Sexta Sei: O novo disco de Lucas Vasconcellos, do alto da Terra plena

Refugiado em seu estúdio na Serra de Petrópolis, artista volta ao formato acústico em disco que incensa George Harrison e celebra as parcerias com Letrux e A Banda Mais Bonita da Cidade

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Fotos: Ana Alexandrino

Lucas Vasconcellos, 41 anos, trocou o Rio de Janeiro pela tranquilidade da serra fluminense, de onde produziu o seu quarto álbum solo, “Teoria da Terra Plena”, que chega hoje, ao streaming, com uma capa que parodia e homenageia “All Things Must Pass”, de George Harrison. O disco marca uma reconexão do artista com o formato acústico, depois de muitas experimentações com elementos eletrônicos, e traz  canções de foro íntimo e parcerias com Letrux e A Banda Mais Bonita da Cidade.

Batemos um papo, por e-mail, e falamos de como a imersão na calma e no silêncio da serra influenciou o som e o clima geral do novo disco, da química astral dele e de Letícia Novaes, a Letrux, da parceria com A Banda Mais Bonita da Cidade e de como é fazer parte dessa instituição do rock nacional que é a Legião Urbana.

Moreira – Tenho visto, pelo Instagram, que você trocou o Rio pela Serra. Como essa nova forma de viver influenciou o disco “Teoria da terra plena”? Como foi o processo criativo? Deve estar sendo mais sereno para enfrentar a pandemia. “O trem vai bater” (rs)?

Lucas – Eu mudei pra serra fluminense em 2017. Acho que fui vanguarda nesse distanciamento. Sei que não dá pra afirmar, com certeza empírica, mas eu senti que a cidade ia colapsar. Acho que foi quando entrou um fundamentalista religioso na prefeitura do Rio. Achei aquilo muito estranho. Eu entendi que minha vida precisava de mais calma, de mais concentração, e que o Rio tava longe de ser aquele lugar efervescente de shows, teatros, dança e performance que eu vivi intensamente nos anos 00. Quis ter mais tempo e espaço pra me dedicar à composição e à produção dos meus discos, dos discos de outros artistas e trilhas sonoras. E o Rio é bem perto daqui, pra pegar um avião, fazer algum ensaio, algum show ou gravação é super tranquilo. Meus trabalhos por lá continuam firmes, mas agora bem mais filtrados. Isso, certamente, trouxe uma aura bem específica pro som desse disco. Tô muito imerso nessa calma, nesse silêncio. Aqui posso ter meu estúdio todo montado, isso me ajuda muito e é um sonho que tinha desde muito tempo.Também sinto que esse lugar se move com uma velocidade de outros tempos, faz com que eu consiga ler mais, escrever mais. É tudo muito mais sereno sim. Sei que estou perto, mas me sinto parado no tempo, esperando o mundo voltar, porque o tempo da natureza continua o mesmo, e são esses ciclos que mais me interessam observar agora. (O trem já bateu, também com um maquinista desses…)

Moreira – O disco marca a sua reconexão com os instrumentos acústicos, e a lírica é bucólica, depois de tantas experimentações com elementos eletrônicos. De onde veio essa vontade? É um caminho sem volta?  

Lucas – Nenhum caminho é sem volta. Eu tenho um coração livre pra ir e voltar dessas decisões estéticas sempre e pra sempre. Eu estava com muita saudade de tocar piano, violão. Instrumentos aos quais me dediquei por muitos anos e que, por algum tempo, ficaram “de lado”. Eu passei um tempo muito apaixonado por sintetizadores e drum machines. Isso é um outro mundo mesmo e eu sou uma pessoa que gosta mesmo de música, de um jeito heterodoxo, eu sou curioso com processos de produção de música. Não sou só um cantor/autor com meu violão que quer cantar suas músicas. Eu preciso fazer música de tudo que é jeito, e isso é um desafio pra mim. Essa é a única profissão que eu tenho, eu preciso me divertir. E aprender é a coisa mais divertida que existe. Não pude deixar de lado esse impulso de conhecer outros jeitos de fazer música. Existem ainda tantos outros com os quais eu quero brincar. Mas, como tudo na vida que fez parte da nossa criação, tem alguma coisa nos instrumentos acústicos que me magnetiza e pra onde eu sempre volto. Minha vinda pra serra e esse impacto contrastante me ajudaram a considerar um novo caminho de composição usando minhas antigas ferramentas.

Moreira – Lembro muito e com carinho do nosso convívio na época do Letuce, daquele show maravilhoso com a piscina de bolinhas de isopor (aqui e aqui), no Multiplicidade, de encontrar vocês sempre de bicicletas na rua. Letrux voou alto mesmo, né? Gosto muito de acompanhar. Como foi compor com ela para o novo disco? A letra parece bem autobiográfica. Também tem dueto com a Uyara Torrente, da A Banda Mais Bonita da Cidade, que é muito talentosa, tenho adorado as lives deles. Fale desses duos e das colaborações do disco. 

Lucas – A Letuce foi um projeto muito lindo e que me mostrou muitos caminhos. Tenho uma nostalgia ótima daquela época, tínhamos tempo, tudo era novo e estava fresco na nossa vida como artistas. As coisas boas e os perrengues, no fim tudo era divertido e valia a pena. E compor com a Letícia (Letrux) é uma coisa muito natural e gratificante pra mim. Ela escreve muito bem, tem ideias melódicas super originais, e a gente ri muito quando tá compondo. Geralmente biográficas, nossas músicas saem fácil e, ao mesmo tempo, têm uma profundidade abissal. Acho que sempre vou querer trocar idéias musicais com ela. A gente rende. A

participação da Uyara também foi supernatural. A gente se conheceu em 2016  e ficou muito amigo. E eu sabia que num próximo disco eu queria a voz dela. Acho que ela tem uma energia incrível e é uma intérprete talentosíssima. As lives da Banda Mais Bonita só reafirmam isso. Pra mim, é, disparado, o melhor projeto musical da quarentena. O Vinicius Nisi, tecladista e parceiro da Uyara na Banda, também fez participações em algumas músicas. Um gênio.

Pra resolver as partes que não toquei no disco (as baterias, alguns baixos e teclados), chamei músicos que eu amo e confio. Bruno DiLullo, Gabriel Barbosa, Rodrigo Tavares, Thomas Harres, com quem já tive projetos no passado. Antônio Neves tocou uma bateria, convidei o Diogo Gomes pra resolver uns trompetes que marcam algumas músicas do disco, além de uma banda com músicos incríveis aqui de Petrópolis: Gabriel Tauk, Felipe Duriez e Álvaro Cardozo, respectivamente baixo, guitarra e bateria. Isso foi essencial pra que algumas músicas tivessem uma sonoridade de banda, gravamos ao vivo, deu muito certo.

Minha produtora e empresária, Eveline Maria, também assina a direção artística do disco e teve idéias ótimas em todos os campos, desde a criação dos arranjos até sugestões pontuais e super assertivas nas letras, na concepção gráfica do disco etc. Eu tô muito acostumado a produzir e dirigir meus discos e essa experiência de ter alguém nesse papel me ensinou muito e mudou pra muito melhor várias coisas.

Moreira – A capa do disco, assinada pelo Pedro Garcia, é uma homenagem a “All Things Must Pass”, de George Harrison. Como foi feita essa ligação?

Lucas – Eu ganhei esse disco “All Things Must Pass” do meu psicanalista há muitos anos atrás. Acho um álbum icônico em todos os sentidos. O lugar dele na história, a forma de produção, os músicos envolvidos, as fofocas de bastidores e a mensagem desse álbum são muito mágicas. Quando falei desse disco pro Pedro Garcia (amigo e fotógrafo) e contei que foi meu psicanalista que me deu, a gente teve essa idéia de “parodiar” essa capa, botando meus cachorros no papel dos anões, ilustrando bem o clima do meu disco.

Foto: Fernando Schlaepfer/divulgação

Moreira – Você ainda está trabalhando com a Legião Urbana? Como é trabalhar com ídolos assim?

Lucas – Eu já tocava guitarra com o Dado, em projetos da carreira solo dele. Quando veio o projeto comemorativo dos 30 anos de lançamento do primeiro disco, eu entrei pra banda. Legião Urbana é uma instituição e, pra mim, independente de eu tocar com eles, é a banda mais marcante da minha juventude. Eu era uma criança quando os primeiros discos foram lançados, então, pude perceber de uma forma muito sutil a presença deles no rádio, na tv e um tempo depois nas fitas k7 que a gente gravava, nas cartas que escrevíamos pra amigos e namoradas. As músicas da Legião de uma maneira bem real também formaram meu caráter. Fizeram minha cabeça sair de um ambiente muito conservador e erudito e pensar sobre o amor, a sexualidade, drogas, juventude, opressão, amizade de um jeito livre e sem preconceitos, atento à beleza e ao aspecto artístico da vida. Se eu disser que nunca imaginei tocar com eles, estou mentindo, porque eu já queria tocar guitarra numa banda desde os dez anos de idade. Só não podia imaginar que, um dia, seria com eles. Mas essas coisas acontecem e eu tenho muita sorte de ter acontecido comigo. Infelizmente, por hora, as atividades estão em suspensas, por conta de um desses absurdos jurídicos. O filho do Renato quer impedir que o Dado e o Bonfá usem o nome Legião Urbana pra fazer shows. A banda que eles mesmo criaram! Esse herdeiro é uma vergonha. Não aprendeu nada com o pai. Tomara que a justiça seja feita. É um horror isso que eles estão passando. Alguém tentando apagar a história deles, o legado que construíram junto com o Renato. Triste. Eu sempre estarei pronto pra uma nova convocação, se acontecer. Eles são meu ídolos, mas, hoje, também são amigos muito próximos e sinto muita saudade da nossa convivência.

Abaixa que é tiro!??

O que pode haver de mais importante do que celebrar a potência criativa do funk, esse ritmo 100% carioca e brasileiro? A Rio Parada Funk, produzida por Mateus Aragão, neto de Ferreira Goulart, carrega essa importante bandeira há anos e realiza, neste domingo, a partir das 16h, no YouTube, sua versão digital. O line up é pra lá de estrelado, com shows de Tati Quebra Barraco, MC Smith, Cidinho General e os MCs Julaine, Júnior e Leonardo, Galo, 2R e Leo Barata. E ainda tem um timão de DJs, com GrandMaster Raphael, Mandrake, Napô, o lendário Byano (amo) e Gordura.

O Curtaflix– Festival de Curtas Online vai até o dia  17 com exibições gratuitas de 293 títulos em 63 sessões de gêneros variados. Todo o conteúdo pode ser acessado pelo site

Os curtas, selecionados por time de 21 curadores, foram agrupados pelos temas ambiental, orgulho negro, infantil, futebol e surf, olhares regionais, acessibilidade, questões sociais, animação, cinema fantástico, terror, música e comédia, dentre outros.

Entre os filmes, estão obras de diretores como Kleber Mendonça Filho, Leon Hirszman, Karen Akerman, Humberto Mauro, Eliza Capai, Kiko Goifman, Gabriel Mascaro e Grace Passô.

Forró do Kiko
Casuarina Foto: Leo Aversa
Filippe Catto Foto: Juliana Robin
WaveTapes

O festival Semente Música Viva continua, às 20h30, no YouTube, com Bebê Kramer (acordeon), hoje, dia 9, João Donato e Donatinho (piano), dia 10, e o Semente ChoroJazz, formado por Zé Paulo Becker (violão) e o tradicional trio das segundas no Semente, Caio Márcio (violão de 7 cordas), Tiago do Bandolim e Carlos Cesar (percussão), no dia 11. 

Nesta sexta, tem Circo Voador no ar , às 22h, com o Forró do Kiko. Antes, tem exibição do DVD #TodoMundoAmaOChris, do Kevin O Chris que eu gosto, às 20h, e também live de Wesley Safadão, no mesmo horário.

O Itaú Cultural segue com a programação virtual, com o músico e poeta Eliakin Rufino e o recital de poesia “Guerra na selva”, hoje, 9, às 20h, show do grupo musical Clarianas, amanhã, dia 10, às 20h, e o acordeonistas Toninho Ferragutti, domingo, 11, às 20h. 

Coletivo Ameopoema, de Ouro Preto, está fazendo a Mostra Grampo de Fanzines e Afins, que vai até o final de maio. Hoje, às 20h, rola bate-papo sobre “Fanzinagem e @rquivismos libertários”.

O festival Conexão Sana chega à quarta edição nos dias 12 e 13 de abril, com transmissões às 16h. No line up, tem Raiz do Sana, dia 12, e Casuarina, dia 13.

No dia 14, o Metá Metá segue apresentando a série Oritá Metá, (encruzilhada de três caminhos”) com show do disco “Igbá”, compilação de 2019, gravado no teatro Centro da Terra. 

No dia 15, Filipe Catto continua a sequëncia de lives maravilhosas da “Love Catto Live”, às 23h59, com “Brasil Chiquérrimo”, cantando Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Angela Ro Ro, Djavan e Caetano Veloso com participação de Marina Lima.

Os DJs e produtores Érica Alves e João Pinaud fazem uma série de seis lives inspiradas em pinturas do Museu Paulista, a Wave Live Act. Os artistas narram, por música e letra, pequenos fragmentos da história da região, usando Ableton Live, sintetizadores, baterias e looper, vocais, guitarras, baixo, clarinete e percussão. Anota a programação, sempre começando às 20h: Língua Geral  (13), Máquina do Tempo (14), Eu-Lírico (15), Mata d’Ouro (16), Águas (17) e Calango (18).

O Festival AFROMUSIC realiza sua segunda edição, de hoje a domingo, às 19h, com shows de artistas e bandas pretas. Entre os destaques da programação, hoje tem shows de Izzy Gordon (19h), Biel Lima (20h) e Jup do Bairro (21h). Amanhã, dia 10, tem Fabriccio (19h), Renato Gama (20h), Mental Abstrato feat. Mana Bella (21h) e Bloco Afro Afirmativo Ilu Inã apresenta “MacumBrass” (22h). No domingo, dia 11, é a vez de Ballet Afro Koteban (19h), Gê de Lima (20h) e Banda Nova Malandragem convida Walmir Gil (21h). A programação completa está aqui.

OAndarDeBaixo realiza o festival “O berro que eu dei”, entre os dias 13 e 20, nas plataformas digitais do espaço, com oito espetáculos, 12 experimentos cênicos, cinco rodas de conversa e uma batalha de drags.

O festival Violeiros do Brasil lança olhar sobre a viola nos dias de hoje, com sete apresentações virtuais de 14 artistas, mostrando os vários percursos do instrumento no Brasil. Cada apresentação, sempre às 20h, conta com um mestre violeiro original do projeto e um convidado da nova geração. Anota o line-up: Tavinho Moura e Fabrício Conde, hoje (9), Passoca e Neymar Dias (10), Pereira da Viola e Ricardo Vignini (11), Adelmo Arcoverde e Laís de Assis (17), Paulo Freire e João Paulo (18), Ivan Vilela e Bruno Sanches (24) e Roberto Corrêa e Cacai Nunes (25).

AMARO FREITAS Foto: by Jão Vicente
Jovem Palerosi Foto: Haxatag
DEMBAIA Foto: Divulgação

Realizado há quatro anos, o Mulambo Jazzagrário serve como janela de visibilidade para a música instrumental periférica. A sexta edição acontece neste final de semana, dias 10 e 11, a partir das 16h, com novos talentos garimpados por  Nathália Grilo e Roberto Barrucho. As apresentações foram gravadas na Arena Hermeto Pascoal, em Bangu.

Anota o line-up, aqui com procedências dos artistas e horários. Amanhã, sábado, temos MBÉ (Rocinha, 16h), Caio Oica e Um Perrengue Chic (Ricardo de Albuquerque, 17h), Laranjazz convida Mauricio Pazz (Lapa, 18h), Amaro Freitas (Pernambuco, 20h) e Zona Oeste Instrumental convida Carlos Malta e Djalma Corrêa (22h). 

No domingo, 28, tem Jovem Palerosi e a dupla Jeolíonaiz (São Paulo, 16h), o trio Do Nada e Maria Bonita (Bangu, 17h), Lata Doida (Realengo, 18h) e Dembaia (Lins, 20h).

A Filipa Aurélia Orquestra Vermelha

A segunda edição do SP Rock Mapping vai até domingo com projeções de apresentações de artistas musicais e visuais nas empenas cegas do Minhocão, tudo com transmissão, ao vivo, pelo Twitch

Amanhã, dia 10, a partir das 19h, tem Aíla e Roberta Carvalho, Senzala Hi-Tech, Junião e Juliana Lima, Embolex e Dengue, Nomade Orquestra e Darklight Studio e Letrux, Clara Consentino e Laura Fragoso.

No domingo, dia 11, a partir das 19h, tem Deafkids e Douglas Leal, Monna Brutal e Studio Curva, Luiza Lian e Bianca Turner e Nelson D e VJ Suave.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.

Playlist com os videoclipes da semana, com Yelle, Royal Blood, Half Alive, Iggy Azalea + Tiga, oddCouple, Morcheeba, Snoop Dogg, ÀTTØØXXÁ, Benny Benassi + Bloon Twins, Gasco + Bragadok + Daime + MV Bill, MC Taya + Larinhx, BaianaSystem, Carolina Sá e +

Sexta Sei, por Fabiano Moreira