Sexta Sei: Essa metamorfose autocolante

Artista Antovani Di Borotto lança série de 50 colagens refletindo sobre a quarentena, a contagem do tempo e termos nos tornado presidiários de nossas vidas

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Graduado em moda em Roma e pós graduado em arte no Rio, Antovani Di Borotto encontrou na colagem manual, há oito anos, a melhor expressão de sua arte colorida, mutifacetada, crítica, intrincada. Durante a quarentena do coronavírus, o artista desenvolveu a série temática, com 50 colagens,  “Os sentidos na metamorfose da pandemia”, povoada de caveiras destemidas que não temem a morte.

“Quis argumentar sobre os nossos sentidos na solidão deste drástico momento em que estamos vivendo. Nessa série sobre papel pérsico, represento a contagem do tempo com riscos na parede do nosso isolamento, nos tornamos presidiários dentro das nossas próprias vidas. Tem também tesouras cortando o tempo que nos foi tirado de um lado e nos dado de outro”, explica o artista.

“Gosto do resgate da estética pop, ele discute muitas questões políticas e sociais usando ironia rica de referências. Gosto também da alegria com que essas críticas são apresentadas, e aí também creio que a vivência com a moda fica evidente: estética, paleta de cores, escolha das formas. Trabalhos como o de Antovani são demonstrações de que a arte pode exercer sua função de sensibilizar e dialogar sobre temas fundamentais para a cultura de uma sociedade sem perder o apreço pela estética caprichosa, detalhada“, analisa a artista plástica e professora da UFJF Sandra Sato.

Para o trabalho de colagens, o artista sentiu que mudou a sua percepção da tridimensionalidade das coisas. “Utilizo, além de revistas, panfletos e livros, impressões digitalizadas que são recortadas manualmente, uma por uma, eu pessoalmente não curto a colagem digital. E não é nem pelo resultado que os artistas dessa técnica obtém, mas pela sua construção, acho fácil demais, gosto de desafios“, conta o artista.

Assim como muitos juizforanos, Antovani foi marcado pela primeira visão de “Tiradentes Supliciado”, de Pedro Américo de Figueiredo e Melo, que o catapultou para o universo da arte. “A impressão foi tão devastadora que, por meses, eu só pensava naquela obra. Naquela pintura, percebi quão forte era a arte e a sua força de expor uma ideia, um contexto, uma história. A arte é transformadora. Nunca abandonei a ideia de frequentar museus, são nesses espaços que carrego toda a minha energia criativa. Esse descaso com os museus no nosso país é sempre a mesma velha história do brasileiro fazendo mal ao brasileiro, desde aquela minha primeira visita ao Mariano Procópio, nunca mais consegui rever aquela tela. Uma vergonha!”, indigna-se o artista sobre o fechamento da instituição para a visitação.

Explorador de continentes e cidadão do mundo, Antovani já morou em Estados Unidos, Finlândia, Itália, Espanha e França e passou por mais de 20 países. Está apenas esperando o fim da pandemia para meter o pé na estrada de novo. “Todos sabem que a vida é uma viagem, né? Meu pai Antônio era gerente de banco e estava sempre sendo transferido, então fui obrigado a trocar de escolas, fazer amigos. Não existe um lugar que eu não me encontre. Por isso, não vou sossegar em lugar nenhum, não há um lugar seu, nenhum lugar é de ninguém. Estamos de passagem”, decreta.

“Esta série fala de um mundo que não está apenas mudando, está se metamorfoseando.  A metamorfose implica uma transformação muito mais radical e profunda das coisas. Velhas certezas da sociedade moderna estão desaparecendo,  e algo inteiramente novo emerge. Para compreender essa mudança do mundo, é necessário explorar os novos começos, focalizar o que está se desenvolvendo a partir do velho, do obtuso, do tosco e buscar captar novas estruturas e normas futuras, bonitas, coloridas, nessa confusão do presente. Minha inspiração é no tempo que tudo transforma“, comenta.

O texto já estava fechado e eu lembrei: “você ainda não falou mal do governo Bolsonaro”. Era a dica. “Nunca estivemos tão desamparados como agora. Essa galera terrível saiu dos bueiros com a eleição desse indivíduo. Todo o mundo já sabe que, no Brasil, quem discute aborto é homem, as leis trabalhistas são discutidas pelos que nunca trabalharam, os que defendem uma “Escola Sem Partido” nunca pisaram numa escola pública e quem propõe a reforma da previdência tem aposentadoria que ultrapassa em muito o teto. Não sou pessimista, mas a tendência é piorar e muito, pois estão arrancado com o pouco da educação que esse país tem. A palavra de ordem nos dias atuais é o odio, ódio por tudo, um verdadeiro show de horrores.”

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Abaixa que é tiro!??

Foto: Murilo Alvesso

Não tem vacina? Então vamos de live. Hoje tem Luê (19h), Rappin’ Hood (19h), Orquestra Ouro Preto (20h30) e “Sexta Sem Lei”, de Pitty, festejando os 15 anos do disco “Anacrônico” (21h). Amanhã é a vez da rainha Fernanda Abreu (19h) e de Calcinha Preta (19h). Juca (Bangarang), MouChoque (Claps), Andrei Yurievitch (Manie Dansante) e Matias Max são os DJs da segunda La Cuca Live, domingo, 16h20. Ainda no domingo, tem Diogo Nogueira (12h), Simone (18h) e Késia Estácio (19h). 

O Circo Voador no ar não deixa na mão e traz homenagem a Luiz Melodia, na sexta, com trechos inéditos das 46 passagens do negro gato pela lona, e Marcelo D2, Sain e BK, no sábado, sempre às 22h. Classe.

A Virada SP Online rola nesses sábado e domingo com 12 horas de programação com música, artes cênicas e cultura urbana na plataforma #CulturaEmCasa. Entre as atrações, Elza Soares, Nando Reis, Paulo Miklos, Ellen Oléria, Exaltasamba, Pato Fu, Larissa Luz e Zimbo Trio, dentre outros, cata aqui.

Prepara o edi que toda quarta, 22h, tem músicas deprê com Edu Castelo, criador da V de Viadão, na live da M de Melancolia. A última tem playlist aqui.

O documentário “Axé – Canto do povo de um lugar”, de Chico Kertész, estreou na Netflix e traz um panorama da história do ritmo baiano, incluindo a descoberta do Olodum por Paul Simon. 

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