Trio paraense formado por Arthur Nogueira, Mateus Estrela e Leonardo Chaves reflete sobre as relações na palma da mão dos tempos atuais
por Fabiano Moreira
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“Sopro” é o EP de estreia do trio homônimo formado pelos paraenses Arthur Nogueira,36 anos, Mateus Estrela, 29, e Leonardo Chaves, 28, que trabalharam juntos, previamente, na produção do álbum “Só” (2020), de Adriana Calcanhotto. O casamento entre os três bota em rota de colisão os universos da música eletrônica de Mateus, o indie de Leo e a canção de Arthur. O trabalho de estreia reflete sobre os tempos atuais e as relações na palma da mão de quem segura o celular. O que acontece quando desligamos a tela? “Acho que a vida é o que acontece quando desligamos o celular. Tudo é de verdade, sem filtro, sem “deixar pra responder depois”, resume Leonardo Chaves sobre o lançamento da dobra discos, “dopamina pra curtir”.
Moreira – O EP propõe reflexões profundas sobre as relações que transferimos para a palma da mão e para a timeline infinita. O que acontece quando desligamos o celular? Quais os questionamentos que esse trabalho faz para esses nossos hábitos tão cotidianos?
Leonardo Chaves – Acho que a vida é o que acontece quando desligamos o celular. Tudo é de verdade, sem filtro, sem “deixar pra responder depois”. Acho que esses pontos moldam muito como se relacionar em todas as instâncias. As músicas do EP trazem as repercussões desse universo em uma esfera intimista, de autopercepção. Acho isso interessante, provocar o questionamento de como a forma que nos vemos está se moldando ao que achamos ser real pelas redes sociais.
Mateus Estrela – Talvez desligar o celular não seja um hábito cotidiano. O dia a dia se passa por meio do celular e, apesar da luz azul das telas refletir uma vida distorcida, muitas vezes ela se torna (não ingenuamente) uma narrativa sintomática sobre si mesmo e o outro. Às vezes penso que “Luz azul” é uma percepção, mesmo que dentro de um momento, de que a vida pode ter outras narrativas. Esses questionamentos surgiram inicialmente pelo Arthur e logo reverberaram em nós.
Arthur Nogueira – Quando a gente desliga o celular, a gente pode encarar a nossa própria vida, prestar atenção no mundo e nas pessoas, gostar de nós mesmos sem filtros. É uma pena que pareça cada vez mais difícil fazer isso. A primeira canção que fizemos foi “Luz azul”, cujo título é um palíndromo, um espelho, como me ensinou a Marina Wisnik. Os questionamentos estão todos relacionados às imagens que vemos ou inventamos por meio das telas, que podem fazer com que a gente se perceba ilusórios, instantâneos, solitários.
Moreira – Vocês se conheceram na produção do álbum “Só” (2020), de Adriana Calcanhotto, durante a pandemia, ou já se conheciam antes, na cena de Belém? Como surgiu a ideia de criar o trio e como foi para Arthur seguir esse caminho da música eletrônica? Como é o trabalho entre vocês?
Arthur – Os dois primeiros álbuns que eu gravei em São Paulo, “Sem medo nem esperança” (2015) e “Presente” (2016), são eletrônicos. Naquele momento, eu queria romper com a canção, buscar outras formas de fazer música além da Bossa Nova, da voz e violão do João Gilberto, que me formaram. Depois, lancei um álbum mais acústico, gravado ao vivo no estúdio, chamado “Rei Ninguém” (2017). Eu não quero me sentir esgotado, por isso ,estou sempre em busca de parceiros e métodos de criação diferentes. Eu conheci o Mateus em 2019, quando fui convidado pelo Paulo Borges para compor a trilha sonora de um desfile de moda. Depois, o Mateus produziu alguns singles meus e me apresentou ao Leo, que produziu meu álbum “Brasileiro profundo” (2022). É muito bom perceber que o Sopro me trouxe um processo criativo diferente, agora, aos 36 anos. Tudo rolou direto no estúdio, com a produção musical nascendo em paralelo à composição. Depois, eu trabalhava as letras em casa e voltava com opções de versos e estrofes, para decidir junto com Mateus e Leo a forma final das canções. Nunca tinha feito assim.
Mateus – Eu me aproximei do Leo em 2015. Nesse ano, eu estava aprendendo a usar o Ableton e tinha uma banda de música brasileira, chamada Maraú, que já flertava com eletrônico. Chamei o Leo para gravar os baixos do nosso primeiro álbum, entre outras coisas que estava produzindo e, desde aí, nos tornamos bons amigos e parceiros de trabalho. Conheci o Arthur em 2019. Ele tinha acabado de voltar para Belém e tinha ouvido falar de mim por alto, e conheceu alguns trabalhos que eu tinha realizado na cidade, voltados para produção de música eletrônica. Nesse tempo, ele foi chamado para produzir a trilha de um desfile de moda, a convite do Paulo Borges, e me procurou para trabalhar junto com ele na trilha. Foi uma experiência ótima. Depois disso, eu produzi e mixei vários singles do Arthur, com participações da Fernanda Takai, da Zélia Duncan e do Ronaldo Bastos. Chamei o Leo para fazer os baixos desses singles, e foi assim que eles conheceram. A gente logo se tornou amigos e parceiros, sempre fazendo algo juntos ou se falando, e o Sopro aconteceu naturalmente.
Moreira – É interessante como, mesmo segundo esse caminho da música eletrônica, o EP de estreia dialoga com a tradição da canção brasileira. Quais foram as influências de house e indie rock que influenciaram vocês na criação do EP?
Mateus – Eu vejo que essa proposta de unir a canção com a música eletrônica e indie é resultado do desejo de fazer algo realmente nosso, que junto seja a soma de nós três. Eu peso mais para a música eletrônica, o Leo para o indie e o Arthur, para a canção. Meu trabalho solo tem uma influência muito forte de UK Garage e Lofi house, eu escuto bastante isso e acredito que acabo trazendo essas referências para o Sopro, em timbres etc. Atualmente, tenho ouvido muito Kiasmos, por causa do segundo álbum deles. A ideia de fazer algo “piano” com “micro-house” é me atrai muito, acho que isso tem uma boa influência na faixa “Felicidade”.
Arthur – Durante as sessões de gravação e composição do Sopro, a gente ouvia muita coisa juntos. Ouvimos bastante o AIR, por exemplo, que era uma das minhas bandas favoritas na adolescência. Lembro também que mostrei para eles “One of your girls”, do Troye Sivan, assim que saiu. Eu posso citar The xx, Fred again… e Warpaint como fortes influências do Sopro.
Moreira – O que vocês têm ouvido que influenciou diretamente na criação do EP? E me contem também sobre a escolha desse belo nome, Sopro, para o projeto.
Mateus – Tivemos várias influências nesse EP, que inclusive estão em uma playlist que fizemos no Spotify, com colaborações dos três. Lembro que “Luz azul” começou por causa de “Dangerous”, do XX. Eu amo vocoder/talkbox, sou fã de AIR e Daft Punk, por isso sugeri colocá-los como segunda voz em quase todas as faixas do EP. Outra referência para os vocoders foi “One of your girls”, do Troye Sivan, que o Arthur me mostrou em uma reunião do Sopro. A parte mais agitada de “Espelho” tem uma forte referência ao Flume, um dos meus artistas favoritos.
Arthur: A playlist que a gente fez no Spotify se chama “O que estamos ouvindo”. Eu sugeri o nome “Sopro”, porque ele tem a ver com os questionamentos de que falamos no início, com a aceleração da comunicação entre as pessoas e a produção de informação na internet, que passam como um sopro.
Abaixa que é tiro!💥🔫
Produtora musical e multi-artista de origem franco-portuguesa, radicada em São Paulo desde 2013, Sue inicia o processo de lançamento de seu segundo álbum de estúdio, “Quando você volta?“, com o single-clipe “Gigantesca“. “Gigantesca” expressa a complexidade das relações afetivas pela dança. O audiovisual mostra a dupla de bailarinos contemporâneos e de danças urbanas, Manuel Victor e Izabel Nejur – musa e alter ego de Sue em seus clipes desde do início –, buscando no compasso a sintonia do corpo e dos movimentos, mesmo quando à beira do abismo. Como diria o diretor, poeta, psicanalista e tarólogo (que inspira livremente a artista) Jodorowsky: “quem nunca sentiu raiva, nunca será capaz de amar”. Como plano de fundo, São Paulo; entre distopia e encanto, o lugar que, 11 anos atrás, Sue escolheu como lar. A obra tem concepção criativa, fotografia e direção por Sue, e imagens de drone e câmera na mão por Miguel Salvatore.
“Essa faixa é uma homenagem à mulher “Gigantesca” que vive dentro de todas nós, e o clipe reverencia minhas referências. Para quem conhece Pina Bausch e Café Muller, tá tudo aí”, revela Sue. O single nos dá uma amostra do disco inédito, um convite a observar nossa relação com o tempo e a atualidade, a trazer nossa atenção para o presente e a imaginar com os ouvidos. Sue é ex-guitarrista da banda brasileira de trip-hop Ozu, e vem desenvolvendo uma sonoridade própria que iniciou com o lançamento do seu álbum de estreia “Soundtrack for Photographs”, em 2019. O trabalho solo da artista passa por ritmos eletrônicos lentos, samples e arranjos orgânicos, flertando com a doçura característica da música ambiente, do lofi hip-hop e do eletrônico minimalista experimental, mantendo toda a aspereza da vida contemporânea em suas texturas e samples.
Alvaro Lancellotti está preparando o seu terceiro álbum solo, “Arruda, Alfazema e Guiné” para outubro, e, depois de divulgar o primeiro single, “Maneira de ver”, que passou aqui na playlist de clipes sextante com uma reflexão sobre a forma de existir e estar na vida, ele lançou “A Calma”, dueto com Mateus Aleluia, músico, compositor e pesquisador brasileiro, integrante remanescente da formação original de Os Tincoãs. A canção soa como um mantra dedilhado no violão e guiado por uma linha melódica. Álvaro é produtor do show “Pra gira girar”, que homenageia o grupo. O lançamento saiu pelo selo americano Amor in Sound, de Samantha e Mario Caldato Jr. “Esta música foi extraída de uma safra de composições que se fazem presentes nos meus trabalhos e que gosto de chamá-las de mantra-canções, pela forma cíclica que dedilho o violão e também pela linha melódica que elas carregam”, resume Lancellotti, que criou, em Lisboa, o projeto “Roda de Santo”, poderosa celebração da espiritualidade afro-brasileira. Lancellotti foi um dos fundadores do Fino Coletivo.
Está no ar o post da Revista Híbrida com os lançamentos LGBTQIA+ de agosto, com álbuns de Gabeu + Reddy Allor, Roberta de Razão, Iza Sabino, Sofi Tukker, Liniker e Moon Kenzo, EPs de Dessa Brandão e Afronta e singles de Charli CXC e Billie Eilish, Maria Beraldo e Fiakra. Um dos bons destaques do mês é o EP de estreia da mulher trans e MC Afronta, 24 anos, “A princesa de V.V.”. “É todo dia matando macho de um jeito diferente”, dispara, “após assassinar patrões”, em “Enxame de pragas”. “Moro desde que nasci na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, onde eu sou a princesa. Eu cresci numa favela chamada Morro do Jaburuna, e lá, tive desde muito cedo, influências musicais do funk e do rap ao meu redor. Me aproximei do movimento hip hop com 18 anos, quando passei por cima do medo e da vergonha e, inspirada por vídeos de batalha da MC paulista Monna Brutal, eu senti que poderia ter um espaço para contar minha história por meio do rap. Desde o início, eu faço porque me faz bem falar poeticamente sobre a vida, mas, especialmente, me faz bem ver que a música é capaz de quebrar barreiras e fazer as pessoas se respeitarem mais, independentemente de suas diferenças”, caneta. O EP é o resultado de cinco anos de envolvimento com o hip hop. “Usei das minhas influências de rap, funk, house e vogue para contar, por meio de instrumentais muito bem feitos por Dan Abranches e b o u t (na faixa Nêmesis), a história da Joá, Afronta, a Princesa de Vila Velha. Eu me reconheci trans com 20 anos. O rap foi importante para que eu pudesse me colocar com mais firmeza e coragem no mundo”, conta.
O Coala Festival acontece de sexta (6) à domingo (8) no Memorial da América Latina, em São Paulo, e olha que delícia, será transmitido no Disney+, Os shows serão transmitidos das 13h45 às 22h, na sexta (6), e das 12h45 às 22h, no sábado e no domingo (7 e 8), com shows de Lulu Santos, Os Paralamas do Sucesso, Planet Hemp, Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes, Xande canta Caetano e O Terno.
Čao Laru está de volta com uma turnê de lançamento do EP “Minas”, que contou com a participação de cantoras mineiras, como Clara Castro, Nicole Bello e Tatá Rocha, que também estarão no show no Tenetehara, nesta sexta, às 20h.
Nesta sexta (6), em BH, tem a festa Trem Base, com os gênios da raça RaMemes e Clementaum, às 21h.
Marcelo Falcão e Armandinho fazem show, nesta sexta, às 21h, no Terrazzo.
The Weeknd se apresenta no Estádio do MorumBIS, em São Paulo, no sábado (7), às 10h, com a turnê “After hours till down”.
A turnê “Caetano & Bethânia” passa por BH, sábado (7), às 21h, no Estádio Mineirão.
“Não vou pagar R$ 4,40, eu vou comprar o salgadinho”, avisa o mestre dos mestres Yago OProprio, autor de um dos melhores álbuns do ano, “Oproprio”, que lota o Circo Voador nesta sexta (6), o cara é um gênio e um grande nome do rap em 2024. No sábado, o príncipe das melodias Luccas Carlos apresenta o álbum “Dois” ao vivo.
Moreno Veloso apresenta o show de lançamento do bom álbum “Mundo Paralelo”, nesta sexta (6), às 19h30, e o legendary Edson Cordeiro faz o show “Cantor”, quinta (12), no Teatro Rival Petrobras.
Domingo (8), Julia Guedes e Tori passam pelo Maquinaria com tour que tem rodado o Brasil, com abertura de Alice Santiago e Laura Jannuzzi às 18h. Nesta sexta (6), às 21h, tem Get it on, com Ruan Lustosa recebendo Filipim.
Playlist com as novidades musicais da semana, que consolida às 2h da sexta. Todas as playlists de 2023, 2022, 2021 e 2020 nos links
Para melhores resultados, assista na smart TV à playlist de clipes com Anitta + Victoria, Duda Brack + Francisco Gil , Duda Beat, Beck G, gabre, Julio Secchin, Paira, B Young, Jungle, Sophie, Clara Castro, Valesca Popozuda + YaMalb + Mousik, OneRepublic, Daparte, David Kushner, A$ap Rocky, Denzel Curry, Spvic + Cidade Verde Sounds, + Jean Tassy + DonTGT + Dj Caique, Jovem Dionisio, Daniel Shalow e Michaela Jaé.
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