Segundo álbum do grupo juiz-forano. “1991”, fala do sentimento dessa geração que mais lida com distúrbios psicológicos e desequilíbrios causados pela exaustão
por Fabiano Moreira
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A banda juiz-forana Legrand acaba de lançar o seu segundo álbum, “1991”, que fala justamente, sobre essa geração dos anos 90, a dos integrantes Cyro Soares (bateria), Diego Neves (guitarra/voz) e Vinícius Fonseca (guitarra/synths). O álbum expressa a insatisfação de quem acreditou que o futuro era realmente divino e maravilhoso, mas hoje encara a realidade de ver o tempo ir embora sufocado entre a necessidade de sobreviver e a vontade de ser alguma coisa para além de números e contas. “Apesar da falência do trabalho, a lógica do trabalho passou a se apropriar de toda e qualquer ação do cotidiano. Tudo é trabalho. Comer, beber, transar, ouvir música, assistir filmes, se relacionar. Tudo foi reificado (coisificado), tornado coisa, tudo só faz sentido se a gente se sentir alcançando alguma meta”, explica o simpático Diego.
Moreira – Este álbum tem influência noventista, como anuncia o próprio título. Os synths do primeiro álbum cederam espaço e protagonismo para as guitarras. A ideia é chegar mais pesado? Como conceberam a sonoridade?
Diego Neves (guitarra/voz) – A gente queria soar mais “sujo”, com aquele ar de crueza que se ouve nos discos dos anos 90 e comecinho de 2000. O “Antares” tinha sido um álbum com muitas referências dos anos 80, queríamos soar mais etéreos, por conta do conceito criado em torno da mitologia de Aress/Marte, que é o deus da guerra e da violência e da estrela gigante Antares, chamada assim por rivalizar em tamanho e cor com o planeta Marte, sendo assim a estrela o Anti-Ares. Isso dizia respeito ao modo como lidava com minha guerra contra a depressão. Por vezes. agia com impulsividade, como Ares, mas por outras, agia com paciência, de modo mais inteligente, como Atena, deusa também da guerra, mas de um modo “Anti-Ares”. “Antares” era sobre se opor ao que significava o impulsivo, sem reflexão. Já no “1991”, o tema central era menos etéreo e mais realista, focando em sermos de uma geração que nasceu majoritariamente na década de 90 e, hoje, tem de lidar com um mundo oposto ao que nos havia sido prometido. Como é um disco mais emocional, no sentido da raiva dessa condição geracional, era fundamental que o disco soasse mais pesado, distorcido, grave. É um disco, em relação ao tema principalmente, mais desiludido, menos esperançoso que o anterior. A escolha sobre soar pesado nos parecia natural.
Moreira – No álbum, “1991”, vocês falam sobre o sentimento que a geração de vocês, nascida nessa década, tem, diante do paradoxo da obrigações de trabalho e a necessidade de diversão. O clipe de “Arritmia” mostra os integrantes sem saber o que fazer com o tempo ocioso, oprimidos pelas obrigações diárias, e meio que lobotomizados por essas pressões do capital. O release fala em “uma geração que derrapa entre antidepressivos e hiper positividade”. É essa e história principal do álbum?
Diego Neves – Pode se dizer que sim. Muito do escrevo é influenciado, e busca referências também, pelo que leio, estudo e experienciei na vida. Duas obras foram a base que me influenciam muito no processo de composição do disco: “Manifesto contra o trabalho”, assinado por um grupo de sociólogos e estudiosos alemães chamado Grupo Krisis, que questiona a lógica do trabalho e aponta o problema de que com as transformações sociais que experimentamos, o trabalho como conhecemos já não se sustentava. Porém, apesar da falência do trabalho, a lógica do trabalho passou a se apropriar de toda e qualquer ação do cotidiano. Tudo é trabalho. Comer, beber, transar, ouvir música, assistir filmes, se relacionar. Tudo foi reificado (coisificado), tornado coisa, tudo só faz sentido se a gente se sentir alcançando alguma meta. Esse livro é da década de 90. A outra obra foi “Sociedade do cansaço”, do ByunChul-Han, onde ele fala sobre uma sociedade na qual a lógica da produtividade ininterrupta fez de nós indivíduos incapazes de tomar as rédeas do nosso tempo nas mãos. Falta negatividade, no sentido de ausência de relação com o totalmente outro. Tudo agora é sobre a hiper positividade, que diz respeito ao modo como agora todo sucesso é imputado ao esforço do indivíduo, toda a produtividade feita à exaustão é idolatrada. Falta alteridade, falta contemplação. Com o olhar guiado pela ótica dessas duas obras, busquei retratar essa realidade caoticamente construída sobre os alicerces da individualidade nociva, da hiperprodução vazia de sentido e do cansaço gerado pelo esforço de tentarmos sobreviver a toda essa instabilidade. Somos a geração que mais lida com distúrbios psicológicos e desequilíbrios causados pela exaustão. O “1991” é sobre ser num mundo em erosão, completamente oposto ao que nos foi prometido quando nos diziam que nosso esforço e inteligência nos levaria muito longe. Chegamos longe, até, mas muito longe desse panorama promissor. Nem tudo ruiu, mas nada é um chão firme. Pra quem acreditou que realizar sonhos era o futuro sólido, sobrou sonhar com o quinto dia útil e poder tomar uma cerveja com os centavos de salário que sobraram.
Moreira – Eu comecei a me descobrir emo recentemente, do ano passado pra cá, quando mergulhei em sons nacionais do estilo, como Supercombo, Scalene, Fresno e NX Zero. O que mais me encanta são as melodias despencando em um abismo de emoções. É algo emocionante, visceral. Vocês se identificam como emos? Quais são as bandas que mais influenciam vocês e o que vocês mais ouvem?
Diego Neves – A banda em si não se denomina emo, mas eu me declaro emo desde muito tempo! O Cyro também se identifica bastante com a cena emo. O Vini tem menos influência do movimento, mas também bebe da fonte ouvindo bastante American Football e My Chemical Romance. Apesar de ainda entenderem o emo como um movimento adolescente dos anos 2000, o rock emocional tem uma vertente bem mais velha e adulta nos temas. Bandas como Mineral, Sunny Day Real State, American Football são nomes fortes dos anos 90. Os anos 2000 trouxeram outra leva de bandas, com outras influências, mas que também são muito presentes nas nossas playlists: Underoath, Bring Me The Horizon, Alex Is On Fire, The Used,o próprio My Chemical Romance são bons exemplos. Mas tem muita coisa mais antiga e mais nova que figura entre as principais influências e referenciais pro nosso som, que não necessariamente sejam emo. Das antigas tem muito do Weezer, Smashing Pumpkins, Nirvana, Radiohead. Do que é mais “novo”, porque tem bandas aqui da primeira década de 2000, eu posso citar Basement, Citizen, Gleemer, Menores Atos, Slow Joy, Turnstille, Title Fight. Particularmente sou muito fã de Fresno, Nx, Dead Fish (apesar de não ser emo), ouvi muita coisa da cena brasileira dos anos 2000. Então, apesar da banda não ser emo por definição, é correto dizer que o emo é influência e referência enorme pra gente, e por nós tudo bem nos chamarem assim. Não vou negar que gostamos. Kkkkkkkkkkk
Moreira – Eu gostei demais da apresentação de vocês no Palco Central (na época, fiz uma instaresenha aqui, aqui e aqui). A ideia de receber um convidado a cada canção deu uma dinâmica de programa de auditório muito bacana. O casamento com a Varanda é bem legal, né, vocês são da mesma geração e. essa semana, vocês fazem show juntos, no Beco, e o álbum foi gravado no estúdio do gentil Bernardo Merhy, o Lado Bê. Como é essa sinergia com a Varanda e quem vocês convidariam para uma segunda edição do Palco Central? Esse formato colou demais.
Diego Neves – A Varanda é um amor que achou casa aqui desde a primeira ouvida (aqui também). Nos tornamos amigos próximos, o que torna tudo ainda mais íntimo e bonito entre nós. O Augusto é um dos melhores compositores da geração, o Bernardo e o Mário são maravilhosos músicos e pessoas, e a Amélia é o que por definição damos o nome de fenômeno. Compartilhar a vivência de ser artista com pessoas assim é ímpar, não acontece todo dia. Acredito que muito dessa sinergia entre as bandas venha justo dessa relação de amigos que se admiram de modo sincero. Ocupar um palco, seja o histórico palco do Cine-Theatro, seja o excelente e cheio de frescos palco do Beco, se torna uma experiência ainda mais rica em sentido e simbolismo quando a gente se encontra com artistas como a Varanda. O formato do Palco Central foi um projeto escrito por nós, encabeçado por Cyro, Augusto e Mário, e é a consolidação dessa sinergia. Todos os artistas que chamamos são amigos de quem também somos fãs. Numa possível outra oportunidade, eu vejo uma lista enorme de artista com quem a gente gostaria de dividir palco: Camila Brasil, Renato da Lapa, Laura Januzzi, Basement Tracks são os primeiros nomes que vêm à cabeça, mas a lista é enorme e espero que possa compartilhar o fazer artístico com mais gente da nova geração da música juizforana.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Eu falei aqui do clipe de Sue, “Gigantesca“, que anunciava o segundo álbum de estúdio da artista franco-portuguesa, “Quando você volta?”, que chegou nesta quinta (10), reafirmando a vontade da de desenvolver uma sonoridade própria. O trabalho tem participações de Dharma Jhaz, com flauta e voz em “First steps” e saxofone em “Alias” e Desirée Marantes, com sintetizador na faixa “Pulse”. Entre batidas eletrônicas, samples, gravações de campo e arranjos orgânicos que bebem de música eletrônica ambiente, música abstrata, trip hop, downtempo e de trilhas sonoras, Sue apresenta seu universo em um álbum contemplativo contra a pressa e o capitalismo. Mixagem e masterização ficaram por conta de Matheus Câmara, aka Entropia, responsável pela produção musical do projeto Teto Preto.
Eu já tinha falado dos cariocas da banda Aquino aqui, quando comentei sobre o futebolismo nos clipes de bandas legais da juventude, como eles e a nossa Varanda. Na última página, eles abriram e fecharam a playlist sextante com faixas de “Nada fica muito tempo exposto ao Sol”, o segundo álbum de estúdio do trio formado por Leandro Bessa, João Vazquez e João Soto. Enquanto o primeiro álbum, “Os prédios cinzas e brancos da Av. Maracanã” (2021), que já acumula mais de 2 milhões de streams no Spotify, refletia sobre temas como melancolia e solidão, o novo trabalho tem uma perspectiva otimista, “Vapor de cachoeira”, como canta a deliciosa faixa de abertura que passou aqui pela playlist sexta passada. O álbum flerta com várias influências, como rock, Clube da Esquina e o rap pop e latino de C. Tangana para ser descaradamente pop, altamente cremoso, safadinho e refrescante, entre a nostalgia e o futurismo, com produção de Sidney Sohn Jr., indicado duas vezes ao Grammy Latino. As imagens de divulgação apostam em um conceito estético construído em cima de um cenário que simula a luz solar de forma sensorial e sintética, formando uma paisagem artificial e quase futurista. Alternando entre três momentos – o dia, o lusco-fusco e a noite, a banda usa o sol de 12 pontas como o símbolo que melhor traduz o novo momento do trio, que representa o poder de criação, de festa, de potência, mas, também, de saudade, como o emblema de uma paisagem que só existe na memória.
Mineira de BH, Amanda Prates acaba de lançar o segundo single de seu álbum de estreia, “Ruge Leão, Troveja Xangô” , “de tirar brasa do chão”, avisa o release. A interpretação é singular, e a cantora maneja a canção como a um feitiço, exalando brasilidade. O arranjo de violão, sopros, baixo e percussão embala uma deliciosa canção, com ginga que remete aos sambas de terreiro e ao latin jazz. A interpretação faz uma alusão, também, às canções da santeria cubana, com um vocal apaixonado e visceral. A canção foi composta por Douglas Germano e Fábio Peron, e o álbum chega em novembro, exaltando um Brasil cantado nos terreiros e nas esquinas.
Destaque da página de hoje, a local Legrand faz show de lançamento do novo álbum, “1991”, às 21h30, no Beco, ao lado de outro talento local da mesma geração, a Varanda. Na segunda, às 18h, tem o tradicional Encontro de Compositores.
A banda sueca de punk de garagem The Hives faz show único no Brasil, na terça (15).às 21h, no Tokio Marine Hall, em São Paulo, via o selo Popload Gig. O quinteto lançou, em agosto do ano passado. seu sexto álbum, “The Death of Randy Fitzsimmons”, depois de 11 anos sem lançar disco.
No sábado (12), rola o evento Cola no Occa,, encontro entre os adeptos da sticker art, com paredes liberadas para colar adesivos ,ao som da DJ Amanda Fie, às 18h, com entrada franca
Beto Guedes faz show para comemorar 50 anos de carreira, às 20h, no Circo Voador, no Rio, com mesa de autógrafos do livro “Paul McCartney no Brasil”, de Leandro Souto Maior.
O multi-instrumentista, compositor e cantor Chico Brown faz o show “Máquina do Tempo”, traçando um paralelo entre os primórdios do samba com os do jazz e do blues, no Manouche, no Rio, na sexta (11), às 22h. Na quarta (16), a cantora e compositora mineira Luiza Brina faz show de seu novo álbum “Prece”, lançado este ano, apontado pela Associação Paulistana dos Críticos de Arte (APCA) como um dos 25 melhores álbuns do primeiro semestre e motivo de sextamento aqui. No Rio, ela tem participações de Thiago Amud, Vovô Bebê e Jhê. Anta aí que, no dia 18, ela faz o show no Maquinaria.
O Batuque Delas na Praça do Cruzeiro, neste sábado (12),às 14h30, por causa da previsão de chuva, acontecerá no Glória, no Ipê Mall (R. Catulo Breviglieri, 800)
O Coletivo Espiral, da Zona Oeste carioca, apresenta a edição juiz-forana do Festival Espiral, mo sábado (12), com as bandas Anatomika (JF) e Cidade Partida e a cantora e compositora Micah (RJ), ás 19h, no Maquinaria. No domingo, o Difluência #17 reúne um time de artistas, com destaque para Henrique Iwao, de Botucatu, que se apresenta entre as atrações musicais e lança o livro “Prosódia Musical, Jogos etc.”, a partir das 18h.
Urias faz o último show da turnê de “Her Mind” nesta sexta (11), às 21h, na Audio, em São Paulo.
Bapp, Gui Borato, Marie U e Ratier são os DJs da festa In da house, no sábado (12), na D-Edge carioca.
Guilherme Arantes faz show de muitos sucessos na setxa (11), às 20h, no Cine-Theatro Central.
Também na sexta (11), TZ da Coronel, Filipe Ret, Oruam e L7NNON fazem shows no JF Rap Festival, no estacionamento do Cultural Bar.
O 4° Festival Sala de Giz de Teatro continua, essa seana, com os espetáculos “Siaburu” (Coletivo Anticorpos / Ouro Preto) e “Fauna” (Quatroloscinco), no sábado (12), e Fortaleza” (Pedro Peter Produções / Rio de Janeiro), no domingo (13).
The Wailers passa em Juiz de Fora com a turnê “Legend – 40th anniversary”, na terça-feira (15), às 20h, no Cultural Bar. A icônica banda de reggae comemora dois marcos significativos: o aniversário do álbum “Legend”, de Bob Marley, e o lançamento do aguardado filme biográfico “Bob Marley: One Love”.
O B2 Regional “rock de roça”, faz show sábado (12), na Versus.
A banda Sinfônica Tenente Januário faz show na terça (15), às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. A banda está em atuação desde 1936.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023, 2022, 2021 e 2020 nos links
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