”, diz a letra de “Palavras”, feat com Jayme Katarro, da cena punk paraense. Essa faixa fala de um sentimento seu de como os sudestinos se portam em relação aos nortistas. Os sudestinos são muito preguiçosos?

Reiner – Acho que os sudestinos são extremamente autocentrados. Falando de música e de um setor da música muito específico do qual eu faço parte, as oportunidades são distribuídas a rodo entre todos eles e nós, aqui do Norte, ficamos vendo navios, não por sermos menos mas sim por não sermos sudestinos e ter as mesmas vivências de quem é desses lados do Brasil. Fazer o mínimo, como colocar um ou dois artistas do Pará ou da Amazônia em uma playlist ou no lineup de um festival não é progresso, ainda é colonização. Talvez, preguiçoso não seja o adjetivo certo, o que existe é uma falta de visão acerca do que acontece longe do seu umbigo e da sua jurisdição e, quando se confronta esse pensamento, há sempre um mea-culpa cínico. 

Moreira – Fafá de Belém é uma figura muito importante no Pará e também articuladora de diálogos com os artistas mais jovens, como ela fez no Rock in Rio, com Jaloo e Lucas Estrela, e no  álbum de retorno com Felipe Cordeiro. Tenho um afeto por Fafá que vem da infância. Você releu “indauê-tupã”, presente no primeiro disco de Fafá de Belém. Qual é o seu link com Fafá? O meu é cósmico.

Reiner – HAHAHA minha relação com a Fafá é de admiração total. Ela, ao lado de Paulo André Barata e Ruy Barata, criaram uma identidade amazônica em um tempo quando “ninguém falava” sobre o que é daqui. Isso foi feito de uma forma tão genuína, que essas músicas atravessarão ainda mais gerações, além da minha. Meu intuito com essa releitura é saudar esses grandes mestres da música paraense, dizendo que eu entendo o que eles fizeram e que quero dar ainda mais continuidade pro que eles fizeram… Eu amo essa versão e ter a Patrícia Bastos cantando comigo essa música tão importante é muito especial pra mim.

Abaixa que é tiro!💥🔫

Zé Nigro por Indira Dominici

O novo álbum do cantor, compositor e produtor musical paulistano Zé Nigro, Silêncio, é como uma dobra do tempo, com releituras de faixas lançadas no disco “Apocalip Se”, seu trabalho de estreia, de 2021. As temáticas abordadas agora são somadas a novas perspectivas a partir das colaborações com Arthur Verocai, Russo Passapusso, Fernanda Broggi, Saulo Duarte e Souto MC. Transitando por diversos ritmos, o disco chega pelo selo estadunidense Nublu Records. “Enquanto meu primeiro disco carregava uma necessidade de transformação pessoal – consequência do isolamento de 2020 –, este novo projeto propõe uma conexão com as participações que trazem outras personalidades para o trabalho, assim como uma ligação mais profunda com a natureza”, resume Nigro. O primeiro single a apresentar o álbum trouxe uma versão orquestral de “Gorjeios”, em colaboração com o maestro Arthur Verocai. “Russo Passapusso traz uma carga emocional intensa para ‘Nem um Pio’, enquanto Souto MC deposita sua energia única em ‘Andarilha das Galáxias, com um flow e escrita particulares”, destaca Zé. A faixa ganhou clipe lisérgico.

Na minha era carioca, fui contemporâneo de Momo., hoje radicado em Londres, na Inglaterra, após passar por Chicago, Portugal e Espanha, e sempre gostei de acompanhar seu trabalho. Sem lançar álbum desde “I was told to be kind” (2019), ele retorna com um seu sétimo disco, um volume de afrobeats, “Gira”, com letras simples e otimistas, alto-astral e felizes,  assim como foi o disco que é norte do trabalho, o clássico “Gil & Jorge: Ogum, Xangô”, de 1975.  Ele, que sempre foi conhecido por fazer música folk, introspectiva e melancólica, produziu um trabalho focado nos beats, nas levadas e nos grooves. O álbum é lançamentodo prestigiado selo londrino Batov Records, e Wado foi parceiro de seis das dez músicas.

Momo_por Dunja Opalko
Fotos: Matheus Maia

Cantora e compositora bissexual vinda de Guarullhos, município da zona metropolitana de São Paulo, Nina Oliveira tem voz e afinação que desmancha em delícias na orelha, como mostra no terceiro single de sua gostosa era forrozeira, Essa menina tem, composição dela com produção musical de Paulo Novaes, que veio depois de “Casa de Boneca” e “Feitiço”. A artista fala abertamente nesta canção sobre um flerte que acontece entre duas mulheres. “A música é sobre um momento em que eu estava descobrindo minha bissexualidade. É uma história engraçada, porque me interessei por uma moça que parecia corresponder, mas no fim, nada aconteceu. Nessa dinâmica, percebi que sou muito diferente com cada gênero. Com homens, me sinto mais no controle, mas com mulheres, sou aquele clássico tipo bi que tem medo de mulher e acaba na mão delas”, conta Nina, rindo. Quando compôs a faixa, ela estava ouvindo muito “Morena Tropicana” de Alceu Valença. “Cabelo de uma mata tão fechada”, foi a forma encontrada de descrever um black power exuberante. No visualizer safadinho, ela mostra o local de onde veio, geografica e socialmente. “É uma periferia que já sofreu muitas desapropriações, mais da metade do bairro já deixou de existir, e me vi sem registros de como era esse local da minha infância, tão importante pra minha história”, desabafa. “Durante parte da minha infância e adolescência, trabalhei em um comércio de bairro, muito parecido com o que escolhemos como locação para esse visualizer. Esse comércio foi, por muitos anos, o sustento da minha família”, conta.

Luiza Brina pela artista visual Daniela Paoliello
Lilian Rocha por Dani Souza com arte de Mariana Rodrigues
O álbum acústico "Coração & Tripas", da Martiataka🤘 , está completando dez anos
Slipknot no KnotFest Brasil em São Paulo,
Ratos de Porão em São Paulo e no Rio. Foto: Marcos Herrmes
A Supercombo que eu gosto no Circo Voador
Napalm Death na Lapa
Alice Caymmi em “Rainha dos Raios: A Fúria”,no Clube Manouche,. Foto: Gustavo Zylbersztajn
O músico norte-americano de folk blues rock Shawn James passa pela Autêntica, em BH
“Fabiana Cozza canta Nei Lopes”, no Teatro Rival Petrobras
Silva Soul por Digo Ferreira
Vencedora do Festival de Bandas Novas, a Purple Lips

Nesta sexta (18), às 20h, tem a maravilhosa Luiza Brina fazendo o showzera de “Prece” no Maquinaria. Ela já sextou aqui e aqui. E ainda teremos Julianna Sá e Waguinho MPBDoll, da Dobra Discos, aqui em Jufas. E shows de Renato da Lapa, Juliana Stanzani e Bia Nascimento. “Prece”, lançado este ano, foi apontado pela Associação Paulistana dos Críticos de Arte (APCA) como um dos 25 melhores álbuns do primeiro semestre. 

Lilian Rocha sextou aqui com o seu belíssimo álbum de estreia, “Do Nilo”, que ela apresenta nesta sexta (18), ao vivo, no Madame Gevah, às 20h. “O perfume do caju 🎶”

O álbum acústico “Coração & Tripas”, da Martiataka🤘, está completando dez anos e tem show, no sábado (19), às 22h, no Muzik. Amo.

No Beco, sábado (19) tem Halloween do Brejô, com Xota Efe e Inoutside,   às 21h30, e domingo (21) tem Festival de Bandas Novas, às 18h, com quatro bandas: Black Widow (18h), Bliss (19h), a vencedora deste ano, Purple Lips (20h) e Systema Decadente com tributo ao System of a Down🤘 (21h30).

Uma das primeiras grandes artistas nacionais a sextar aqui, Luisa Nascim faz despedida do projeto sensacional Luisa e os Alquimistas, que prestou bons serviços à música nacional. A tour começa nesta sexta (18), no Rio, às 18h no Galpão Ladeira das Artes, e segue para São Paulo, dia 20, no Sesc Vila Mariana, e ainda passa por Curitiba (22/11) , Natal (30/11), João Pessoa (4/12), Recife (7/12), Sousa, na Paraíba  (12/12) e Juazeiro do Norte, no Ceará (13/12).

O KnotFest Brasil 🤘acontece sábado (19) e domingo (20), às 11h, no Allianz Parque, em São Paulo, com Slipknot nos dois dias, tocando o seu álbum de estreia, “Slipknot” (1999), no domingo (20), com direito ao figurino e às máscaras usados na época do seu lançamento. O festival tem mais de 20 bandas nacionais e internacionais, Mudvayne, Amon Amarth, Meshuggah, DragonForce, Orbit Culture, Ratos de Porão, Krisiun, Project46, Eminence, Kryour e Eskröta, no sábado (19), e Bad Omens, Till Lindemann, Babymetal, P.O.D., Poppy, Black Pantera, Ego Kill Talent, Seven Hours After Violet, Korzus, Papangu, The Mönic e Seven Hours After Violet, no domingo (20)

No Circo Voador, na Lapa, no Rio, a anda que amo Supercombo faz show de dez anos do álbum “Amianto” no sábado (19),e, na quarta, tem Napalm Death e Ratos de Porão.🤘 A casa abre às 20h.

Novas exposições entram em cartaz em Inhotim com Pipilotti Rist ( instalação imersiva “Homo sapiens sapiens” – 2005), Rebeca Carapiá ( “Apenas depois da chuva”. 2024) e Rivane Neuenschwander  (individual “Tangolomango”  – 2024), a A partir de sábado (20), de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30.

A maior voz nacional depois de sua tia, Nana, Alice Caymmi apresenta o show “Rainha dos Raios: A Fúria”, em esquema voz, violão e guitarra, sábado (19), às 21h, no Clube Manouche, no Rio, comemorando os dez anos desse álbum que mudou nossas vidas.

O músico norte-americano de folk blues rock Shawn James passa pela Autêntica, em BH, nesta sexta (18), Às 19h30, com a turnê de “Murte Mi Amor”, em referência a uma das mais aclamadas músicas do seu álbum mais recente, “Honor & Vengeance” 🤠.

Na sexta (18), às 19h30, “Fabiana Cozza canta Nei Lopes”, uma mistura de canções consagradas e inéditas que foram registradas pela primeira vez em seu álbum “Urucungo”, no Teatro Rival Petrobras,

Silva Soul lançou EP instrumental, o belo e suingado “A missão”, e faz show de lançamento neste sábado (19), às 22h, no Cultural, em noite que ainda tem Soul Rueiro, Samba de Colher e Marcela Conte.

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023 2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com half•alive, Frimes, Boogarins, Hiran + Gabi Lins + Salamanka Totô de Babalong ,Mombojó, Greentea Peng, Filarmônica de Pasárgada, Partimpim, Russ, Teto Preto, Siamese, Meraï, Tyla, Shakira, Lucas Felix, Audrey Nuna, Latto, Bon Jovi,+ The war and treaty e Silva Soul,

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