Álbum de estreia “Nação subterrânea” enxerga o Brasil pela ótica de negros e indígenas
por Fabiano Moreira
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O álbum de estreia solo da mineira de Belo Horizonte Amanda Prates, 41 anos, é o “álbum da virada”, como ela mesma diz, sobre a idade. “Nação subterrânea” tem lançamento nesta sexta (8), e chega repleto de religiosidade indígena e negra, ou, como prefere a artista, “uma sensibilidade musical que tocava o sagrado”. Ouvir Amanda Prates cantar, sem dúvidas, nos leva a um lugar sagrado da excelência, da qualidade e da maestria. Eu fui tocado pelo segundo single, “Ruge, leão, troveja, Xangô” do qual falei aqui. Apesar de ser um álbum de estreia, não é para principiantes. “Acho que carrego comigo o desejo de tocar o que é divino”, me conta, sobre o álbum que “constrói a escuta conduzindo à ritualização”. Geral sentiu, Amanda.
Moreira – Esse álbum é impregnado de sacralidade, tanto que começa com “Oração”. Isso tudo ainda é reflexo de seu trabalho anterior, em 2019, o álbum “Korin Irê, do Terreiro de Candomblé Ilé Wopo Olojukan”? Esse álbum foi lançado?
Amanda Prates – O processo de criação do “Nação Subterrânea”, de certa maneira, se entrelaça à criação do “Korin Irê”, como se seguisse um fluxo, a partir da entrega que foi esse mergulho nos cânticos sagrados do Candomblé. Na época, em 2019, eu integrava a Egbè (família) do Ilê Wopô Olojukan e me foi pedido que realizasse um projeto de registro do primeiro álbum da casa, o Korin Irê, que foi lançado e está disponível em todas as plataformas. Convidei, então, o músico Leandro César para realizar a produção musical e paralelamente a essa imersão, Leandro começou a me provocar e me propor o registro de um álbum solo, onde levantaríamos composições de outros autores e o meu trabalho autoral. O que torna a história interessante, foi que a medida em que contactávamos esses autores com o pedido de composições inéditas, as canções vinham permeadas pela espiritualidade ou numa outra perspectiva, de uma sensibilidade musical que tocava o sagrado. “Oração”, canção de Marcela Nunes, é um canto que traz em sua referência estética, os Cantos de Trabalho, da Folia de Reis, dos Aboios, que são tradições populares fundamentadas na cultura e na religiosidade negra. Acho que o meu canto carrega essas referências como força estética e motivadora para a escolha da interpretação das canções, e Leandro César, que assina a direção, produção musical e arranjos, trouxe o seu conhecimento musical, que é fundamentado na diversidade dos saberes das tradições populares do Brasil.
Moreira – O nome do álbum, “Nação subterrânea”, nasce da canção “Subterrânea”, do compositor, cantor e poeta amazonense Thiago Thiago de Mello, que fala da religiosidade dos indígenas tupi-guarani, com citação a Tupã. Há um mergulho nesse universo indígena também, que aparece em “Mama mata”?
Amanda Prates – Quando ouvi “Subterrânea” pela primeira vez, tive certeza que iria gravá-la. O impacto de ouvir uma poética que trata de um Brasil preservado, falado em outra língua e ao mesmo tempo quando ecoa em seu refrão a proporção continental desse país, me emocionou profundamente. Imagina: essa canção chega em pleno 2020, quando estávamos perdendo o nosso senso de brasilidade, em um país deturpado e despedaçado. O desejo em me ater ao que fundamenta esse país, ao que constitui a base da nossa formação, foi dos anseios que guiaram a escolha do repertório, num caminho quase intuitivo. “Subterrânea”, então, passou a ser o norte do trabalho e não é em vão que ela culmina em seu arranjo, todos os instrumentos que compuseram a sonoridade do álbum, numa ode ao Brasil. E nessa mesma leva de composições, Thiago, artista que se aprofunda nas narrativas amazônicas, me apresentou “Mama Mata”, canção de autoria dele, em parceria com Joãozinho Gomes. Ambas as canções nos remetem a uma nação que a gente do Sudeste pouco se dá conta. Pode ser uma coincidência, mas no trabalho anterior, no “Korin”, cantou-se para os caboclos. Mais um reflexo que a espiritualidade desse álbum afetou, positivamente, a espiritualidade de Nação.
Moreira – E, obviamente há um mergulho nas religiões de origem africana, é um olhar às tradições dos povos subalternizados? A religiosidade percorre todo o trabalho…
Amanda Prates – Acho que carrego comigo o desejo de tocar o que é divino. Desde as minhas primeiras composições, até as atuais, em processo de escrita, algum tipo de menção é feita, como que em busca de uma certa direção e a confirmação, quem sabe, dessa comunicação por meio da música. Cantar, compor e estar no palco me alinham a um desejo pelo rito, herdado dos cantos tradicionais que a alguns anos me debruço e credito o fato desse tom cerimonial vir também, da minha experiência com o teatro, essa arte que para acontecer, precisa ritualizar as ações. Então, me aprofundar em um canto em yorubá, num canto de trabalho, ou em um samba, promove, intrinsicamente, a conexão com a cultura afro-brasileira que foi fundamento na minha formação musical. Tenho uma linhagem materna negra, que diz muito sobre quem eu sou e o que eu quero comunicar. Acho que “Nação Subterrânea” constrói a escuta conduzindo à ritualização. E mais profundamente, acho que a criação de um álbum em si, nesses tempos, já denota esse desejo. Parar para ouvir uma narrativa de dez, doze ou mais canções, nos silencia e nos coloca nesse estado mítico.
Moreira – Eu fui fisgado pela sua voz na primeira audição de “Ruge Leão, Troveja Xangô”, de Douglas Germano e Fábio Peron. Como foi trabalhar com Germano, ele é um dos maiorais, né? Essa canção é muito forte, e a letra é sua, né?
Amanda Prates – Douglas Germano está entre os grandes nomes da composição contemporânea. Acho que o Brasil ainda se debruçará em sua obra. Conheci o trabalho de Germano por meio da banda Metá Metá, que gosto muito aliás. Quando o nome dele surgiu, confesso que fiquei receosa: “Será que ele vai retornar? Estou retomando a performance, ninguém me conhece…” e para minha grata surpresa, ele, com sua generosidade, me retornou com essa canção belíssima, feita em parceria com Fábio Peron. A letra não é minha. A mim, coube interpretá-la da maneira mais honesta que pude.
Moreira – Você batizou o estilo do álbum como mandinga, que está fundamentada no ritmo, na melodia e no contexto das letras. Explica melhor isso?
Amanda Prates – Tenho pelo termo mandinga, um querer muito especial. Gosto da conotação popular, em que mandiga diz respeito a quem faz feitiço. No Brasil, esse termo, por vezes, a depender da leitura, pode soar pejorativo, mas quem faz “feitiço” detém o conhecimento necessário para fazê-lo. Não basta querer. Tem que merecer. E nesse jogo de significados, brinco com a ideia que manejar esses elementos musicais, a partir do sentido dado ao álbum, me soa como “feitiçaria”, no sentido mais maravilhoso da palavra. Outra referência para o uso da mandinga vem também dos versos da canção “Remendo”, de Clara Delgado e Davi Fonseca: “Se a corda arrebenta de um lado, repuxa do lado de cá. Mandinga curou mal olhado ou Brasil já nasceu no Congá”. Essa canção, na primeira audição, me trouxe a referência do álbum “Capoeira de Besouro”, do Paulo César Pinheiro e a capoeira traz em sua ginga, essa malicia, os patuás, a mandinga. São expressões que reforçam a brasilidade que penso ressoar de “Nação”.
Moreira – E como foi a escolha da única canção regravada do álbum, “Quem não tem canoa cai n´água”, de Zé Manoel? Sou apaixonado no trabalho dele.
Amanda Prates – “Quem não tem canoa, cai n’água” foi a primeira canção escolhida para compor o repertório. Não sabia ao certo qual sonoridade iria surgir, mas a canção me colocou em um estado de contemplação, como o Zé Manoel nos deixa ao ouví-lo. Uma canção repleta de imagens, de uma amorosidade que me acalentou. Eu vivia um hiato da performance musical e queria retomar com um trabalho positivo, solar e que conseguisse abraçar a minha voz. Acho que ela conseguiu, né?
Abaixa que é tiro!💥🔫
A multifacetada artista paraibana Luana Flores apresenta ao público o single e clipe “Alumeia” , segundo faixa do seu esperado álbum de estreia que tem lançamento previsto para 2025. Com a participação especial de Juliana Linhares, a música fala da nova luta que o Nordeste enfrenta contra a instalação desenfreada de parques eólicos e seus impactos. Dirigido pela própria Luana, o clipe narra a história ficcional de uma funcionária de uma usina eólica no sertão da Paraíba, que carrega consigo um baú mágico. A canção mescla elementos de forró, brega, xote, xaxado, maracatu e baião, criando uma sonoridade vibrante que exalta a resistência nordestina. E tem cheiro de couro? Tem sim. O álbum também incluirá colaborações com artistas como Jéssica Caitano e Chocolate Remix, MC da Argentina. O primeiro single, “Encantarya”, foi uma parceria com a imensa Cátia de França.
“Um sorriso de adeus” é o single que dá início à divulgação do álbum de estreia solo de Flávio Vasconcelos, com direção artística de Romulo Fróes. É uma cantiga sobre amizade, embalada por arranjos de cordas e metais. Caminhos que se bifurcam fazem o pano de fundo da canção que fala da saudade de alguém que um dia esteve perto. “Essa música se relaciona com a temática principal do álbum – nossas idealizações. Talvez essa saudade seja a projeção daquele amigo que se foi na encruzilhada, e que hoje não é mais o mesmo”, conta o músico paulista. “A mensagem principal é a de dar valor à memória. Mesmo o que acaba pode sim ter dado certo, mas é necessário deixar ir, deixar mudar”, continua. A canção ganhou um visualizer filmado na Serra da Mantiqueira. A faixa conta também com grande elenco musical integrado por Marcelo Cabral (baixo), Biel Basile (bateria), Letícia Andrade (violino), Thiago Faria (violoncelo), Gustavo Villas Boas (arranjos e metais), Welbert Dias (trombone) e Lucas Sales (flauta).
Eu desde quando ouvi Carolina Serdeira cantando ao vivo, com uma superbanda, no Paço Municipal, marquei na minha memória que ali estava uma grande cantora e de imensa sensibilidade. Passei a acompanhar seus lançamentos, que só confirmam o meu sentimento inicial, como “Um samba no final”, que chega nesta sexta (8), e “Setembro”, que resenhei aqui. A composição é de Augusto Cordeiro e Mariana Guimarães, e o arranjo inovador, do guitarrista Samy Erick, traz uma mistura envolvente de bossa nova com nuances de jazz brasileiro. A faixa foi gravada ao vivo, em estúdio, para capturar a essência vibrante da performance.
O espetáculo anual do Coral da UFJF este ano integra a programação do 35º Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga e acontece em duas noites, nos dias 9 e 10 de novembro, às 20h,no Cine-Theatro Central. “Construção” presta tributo a Chico Buarque, que completa 80 anos,
O 21° Feijão de Ogun tem cortejo de abertura no sábado (9), saindo do Parque Halfeld, às 10h, e indo até a Praça Antônio Carlos, aonde acontece festa com DJ Anderson Fofão, Samba do Mafo, Trovão da Roza e Samba dos Amigos. No domingo (10), na quadra da União das Cores, tem a distribuição do feijão, a partir do meio-dia, com o Ponto do Samba recebendo o Samba das Mulheres na Praça e a Bateria Sensação, além do Muvuka.
Com ingressos para os dois primeiros dias anunciados de festival esgotados, o Rock the Mountain faz um terceiro dia, na sexta (8), em Itaipava, com a rainha do neo-soul, a cantora e compositora americana Erykah Badu, artista que mescla soul, jazz, hip-hop e R&B, com uma potência e sonoridade eclética que atravessam gerações. Para essa nova data, também já estão escalados para o palco principal o rapper Djonga e o grupo vocal Fat Family, grande sucesso dos anos 1990/ 2000.
A banda goiana que ganhou o mundo Boogarins faz show comemorativo de dez anos do álbum “As plantas que curam”, no sábado (9), na Versus. A banda lançou essa semana “Corpo Asa”, single que está na playlist de hoje e no novo álbum “Bacuri” (Urban Jungle/ONErpm), que será lançado no dia 26 de novembro.
O The Realness faz show de Halloween, neste sábado (9), na Teia Club, em São Paulo, com as queens da corrida Plastique Tiara, Marina Summers, Angeria Paris e Lemon, nome do reality “Dragula”, Victoria Elizabeth Black, e o time nacional, com Betina Polaroid, Natasha Princess e Alma Negrot. The tea!
O Circo Voador tem momentos especiais com shows de Xamã nesta sexta (8), Matanza Ritual Fest com Matanza Ritual, Pavilhão 9 e Gangrena Gasosa no sábado (9), às 20h. A 14ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), rola entre os dias 11 e 17, com uma programação em mais de 90% formada por mulheres negras, com entrada gratuita. A festa homenageará a historiadora, poeta e cineasta Maria Beatriz Nascimento (1942-1995). Sob o tema Roda a saia, gira a vida, a FLUP tem momentos bem especiais, como Lia de Itamaracá (11), Dona Onete (12), Ile Aiyê (13), Irmãs de Pau (15), Fabiana Cozza (16) e Amaro Freitas e Zé Man0el tocam Clube da Esquina (17).
O 1º Encontro de Congadas de Juiz de Fora está sendo realizado pelo Ingoma, com guardas de Congado, cortejos, apresentações artísticas, gastronomia e cultura popular, domingo (10), a partir das 10h, na Praça Antônio Carlos.
A 14ª edição do Balaclava Fest acontece no dia 10, em São Paulo, no Tokio Marine Hall, com o trio norte-americano Dinosaur Jr., o jazz moderno e psicodélico dos canadenses BADBADNOTGOOD, o grupo nova-iorquino Water From Your Eyes, com um pop experimental e vanguardista, Ana Frango Elétrico, a prestigiada artista e produtora inglesa Nabihah Iqbal, o quinteto paulistano Raça e o duo Paira, de Belo Horizonte (MG).
A 3ª edição do Esquinas & Vielas acontece em dois momentos, no sábado (9), às 17h, no Centro Cultural Rocha, vai rolar nossa batalha, e no domingo (10), às 18h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, com três modalidades de aulas, a batalha com maior premiação de todas as edições e uma mostra especial.
O nosso Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades acontece entre os dias 12 e 17, no Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno, com entrada gratuita e 26 filmes da Mostra Competitiva Mercocidades e 31 da Mostra Competitiva Regional. A abertura é na terça (12),, às 20h, com a exibição de “A hora da estrela”, de Suzana Amaral, e “Trago”, de João Pedro Fagundes, Laís Machado e Luiza Ratto.
Os escoceses da Franz Ferdinand fazem show em São Paulo, dentro da série Popload Gig, no dia 14, no Tokyo Marine Hall.
O último gentil André Medeiros faz show solo na quinta (14), na laje do Maquinaria, fim de tarde, com entrada gratuita e banquinha de zines e impressos da Papelote Press e o som mecânico do Database FM
O 32º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade acontece de 13 a 24 de novembro, em São Paulo, com o tema “É na luz que a gente se encontra”, com curadoria transmídia e expressões artísticas variadas que envolvem cinema, música, literatura, games e experiências imersivas. O evento contará com 93 filmes de 32 países, em 11 espaços da cidade.
O Festival Afropunk Bahia rola sábado (9), com Erykah Baduh, Duquesa, Ilê Ayè e Virgínia Rodrigues, Irmãs de Pau, Jorge Aragão,Leo Santana, Planet Hemp e Melly e domingo (10), com Liniker, Ebony, Mateus Fazeno Rock, Silvanno Salles, Timbalada, Fat Familv homenageando Tim Maia e e Timbalada, no Parque de Exposições de Salvador.
Na prõxima sexta (15), como é feriado, não sextaremos.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023, 2022, 2021 e 2020 nos links
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