Sexta Sei: O mangue beat do Recôncavo baiano é Experimental no encontro de J. Velloso, Gustavo Caribé e Mirella Medeiros

Visão contemporânea sobre a cultura popular da Bahia chama a atenção das novas gerações sobre tradições como chegança, Nego Fugido, candomblé de caboclo e o reggae de Cachoeira

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Fotos por Mirella Medeiros

Desde que ouvi ao primeiro single “Barro nos pés”, do trio J. Velloso, Gustavo Caribé e Mirella Medeiros, reportei aqui imediatamente que um álbum colossal estava vindo aí. Pois dito a feito, a pedrada caiu essa semana no planeta, com o excelente álbum “J. Velloso e Recôncavo Experimental”, uma espécie de mangue beat do Reconcâvo Baiano, terra de uma imensidão de manifestações e atores culturais, de Gregório de Mattos, Caetano Veloso e Maria Bethânia a Zolinha de Santo Amaro, Monilson Mony e o Cantador de Moçambique, que participam do volume. Bati um papo generoso com J. Velosso, aprendam, jovens, que professor faz assim, sobre o agradecimento, e não homenagem, que o álbum faz aos grupos culturais do Recôncavo. “Santo Amaro por si só já é experimental. E é com o olhar de lá que Gustavo Caribé, natural da terra e criador do coletivo Recôncavo Experimental, partiu da tradição à contemporaneidade utilizando sons de guitarras, samplers e programações, com influências também no mangue beat. Assim como Chico Science utilizou o Maracatu como base para a sonoridade do seu trabalho, Gustavo Caribé utiliza a base da chula, ritmo que originou o samba, para criar o seu som surpreendente. É o mangue beat do Recôncavo”, me conta.

Moreira – O álbum começa citando Gregório de Mattos com o verso “Triste Bahia”, que já aparecia no álbum “Transa” (1972), de Caetano Veloso, justamente mostrando a relevância cultural do recôncavo… O recôncavo é essencialmente experimental? Curioso que o edital que financiou o álbum leve o nome do poeta, Gregórios – Ano III.

J. Velloso – Adorei a pergunta. Realmente, a importância cultural do Recôncavo Baiano para o Brasil é profunda. Basta a gente lembrar que o samba, que é vela e leme da música popular brasileira, nasceu nesta região. E Gregório, o primeiro grande poeta do nosso país, já possuía nos seus versos alertas para as grandezas e mazelas da nossa nação. Citar “Triste Bahia” é também denunciar a situação de abandono e indiferença aos grupos culturais, certamente não só na Bahia, que sobrevivem por existirem pessoas que com muita determinação não deixam a base da nossa identidade sumir. O disco não é uma homenagem a esses grupos, mas sim um agradecimento. Santo Amaro por si só já é experimental. E é com o olhar de lá que Gustavo Caribé, natural da terra e criador do coletivo Recôncavo Experimental, partiu da tradição à contemporaneidade utilizando sons de guitarras, samplers e programações, com influencias também no mangue beat. Assim como Chico Science utilizou o Maracatu como base para a sonoridade do seu trabalho, Gustavo Caribé utiliza a base da chula, ritmo que originou o samba, para criar o seu som surpreendente. É o mangue beat do Recôncavo.

Moreira – É interessante como o álbum parte de tradições do recôncavo para a construção de uma estética ligada à contemporaneidade. Nos contem mais sobre tradições da região que aparecem no trabalho, como o samba-chula, o Nego Fugido e a Chegança de Saubara? E quais as influências da contemporaneidade.

J. Velloso – O trabalho de Gustavo Caribé no Recôncavo Experimental estava diretamente ligado ao samba-chula, mas após fazermos duas músicas, eu e Mirella Medeiros, produtora e diretora artística do projeto, sugerimos fazer canções ligadas a outros grupos culturais da região, utilizando a base rítmica de cada uma delas. Aí incluímos  capoeira, maculelê, chegança, Nego Fugido, candomblé de caboclo e o reggae de Cachoeira, que é muito particular. Desses alicerces da nossa cultura, certamente o Nego Fugido foi o que mais me surpreendeu, pois, apesar de ser de Santo Amaro, é uma representação, com música e teatro de rua, como nunca vi igual. Todos os domingos de julho, eles se apresentam em Acupe, distrito de Santo Amaro, e é inexplicável. Vale a pena ir lá pra fazer parte desse acontecimento. Já a Chegança tem origem na luta de Portugal contra os Mouros, mas que aqui se misturou com as batalhas ocorridas na Baía de Todos os Santos durante o processo de independência da Bahia. A contemporaneidade no projeto vem da criatividade de Gustavo Caribé, e nós vimos que ela poderia ser uma grande aliada para que a cultura popular pudesse atingir a curiosidade das novas gerações. 

Moreira – Conte mais sobre a participação de artistas locais, representados por Zolinha de Santo Amaro, sambista e zelador da Casa do Samba, em Santo Amaro; Monilson Mony, doutor em Artes Cênicas e representante do Nego Fugido; além do Cantador de Moçambique, jovem capoeirista que viralizou nas redes. Como foi a escolha dessas participações, e também de nomes como Gerônimo Santana, Jussara Silveira, e Illy?

J. Velloso – A escolha desses nomes, inclusive de Nené, rezadeira das Trezenas de Santo Antônio, foi dar mais profundidade aos temas. Zolinha, compositor e cantor, sendo ele zelador da Casa do Samba, já era uma referência completa para participar da faixa “Vida Chula”. Ele se encaixa em toda música. Monilson Mony, um doutor em artes cênicas e líder cultural, nos deu a honra de ler seu texto, sintético e profundo, sobre o grupo, na faixa “Nego Fugido”. O Cantador de Moçambique nós o conhecemos no YouTube, e ficamos impressionados com sua voz e interpretação de uma ladainha que depois soubemos ser de autoria do capoeirista baiano Fala Manso. É emocionante ouvir a voz da África cantar capoeira, palavra de origem indígena, essa luta e dança nascida no Brasil. Já as participações de Gerônimo Santana, Illy e Jussara Silveira no álbum vieram para mostrar que a cultura popular é a novidade adormecida. 

Moreira – E como foi o encontro entre o trio de criadores,  J. Velloso, Gustavo Caribé e Mirella Medeiros, esse projeto começou na pandemia? Eu fiquei muito ligado nessa desde o primeiro single, sabia que seria um álbum especial e eletrizante.

J. Velloso – Bom ver que você gosta desse trabalho. Durante a pandemia, Gustavo Caribé me mandou uma chula para colocar letra, e eu fiz “Vida Chula”, já com um agradecimento a ele no verso, “Recôncavo Experimental, minha pele é você”. Depois, ele me mandou outra melodia, não era uma chula, mas era bem baiana. Aí coloquei uma letra falando da perda de minha mãe. Gravamos as duas num quarto da sua casa, no Muquifo Sonoro, e gostamos do resultado. E juntamente com Mirella Medeiros, produtora e diretora artística do projeto, tivemos a ideia de fazermos músicas utilizando a cultura popular do Recôncavo. Tudo foi muito orgânico, prazeroso e desbravador. 

Capa com foto de Peterson Azevedo e arte Mirella Medeiros

Moreira – A capa do álbum mescla  a manifestação cultural “Caretas de Acupe”, artefatos de papel machê, à cultura undreground, com borrões de tinta em cores vibrantes. Essa ideia da fusão entre o tradicional e o contemporâneo é a ideia do disco?

J. Velloso – A ideia é essa, e Mirella Medeiros viu nas imagens das Caretas de Acupe um símbolo histórico, mas também muito enérgico, quase que agressivo, e cheio de significados. Ela vem conduzindo o projeto com sensibilidade e conhecimento, fazendo toda parte gráfica do projeto, que é muito particular e significativa e agrega muito ao que o projeto quer dizer.

Abaixa que é tiro!💥🔫

A tecladista, compositora e produtora musical capixaba Thaysa Pizzolato é replicada, em uma espécie de Thaysaverso, risos, com múltiplas versões suas no clipe de “Gemini”, faixa que passou aqui pela playlist sextante no lançamento. No vídeo dirigido por Luiza Grillo com fotografia e edição de Nuno Perim, ela aparece criando todas as camadas da música ao lado da baterista Maressa Machado. A faixa, de clima synthpop, incorpora elementos da world music e jazz. “‘Gemini’, pra mim, foi meio que uma liberdade criativa, a compus sem regras ou amarras. O nome é uma brincadeira com o signo gêmeos e a dualidade, em analogia aos dois momentos distintos da música”, conta. A artista já lançou o EP “Low Hype Machine” (2022), e prepara seu segundo trabalho.

Thaysa Pizzolato por Thamyris Escardoa
Paulinho Bicolor em foto de Mauri Kankaanpää

Depois do lançamento de  “Malandro 5 Estrelas”, estreia solo de Índio da Cuíca, pelo selo QTV, que o instrumento ganhou novo espaço no meu imaginário. Pois a cuíca é protagonista do livro “Cuícas Imortais: de João Mina a Boca de Ouro”, que o jovem pesquisador Paulinho Bicolor e o veterano escritor J. Muniz Jr. lançam, pela Mórula Editorial, como o primeiro volume de uma série dedicada ao instrumento. Paulinho Bicolor é cuiqueiro, pesquisador e mestre em música pela UFRJ, e encontrou J. Muniz Jr., conhecido como Marechal do Samba, um dos nomes históricos da X9 Santista, cuiqueiro emérito e consagrado historiador do samba. em 2011. A partir do primeiro encontro, uma amizade se desenvolveu, e a ideia de registrar a história dos grandes cuiqueiros do passado começou a ganhar forma. O livro resgata a trajetória de figuras importantes do mundo da cuíca, como João Mina, Oliveira, Ministrinho (o carioca, neto da Tia Ciata, e não seu homônimo juiz-forano), Boca de Ouro, Generoso da Cuíca, entre outros. 

Feliz é um país que tem o orgulho de ter como filha a paraibana Cátia de França que, aos 77 anos, acaba de lançar o seu sétimo álbum, “No Rastro de Catarina”, “renascida das cinzas”, feito “Fênix”, como canta na faixa que passou por aqui na última playlist. A artista  reafirma sua importância para a música brasileira em meio século de carreira, unindo passado e  presente. Ela fala da guerra em “Bósnia”, “que traga o pouco de gente que resta em nós”, mostrando a sabedoria de quem já  fez experimentações e parcerias com artistas como Zé Ramalho, Dominguinhos, Sivuca, Lulu Santos, Chico César, Elba Ramalho e Bezerra da Silva. O disco percorre toda a história da artista, desde “Indecisão”, um poema de amor escrito quando Cátia tinha 14 anos e só agora musicado, ao mergulho em seu envelhecimento com “Malakuyawa”, cantando sobre seus cabelos brancos, veias aparentes e sorriso sem dentes, “mapa revelando um país”. Entre as canções políticas, estão ainda “Espelho de Oloxá” e “Negritude”. “No Rastro de Catarina” foi integralmente gravado ao vivo em João Pessoa, terra natal da cantora, no Estúdio Peixeboi. A banda é formada por Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço), Elma Virgínia (baixo acústico, baixo elétrico e fretless), Beto Preah (bateria e percussões) e Chico Correa (sintetizadores e samplers), que também assina a produção musical do disco ao lado de Marcelo Macêdo.

Cátia de França por Murilo Alvesso
Batalha de Rap do Bandeirantes
A banda Angra por Marcos Hermês
Cristina Flores e Laura Castro, do QueeRIOca, em foto de Ana Alexandrino
Na Occaponto, tem DJ set com Ever Beatz.
Varanda por Gabriel Acaju
Catto por Juliana Robin
Otto por Rava lFilmes
Johnny Hooker
Jessie J
Stain no Espaço Hip Hop
Hercules and Love Affair em São Paulo
Cola na Vakinha pro evento Justiça por Daniel Monstrão

Nesta sexta (26), rola a edição de trio da Batalha de Rap do Bandeirantes, às 19h38, na Praça Arthus Bernardes, com Formigão, Jovembox e Manueliton.

O Hugo Schettino Trio lança o álbum “Find Yourself” nesta sexta (26), às 20h, no Experimenta Bar.

A banda que eu amo Varanda lançou single duplo, cata na playlist de clipes, e faz show, nesta sexta (26), às 22gh, no Maquinaria. com participações de Alice Santiago, Pedro Tascaa, Cyro Soares, Baapz e grande elenco de queridos

Show tradicional na cidade é o do Angra, que se apresenta na sexta (26), no Cultural Bar, com a “Cycles of pain tour”, com abertura do americano Jeff Scot Soto, que já foi vocalista do Journey em 2006 e 2007. No sábado (27), a casa tem show da banda Ponto de Equilíbrio. Nos dois dias, começa às 22h.

Na Occaponto, no sábado (27), às 19h, tem DJ set com o boa-praça Ever Beatz.

A Versus inaugura o Centro Cultural Seila Neves no sábado (27), às 20h, com shows de Daniel Daniera Trio Afrodite e Parangolé Valvulado e discotecagem de Ricco Mattos.

O primeiro centro cultural de arte e cultura LGBTQIAPN+ do Brasil abre neste sábado (27), a partir das 14h, na Travessa do Comércio 16, no Centro do Rio, homenageando Zélia Duncan. O Queerioca abre com a exposição coletiva “DiferEntre”, a partir do meio-dia, com 32 artistas sob a curadoria de Daniel Toledo. O dia será cheio de atividades culturais, com lançamento do livro “Benditas coisas que eu não sei”, de Zélia, às 16h,  exibição do curta “Uma paciência selvagem me trouxe até aqui”, de Éri Sarmet, a peça “Eu vou!”, com texto de Zélia, roda de samba com a homenageada e Ana Costa, às 21h, e “Arca dos Prazeres”, com a DJ Tata Ogan. O espaço foi idealizado pelo casal formado por Laura Castro e Cristina Flores, para  ser uma residência para artistas LGBTQIAPN+. Olha que delícia, lá tem o bistrô “Angela Ro Ro”: um bar com direito a piano e atabaque. 

Sexta (26) e sábado (27), às 21h, Filipe Catto apresenta o show do belo álbum “Belezas são coisas acesas por dentro”, cantando o repertório de Gal Costa.

O pernambucano Otto comemora 15 anos do álbum “Certa manhã, acordei de sonhos intranquilos” com show sexta (26), às 20h, no Circo Voador. No sábado, tem mais Pernambuco com o show dos 20 anos de carreira de Johnny Hooker.

Roda de semaba com Ana Costa e Zélia Duncan no Queerioca

A primeira Masterplano de 2024 é de graça, sábado (27), das 14 às 22h, no Viaduto Santa Tereza, em BH, com Amerikana e Satya, Bauretz e Malaka, Linguini e mais.

Tom Ribeira e Thomé, que já sextaram por aqui, fazem show domingo (28), às 18h, no Teatro Cesgranrio, no Rio Comprido, no Rio.

O #WhatzPop71 apresenta shows das bandas The Calling e Magic!, Nando Reis e Duda Beat, Rachel Reis e Lunna Montty no dia 30, na Arena Fonte Nova, em Salvador.

Na quinta (2), às 21h, tem show da inglesa Jessie J no Vivo Rio.

O Espaço Hip Hop volta a ocupar o vão do Viaduto Hélio Fadel Araújo no feriado de 1 de maio, a partir das 13h.

Nos dias 3 e 4 de maiio, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, rola a edição de 3o anos da Time Warp com line up delicinha demais com Black Coffee, Boys Noize, Gop Tun DJs, Hercules and Love Affair, Horse Meat Disco, I Hate Models, Richie Hawtin, Slim Soledad, Sven Väth, Valentina Luz B2B Eli Iwasa, Vermelho, WhoMadeWho e +

Está rolando uma Vakinha para a produção do Skate Rock Fest, em em memória e homenagem a Daniel “Monstro”, pedindo Justiça pelo amigo que foi assassinado em casa, um dos acontecimentos mais tristes desse ano. O evento vai rolar no dia 19 de maio, com apresentações de bandas, como a Traste que amamos, e DJs, com Pedro Paiva e Snup-in, exposição coletiva de artes visuais e grande rolé de skate na Praça Antônio Carlos (PAC).

Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023,  2022, 2021 e 2020 nos links

Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Max Cooper, Varanda, Jaloo, Massot, Zaynara,, Gaby Amrantos + Banda Uó, Bemti, Taya + King Saints + Monna Brutal, Leona Vingativa,  Katy da voz e as abusadas, Canto Cego, Spiritualized, Hamilton de Holanda Trio, Rebeca, Idles, JMSN, Joe Goddard, Sílvia Machete, Peso Pluma + DJ Snake, Pinkpantheress, Kings of Leon e  Taylor Swift + Post Malone

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