Entrevista: Fabiano Moreira

por José Hansen

Jornalista festivo, formado em uma das gerações de ouro da Faculdade de Comunicação da UFJF, Fabiano Moreira vem ao Baixo Centro para nos contar um pouco de sua trajetória, seu apreço pela cultura no jornalismo. Com trajetória idônea pelos mundos da comunicação e produção de festas, Moreira, definitivamente, veio para ficar.

Jornalista festivo

O que define um bom jornalismo?
Boas pautas, boa apuração, imparcialidade, um olhar pro futuro.

Qual o seu segredo?
Se contar, deixa de ser segredo.

Você prefere a pauta livre ou pauta presa?
Pode vir de qualquer jeito, tamo aí mandando brasa.

Você acredita na objetividade jornalística?
Não

Altos agitos no antigo Marrakesch / Alexandre Moraes

Antes de ir para o Rio de Janeiro, você trabalhou com alguns artistas juizforanos, pode nos contar algumas histórias?
Eu trabalhei com o The Quarrymen, mas brevemente, éramos mais amigos que tudo. E eu fiz uma festa, a Electroboogie, que “lançou” o Jota Jota, que hoje está em BH. O Igor Funk Beats (Poggianela) tocava também. Os flyers eram do Kureb, muito legais. A cada festa, uma pessoa da nossa plateia ensaiava uma música e performava, além de ser o flyer, com faixa produzida pelo Igor. Fizeram o pocket show Jonatas Carminate (Satanoj), Bianca Jahara, Laila Soares, Énio Mendes, Erika Vendramini, Diego Navarro, Didi Vagner, que era barwoman na época e françou um corselete nas costas com alfinetes. Eu também fiz o Fanzine Bat Macumba, que tinha um time muito da pesada, como Leo Ribeiro,  Mônica Ribeiro, André Monteiro, Ricardo Coimbra, a banda Boa Pergunta, Priscilla de Paula e tantos outros. Saímos no Globo e na Folha de S Paulo, na época.

Saudosos flyers da Eletroboogie que rolava no Muzik

Bat Macumba

Sobre o zine Bat Macumba, ele se diferenciava pelo ineditismo dos textos e por não ter exclusivamente a temática “fã”. Rolou uma edição toda em quadrinhos e algumas festas de lançamento que marcaram uma galera, de acordo com fontes seguras, pode nos contar algumas histórias e pautas?
O Bat Macumba era um fanzine mais pelo formato mesmo, até fizemos algumas entrevistas com artistas e bandas que a gente gostava, como Arnaldo Baptista, Pato Fu e Planet Hemp, em entrevistas presenciais, mas o forte mesmo era a publicação de poemas, ilustrações, quadrinhos, trabalhos artísticos em geral, chegamos a fazer até uma telenovela. 

Fizemos uma edição especial de letras de músicas em quadrinhos que foi muito legal. O Leo Ribeiro quadrinizou Iracema, do Tom Zé e Sobremesa, do Chico Science e Nação Zumbi. Quadrinizamos Hyperballad, da Bjork, Leandro Furtado fez Sr. F dos Mutantes… A gente também fez algumas festas para lançar as edições, com a banda Boa Pergunta, na sexta cultural da Comunicação e fizemos uma festa no Paschoal Carlos Magno, ainda em ruínas, com Funk Fuckers e Acabou La Tequila. O público ficava em uma rampa, uma descida, e tinha muita poeira, a gente amava aquele espaço, que hoje foi devidamente revitalizado.

Do zine Bat Macumba, na faculdade de comunicação da UFJF, para o jornalismo cultural, você pode fazer análise do contexto da comunicação cultural no Brasil?
Estamos vivendo um período de grandes transformações nas mídias e nas formas de se fazer jornalismo. Na verdade, uma grande crise de pessoal, com demissões em massa nas redações e um fim iminente dos meios impressos. Isso tudo se reflete em Juiz de Fora, com o encolhimento das redações e dos veículos. A revolução digital traz muitos impactos, e o principal deles é essa falta de vagas para jornalistas e os baixos salários. Sou otimista com as novas mídias, mas ainda falta qualidade, e a remuneração não é a mesma coisa.

Fanzine Bat Macumba

Você pode nos falar sobre seu trabalho como jornalista na tribuna?
Foi um período muito produtivo, sete anos de muito trabalho,era uma época de muitos investimentos na redação, com cursos de português e jornalismo, novo projeto gráfico, o jornal tinha uma fonte criada para ele. Eu aprendi a fazer jornalismo na Tribuna, com grandes profissionais, como Marise Baesso, Daniela Arbex, Lilian Pace e tantos outros. Ganhei dois prêmios nacionais de jornalismo da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), por duas séries de matérias sobre lixo. Tenho muito orgulho da minha passagem pela empresa. Nos últimos anos, fiz o trabalho que mais gosto, na editoria de cultura. Foi ali que se formou o profissional no qual me tornei.

Em campo, para Tribuna de Minas/ Carlos Hansen

O que você fazia no rio?
Eu fui pro Rio trabalhar em assessoria de imprensa na área de moda. Comecei a fazer o blog Agemda, na Gema TV, com a agenda cultural do Rio, e sorteava dez vips para cada festa que indicava. O blog fez um sucesso tremendo e distribuí mais de mil convites no primeiro ano. A visibilidade rendeu o convite para ser um dos colaboradores da coluna Transcultura, no Globo, editada por Tom Leão e Carlos Albuquerque, do Rio Fanzine, que eram ídolos para mim. Foram seis anos de coluna, todas as sextas-feiras, Ainda trabalhei em marketing de marca de moda, a Espaço Fashion, por muitos anos. Nos últimos três anos, abri a Quase Famosos, uma assessoria para artistas de música, como Pabllo Vittar, Alice Caymmi, Deize Tigrona, João Brasil, Aline Calixto, Keyla, Mercado Mundo Mix, Batalha do Real, só para citar alguns. 

Quais artistas você representou?
Além dos que citei acima, Mahteus VK, Dream Team do Passinho, Negralha, Zalon (backing vocal da Amy Winehouse), Heavy Baile, Patrícia Marx, Bian, Jota 3, Fabio Santanna, Serjão Loroza, Marky Ramone, V de Viadão, I Koko e outros.

O que viu de diferente quando saiu e quando voltou à cidade?
O que mais encantou foram as novas casas comunitárias, como a Casa Absurda, no Granbery, e o Bananal, e bares com experiências parecidas, como Tenetehara,o Uthopia e o Necessaire. São lugares libertários e que lutam contra a caretice. Também adoro a galera do Makoomba, que é muito potente. O que não mudou foi um certo provincianismo de casas maiores, lugares que têm regras próprias, muito severas, a maioria delas aborrece o público.

Sobre o seu ponto de vista, o que define um lugar careta?
Cheio de regras e que não permite a expressão das individualidades.

A pele tá bonita

Foto comemorativa: um ano sem fumar.

Como é viver sem o cigarro?
Maravilhoso, ele que me fumava, eu não estava no comando. Eu era muito escravo do cigarro. Se eu tivesse só 3 no maço eu não dormia, tinha que sair e comprar um maço. Eu estava comprando de 4 em 4 pacotes, quando chegava no último pacote eu pirava.

O cigarro está fora de moda?
Não, é bom demais, sou doido pra fumar ahahahaha. Mas foi a melhor coisa que eu fiz, parar. Dobrei o outro, né?

Fabiano Moreira é o mais novo colaborador do Baixo Centro, em sua coluna semanal, “Sexta Sei”. O jornalista escreverá sobre os últimos lançamentos e eventos do mundo da música, selecionados por seu rigoroso radar. Seja bem-vindo querido!

Gostou? Não? Que pena…

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